7 de mar. de 2013

Parnasianismo e Simbolismo


Parnasianismo: a arte pela arte


Antes de falarmos exatamente desse movimento é preciso ficar atento ao contexto social e econômico da segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial e as novas descobertas científicas fizeram com que a emoção, tão dominante no Romantismo, por exemplo, fosse deixada de lado. Era preciso agir e sentir de modo racional, frio. Assim, o Parnasianismo será esse olhar objetivo, racional na poesia. Observe que na prosa já tínhamos o Realismo para expressar essa reação ao Romantismo. Por isso, convém dizer que o Parnasianismo é antirromântico. Outra coisa importante: a poesia foi, durante muito tempo, o espaço para expressão dos sentimentos humanos, mas os poetas abandonavam a preocupação com a forma, com a feitura do poema. Assim, os parnasianos defendem a necessidade de tratar os temas poéticos com mais objetividade, sem as "lamúrias" românticas.

Para os poetas parnasianos a arte é sinônimo de beleza formal, é a arte para si mesma, a arte pela arte. Não é questão para a poesia o tratamento dos problemas sociais ou as queixas humanas, os amores sofridos. Não! Para se fazer arte é preciso saber combinar bem as palavras, respeitar as formas poéticas fixas e pronto: eis um poema bem feito! Veja o exemplo:

Vaso Chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

M
as, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;


Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
     Alberto de Oliveira


Observe que o poema destaca a descrição de um objeto, a perfeição formal também é presente, afinal trata-se de um soneto e uma postura objetiva, sem sentimentalismo. Assim, o assunto tratado é a descrição de um vaso e não de sentimentos humanos.

No Brasil, destacaram-se os poetas Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.

Dos citados, Olavo Bilac é o mais famoso: é a estrela maior do parnasianismo brasileiro. Leia a biografia do "Príncipe dos poetas" aqui: OLAVO BILAC
Vejam abaixo um dos poemas mais conhecidos do "poeta das estrelas":

Quinhentismo

Nesta semana começamos a conversar sobre o Quinhentismo, período de produção escrita relativo ao século XVI. Não é, portanto, um período de produção literária, pois falta, a grosso modo, o caráter inventivo, ficcional que define literatura, arte da palavra. 
O primeiro período da história da literatura brasileira começou em 1500, ano em que Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, enviou a D. Manuel  I a famosa Carta, em que se comunicava ao soberano o “achamento” das terras brasileiras. O principal objetivo dos textos nessa época é relatar as viagens ao novo mundo e informar como era a terra e como eram as pessoas encontradas aqui.
A produção literária do Brasil do século XVI liga-se a duas necessidades práticas principais da empresa colonizadora portuguesa: a de fornecer informação sobre a nova terra e a de converter os indígenas ao cristianismo. Nessa literatura de valor principalmente documental, encontramos elementos importantes para a compreensão de nossas origens históricas e literárias.
Essa produção literária proveio principalmente dos esforços iniciais de conquista das novas terras. Dessa forma, houve várias manifestações em prosa, em sua maioria tratados, cartas e diários, cuja principal finalidade era descrever a paisagem e a vida brasileiras, atuando como fonte de informação aos europeus, (LITERATURA DE INFORMAÇÃO). Além disso, o teatro conheceu algum desenvolvimento sob forma de autos versificados compostos pelos jesuítas em seu trabalho de catequização do índio (LITERATURA DE CATEQUESE). Também ocorreram algumas manifestações poéticas, principalmente de caráter religioso, ligados ao esforço catequético.


Gêneros Literários

Seguindo a série de postagens "1º ano do Ensino Médio", falemos agora dos Gêneros Literários:



Gênero é a denominação que damos ao conjunto de obras que possuem características semelhantes de forma e conteúdo. Em sala falamos sobre a definição clássica, cunhada pelo filósofo grego Aristóteles, a qual pressupõe três gêneros:

O Épico: são aquelas narrativas que contam os feitos extraordinários de um herói. Segundo Aristóteles, é a palavra contada, ou seja, é o bom e velho "contar histórias". Nas composições desse gênero há a presença de um narrador, que conta uma história em versos, em um longo poema que ressalta a figura de um herói, um povo ou uma nação. Geralmente envolvem aventuras, guerras, viagens e façanhas heroicas e apresentam um tom de exaltação, isto é, de valorização de heróis e feitos grandiosos. Os poemas épicos chamam-se epopeias. As principais epopeias da cultura ocidental são a Ilíada e a Odisséia, de Homero, a Eneida, de Virgilio, Os lusíadas, de Luis de Camões.
Veja o trailler do filme "300", o qual conta os feitos do espartanos em busca de, heroicamente, defender seu povo, sua terra:





Conceito de Literatura


Pessoal,
Sobre o conceito de arte e literatura, nossa primeira matéria, você precisa se lembrar que não há um conceito unívoco sobre essas manifestações, mas Literatura pode ser entendida como a arte da palavra, pois o artista ao "trabalhar" os possíveis sentidos de um termo, cria significados simbólicos, os quais ultrapassam o sentido objetivo, reconhecido como verdade absoluta, a concepção dicionarizada.
Conceito difícil? Calma, calma e vamos ao texto então:


Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem de ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.
Adélia Prado

Renascimento e Classicismo

Olá, pessoal!
Comecemos nossa série de postagens sobre os conteúdos que vimos em sala de aula.

Renascimento e Classicismo: quando a ciência se encontra com a arte
Estando nós, neste momento, às voltas com a nossa primeira avaliação e o estudo das escolas literárias no Brasil, é importante conhecer a arte que representa um lapso na vivência artística em terras brasileiras: o Classicismo, a manifestação artística da Renascença.

O Renascimento, como vimos, é um complexo movimento cultural que engloba ciências, filosofia e arte. Ele se define pela prevalência do ideal do humanismo, isto é, da doutrina que valoriza o homem e a natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural. Este humanismo, assim como o movimento renascentista, observado de uma forma mais ampla, foi paulatinamente vivenciado na Europa a partir do século XIV, estendendo-se, em algumas localidades, até o século XVII. 

Sendo o Renascimento e o Classicismo essencialmente ligados ao fenômeno humano e aos fenômenos da natureza, vão se refletir nas suas manifestações uma postura racional, em que arte e ciência são encaradas como extensão, uma da outra, e em cujo trabalho se deve dispensar o mesmo rigor formal. É necessário ao artista que vai retratar o corpo humano, seja na pintura, seja na escultura, o conhecimento científico do que é o corpo humano para que haja verossimilhança. Esta perspectiva se coordena com a postura grega de que a arte deve atingir o Bom, o Belo e o Verdadeiro. Beleza é verdade; portanto, só há beleza na arte se ela se assemelha profundamente ao real; além disso, a Beleza se liga ao conceito de Bom, que está imediatamente ligado ao conceito da dignidade humana, da exaltação das boas qualidades do homem.

6 de mar. de 2013

Preparação para as provas

Pessoal,
Suponho que vocês estejam visitando o blog a fim de estudarem pelas postagens que prometi, mas tive alguns contratempos hoje e só poderei escrever para vocês amanhã pela manhã. Peço que estudem pelo caderno e/ou livro e deixem este espaço virtual somente para revisão, já que já estamos em véspera de prova.
Amanhã estará tudo aqui, prometo!

Quem quiser adiantar, há postagens antigas sobre as matérias nos tags ao lado. Basta clicar e procurar.

Beijos,
Dani

3 de mar. de 2013

Entrevista Profª Daniele Ribeiro



A entrevista a seguir foi concedida a uma acadêmica para um trabalho de Pedagogia. Achei interessante deixá-la publicada aqui; talvez seja útil de algum modo, seja para outros acadêmicos que tentam traçar o perfil profissional do professor de Literatura ou, quem sabe, para outros colegas que queiram "conversar" sobre o ofício, suas dores e delícias. 

Entrevistada: Daniele Soares Ribeiro
Leciona Literatura Infanto-juvenil em turmas de Ensino Fundamental II e Literatura Brasileira para alunos de Ensino Médio. Atualmente, faz parte do corpo docente Colégio Delta, instituição de ensino privado, em Montes Claros, norte de Minas Gerais.

1. Como você realiza o seu trabalho em sala de aula?

Todo o meu trabalho se baseia na análise e interpretação das obras literárias em diálogo com outras formas de artes: música, cinema, teatro, pintura... Busco ler o livro para e com os meus alunos sempre de modo emocionante e cativante, a fim de transportar o leitor para o universo de sentimentos e emoções que julgo que a leitura almeja despertar. Assim, após realizar leituras dramatizadas, dialogo com o alunado sobre as compreensões possíveis daquele texto para o momento de produção do mesmo e que valores veicula para nós, leitores, hoje. Após esse momento,  introduzo canções, filmes ou outras mídias que ajudem a demonstrar que o literário é apenas uma dentre várias outras formas de o homem traduzir/entender/explicar a si e ao mundo em que vive. Fecho os trabalhos sempre com atividade escritas de interpretação e avaliações sobre o conteúdo ministrado.

2. Seu método de trabalho se aproxima mais do tradicional ou histórico-crítico?

Acredito que minha forma de trabalhar seja mais próxima da abordagem histórico-crítica, pois busco ajudar o aluno a ter autonomia no processo de construção e percepção de significados, visando a formação do sujeito crítico, capaz de analisar a realidade em que vive e criar suas próprias conclusões sobre ela, tudo isso, no caso, mediado pelo texto literário. O que se torna relevante para mim não é a abordagem conteudista, mas sim como os discentes absorvem e transformam a informação presente nas obras em conhecimento, o que só se dá quando alunos pensam e sentem os textos. Guardo ainda do tradicional as avaliações e a “nota” como indicadores de bom rendimento, o que é mais uma questão de cultura escolar do que de escolha profissional.

3. Em sua opinião, qual a função da escola?

21 de nov. de 2012

Sangrando ainda

A Ele,

Como tenho sentido a sua falta! Meu coração pergunta todos os dias por você e o silêncio continua a responder que só sabe dizer de sua ausência. É impressionante como consigo me lembrar em todos os sagrados dias de como éramos nós, e eu, de repente, tornei-me um terrível e pesado singular. Por que nunca me explicou a razão? Foi embora e levou consigo minha capacidade de me manter emocionalmente. Como faço agora? Já se levantaram tantos sóis, anoiteceram tantas luas e eu continuo sem a luz que me salvava da escuridão de não estar. Vi você há alguns dias. Sei que era seu rosto. Você fingiu não ver e eu percebi. Péssimo ator. E a vida, essa escritora de destinos, fez com que nos víssemos novamente naquele mesmo dia... Quem entenderá? Por que, depois de tanta distância, sua visão resplandece duas vezes em menos de 24 horas? Queria todas as respostas, fechar o que não terminou como devia, porque não reclamo seu desejo de ir, mas a forma como ele se impôs a mim, me sufocou ao ser absurdamente repentino e me marcou até o sempre de agora. Prometo para o meu coração todos os dias: "-Acalma-te, vamos superar isso juntos, ok?", mas nem eu creio nisso com a convicção que deveria e assim, na lanterna do meu cotidiano vazio, fica suspensa a vontade de deixar outro alguém assumir o seu lugar. 

d.



17 de out. de 2012

Análise Claro Enigma


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro. Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar. Vem daí o rigor na forma do poema, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva.
Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo(1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.  Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
O estilo literário de Carlos Drummond de Andrade
A produção poética de Drummond pode ser dividida em quatro fases:
A fase gauche (1930-1940): - Eu maior que o mundo - poema, humor, piada. Período marcado pelo isolamento, individualismo, reflexões metapoéticas e existenciais, humor e ironia. Principais obras: Alguma poesia (1930) e Brejo das Almas (1934).
A fase social (1940-1945): - Eu menor que o mundo - poesia de ação. Representa as contradições entre o ser e o mundo. Há o abandono do individualismo e a tomada de postura histórico-engajada. Vale lembrar que falamos de um período de guerras e conturbação política nacional e mundial: Segunda Guerra Mundial, Ditadura de Getúlio Vargas, Nazifacismo. Principais obras: Sentimento do mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945).
A fase do não (1950-1960) - Eu igual ao mundo - poesia metafísica. Período marcado pelo desencanto político. O poeta se lança numa poesia reflexiva, filosófica e metafísica. Claro Enigma introduz essa vertente filosófica, pessimista e reflexiva, abordando morte e vida, infância e velhice, o amor e o tempo. Principais obras: Claro Enigma (1951), Fazendeiro do ar (1955), Vida passada a limpo (1959) e Lição de coisas (1962).
A fase da memória (1970-1980): compreende o período de lembranças da infância na cidade natal Itabira, além de reflexões universais sobre o tempo e a memória. Principal obra: a série Boitempo (1973).

Claro Enigma (1951)
O título
O livro é constantemente marcado pela presença do conflito eu X mundo. As contradições permeiam a obra: o eu poético ora aparece recluso, fechado em si mesmo, ora se desnuda, aparece com ares mundanos. O fusionismo, característica barroca, se mostra desde o título: a tentativa de união entre claro e escuro, o encontro e o desencontro, a aceitação e a negação. Enigma: o incompreensível, de difícil explicação, o mistério. Estamos, assim, diante de um eu lírico de sentimentos indecifráveis, obscuros. Claro: ausência de mistério, clareza. Ou seja, a negação do enigma. Desse modo, tem-se um eu que procura solucionar os mistérios do mundo, resolvê-los, pois entende assim a função do poeta. No entanto, após a leitura da obra, percebe-se que o enigma permanece sem resolução. Em A Máquina do Mundo, pertencente à última parte do livro, o poeta recusa as respostas propostas, levando consigo as respostas ausentes.


19 de set. de 2012

A HORA DA ESTRELA, Clarice Lispector





Clarice Lispector
BIOGRAFIA DE LISPECTOR
“Nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada Tchetchelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchetchelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem. Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade. Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife. (...) E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.” (Waldman,1983. p. 9-10)

Clarice nasceu em 1925, em uma aldeia ucraniana. Aos dois meses de idade, veio com a família para o Brasil. Morou em Alagoas, Pernambuco, mas passou a infância no Recife. Lá, a autora cursou a escola primária e ginasial. Quando aprendeu a ler aos sete anos de idade, descobriu que os livros eram escritos por autores e o queria ser também. Transferiu-se para o Rio de Janeiro aos doze anos e lá estudou Direito, chegando a trabalhar como redatora e, anos mais tarde, jornalista. Forma-se em 1944, ano em que publica a sua primeira obra, Perto do Coração Selvagem. Olga Borelli, sua grande amiga, conta em depoimento que o método utilizado para escrever seu primeiro livro perduraria para sempre na vida de Lispector: “Clarice tomava notas onde quer que estivesse. Na lanchonete, em guardanapos; no cinema, no maço de cigarros. Clarice ia construindo suas obras fragmentariamente.”
Casou-se, nessa mesma época, com um diplomata brasileiro (Maury Gurgel Valente) e, por isso, afastou-se durante longos períodos do país que tanto amava. Aos dezenove anos já se encontrava em Nápoles, Itália. Mesmo depois de ganhar o prêmio “Graça Aranha” por seu primeiro romance, não se considerava uma escritora profissional, insistia que era uma escritora amadora. Com o marido, teve dois filhos: Pedro e Paulo. Separa-se de Gurgel Valente em 1960, ano em que retorna para o Brasil e passa a morar no Rio de Janeiro.
Em 1976, a escritora recebe um convite inusitado: representar o Brasil num Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, Colômbia. Sua participação lá resumiu-se à leitura de seu conto “O Ovo e a Galinha”, o qual acreditava que ninguém havia entendido. Faleceu no Rio de Janeiro em 1977. 

O ESTILO CLARICEANO
As inovações feitas por Clarice Lispector em sua escritura, desde a sua primeira obra publicada, provocaram grande espanto na crítica e no público da época. Grandes críticos literários chegaram a apontar inúmeras falhas nos romances da escritora, como o fez Álvaro Lins, em sua obra Os mortos de sobrerressaca, 1963, p. 189: “li o romance duas vezes, e ao terminar só havia uma impressão: a de que ele não estava realizado, a de que estava completa e inacabada a sua estrutura como obra de ficção.” Sem a freqüência das estruturas tradicionais dos gêneros narrativos, a narrativa clariceana quebra a ordem cronológica e funde a prosa à poesia. Uma das inovações de sua linguagem para a literatura brasileira é o fluxo de consciência. Para entendermos o que é isso, seguiremos a definição de Norman Friedman sobre análise mental, monólogo interior e fluxo de consciência. “O primeiro é definido como um aprofundamento nos processos mentais da personagem por uma espécie de narrador onisciente; o segundo, um aprofundamento maior, cuja radicalização desliza para o fluxo de consciência onde a linguagem perde os nexos lógicos e se torna caótica” (KADOTA, s/d, p. 74). Clarice transitaria pelos três movimentos, apesar de apresentar características mais evidentes de “fluxo de consciência”.
É como se uma câmera fosse instalada na cabeça da personagem, como se pudéssemos acompanhar exatamente o que ela pensa e da mesma maneira como pensa. Sabemos que o nosso pensamento não é ordenado, e quando se pretende demonstrá-lo de forma semelhante, acompanhamos sua desordem. Presente e passado, realidade e desejos da personagem (ou narrador) misturam-se na narrativa, quebrando limites espaço-temporais verossímeis. Joyce e Proust já haviam feito experiências como essa, mas foi Clarice que introduziu esse estilo no Brasil.

A escrava Isaura, Bernardo Guimarães



Bernardo Guimarães: vida e obra


Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em1825. Em 1847 iniciou os estudos na Faculdade de Direito de São Paulo, onde conheceu Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa, com os quais se uniu formando a Sociedade Epicuréia. Nessa fundação, situada em São Paulo, os jovens se juntavam para dar realidade as imaginações românticas, sendo este um ponto de encontro entre a literatura e a vida. Após conseguir o título de bacharel, em 1852, viveu alguns anos no Rio de Janeiro e em Goiás, atuando como jornalista, juiz e professor. Ao longo de sua carreira publicou diversas poesias e romances, dentre eles a Escrava Isaura (1875), sua obra mais popular. Em 1884, faleceu em sua cidade natal, deixando alguns escritos incompletos. Suas principais obras foram Contos da Solidão (1852), O Ermitão de Muquém (1869), O Seminarista (1872), O Índio Afonso (1873), A Ilha Maldita (1879) e a peça A Voz do Pajé,

publicada postumamente em 1914, além, é claro, de A Escrava Isaura. Bernardo Guimarães expressou em sua poesia o mundo exterior, demonstrando a vivência no meio paulistano, porém, vale mencionar como elementos mais relevantes de sua obra poética o encanto pela vida, a natureza e o prazer. Além disso, construiu textos dotados de musicalidade e demonstrou forte preocupação com a métrica. No texto narrativo, Bernardo adotou como principais cenários para seus romances os sertões mineiro e goiano, mas também se utilizou das paisagens nordestinas. Na prosa, observava a vida sertaneja, com seus tipos humanos, marcados por condições psíquicas e sócias peculiares. As paixões amorosas são tratadas de forma natural e por diversas vezes aparecem vinculadas a manifestações psicológicas. Seu estilo natural, com linguagem simples e acessível, fez desse artista um dos mais importantes de sua época, justamente pela facilidade com que o público tinha contato com sua obra, na qual retratava temas próximos da realidade popular. Em 1896, portanto doze anos após a sua morte, foi designado patrono da cadeira no cinco da Academia Brasileira de Letras. 


O NASCIMENTO DO ROMANCE

A publicação de romances em folhetins - os capítulos aparecendo a cada dia nos jornais - já era comum no Brasil desde a década de 1830. A maior parte destes folhetins era composta por traduções de romances de origem inglesa, como as histórias medievais de Walter Scott, ou francesa, como as aventuras dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Emocionados, os brasileiros acompanhavam as distantes aventuras de um Ivanhoé ou de um D’Artagnan, transportando-se, em espírito, para os campos e reinos da Europa.  Embora fizessem sucesso junto ao público, os primeiros romances brasileiros, publicados em folhetim, não deixavam de ser considerados, pelos literatos “sérios”, como “uma leitura agradável, diríamos quase um alimento de fácil digestão, proporcionado a estômagos fracos.” O romance, esse gênero literário novo e “fácil”, que foi introduzido na literatura brasileira por autores como Joaquim Manuel de Macedo e Teixeira e Sousa, ganharia status de literatura "séria" com a obra de José de Alencar. 

Vítimas-Algozes: Quadros da Escravidão, Joaquim Manoel de Macedo






NOTA: Vítima: pessoa ferida, violentada, torturada, assassinada ou executada por outra; pessoa que é sujeita a opressão, maus-tratos, arbitrariedades; pessoa que sofre por sucumbir a vício ou sentimento próprio ou de outrem; pessoa contra quem se comete qualquer crime ou contravenção.
Algoz: carrasco, executor da pena de morte ou de outras penas corporais (como tormentos, açoites etc.). Indivíduo cruel, de maus instintos; atormentador, assassino, aquilo que aflige ou atormenta. (Dicionário HOUAISS)



Sobre o autor:
Joaquim Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí, no dia 24 de junho de 1820. Graduado em Medicina no Rio de Janeiro no ano de 1844, foi também um dos mais significativos autores brasileiros. No mesmo ano em que se formou ele ingressou nas veredas literárias com o clássico A Moreninha, com o qual ganhou celebridade e recursos financeiros. O escritor faleceu no Rio de Janeiro, sua terra natal, em 11 de abril de 1882.

Contexto de produção:
A abolição da Escravatura:
“O Treze de Maio não é uma data apenas entre outras, número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo que avança em duas direções. Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o mesmo homem negro tangido para os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas passaria a vivê-lo como estigma na cor da sua pele" (Alfredo Bosi)

Vítimas-algozes segue na contramão do que se considera o movimento de abolição dos escravos. Ao contrário do ideário romântico de vários poetas abolicionistas contemporâneos de Macedo, o autor alimenta a ideia de que os cativos devem conquistar sua liberdade não porque a merecem, e assim se veriam livres dos maus-tratos de seus proprietários, e sim por estar prejudicando os senhores ao inserirem nas comunidades familiares brancas a degradação orgânica e ética. Sobre o romance, Macedo explica, na nota “Aos Nossos Leitores”, não lhe interessou, nas “educativas” e “moralizantes” histórias que entregava aos consumidores de sua vasta obra, pintar “o quadro do mal que o senhor, ainda sem querer, faz ao escravo”, mas, sim, o “quadro do mal que o escravo faz de assento propósito ou às vezes irrefletidamente ao senhor”. Mesmo com o sinal invertido, a obra é considerada como o retrato de uma ideologia abolicionista. Talvez por esta razão não tenha atraído o leitor do século XIX, nem convencido os críticos assim que foi lançado, em 1869, dezenove anos antes da libertação dos escravos.
Estilisticamente ela integra as fileiras do Romantismo, um dos movimentos literários mais significativos da literatura brasileira. Mas sua fama nasceu do fato de ter sido uma das produções românticas mais alvejadas pela crítica. Apesar de tudo, As Vítimas Algozes é uma representação precisa do país logo depois da abolição dos escravos.




Filme Rio

Rio,  também referenciado como Rio: The Movie, é um filme 3D, animado por computador produzido pela 20th Century Fox e pela Blue Sky Studios. Dirigido por Carlos Saldanha, o título do filme refere-se ao município de Rio de Janeiro, onde é ambientado.  Recebeu uma indicação ao Oscar 2012 com "Melhor Canção Original", com "Real in Rio", cantada por Sérgio Mendes e Carlinhos Brown.
Depois de chamar atenção como co-diretor de A Era do Gelo (2002) e Robôs (2005) e como diretor das duas continuações da aventura glacial, o brasileiro Carlos Saldanha decidiu homenagear sua cidade natal com a animação Rio. O trabalho em 3D, com planos abertos e profundidade de campo, valoriza as belíssimas paisagens e belezas naturais da cidade, resultando em uma animação visualmente perfeitaRio tem como principal aspecto visual exaltar as belezas e o carnaval da cidade do Rio de Janeiro, embora se aproprie de uma espécie de desfocado "olhar estrangeiro", que ignora a vida cotidiana de uma metrópole com tantos problemas e desigualdades, criando uma visão caricata de sua população.
Segundo cálculos da Riotur, a empresa municipal de turismo, as campanhas promocionais do filme alcançaram um número próximo aos dois bilhões de pessoas no mundo todo, em uma tentativa de projetar uma imagem idílica do Rio de Janeiro, cidade-sede da Copa do Mundo 2014 e sede das Olimpíadas de 2016.
O longa conta a história de Blu, uma arara azul domesticada, que não sabe voar. Após ser capturado por contrabandistas de aves exóticas, ainda filhote, Blu acaba indo parar na fria Minnesota (norte dos EUA), bem longe do Rio de Janeiro, mas é tratado com amor e cuidado por Linda. Por ser o último macho de sua espécie, o ornitólogo (biólogo que se dedica ao estudo das aves) Túlio quer convencer Linda a levá-lo para o Rio de Janeiro, a fim de perpetuar a espécie com a fêmea Jade.
E é na "cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos", que Blu irá viver a maior aventura de sua vida e se ver obrigado a esquecer o ambiente doméstico a que estava acostumado, para poder encarar a temida vida numa natureza desconhecida e, aparentemente, hostil.
Além da relevante e bem humorada crítica ao contrabando e comércio ilegal de aves exóticas, também é abordado, embora superficialmente, o importante tema da extinção. O Brasil, hoje, está entre os países lideres na comercialização ilegal de animais silvestres, com mais de 12 mil espécies comercializadas por ano, e movimentando uma rede de mais de 1 milhão de reais nesse mesmo período. 
Desde a Carta de Caminha, busca-se criar uma imagem de Brasil que atraía o olhar estrangeiro. É a busca pela identidade, reafirmada pelo Romantismo e pela fase heroica do Modernismo. A brasileira Carmem Miranda, imagem do país conhecida lá fora, é lembrada na figura do buldogue Luís. Assim, o filme, metonimicamente, é um retrato do Brasil. Desde a abertura do longa, com a vista panorâmica do Pão de Açúcar, e o empolgante desfile de carnaval de aves exóticas, são destacados pontos turísticos do Rio de Janeiro, como os Arcos da Lapa, Cristo Redentor, Praia de Copacabana e Santa Teresa. Tanto para os moradores da cidade, quanto para quem a conhece, as paisagens são bem desenhadas e transpostas com perfeição para o filme, mas, a visão exageradamente carnavalesca da cidade faz supor que o carioca, representação de todo o povo brasileiro, só se preocupasse com futebol e festividades, assim como o fato de em Rio praticamente toda a população carioca ser fluente em inglês, o que não corresponde à realidade. A cor local, a descrição das belezas do país “abençoado por Deus e bonito por natureza” é recorrente. As cores da bandeira são repetidamente ressaltadas, mas o recorte que se faz do que é o país é redutor: o Brasil tem o Sul, o churrasco, os trajes típicos. Tem o nordeste, com suas peculiaridades. A Amazônia e tudo o que ela oferece. O Rio de Janeiro é uma metrópole, com carros importados e de luxo e não apenas kombis velhas e carros ultrapassados, como aparece no filme.
Personagens:
Blu: arara azul domesticada que vem para o Brasil a fim de perpetuar sua espécie. No entanto, chegando aqui não se adapta à vida na selva. Não sabe voar e declara amar sua gaiola. Ele “pensa demais”, odeia samba. No baile funk dança instintivamente, denunciando o “sangue nativo”.
Jade: arara azul, fêmea destinada a cruzar com Blu. Ama a liberdade, mas acaba ficando acorrentada à Blu. É forte e independente, mas se apaixona por Blu e sua salvação, no fim do filme, depende da ação de Blu.


Desmundo, Ana Miranda



DESMUNDO, Ana Miranda


Sobre a autora:
Nascida em Fortaleza, em agosto de 1951, Ana Miranda viveu grande parte de sua vida fora do Ceará. Aos cinco anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro e em 1959 foi para Brasília. Chegou a estudar Artes no Rio de Janeiro. A autora, como se vê, cresceu nas cidades que mais intensamente viveram os efeitos das radicais transformações e da efervescência na vida política, social e, sobretudo, cultural do país. Nesse período, podemos destacar a bossa nova, a contracultura hippie, os festivais de música que deram origem ao Tropicalismo, principal movimento cultural da época, isso tudo em meio a ditadura militar que exercia forte repressão. Enfim, Ana Miranda é de uma geração que não consegue, e nem tenta, ignorar a história. É essa história que figura em sua obra como principal cerne, adornado pela sua ficção internacionalmente reconhecida. Ana Miranda publicou vários livros entre poesias, romances, crônicas e contos. Estreou com o livro de poesia Anjos e Demônios, em 1978, mas foi seu primeiro romance, Boca do Inferno, publicado em 1989, que rendeu a escritora o reconhecimento nacional e internacional, prova disso está no grande número de traduções do livro. A obra foi publicada na França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha. Já nesse primeiro romance, notamos a propensão de Ana Miranda ao romance histórico, fazendo dessa obra uma recriação histórico-literária do Brasil colonial, trazendo personagens como o poeta Gregório de Matos e o jesuíta Antônio Vieira. Por esse livro a autora recebeu o prêmio Jabuti, em 1990. A recriação aparece também no livro publicado em 1996, Desmundo. Dessa vez, a recriação é feita na linguagem do século XVI, contando a história de órfãs mandadas de Portugal ao Brasil para se casar com os colonos. O romance histórico mistura história e ficção, reconstruindo ficticiamente acontecimentos, costumes e personagens. Nessa mistura que se edifica Desmundo mesclam-se fatos identificados na história do Brasil com o viço ficcional edificado pela perspicaz escritora.

Enredo
Em 1570,  Oribela, uma órfã, jovem sensível e religiosa, é mandada de Portugal, junto com sete outras, a mando da Rainha para se casarem com colonos no Brasil. No caminho, os relatos sobre a viagem e os medos gerados por ela dão o tom da narrativa.
Outra personagem, mandada para o Brasil também é uma viúva, a Velha, que, devido a sua experiência de vida, acaba por se tornar uma espécie de conselheira das mulheres que foram mandadas para o degredo. Logo que chegam ao Brasil, hospedam-se em uma pensão, enquanto os casamentos são arranjados. Oribela casa-se com Francisco de Albuquerque, rico colono, proprietário de terras e escravos, mesmo que ela só reconhecesse nele o que há de mais repugnante no mundo (seu cheiro, seu aspecto físico, seu passado de viajante...). Ainda virgem, é forçada a manter relações sexuais com Francisco na noite de núpcias. Após isso, ele a deixa livre para que, quando ela tivesse vontade de se entregar para ele, que o viesse procurar, pois ele não mais a forçaria. Oribela arquiteta planos para a fuga, buscando encontrar uma forma de retornar para Portugal. Descobre um meio: entrar clandestina (fantasiada de homem) em uma nau. Para tanto, precisava arranjar dinheiro para subornar as pessoas que lhe deixariam embarcar. Durante meses (enquanto se esperava a chegada da nau), junta dinheiro. Mas, ao fugir de casa e dirigir-se para embarcar, é enganada e quem deveria ajudá-la rouba seu dinheiro e a estupra. Durante o estupro, seu marido, Francisco, aparece, mata os estupradores e leva Oribela novamente para casa, onde a prende com uma corrente nos pés. Ao sair para suas expedições de caça de índios,
Oribela é obrigada a viver o cotidiano da casa, durante o qual torna-se cada vez mais íntima de Temericô, uma índia que trabalhava na casa, a quem ensina um pouco do português e de quem aprende a língua indígena, além de receber diversos costumes.
Durante uma das expedições, Francisco de Albuquerque a leva junto. É quando vê uma certa grandeza em seu marido, ao guerrear com os indígenas, mas esse reconhecimento do valor do marido não é suficiente para gerar nela amor. Ao retornarem, com milhares de índios cativos (que em parte seriam vendidos como escravos, em parte seriam aproveitados nas terras do marido), Oribela sente pena deles. As terras de Francisco de Albuquerque são atacadas pouco tempo depois e é quando Oribela aproveita a confusão para fugir novamente. Torna a esperar por uma nau que a pudesse levar para Portugal, mas desta vez esconde-se na casa de Ximeno Dias, um mouro. Apesar dele se mostrar gentil, educado, instruído, de possuir livros (que Oribela não vê sentido), os preconceitos dela sobre os mouros estão sempre a fazendo desconfiar dele. A sua cor (vermelho), o seu corpo sem pelos, ao mesmo tempo que a atraem, fazem com que ela reconheça nele a possibilidade dele ser o diabo, mas por fim acaba por entregar-se a ele. Logo da chegada de uma nova nau, meses depois de sua fuga, é descoberta pelo marido que vagava pela cidade a buscá-la. Está grávida. É levada para casa, onde tem o bebê. Pouco tempo depois do nascimento, Francisco de Albuquerque pega o filho e parte com ele para Portugal.
Oribela, não desejando nada daquele homem, queima a casa onde moravam com tudo que nela houvesse. Parte, então, sozinha, para enfrentar a vida na colônia, um lugar que não gostaria de estar, lembrando de Portugal, mas sentindo ódio de toda essa situação.


Análise da obra: Entre ficção e história: Desmundo, de Ana Miranda


A Carta do Achamento







A CARTA DO ACHAMENTO, Pero Vaz de Caminha

Estilo de época
            O primeiro período da história da literatura brasileira é chamado de Quinhentismo. Começou em 1500, ano em que Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, enviou a D. Manuel  I a famosa Carta, em que se comunicava ao soberano o “achamento” das terras brasileiras. Em 1601foi publicado o poema “Prosopopeia”, de Bento Teixeira, tradicionalmente considerado a obra inicial do Barroco literário brasileiro.
            A produção literária do Brasil do século XVI liga-se a duas necessidades práticas principais da empresa colonizadora portuguesa: a de fornecer informação sobre a nova terra e a de converter os indígenas ao cristianismo. Nessa literatura de valor principalmente documental, encontramos elementos importantes para a compreensão de nossas origens históricas e literárias.
            Essa produção literária proveio principalmente dos esforços iniciais de conquista das novas terras. Dessa forma, houve várias manifestações em prosa, em sua maioria tratados, cartas e diários, cuja principal finalidade era descrever a paisagem e a vida brasileiras, atuando como fonte de informação aos europeus. Além disso, o teatro conheceu algum desenvolvimento sob forma de autos versificados compostos pelos jesuítas em seu trabalho de catequização do índio. Também ocorreram algumas manifestações poéticas, principalmente de caráter religioso, ligados ao esforço catequético.

A apresentação da Carta
            A carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel I, foi escrita na ocasião da descoberta do Brasil. O autor fazia parte da frota comandada por Pedro Álvares Cabral que aportou no litoral brasileiro no ano de 1500. É a primeira representação literária da realidade brasileira. Fixa a nossa origem, inaugura a visão do que somos, iniciando a formação da identidade do país e da nossa formação cultural.
            O conteúdo da Carta de Caminha dialoga com a História, sendo considerada, por isso, um documento histórico. O autor se revela o primeiro cronista do Brasil. A carta realiza uma espécie de relatório para o rei sobre a descoberta da nova terra e o autor se posiciona como testemunha ocular dos fatos. Registra os primeiros momentos do encontro do português com a região, descreve a geografia física e humana do Novo Mundo e revela o impacto cultural dos estrangeiros com os Ameríndios.
            A carta classifica-se como gênero epistolar por possuir, em sua estrutura formal, remetente, destinatário e mensagem. Mas como sua mensagem foi redigida durante vários dias e o seu conteúdo foi dividido a partir dos principais acontecimentos de cada um deles, ela também classifica-se como um Dário. O texto de Caminha pode ser denominado como carta-diário ou um diário atípico.


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