19 de set. de 2012

A HORA DA ESTRELA, Clarice Lispector





Clarice Lispector
BIOGRAFIA DE LISPECTOR
“Nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada Tchetchelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchetchelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem. Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade. Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife. (...) E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.” (Waldman,1983. p. 9-10)

Clarice nasceu em 1925, em uma aldeia ucraniana. Aos dois meses de idade, veio com a família para o Brasil. Morou em Alagoas, Pernambuco, mas passou a infância no Recife. Lá, a autora cursou a escola primária e ginasial. Quando aprendeu a ler aos sete anos de idade, descobriu que os livros eram escritos por autores e o queria ser também. Transferiu-se para o Rio de Janeiro aos doze anos e lá estudou Direito, chegando a trabalhar como redatora e, anos mais tarde, jornalista. Forma-se em 1944, ano em que publica a sua primeira obra, Perto do Coração Selvagem. Olga Borelli, sua grande amiga, conta em depoimento que o método utilizado para escrever seu primeiro livro perduraria para sempre na vida de Lispector: “Clarice tomava notas onde quer que estivesse. Na lanchonete, em guardanapos; no cinema, no maço de cigarros. Clarice ia construindo suas obras fragmentariamente.”
Casou-se, nessa mesma época, com um diplomata brasileiro (Maury Gurgel Valente) e, por isso, afastou-se durante longos períodos do país que tanto amava. Aos dezenove anos já se encontrava em Nápoles, Itália. Mesmo depois de ganhar o prêmio “Graça Aranha” por seu primeiro romance, não se considerava uma escritora profissional, insistia que era uma escritora amadora. Com o marido, teve dois filhos: Pedro e Paulo. Separa-se de Gurgel Valente em 1960, ano em que retorna para o Brasil e passa a morar no Rio de Janeiro.
Em 1976, a escritora recebe um convite inusitado: representar o Brasil num Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, Colômbia. Sua participação lá resumiu-se à leitura de seu conto “O Ovo e a Galinha”, o qual acreditava que ninguém havia entendido. Faleceu no Rio de Janeiro em 1977. 

O ESTILO CLARICEANO
As inovações feitas por Clarice Lispector em sua escritura, desde a sua primeira obra publicada, provocaram grande espanto na crítica e no público da época. Grandes críticos literários chegaram a apontar inúmeras falhas nos romances da escritora, como o fez Álvaro Lins, em sua obra Os mortos de sobrerressaca, 1963, p. 189: “li o romance duas vezes, e ao terminar só havia uma impressão: a de que ele não estava realizado, a de que estava completa e inacabada a sua estrutura como obra de ficção.” Sem a freqüência das estruturas tradicionais dos gêneros narrativos, a narrativa clariceana quebra a ordem cronológica e funde a prosa à poesia. Uma das inovações de sua linguagem para a literatura brasileira é o fluxo de consciência. Para entendermos o que é isso, seguiremos a definição de Norman Friedman sobre análise mental, monólogo interior e fluxo de consciência. “O primeiro é definido como um aprofundamento nos processos mentais da personagem por uma espécie de narrador onisciente; o segundo, um aprofundamento maior, cuja radicalização desliza para o fluxo de consciência onde a linguagem perde os nexos lógicos e se torna caótica” (KADOTA, s/d, p. 74). Clarice transitaria pelos três movimentos, apesar de apresentar características mais evidentes de “fluxo de consciência”.
É como se uma câmera fosse instalada na cabeça da personagem, como se pudéssemos acompanhar exatamente o que ela pensa e da mesma maneira como pensa. Sabemos que o nosso pensamento não é ordenado, e quando se pretende demonstrá-lo de forma semelhante, acompanhamos sua desordem. Presente e passado, realidade e desejos da personagem (ou narrador) misturam-se na narrativa, quebrando limites espaço-temporais verossímeis. Joyce e Proust já haviam feito experiências como essa, mas foi Clarice que introduziu esse estilo no Brasil.

A escrava Isaura, Bernardo Guimarães



Bernardo Guimarães: vida e obra


Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em1825. Em 1847 iniciou os estudos na Faculdade de Direito de São Paulo, onde conheceu Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa, com os quais se uniu formando a Sociedade Epicuréia. Nessa fundação, situada em São Paulo, os jovens se juntavam para dar realidade as imaginações românticas, sendo este um ponto de encontro entre a literatura e a vida. Após conseguir o título de bacharel, em 1852, viveu alguns anos no Rio de Janeiro e em Goiás, atuando como jornalista, juiz e professor. Ao longo de sua carreira publicou diversas poesias e romances, dentre eles a Escrava Isaura (1875), sua obra mais popular. Em 1884, faleceu em sua cidade natal, deixando alguns escritos incompletos. Suas principais obras foram Contos da Solidão (1852), O Ermitão de Muquém (1869), O Seminarista (1872), O Índio Afonso (1873), A Ilha Maldita (1879) e a peça A Voz do Pajé,

publicada postumamente em 1914, além, é claro, de A Escrava Isaura. Bernardo Guimarães expressou em sua poesia o mundo exterior, demonstrando a vivência no meio paulistano, porém, vale mencionar como elementos mais relevantes de sua obra poética o encanto pela vida, a natureza e o prazer. Além disso, construiu textos dotados de musicalidade e demonstrou forte preocupação com a métrica. No texto narrativo, Bernardo adotou como principais cenários para seus romances os sertões mineiro e goiano, mas também se utilizou das paisagens nordestinas. Na prosa, observava a vida sertaneja, com seus tipos humanos, marcados por condições psíquicas e sócias peculiares. As paixões amorosas são tratadas de forma natural e por diversas vezes aparecem vinculadas a manifestações psicológicas. Seu estilo natural, com linguagem simples e acessível, fez desse artista um dos mais importantes de sua época, justamente pela facilidade com que o público tinha contato com sua obra, na qual retratava temas próximos da realidade popular. Em 1896, portanto doze anos após a sua morte, foi designado patrono da cadeira no cinco da Academia Brasileira de Letras. 


O NASCIMENTO DO ROMANCE

A publicação de romances em folhetins - os capítulos aparecendo a cada dia nos jornais - já era comum no Brasil desde a década de 1830. A maior parte destes folhetins era composta por traduções de romances de origem inglesa, como as histórias medievais de Walter Scott, ou francesa, como as aventuras dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Emocionados, os brasileiros acompanhavam as distantes aventuras de um Ivanhoé ou de um D’Artagnan, transportando-se, em espírito, para os campos e reinos da Europa.  Embora fizessem sucesso junto ao público, os primeiros romances brasileiros, publicados em folhetim, não deixavam de ser considerados, pelos literatos “sérios”, como “uma leitura agradável, diríamos quase um alimento de fácil digestão, proporcionado a estômagos fracos.” O romance, esse gênero literário novo e “fácil”, que foi introduzido na literatura brasileira por autores como Joaquim Manuel de Macedo e Teixeira e Sousa, ganharia status de literatura "séria" com a obra de José de Alencar. 

Vítimas-Algozes: Quadros da Escravidão, Joaquim Manoel de Macedo






NOTA: Vítima: pessoa ferida, violentada, torturada, assassinada ou executada por outra; pessoa que é sujeita a opressão, maus-tratos, arbitrariedades; pessoa que sofre por sucumbir a vício ou sentimento próprio ou de outrem; pessoa contra quem se comete qualquer crime ou contravenção.
Algoz: carrasco, executor da pena de morte ou de outras penas corporais (como tormentos, açoites etc.). Indivíduo cruel, de maus instintos; atormentador, assassino, aquilo que aflige ou atormenta. (Dicionário HOUAISS)



Sobre o autor:
Joaquim Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí, no dia 24 de junho de 1820. Graduado em Medicina no Rio de Janeiro no ano de 1844, foi também um dos mais significativos autores brasileiros. No mesmo ano em que se formou ele ingressou nas veredas literárias com o clássico A Moreninha, com o qual ganhou celebridade e recursos financeiros. O escritor faleceu no Rio de Janeiro, sua terra natal, em 11 de abril de 1882.

Contexto de produção:
A abolição da Escravatura:
“O Treze de Maio não é uma data apenas entre outras, número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo que avança em duas direções. Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o mesmo homem negro tangido para os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas passaria a vivê-lo como estigma na cor da sua pele" (Alfredo Bosi)

Vítimas-algozes segue na contramão do que se considera o movimento de abolição dos escravos. Ao contrário do ideário romântico de vários poetas abolicionistas contemporâneos de Macedo, o autor alimenta a ideia de que os cativos devem conquistar sua liberdade não porque a merecem, e assim se veriam livres dos maus-tratos de seus proprietários, e sim por estar prejudicando os senhores ao inserirem nas comunidades familiares brancas a degradação orgânica e ética. Sobre o romance, Macedo explica, na nota “Aos Nossos Leitores”, não lhe interessou, nas “educativas” e “moralizantes” histórias que entregava aos consumidores de sua vasta obra, pintar “o quadro do mal que o senhor, ainda sem querer, faz ao escravo”, mas, sim, o “quadro do mal que o escravo faz de assento propósito ou às vezes irrefletidamente ao senhor”. Mesmo com o sinal invertido, a obra é considerada como o retrato de uma ideologia abolicionista. Talvez por esta razão não tenha atraído o leitor do século XIX, nem convencido os críticos assim que foi lançado, em 1869, dezenove anos antes da libertação dos escravos.
Estilisticamente ela integra as fileiras do Romantismo, um dos movimentos literários mais significativos da literatura brasileira. Mas sua fama nasceu do fato de ter sido uma das produções românticas mais alvejadas pela crítica. Apesar de tudo, As Vítimas Algozes é uma representação precisa do país logo depois da abolição dos escravos.




Filme Rio

Rio,  também referenciado como Rio: The Movie, é um filme 3D, animado por computador produzido pela 20th Century Fox e pela Blue Sky Studios. Dirigido por Carlos Saldanha, o título do filme refere-se ao município de Rio de Janeiro, onde é ambientado.  Recebeu uma indicação ao Oscar 2012 com "Melhor Canção Original", com "Real in Rio", cantada por Sérgio Mendes e Carlinhos Brown.
Depois de chamar atenção como co-diretor de A Era do Gelo (2002) e Robôs (2005) e como diretor das duas continuações da aventura glacial, o brasileiro Carlos Saldanha decidiu homenagear sua cidade natal com a animação Rio. O trabalho em 3D, com planos abertos e profundidade de campo, valoriza as belíssimas paisagens e belezas naturais da cidade, resultando em uma animação visualmente perfeitaRio tem como principal aspecto visual exaltar as belezas e o carnaval da cidade do Rio de Janeiro, embora se aproprie de uma espécie de desfocado "olhar estrangeiro", que ignora a vida cotidiana de uma metrópole com tantos problemas e desigualdades, criando uma visão caricata de sua população.
Segundo cálculos da Riotur, a empresa municipal de turismo, as campanhas promocionais do filme alcançaram um número próximo aos dois bilhões de pessoas no mundo todo, em uma tentativa de projetar uma imagem idílica do Rio de Janeiro, cidade-sede da Copa do Mundo 2014 e sede das Olimpíadas de 2016.
O longa conta a história de Blu, uma arara azul domesticada, que não sabe voar. Após ser capturado por contrabandistas de aves exóticas, ainda filhote, Blu acaba indo parar na fria Minnesota (norte dos EUA), bem longe do Rio de Janeiro, mas é tratado com amor e cuidado por Linda. Por ser o último macho de sua espécie, o ornitólogo (biólogo que se dedica ao estudo das aves) Túlio quer convencer Linda a levá-lo para o Rio de Janeiro, a fim de perpetuar a espécie com a fêmea Jade.
E é na "cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos", que Blu irá viver a maior aventura de sua vida e se ver obrigado a esquecer o ambiente doméstico a que estava acostumado, para poder encarar a temida vida numa natureza desconhecida e, aparentemente, hostil.
Além da relevante e bem humorada crítica ao contrabando e comércio ilegal de aves exóticas, também é abordado, embora superficialmente, o importante tema da extinção. O Brasil, hoje, está entre os países lideres na comercialização ilegal de animais silvestres, com mais de 12 mil espécies comercializadas por ano, e movimentando uma rede de mais de 1 milhão de reais nesse mesmo período. 
Desde a Carta de Caminha, busca-se criar uma imagem de Brasil que atraía o olhar estrangeiro. É a busca pela identidade, reafirmada pelo Romantismo e pela fase heroica do Modernismo. A brasileira Carmem Miranda, imagem do país conhecida lá fora, é lembrada na figura do buldogue Luís. Assim, o filme, metonimicamente, é um retrato do Brasil. Desde a abertura do longa, com a vista panorâmica do Pão de Açúcar, e o empolgante desfile de carnaval de aves exóticas, são destacados pontos turísticos do Rio de Janeiro, como os Arcos da Lapa, Cristo Redentor, Praia de Copacabana e Santa Teresa. Tanto para os moradores da cidade, quanto para quem a conhece, as paisagens são bem desenhadas e transpostas com perfeição para o filme, mas, a visão exageradamente carnavalesca da cidade faz supor que o carioca, representação de todo o povo brasileiro, só se preocupasse com futebol e festividades, assim como o fato de em Rio praticamente toda a população carioca ser fluente em inglês, o que não corresponde à realidade. A cor local, a descrição das belezas do país “abençoado por Deus e bonito por natureza” é recorrente. As cores da bandeira são repetidamente ressaltadas, mas o recorte que se faz do que é o país é redutor: o Brasil tem o Sul, o churrasco, os trajes típicos. Tem o nordeste, com suas peculiaridades. A Amazônia e tudo o que ela oferece. O Rio de Janeiro é uma metrópole, com carros importados e de luxo e não apenas kombis velhas e carros ultrapassados, como aparece no filme.
Personagens:
Blu: arara azul domesticada que vem para o Brasil a fim de perpetuar sua espécie. No entanto, chegando aqui não se adapta à vida na selva. Não sabe voar e declara amar sua gaiola. Ele “pensa demais”, odeia samba. No baile funk dança instintivamente, denunciando o “sangue nativo”.
Jade: arara azul, fêmea destinada a cruzar com Blu. Ama a liberdade, mas acaba ficando acorrentada à Blu. É forte e independente, mas se apaixona por Blu e sua salvação, no fim do filme, depende da ação de Blu.


Desmundo, Ana Miranda



DESMUNDO, Ana Miranda


Sobre a autora:
Nascida em Fortaleza, em agosto de 1951, Ana Miranda viveu grande parte de sua vida fora do Ceará. Aos cinco anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro e em 1959 foi para Brasília. Chegou a estudar Artes no Rio de Janeiro. A autora, como se vê, cresceu nas cidades que mais intensamente viveram os efeitos das radicais transformações e da efervescência na vida política, social e, sobretudo, cultural do país. Nesse período, podemos destacar a bossa nova, a contracultura hippie, os festivais de música que deram origem ao Tropicalismo, principal movimento cultural da época, isso tudo em meio a ditadura militar que exercia forte repressão. Enfim, Ana Miranda é de uma geração que não consegue, e nem tenta, ignorar a história. É essa história que figura em sua obra como principal cerne, adornado pela sua ficção internacionalmente reconhecida. Ana Miranda publicou vários livros entre poesias, romances, crônicas e contos. Estreou com o livro de poesia Anjos e Demônios, em 1978, mas foi seu primeiro romance, Boca do Inferno, publicado em 1989, que rendeu a escritora o reconhecimento nacional e internacional, prova disso está no grande número de traduções do livro. A obra foi publicada na França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha. Já nesse primeiro romance, notamos a propensão de Ana Miranda ao romance histórico, fazendo dessa obra uma recriação histórico-literária do Brasil colonial, trazendo personagens como o poeta Gregório de Matos e o jesuíta Antônio Vieira. Por esse livro a autora recebeu o prêmio Jabuti, em 1990. A recriação aparece também no livro publicado em 1996, Desmundo. Dessa vez, a recriação é feita na linguagem do século XVI, contando a história de órfãs mandadas de Portugal ao Brasil para se casar com os colonos. O romance histórico mistura história e ficção, reconstruindo ficticiamente acontecimentos, costumes e personagens. Nessa mistura que se edifica Desmundo mesclam-se fatos identificados na história do Brasil com o viço ficcional edificado pela perspicaz escritora.

Enredo
Em 1570,  Oribela, uma órfã, jovem sensível e religiosa, é mandada de Portugal, junto com sete outras, a mando da Rainha para se casarem com colonos no Brasil. No caminho, os relatos sobre a viagem e os medos gerados por ela dão o tom da narrativa.
Outra personagem, mandada para o Brasil também é uma viúva, a Velha, que, devido a sua experiência de vida, acaba por se tornar uma espécie de conselheira das mulheres que foram mandadas para o degredo. Logo que chegam ao Brasil, hospedam-se em uma pensão, enquanto os casamentos são arranjados. Oribela casa-se com Francisco de Albuquerque, rico colono, proprietário de terras e escravos, mesmo que ela só reconhecesse nele o que há de mais repugnante no mundo (seu cheiro, seu aspecto físico, seu passado de viajante...). Ainda virgem, é forçada a manter relações sexuais com Francisco na noite de núpcias. Após isso, ele a deixa livre para que, quando ela tivesse vontade de se entregar para ele, que o viesse procurar, pois ele não mais a forçaria. Oribela arquiteta planos para a fuga, buscando encontrar uma forma de retornar para Portugal. Descobre um meio: entrar clandestina (fantasiada de homem) em uma nau. Para tanto, precisava arranjar dinheiro para subornar as pessoas que lhe deixariam embarcar. Durante meses (enquanto se esperava a chegada da nau), junta dinheiro. Mas, ao fugir de casa e dirigir-se para embarcar, é enganada e quem deveria ajudá-la rouba seu dinheiro e a estupra. Durante o estupro, seu marido, Francisco, aparece, mata os estupradores e leva Oribela novamente para casa, onde a prende com uma corrente nos pés. Ao sair para suas expedições de caça de índios,
Oribela é obrigada a viver o cotidiano da casa, durante o qual torna-se cada vez mais íntima de Temericô, uma índia que trabalhava na casa, a quem ensina um pouco do português e de quem aprende a língua indígena, além de receber diversos costumes.
Durante uma das expedições, Francisco de Albuquerque a leva junto. É quando vê uma certa grandeza em seu marido, ao guerrear com os indígenas, mas esse reconhecimento do valor do marido não é suficiente para gerar nela amor. Ao retornarem, com milhares de índios cativos (que em parte seriam vendidos como escravos, em parte seriam aproveitados nas terras do marido), Oribela sente pena deles. As terras de Francisco de Albuquerque são atacadas pouco tempo depois e é quando Oribela aproveita a confusão para fugir novamente. Torna a esperar por uma nau que a pudesse levar para Portugal, mas desta vez esconde-se na casa de Ximeno Dias, um mouro. Apesar dele se mostrar gentil, educado, instruído, de possuir livros (que Oribela não vê sentido), os preconceitos dela sobre os mouros estão sempre a fazendo desconfiar dele. A sua cor (vermelho), o seu corpo sem pelos, ao mesmo tempo que a atraem, fazem com que ela reconheça nele a possibilidade dele ser o diabo, mas por fim acaba por entregar-se a ele. Logo da chegada de uma nova nau, meses depois de sua fuga, é descoberta pelo marido que vagava pela cidade a buscá-la. Está grávida. É levada para casa, onde tem o bebê. Pouco tempo depois do nascimento, Francisco de Albuquerque pega o filho e parte com ele para Portugal.
Oribela, não desejando nada daquele homem, queima a casa onde moravam com tudo que nela houvesse. Parte, então, sozinha, para enfrentar a vida na colônia, um lugar que não gostaria de estar, lembrando de Portugal, mas sentindo ódio de toda essa situação.


Análise da obra: Entre ficção e história: Desmundo, de Ana Miranda


A Carta do Achamento







A CARTA DO ACHAMENTO, Pero Vaz de Caminha

Estilo de época
            O primeiro período da história da literatura brasileira é chamado de Quinhentismo. Começou em 1500, ano em que Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, enviou a D. Manuel  I a famosa Carta, em que se comunicava ao soberano o “achamento” das terras brasileiras. Em 1601foi publicado o poema “Prosopopeia”, de Bento Teixeira, tradicionalmente considerado a obra inicial do Barroco literário brasileiro.
            A produção literária do Brasil do século XVI liga-se a duas necessidades práticas principais da empresa colonizadora portuguesa: a de fornecer informação sobre a nova terra e a de converter os indígenas ao cristianismo. Nessa literatura de valor principalmente documental, encontramos elementos importantes para a compreensão de nossas origens históricas e literárias.
            Essa produção literária proveio principalmente dos esforços iniciais de conquista das novas terras. Dessa forma, houve várias manifestações em prosa, em sua maioria tratados, cartas e diários, cuja principal finalidade era descrever a paisagem e a vida brasileiras, atuando como fonte de informação aos europeus. Além disso, o teatro conheceu algum desenvolvimento sob forma de autos versificados compostos pelos jesuítas em seu trabalho de catequização do índio. Também ocorreram algumas manifestações poéticas, principalmente de caráter religioso, ligados ao esforço catequético.

A apresentação da Carta
            A carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel I, foi escrita na ocasião da descoberta do Brasil. O autor fazia parte da frota comandada por Pedro Álvares Cabral que aportou no litoral brasileiro no ano de 1500. É a primeira representação literária da realidade brasileira. Fixa a nossa origem, inaugura a visão do que somos, iniciando a formação da identidade do país e da nossa formação cultural.
            O conteúdo da Carta de Caminha dialoga com a História, sendo considerada, por isso, um documento histórico. O autor se revela o primeiro cronista do Brasil. A carta realiza uma espécie de relatório para o rei sobre a descoberta da nova terra e o autor se posiciona como testemunha ocular dos fatos. Registra os primeiros momentos do encontro do português com a região, descreve a geografia física e humana do Novo Mundo e revela o impacto cultural dos estrangeiros com os Ameríndios.
            A carta classifica-se como gênero epistolar por possuir, em sua estrutura formal, remetente, destinatário e mensagem. Mas como sua mensagem foi redigida durante vários dias e o seu conteúdo foi dividido a partir dos principais acontecimentos de cada um deles, ela também classifica-se como um Dário. O texto de Caminha pode ser denominado como carta-diário ou um diário atípico.


9 de set. de 2012

Se quer saber, ainda te espero, baby!


Tudo o que há de bom em mim
Eu já te dei (...)
Tudo o que há de bom me faz
Lembrar você...

Se quer saber, ainda te espero, baby!
Maurício Maniery

Por que eu nunca soube purgar aqui dentro as lembranças de você? E elas hoje chegaram e trouxeram consigo tua voz, teu cheiro e uma vontade imensa de fazer de você e eu de novo nós dois. 
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