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6 de out. de 2015

Análise literária Cartas Chilenas, Tomás Antônio Gonzaga

“De que te ris? Trocando os nomes, a fábula fala de ti...” 

Sobre o autor: Tomás Antônio Gonzaga - nasceu no Porto, a 11 de agosto de 1744. Com oito anos, é trazido ao Brasil e matriculado no Colégio da Bahia. De volta a Portugal, forma-se em direito (Coimbra). Depois de tentar a carreira universitária, abraça a magistratura. Em 1782, está em vila Rica (Minas Gerais) como ouvidor. Apaixona-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, que imortalizaria com o pseudônimo de Marília. Implicado na conjuração mineira (1789) é preso e levado para a Ilha das Cobras. Em 1792, condenado ao exílio, segue para Moçambique, onde refaz sua vida casando-se com Juliana de Sousa Mascarenhas, viúva rica e analfabeta. Prestigiado e abastado, falece em 1810. Sua obra divide-se em poética (Liras, duas partes, 1792 e 1799; Cartas Chilenas, 1845, edição incompleta; 1863 edição completa) e em prosa Tratado de Direito Natural, 1942. Tomás 

Antônio Gonzaga e a Vila Rica do século XVIII 

A capitania (Vila Rica) era o centro de negociações do ouro e diamantes extraídos nas riquíssimas redondezas. Mas o ouro não era nosso, a política da Coroa portuguesa seguia uma única receita: tratar a colônia como a "vaca americana" - na famosa expressão de d. João IV - da qual era preciso arrancar a todo o custo o leite, o couro e os ossos. Como consequência de tanta exploração e espoliação, os minérios começavam a esgotar-se. Além do mais, era impossível fazer face aos impostos excessivos garroteados pelo insaciável fisco português. A maior parte dos contribuintes de Vila Rica - ricos e médios - devia fortunas à Coroa. Somavam-se a esse abuso o alto preço da mão-de-obra escrava e dos instrumentos de mineração e, ainda, os altos donativos exigidos pelo clero. O ambiente da capitania era extremamente tenso. Configurava-se um estado de coisas que não podia continuar, sob pena de gerar um conflito aberto com as autoridades portuguesas. A 10 de outubro de 1783, o capitão-general Luís da Cunha Meneses assumia o governo. Seu autoritarismo e inúmeros desmandos iriam agravar a situação. O governador desrespeitava sistematicamente as decisões da Justiça sobre concessões de negócios e questões administrativas, decretava medidas ilegais, vendia cargos, títulos etc. Para sustentar-se no poder, valeu-se de um grupo de arrivistas e privilegiados. Militarizou o governo, aumentando exageradamente a tropa, e usou a força militar para a cobrança da taxa dos dízimos. 

Tomás, Cunha Meneses e as Cartas 

Gonzaga, em seu cargo de ouvidor, via com frequência suas decisões desrespeitadas. Reagiu com firmeza e opôs-se ao governador, contestando seus atos e protestando junto às autoridades superiores. Por fim, enviou um carta à rainha em que relatava o "notório despotismo" de Cunha Meneses. Cauteloso, sem correr riscos desnecessários, fez que o poema circulasse clandestinamente. Atribuiu o poema a um autor chileno, também escondido sob o pseudônimo Critilo. 

Cartas Chilenas 
As Cartas Chilenas são num total de 13 cartas escritas por Tomás Antônio Gonzaga, o qual usava o pseudônimo de Critilo, no entanto, esse pseudônimo ficou por muito tempo obscuro. Tais Cartas relatavam os desmandos, os atos corruptos, o nepotismo, o abuso do poder, a falta de conhecimento dos cidadãos e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais do governador. As cartas foram escritas em relatos na forma de versos decassílabos (versos que contém dez sílabas poéticas) brancos (sem rima). Gonzaga finge escrever do Chile, contando a um amigo os abusos do governo, na cidade de Santiago. Mas percebe-se pelas circunstâncias relatadas que o país não é Chile, mas retrata Minas Gerais; que a cidade não é Santiago, mas Vila Rica e que o amigo é Cláudio Manuel da Costa, cujo pseudônimo é Doroteu, e que os abusos estavam acontecendo no governo de Cunha Meneses. As Cartas Chilenas contam as injustiças e violências que Cunha Meneses "Fanfarrão" executou em seu governo. Essas Cartas circularam em Vila Rica pouco antes da Inconfidência Mineira, em 1789. Nelas podemos encontrar a sátira do poeta à mediocridade administrativa. 

O momento histórico e o Arcadismo: 

A época do Arcadismo tem início em 1768, com o aparecimento das Obras de Cláudio Manuel da Costa, e desenvolve-se até 1836, ocasião em que Gonçalves de Magalhães publica Suspiros poéticos e Saudades, dando começo a revolução romântica. Movimento eminentemente poético, de repúdio às demasias perpetradas pelo Barroco, arregimentou pela primeira vez em nossa história literária um grupo de escritores mais ou menos coeso em seus desígnios e com um relativo sentido corporativo: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama, Frei José de Santa Rita Durão. Assim, nesse período em que a Europa vivia a Revolução Francesa, o Brasil também se agitava com os movimentos nativistas, como a própria história conta, as Minas Gerais era uma verdadeira "mina" para a Coroa Portuguesa e o povo precisa ter voz, portanto, ninguém melhor que os homens letrados para despertar o sentimento nacional, pois só a Literatura consegue, usando a palavra como sua matéria-prima, dizer o que muitos já podem ter dito, de um jeito tão próprio que encanta aquele que percebe a maneira tão peculiar de usar a palavra. 

Características gerais da obra: 

• Cartas como crônicas de um tempo marcado pela corrupção, pela política de favorecimento, pelo abuso de poder. 
 • Fanfarrão é um antiexemplo: suas atitudes autoritárias e de desordem administrativa devem ser lidas, observadas e evitadas pelos demais governantes. 
• Há na obra a dessacralização da epopeia: não há feitos grandiosos de um herói; produção mais próxima da crônica. 
• Teor satírico. 
• Predomínio da razão, Iluminismo. 
• Presença da paisagem física e social da época. 

Intertextualidades 
• Dom Quixote e Sancho Pança: associação irônica entre os ideais e nobreza de alma dos personagens de Miguel de Cervantes e a ausência dessas características no governador das Minas. A loucura de Sancho estava em governar bem, a do Fanfarrão está em não governar com sabedoria. Dom Quixote é louco por acredita nos ideais, naquilo que é bom e ideal. Fanfarrão Minésio é um governador louco por depreciar os bons valores e trazer a baderna prejudicial à sociedade. 
• Referências a diversos personagens e acontecimentos bíblicos. 
• Nero, governador de Roma: associação entre o autoritarismo de Minésio e o personagem romano. 
• Virgílio, Camões e lendas mitológicas. 

Associações necessárias: 
• Chile: Minas Gerais 
• Santiago: Vila Rica 
• Espanha: Portugal 
• Madrid: Lisboa 
• Salamanca: Coimbra 
• Fanfarrão Minésio: d. Luis da Cunha Meneses 
• Critilo: Tomás Antônio Gonzaga 
• Doroteu: Claudio Manuel da Costa. 

 Estrutura da obra: 
Prólogo: O prólogo é uma conversa com o leitor onde o autor explica do que se trata a obra, neste caso, ele diz que encontrou um cavalheiro instruído nas letras e que trazia com ele uns manuscritos onde eram relatadas todas as desordens no governo de Fanfarrão Minésio, general do Chile. O autor então supostamente traduz esse manuscrito e confessa que mudou algumas coisas para melhor entendimento. 
Dedicatória: escrita aos grandes de Portugal. Além de dedicar as cartas aos nobres portugueses, esse tradutor conclama-os a se tornarem mecenas e protetores de sua publicação. 
Treze cartas: compostas por 4268 versos, nos quais Critilo, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu, que está na Espanha. 
Epístola a Critilo: é a resposta de Doroteu a Critilo. Nessa epístola, Doroteu expõe suas emoções diante dos fatos narrados e explicita os efeitos que as cartas provocarão nos chefes ruins e impuros. Todas as treze cartas relatam desde a chegada de Fanfarrão ao Chile até a última carta, a de número treze onde ele mostra que o povo se acostuma ao sistema, que chegou de mansinho, justificado não pela virtude de quem o trouxe, mas pelo falso zelo religioso. 

 Análise das cartas
 • Primeira carta: Durante toda a primeira carta, o leitor é apresentado ao Fanfarrão e percebe o quanto o novo governante é inadequado para governar as Minas Gerais. Toda a carta gira em torno da chegada do mesmo em Santiago do Chile (Vila Rica) e sua prepotência ao tratar as pessoas da região. • Segunda carta: texto que salienta quem se mostrava ser o Fanfarrão Minésio: quis parecer piedoso, chega a fazer cena de religioso na Igreja. No entanto, intromete-se em decisões que deveriam caber à justiça, porta-se com autoritarismo, liberta presos culpados, não pune conforme as leis e ensina o povo a porta-se também de modo corrupto. 
 Terceira carta: a partir da terceira carta, surgem em episódios sucessivos os atos de desmando, de desprezo e humilhação às outras autoridades e aos ilustres da terra, os favorecimentos ilícitos, o grupo de favoritos e privilegiados do poder, a corrupção. São relatadas as injustiças ocorridas por causa da construção de uma cadeia, hoje Museu da Inconfidência: Pretende, Doroteu, o nosso chefe Erguer uma cadeia majestosa, Que possa escurecer a velha fama Da torre de Babel e mais dos grandes, Custosos edifícios que fizeram Para sepulcros seus, os reis do Egito. A construção da cadeia é tida como inadequada para a região, de mau gosto, construída com mão de obra escrava. É relatado o gasto do dinheiro público, os atos do governante que contrariam as leis vigentes, as injustiças ao prender pessoas simples que cometeram crimes brandos... 3ª Carta faz alusão também aos homens de pele negra que são mantidos em cadeias que prendem os seus corpos físicos, mas não conseguem prender suas mentes, seus espíritos, seus sonhos. 
Quarta carta: Continua a se falar da cadeia, da condição terrível a que os operários são submetidos, a exploração do homem do campo, mais de quinhentos homens amontoados na cadeia, más condições de vida, o mau cheiro... Fanfarrão manda ainda que os carros da igreja fiquem a sua disposição. 
 • Quinta e sexta carta: Contam os exageros de Luis da Cunha Meneses ao festejar, em terras brasileiras, o casamento de D. João VI e Carlota Joaquina. São detalhados os luxos da festa e todo a exploração que a colônia viverá para poder suster o evento: impostos são aumentados e as reservas públicas são sugadas. A sexta carta relata como os membros do governo portam-se de modo indecente em “festas” promovidas por Fanfarrão em sua casa. Moral: um mau governo gera um povo também mau.
• Sétima carta: Fanfarrão transgride as leis que regulam a concessão de áreas para extração de ouro. Com isso, beneficia a quem convém, e prejudica a quem deseja proceder corretamente. Maldito, Doroteu, maldito seja O pai de Fanfarrão, que deu ao mundo, Ao mundo literário tanta perda, Criando ao hábil filho numa corte, Qual morgado, que habita em pobre aldeia! 
 • Oitava carta: Carta fragmentada (em algumas edições esta é a carta sétima) O teor da epístola é sobre o quanto o Fanfarrão é ignorante, sem cultura. “Maldito, Doroteu, maldito seja O pai de Fanfarrão que o deu ao mundo Ao mundo literato tanta perda Criando ao hábil filho numa Corte, Qual morgado, que habita em pobre aldeia! Sabendo apenas ler redonda letra, Que abismo não seria, se soubesse Verter o breviário em tosca prosa!” 
 • Nona carta: As tropas militares eram organizadas por Minésio: a seu modo e gosto. Havia pessoas sem nenhum tipo de habilidade militar, outros eram ainda garotos, alguns doentes. A alguns concede títulos militares: muitas vezes pessoas sem nenhum respaldo moral. 
 • Décima carta: Agora, Minésio interfere no tribunal de justiça. Mistura dos poderes. Ele se faz a única lei cabível e aceitável para Vila Rica. 
Décima primeira carta: A carta retoma as muitas arbitrariedades de Fanfarrão Minésio: autoritarismo, desmandos, desrespeito à justiça, venda de cargos e títulos... 
Décima segunda carta: Fala das trapaças e corrupções do Fanfarrão Minésio. 
Décima terceira carta: Carta incompleta. Fala sobre a manipulação que os governos e as crenças imputam ao povo. Crítica a falta de razão. 20 --Também este sistema: ao seu ouvido / Acostuma a chegar-se a mansa pomba. / A nação, ignorante, se convence / De que este seu profeta conhecia / Os segredos do céu, por este meio. 25 -- Não há meu Doroteu, não há um chefe, / Bem que perverso seja, que não finja, /Pela religião, um justo zelo, / E, quando não o faça por virtude, /Sempre, ao menos, o mostra por sistema. E finaliza com uma despedida dizendo que a virtude cobrará daquele que é soberbo. 

 As Cartas e o seu poder de crítica 

Não há nada nas Cartas que corresponda a um sentimento de nacionalismo e rebeldia contra o domínio português ou contra o sistema de poder . Sua crítica dirige-se à violação da justiça constituída, ao abuso de poder, à corrupção palaciana e aos desmandos apoiados na militarização do governo ("Não há, não há distúrbio nesta terra / De que a mão militar não seja autora"). As Cartas têm um tom de realismo e de vigor de linguagem raros para a época, um tanto asfixiada pelas convenções e vagas generalidades do Arcadismo. Em vários trechos, a linguagem das Cartas traz a presença da paisagem física e social brasileira. A crítica contida nela ultrapassa as circunstâncias de um determinado governo para desnudar as bases do autoritarismo colonial, com seu sistema de privilégios e sua mão militar.

3 de nov. de 2013

PAES 2013 –"CARAMURU" análise literária

O AUTOR: FREI JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO

Frei José de Santa Rita Durão nasceu em Minas Gerais no ano de 1722, estudou no colégio dos jesuítas no Rio de Janeiro, e aos nove anos foi para Portugal continuar os estudos. Em Lisboa, ingressa na Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, em seguida, cursou Teologia, na Universidade de Coimbra, aos trinta e quatro anos, doutorou-se em Filosofia e Teologia na mesma Universidade. Em 1781, foi publicado seu poema épico Caramuru. Morreu em 1784, após ter dedicado uma vida inteira aos estudos, deixando além de poemas outros textos.

1 - CONTEXTO HISTÓRICO
A Arcádia, cujo nome deu origem ao período literário europeu, denominado Arcadismo, era uma região lendária da Grécia, habitada por pastores que levavam uma vida muito simples, em perfeita harmonia com a natureza. Assim, arcadismo passou a designar academias, lugares onde poetas, estudantes e escritores se reuniam para discutirem assuntos artísticos e literários adotando pseudônimos pastoris. O último estilo da Era Clássica evoluiu pela necessidade de transformação, fazendo novamente uma retomada dos valores clássicos com simplicidade, procurando restaurar o equilíbrio, por isso é também chamado de neoclassicismo. 
O movimento Arcádico caracterizou-se pela rejeição polêmica do Barroco e o retorno ao Classicismo. O movimento surgiu posicionando-se contra os exageros de expressão do Barroco que já havia cansado o público, procurando por todos os meios negar-lhe o estilo. 

2 – ARCADISMO: MOVIMENTO E SUAS CARACTERÍSTICAS
O movimento árcade iniciou na carreira na segunda metade do século XVIII, este século ficou marcado como o século das luzes, do Iluminismo, este movimento filosófico divulga a ideia de que o uso da razão, da liberdade de pensamento é o único meio para satisfazer as necessidades e a felicidade humana. Nossa literatura logo adotou as novas ideias. Desse modo as influências do pensamento burguês se alastram em toda a Europa.
No Brasil, os estudiosos da história da literatura consideram o marco inicial do Arcadismo a publicação, em 1768, das Obras Poéticas de Cláudio Manoel da Costa. Ainda seguindo o modelo europeu, os poetas já abordam os temas neoclássicos, introduzindo elementos da realidade colonial e da natureza brasileira. O movimento árcade, no Brasil é também conhecido como Escola Mineira por corresponder ao período do século do ouro em Minas Gerais que passa a ser neste momento o centro econômico, político e cultural. Está ligado, sobretudo em particular a cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto) e do Rio de Janeiro.
São características deste período: o culto à natureza, o bucolismo, o homem natural, o uso de palavras simples, a presença da mitologia, a simplicidade na forma e no conteúdo. Durante esse período, formou-se o chamado grupo Mineiro, composto por jovens estudantes, a maioria graduado pela Universidade de Coimbra, que procuravam implantar aqui as ideias extraídas do exterior; dessa forma, foram considerados revolucionários com o episódio da Inconfidência Mineira, dos componentes desse grupo destacam-se: Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga, Basílio da Gama e Frei José de Santa Rita Durão.

4 - ANÁLISES DA OBRA CARAMURU
Santa Rita Durão em sua obra Caramuru trata da colonização da Bahia no século XVI, tendo como ação central a lenda que envolve Diogo Álvares Correia, português que, após um naufrágio, amedronta os índios com um tiro de espingarda, o suficiente para que os índios atribuam características sobrenaturais chamando-o de "Caramuru", na versão de Santa Rita Durão "Filho do Trovão". Devido ao prestígio de Diogo com os índios, estes lhe oferecem a índia Paraguaçu como esposa.
                O poema segue rigorosamente o modelo Camoniano, obedecendo as regras apresentadas em os Lusíadas: 10 cantos, estrofes de 8 versos, esquema de rima ABABABCC. Em resumo, Caramuru "nasceu da crença de que a nossa história reservava um assunto tão digno quanto o de Os Lusíadas .
O Frei caracteriza-se em sua obra por ser o primeiro a abordar o habitante nativo do Brasil, também por apresentar uma descrição detalhada dos primórdios da colonização do Brasil, relatos de cenas de guerras entre as nações indígenas, de dados sobre a fauna, a flora, a paisagem brasileira, os costumes e tradições indígenas e, por fim, sobre os acontecimentos históricos em relação à formação do Brasil, os quais podem ser citados, as Invasões francesas e Holandesas e a divisão dos países em capitanias.
A narrativa épica deste notável escritor mineiro destaca-se a exaltação das terras brasileiras, descrita de forma maravilhosa e curiosa, dessa forma, apresenta-se o ufanismo, isto é, "atitude ou sentimento de quem se vangloria exageradamente das belezas, riquezas e vantagens do Brasil".
Esta obra, "Caramuru", apresenta para a sociedade a exaltação das terras brasileiras, cuja preocupação do poeta foi narrar de forma cuidadosa, descrevendo com precisão de base realista e com riqueza de detalhes a natureza. É relevante ressaltar que Santa Rita Durão para descrever de forma realista inspirou-se no mito ufanista e também através de toda uma biblioteca de informações sobre a terra que constituía a literatura de Informação, ou seja, os primeiros escritos da nossa vida, documentando precisamente a instauração do processo de descobrimento: são informações que viajantes e missionários europeus colheram sobre a natureza e o homem brasileiro.  Desse modo constitui-se a literatura informativa com documentos de navegantes que relatavam sobre suas viagens aventureiras a terra descrevendo as paisagens exóticas, catalogando as espécies de animais e vegetais encontradas. Da mesma forma, Santa Rita Durão conservou estas informações da terra afirmando ser um verdadeiro paraíso colorido. Dentre essas informações de relatos sobre a terra em particular baseou-se na carta de Pero Vaz de Caminha.
Nesse sentido, as ideias de exaltação das belezas, riquezas e vantagens de um novo mundo podem ser descritos claramente nas palavras do poeta observadas no canto VII, na estrofe XXI, aproximando sua narrativa épica da carta do achamento do Brasil, nos aspectos que nos remetem a visão do paraíso refletida na descrição ufanista.




Vi, não sei será impulso imaginário, 
Um globo de diamante claro e imenso;
E nos seus fundos figurar-se vário
Um país opulento, rico e extenso:
E aplicando o cuidado necessário, 
Em nada do meu próprio a diferença;
Era o áureo Brasil tão vasto e fundo,
Que parecia no diamante um mundo


(Durão, 2003, p. 182).

Frei José de Santa Rita Durão descreve sua primeira visão da terra de caráter maravilhoso chegando a confundir-se com a realidade. Dessa forma ao escrever sua obra "Caramuru", demonstra em suas narrativas descrições inspiradas na Carta do Achamento do Brasil, da mesma maneira como Caminha faz sua descrição espontânea e fluente, através das informações sobre as belezas e grandezas da nova terra, cultivando o espírito ufanista que caracterizou todo o período colonial. Enfatizemos estas informações no canto VII, na estrofe XXIII, fazendo a comparação com o trecho da Carta de Caminha.




Mil e cinqüenta e seis léguas de costa,
De vales e arvoredos revestidas, 
Tem a terra brasílica composta
De montes de grandeza desmedida:
Os Guararapes, Barborema posta
Sobre as nuvens na cima recrescida,
A serra de Aimorés, que ao pólo é raia
As de Ibo-Ti-catu e Itatiaia.
(DURÃO, 2003, p. 163).

Esta terra, senhor, me parece que dá 
Ponta que mais contra o sul vimos até
Outra ponta que contra o norte vem 
De que nos deste Porto houvemos vista,
Será tamanha que haverá nela bem
Vinte ou vinte e cinco léguas por costa.
Tem, ao longo do mar, nalgumas
Partes, grandes barreiras, delas vermelhas, 
delas brancas; e a terra por cima
toda chã e muito cheia de grandes
arvoredos. De ponta a ponta, é tudo 
praia-palma, muito chã e muito formosa.
(Trecho da Carta de Caminha).




Percebe-se que o estilo de narração de Santa Rita Durão assemelha-se ao de Caminha, embora terem sido escritas uma após outra, ambas apresentam a visão de um colorido paradisíaca demonstrando o espírito observador dos autores.

Portanto, esta visão paradisíaca de elevação da nova terra que fora descrita no primeiro documento histórico brasileiro, ou seja, a certidão de nascimento do Brasil, prevalece com grande semelhanças no poema Caramuru, levando à tendência retrospectiva da epopeia clássica, pois, só o capítulo da historicidade do descobrimento da Bahia era incapaz de suportar a obra "Caramuru" como um poema épico brasílico.
Não podemos nos esquecer que epopeia é um poema narrativo em que prevalece o maravilhoso, isto é a mistura de fatos reais e mitos, heróis e deuses. Para tanto, "Caramuru" é de extrema importância nacionalmente, pois está baseado na vida histórica do nosso país no tempo em que fomos colônia, sendo assim, o resultado de uma visão teocêntrica do nosso passado histórico. Em suma, Santa Rita Durão proclamava nas reflexões prévias e argumentos e as motivações que o levaram a escrever o poema "os sucessos do Brasil não mereciam menos um poema que os da índia". (Durão, 2003, p. 13).

Personagens

Diogo Álvares Correia - o Caramuru                                          Paraguaçu - filha do cacique Taparica
Gupeva e Sergipe - chefes indígenas                                         Moema - índia amante de Diogo.

Enredo e estrutura da obra
Caramuru  tem os elementos tradicionais do gênero épico: duros trabalhos de um herói, contato de gentes diversas, visão de uma sequência histórica. 
É composto de dez cantos e, de acordo com o gênero, divide-se em cinco partes: proposição, invocação, dedicação, narração e epílogo, e segue o esquema camoniano, usando a oitava-rima, observando a divisão tradicional em proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Uso da linguagem mitológica e do maravilhoso pagão e cristão, rigorosamente nos moldes camonianos.
Canto I - Na primeira estrofe, o poeta introduz a terra a ser cantada e o herói - Filho do Trovão -, propondo narrar seus feitos (proposição). Na estrofe seguinte, pede a Deus que o auxilie na realização do intento (invocação), e da terceira à oitava estrofes, dedica o poema a D. José I, pedindo atenção para o Brasil, principalmente a seus habitantes primitivos, dignos e capazes de serem integrados à civilização cristã. Se isso for feito, prevê Portugal renascendo no Brasil.
Da nona estrofe em diante, tem-se a narração. A caminho do Brasil, o navio de Diogo Álvares Correia naufraga. Ele e mais sete companheiros conseguem se salvar. Na praia, são acolhidos pelos nativos que ficam temerosos e desconfiados. Os náufragos, por sua vez, também temem aquelas criaturas antropófagas, vermelhas que, sem pudor, andam nuas. Assim que um dos marinheiros morre, retalham-no e comem-lhe, cruas mesmo, todas as partes. 
Sem saber o futuro, os sete são presos em uma gruta, perto do mar, e, para que engordem, são bem alimentados. Notando que os índios nada sabem de armas, Diogo, durante os passeios na praia, retira, do barco destroçado, toda pólvora e munições, guardando-as na gruta. Desde então, como vagaroso enfermo, passa a se utilizar de uma espingarda como cajado.
Para entreter os amigos, Fernando, um dos náufragos, ao som da cítara, canta a lenda de uma estátua profética que, no ponto mais alto da ilha açoriana, aponta para o Brasil, indicando a futuros missionários o caminho a seguir. Um dia, excetuando-se Diogo, que ainda estava enfermo e fraco, os outros seis são encaminhados para os fossos em brasa. Todavia, quando iam matar os náufragos, a tribo do Tupinambá Gupeva é ferozmente atacada por Sergipe. Após sangrenta luta, muitos morrem ou fogem; outros se rendem ao vencedor que liberta os pobres homens que desaparecem, no meio da mata, sem deixar rastro.
Canto II - Enquanto a luta se desenvolve, Diogo, magro e enfermo para a gula dos canibais, veste a armadura e, munido de fuzil e pólvora, sai para ajudar os seis companheiros que serão comidos. Na fuga, muitos índios buscam esconderijo na gruta, inclusive Gupeva que, ao se deparar com o lusitano, saindo daquele jeito, cai prostrado, tremendo; os que o seguiam fazem o mesmo; todos acham que o demônio habita o fantasma-armadura. 
Álvares Correia, que já conhecia um pouco a língua dos índios, espera amansá-los com horror e arte. Levantando a viseira, convida Gupeva a tocar a armadura e o capacete. Observa, amigavelmente, que tudo aquilo o protege, afastando o inimigo, desde que não se coma carne humana. Ainda aterrorizado, o chefe indígena segue-o para dentro da gruta, onde Diogo acende a candeia, levando-o a crer que o náufrago tem poder nas mãos. 
Sob a luz, vê, sem interesse, tudo que o branco retirara da nau. Aqui, o poeta, louva a ausência de cobiça dessa gente. Entre os objetos guardados pelos náufragos, Gupeva encanta-se com a beleza da virgem em uma gravura.Tão bela assim não seria a esposa de Tupã? Ou a mãe de Tupã? Nesse momento, encantado pela intuição do bárbaro, Diogo o catequiza, ganhando-lhe, assim a dedicação. 
Saindo da gruta, o índio, agora manso e diferente, fala a seu povo Tupinambá, ao redor da gruta. Conta-lhes sobre o feito do emboaba, Diogo, e que Tupã o mandara para protegê-los. Para banquetear o amigo, saem para caçar. Durante o trajeto, Álvares Correia usa a espingarda, aterrorizando a todos que exclamam e gritam: Tupã Caramuru! Desde esse dia, o herói passa a ser o respeitado Caramuru - Filho do Trovão. Querendo terror e não culto, Diogo afirma-lhes que, como eles, é filho de Tupã e a este, também, se humilha. Mas que como filho do trovão, (dispara outro tiro) queimará aquele que negar obediência ao grande Gupeva.
Nas estrofes seguintes, o poeta descreve os costumes da selva. Caramuru instala-se na aldeia, onde imensas cabanas abrigam muitas famílias, que vivem em harmonia. Muitos índios querem vê-lo, tocá-lo. Outros, em sinal de hospitalidade, despem-no e colocam-no sobre a rede, deixando-o tranqüilo. Paraguaçu é uma índia, de pele branca e traços finos e suaves. Apesar de não amar Gupeva, está na tribo por ter-lhe sido prometida. Como sabe a língua portuguesa, Diogo quer vê-la. Após o encontro os dois estão apaixonados.
Canto III - À noite, Gupeva e Diogo conversam sob a tradução feita por Paraguaçu. O lusitano fica pasmo ao saber que, para o chefe da tribo, existe um princípio eterno; há alguém, Tupã, ser possante que rege o mundo; aquele que vence o nada, criando o universo. O espírito de Deus, de alguma maneira, comunica-se com essa gente. Gupeva eloqüente fala acerca da concepção dos selvagens sobre o tempo, o Céu, o Inferno. Abordam a lenda da pregação de S. Tomé em terras americanas. Concluindo a conversa, o cacique diz que estão para ser atacados pelos inimigos; Caramuru aconselha-o a ter calma. De repente, chegam os ferozes índios Caetés que, ao primeiro estrondo do mosquete, batem em retirada, correndo, caindo; achando, enfim, que o céu todo lhes cai em cima.
Canto IV - O temido invasor noturno é o Caeté, Jararaca, que ama Paraguaçu perdidamente. Ao saber que ela esta destinada a Gupeva, declara guerra. Após o ataque estrondoso do Filho do Trovão, Jararaca convoca outras nações indígenas com as quais tinha aliança: Ovecates, Petiguares, Carijós, Agirapirangas, Itatis. Conta-lhes que Gupeva prostrou-se aos pés de um emboaba pelo pouco fogo que acendera, oferecendo-lhe até a própria noiva. O cacique alerta-os que se todos agirem assim, correm o risco de serem desterrados e escravizados em sua própria terra, enchendo de emboabas a Bahia. Apela para a coragem dos nativos, dizendo que apesar do raio do Caramuru ser verdadeiro, ele nada teme, porque não vem de Deus. Não há forças fabricadas que a eles destruam. A guerra tem início e Paraguaçu também luta heroicamente e, num momento de perigo, é salva pelo amado lusitano.
Canto V - Depois da batalha, os amantes discorrem sobre o mal que habita o ser humano e qual a razão de Deus para permiti-lo. Em seguida, em Itaparica, o herói faz com que todos os índios se submetam a ele, destruindo as canoas com as quais Jararaca pretendia liquidá-lo.
Canto VI - As filhas dos chefes indígenas são oferecidas ao destemido Diogo, para que este os honre com o seu parentesco. Como ama Paraguaçu, aceita o parentesco, mas declina as filhas. Na mata, o herói encontra uma gruta com tamanho e forma de igreja e percebe ali a possibilidade dos nativos aceitarem a Fé Cristã, e se dispõe a doutriná-los. Mais tarde, salva a tripulação de um navio espanhol naufragado e, saudoso da Europa, parte com Paraguaçu em um barco francês.
Quando a nau ganha o mar, várias índias, interessadas em Álvares Correia, lançam-se nas águas para acompanhá-lo. Moema, a mais bela de todas, consegue chegar perto do navio Agarrada ao leme, brada todo seu amor não correspondido ao esquivo e cruel Caramuru. Implora para que ele dispare sobre ela seu raio. Ao dizer isso, desmaia e é sorvida pela água. As outras, que a acompanhavam, retornam tristes à praia. Nas demais estrofes do canto, a história do descobrimento do Brasil é contada ao comandante do barco francês.
Canto VII - Na França, o casal é recebido na corte e Paraguaçu é batizada com o nome da rainha Catarina de Médicis, mulher de Henrique II, que lhe serve de madrinha. Diogo lhes descreve tudo o que sabe a respeito da flora e fauna brasileira. 
Canto VIII - Henrique II se predispõe a ajudar Diogo Álvares na tarefa de doutrinamento e assimilação dos índios, oferecendo-lhe tropa e recompensa. Fiel à monarquia portuguesa, o valente lusitano recusa tal proposta. Na viagem de volta ao Brasil, Catarina-Paraguaçu profetiza, prospectivamente, o futuro da nação. Descreve as terras da Bahia, suas povoações, igrejas, engenhos, fortalezas. Fala sobre seus governadores, a luta contra os franceses de Villegaignon, aliados aos Tamoios. Discorre sobre o ataque de Mem de Sá aos franceses no forte da enseada de Niterói e sobre a vitória de Estácio de Sá contra as mesmas forças.
Canto XIX - Prosseguindo em seu vaticínio, Catarina-Paraguaçu descreve a luta contra os holandeses que termina com a restauração de Pernambuco.

Canto X - A visão profética de Catarina-Paraguaçu acaba se transformando na da Virgem sobre a criação do universo. Ao chegar, o casal é recebido pela caravela de Carlos V que agradece a Diogo o socorro aos náufragos espanhóis. A história de Pereira Coutinho é narrada, enfatizando-se o apoio dos Tupinambás na dominação dos campos da Bahia e no povoamento do Recôncavo baiano. Na cerimônia realizada na Casa da Torre, o casal revestido na realeza da nação espanhola, transfere-a para D. João III, representado na pessoa do primeiro Governador Geral, Tomé de Souza. A penúltima estrofe canta a preservação da liberdade do índio e a responsabilidade do reino para com a divulgação da religião cristã entre eles. Na última (epílogo), Diogo e Catarina, por decreto real, recebem as honras da colônia lusitana.

3 de ago. de 2011

Revisão 1º Ano - Arcadismo

Pessoal,

Seguem aí os links dos textos daqui do blog que exploram o Arcadismo. Não deixem de ler e estudar.

Cliquem na caixa ARCADISMO, na coluna ao lado: há sete postagens sobre o tema, o que os ajudará a revisar o conteúdo.

Bom estudo!
Deixo aqui também os links para os livros do PAES-1ª Etapa

Carta do Achamento, Pero Vaz de Caminha: clique aqui
Sermão de Santo Antônio aos Peixes: Clique aqui
O desertor: Clique aqui

O livro PAU-BRASIL não está disponível para download.

O link abaixo refere-se à postagem sobre os lugares no país em que há vestibular seriado. Verifiquem cada um dos links indicados, pois pode ser que algum lugar tenha deixado de realizar o processo, ok?
Vestibular seriado pelo Brasil a fora

14 de jun. de 2010

Arcadismo: eu quero uma casa no campo!!!!!!!!!!!!!

Galerinha dos 1ºs anos,

Deixo aí, abaixo, dois vídeos sobre o Arcadismo.


Ao término desta semana, vocês farão uma prova com o intuito de verificar o que apreenderam até aqui desse estilo de época que visa contrapor os exageros do movimento Barroco.É a ideia da casa no campo, da vida simples, mas tudo tão artificial: digo isso para que você se lembre de uma característica importantíssima para se entender a produção árcade: o convencionalismo. Convencional é aquilo que é resultado de uma convenção, de um acordo, um pacto. Bem, os poetas árcades estavam acordados sobre, no mínimo, dois pontos: entendiam que a produção barroca era exagerada e de mau gosto, sabiam também que o modelo clássico, da Antiguidade Clássica (aquele praticado no Classicismo) e autores como Horácio e Virgílio eram sinônimos de bom gosto, de equilíbrio, racionalidade e de bela escrita. Assim, a produção literária árcade é o resultado da imitação dos modelos greco-latinos de produção poética. Se imitar, nos dias atuais, é entendido como plágio, naquela época saber fazer uma boa imitação era ser um bom poeta.

Se você não entendeu ainda, leia a explicação abaixo:
O termo Arcadismo se deve ao batismo das academias literárias com o título de Arcádias. Essas academias já existiam no século XVII, durante o Barroco. Era nelas que os poetas europeus se reuniam para discutir técnicas de poesia e mostrar suas composições em saraus que eram bastantes competitivos. Naquela época, o poeta que compusesse os textos mais desafiadores da linguagem, com maior inventidade poética, mais palavras difíceis e rebuscamentos de expressão, mais desafiadores à compreensão do leitor (ou seja, os mais difíceis), era considerado o melhor. Só que com o passar do tempo, eles exageraram tanto no rebuscamento que a coisa começou a ser considerada de mau gosto. Esse processo é muito natural. As academias existiam já desde o século XVII. E nessa época elas eram academias. No século XVIII, alguém, que achava que essa história de rebuscar muito a linguagem artística era coisa velha e brega, e que apreciava a linguagem simples e elegante da poesia clássica de Virgílio e Horácio (grandes expoentes da literatura romana e grega), achou que deveria fundar uma academia completamente diferente das que existiam. Um clube descolado, só para gente que embarcasse na nova onda de fazer uma arte completamente diferente da que se fazia na época. E uma academia assim tinha que ter um nome descolado. Como esses dois poetas falavam tanto em campo e coisa e tal, e esse campo era principalmente o da Arcádia, a região da Grécia famosa por seus pastores e rebanhos, lá veio uma ideia: o nome descolado, que vai representar bem quem somos e do que gostamos vai ser esse: Arcádia. Eu fico imaginando isso como escolher um nome de banda de rock daquelas bem pops. E como logo depois sempre vem as marias-vai-com-as-outras que adoram imitar quem lança moda, tome a pipocar academia com o nome de Arcádia aqui e ali. E daí veio o nome Arcadismo: o estilo de poesia cultivado dentro das arcádias.
Uma das bases históricas e filosóficas do Arcadismo é a Revolução Francesa com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Se por sermos iguais, devemos todos ser fraternos, devemos também lutar para que todos sejam livres, em todos os níveis de liberdade que existem. Devemos levar àqueles menos afortunados a possibilidade de tomarem as rédeas de suas próprias existências e combater aqueles que impedem que as pessoas sejam livres e dignas em igualdade. Devemos combater as elites aristocráticas.E o que poesia tem com isso? Tudo. Simplificando a linguagem (inutilia truncat), ao invés de escrever para essa elite, o Arcadismo possibilita que todos possam desfrutar da poesia com igualdade. Assumindo a imagem do pastor que vive em aurea mediocritas (uma vida preciosa em sua simplicidade), o poeta é solidário com os pobres (tá, que pobreza não é miséria, mas pelo menos você dizer que dá para ser feliz sendo pobre é um alento para quem é miserável, não é mesmo?).

Viram que combinação feliz. O pastor, que já era uma figura querida porque os árcades queriam imitar Virgílio e Horácio, ganha ainda mais valor, porque os árcades vão querer ser solidários ao povo. Bonitinho né? Pena que artificial. Afinal, quem escreve, nessas sociedades europeias e brasileira, no século XVIII, é quem tem dinheiro para ser esclarecido. E quem tem esse dinheiro acha lindo que se fale em igualdade social. Desde que não se mexa com o dele.


Resumindo no que deu isso: um grande articialismo. Porque poeta árcade que é poeta árcade acha lindo ir viver em num lugarzinho tranquilo (locus amoenus), numa casinha no campo (fugere urbem), aproveitando a vida. Desde de que, é claro, não mexam no dele. Ou vocês acham que os senhores bacharéis foram pegar na enxada e saíram de suas confortáveis casas na cidade?
Acabou-se que a teoria era linda, mas a prática era tão complicada… E ficou a coisa só como convenção. Quem quer defender o Iluminismo na poesia, entra numa Arcádia, adota um pseudônimo de pastor e manda brasa nos versos. Depois, os árcades fechavam os livros e cadernos e tudo voltava a ser como era antes.

(Adaptado de: www.literarizando.blogspot.com)
 
Há mais textos, vídeos e estudos sobre o movimento árcade no arquivo do blog, basta conferir na coluna ao lado: Por assunto- Arcadismo. 

Agora vejam os vídeos: 

16 de nov. de 2009

Literatura faz parte da história de Ouro Preto

Programa Terra de Minas sobre a antiga Vila Rica. Produzido por ocasião do Fórum da Letras,evento internacionalmente conhecido e aplaudido por leitores, autores, universitários e professores.

Ouro Preto é e será , “uma musa natural”,onde se pode respirar arte , romance, política, como bem nos retrata Rui Mourão, no livro Boca de Chafariz. A cidade jamais deixará de inspirar, poetas , músicos, pintores , artistas ,amantes intelectuais ou não; gente de toda a sorte que por ali passam,provam sua comida e bebida ,brindando numa atmosfera misteriosa, a cidade que sempre terá um segredo a nos revelar.

Deixo para meus alunos e demais leitores um vídeo sobre a história de Ouro Preto, sua Literatura e seus autores.



7 de out. de 2009

Alunos do Colégio Delta visitam Ouro Preto e participam de palestra com o autor Rui Mourão




            Visando proporcionar a seus alunos do 1º Ano do Ensino Médio uma formação ainda ampla, o Colégio Delta realizou no último final de semana uma viagem cultural a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Lugar que provoca encantamento a quem visita, a centenária Ouro Preto é palco de três das quatro obras literárias que compõem a 1ª etapa do Vestibular Seriado da Unimontes neste ano. Boca de Chafariz, do escritor contemporâneo Rui Mourão, Marília de Dirceu e Cartas Chilenas, do poeta árcade Tomás Antônio Gonzaga desfrutam da paisagem ouropretana e dialogam com os acontecimentos históricos que norteiam a cidade mineira Patrimônio Cultural da Humanidade.
            Ao passearem pelas ruas de Ouro Preto, os estudantes puderam observar a expressão barroca presente na paisagem e na arquitetura colonial das igrejas locais, conheceram algumas das obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, além de terem a oportunidade de visualizar o cenário do amor de Dirceu e Marília, personagens de Tomás Antônio Gonzaga, e dos desmandos administrativos que motivaram a escrita satírica de Cartas Chilenas
Ponto alto da visita foi a palestra que os alunos puderam ter com o romancista, contista e então diretor do Museu da Inconfidência Dr. Rui Mourão. Tal escritor tem sido de extrema importância para a literatura mineira por seu trabalho de preservação da memória de Minas e do Brasil. O restaurar é a temática desenvolvida em Boca de Chafariz, publicado em 1991 pela Vila Rica Editora. Na oportunidade, o alunado do Colégio Delta pode solucionar dúvidas e expor suas ponderações a respeito da produção. O autor falou primeiramente sobre a motivação para a escrita: “Ouro Preto deve continuar como sempre foi. A ideia é a abordagem pela temática da preservação”. Rui Mourão salientou que a obra é organizada em três níveis: o primeiro referindo-se ao caráter documental que a produção assume ao versar sobre a enchente que atingiu a cidade em 1979; o segundo nível relaciona-se ao passado ouropretano, trazido à tona por meio dos “fantasmas” históricos que aparecem no romance; já o terceiro remonta ao presente ficcionalizado, criação artística, do qual nascem figuras humanizadas e simpáticas ao leitor, como Bené da Flauta. Em Boca de Chafariz, a cidade de Ouro Preto passa por três momentos distintos, porém complementares. Os personagens, a história, o homem vão sendo recuperados ao longo dos capítulos. “Tudo é objeto de restauração”, afirmou o autor. Retomando a alegoria da mulher que passa por cirurgia plástica, citada pelo personagem Jair Inácio, Rui Mourão complementa: “uma cidade restaurada não é a mesma de antes. A restauração cria uma terceira obra”. Ao término da palestra, o escritor fez a leitura do poema “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de Camões, contido intertextualmente na produção do romancista mineiro, encerrando com poesia a discussão sobre a obra.

                      

23 de set. de 2009

WEB AULA: Vídeo Marília de Dirceu

Olá, galera do 1º Ano!

Pensando nas nossas aulas e discussões sobre a obra Marília de Dirceu, deixo para vocês um vídeo referente à obra. Postei somente a primeira parte de um programa que contém três blocos. Apreciem sem moderação!

18 de ago. de 2009

Hora de revisão para o 1º Ano!

Arcadismo ou Neoclassicismo (anos 1700 )

Contexto Histórico:

Século XVIII - Século das Luzes (Iluminismo)
Progressivo descrédito das monarquias absolutas;
decadência da aristocracia feudal;
crescimento do poder da burguesia;
Revolução Industrial inglesa;
Revolução Francesa.

Pensamento da época

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