25 de fev. de 2011

Biográfico

Sou raso em tudo o que faço.
Profundo em tudo o que sinto.
Não sei o que seria de mim se fosse o contrário disto...

Roberto Lima

24 de fev. de 2011

Eu não danço conforme a música

Eu não danço conforme a música:
meu coração toca uma melodia diferente

- razão pela qual nunca me importei
por não ser a pequena bailarina
na caixinha de alguém.

(Kenia Cris - escreve em Tertúlia Pão de Queijo e Poesia Torta - No blog http://liberdadeperfeita.blogspot.com/)

21 de fev. de 2011

Pré Modernismo: autores

Oi, Galera!
Vamos de novo: Pré-Modernismooooooooo!!!!!

Um lembrete necessário: NÃO HÁVERÁ "VANGUARDAS EUROPEIAS" NA PROVA DE SEXTA".

Como prometi, aos autores:

Sobre o Euclides da Cunha, está no post anterior.

Lima Barreto: a vida nos subúrbios cariocas

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Era mestiço, pobre e socialista, vítima de toda sorte de preconceitos. Teve também problemas com alcoolismo, o que resultou em internação em um hospício, entre 1914 e 1919. Morreu em 1922.
O romance mais conhecido do autor é Triste fim de Policarpo Quaresma, o qual trata da vida de um patriota sonhador e que idealiza o Brasil como uma terra perfeita, tanto que deve descartar todo tipo de influência estrangeira. O desejo de valorização da pátria é levado às últimas consequências, de modo que Policarpo, funcionário público carioca, propõe a substituição da Língua Portuguesa pelo tupi guarani, idioma legitimamente brasileiro. O amor ufanista, exagerado faz com que o Major Quaresma acabe sendo alvo de terríveis críticas, riso e escárnio. O auge se dá com a internação do mesmo em um hospício, o que aqui, pode ser entendido como um ponto de contato com a biografia do autor. Policarpo é considerado o Dom Quixote Nacional: aquele que acredita em um ideal, se dá por ele, não busca vantagens pessoais e, por causa desse mesmo idealismo, é tido como louco, quando na verdade, é apenas alguém puro de intenções.
Se pensarmos em período literário, o fato de Lima Barreto se encontrar entre os pré-modernistas é justificado pela apresentação e descrição de quem é o morador dos subúrbios do Rio de Janeiro e os funcionários públicos acriocas durante o fim do século XIX e início do XX.

Monteiro Lobato: descrição do caipira paulista
Autor das famosas histórias do Sítio do Picapau Amarelo, viveu no interior e pôde observar as dificuldades e os vícios característicos da vida rural, fatos desconhecidos do Brasil "ofiicial". No livro Urupês (1918), Lobato traça o perfil do caipira que vivia pelo interior de São Paulo. É nessa obra que dá forma ao Jeca Tatu, símbolo do atraso e da miséria do caboclo brasileiro. A presença de Lobato entre os pré-modernistas é justificado por duas características: o regionalismo (o retrato da região do vale do Paraíba, em São Paulo) e a denúncia da realidade brasileira (o atraso do caipira paulista e também as queimadas e a decadência cafeeira da época). Na verdade, Lobato foi um anti-modernista, o que veremos depois ao estudar a Semana de 1922.

Graça Aranha: Brasil, a terra prometida
Autor de um único romance Canaã, romance que retrata a vida numa colônia de imigrantes europeus no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos: a marca da angústia e do pessimismo.
Autor que recebeu influência de várias estéticas, mas não se limita a nenhuma: do Simbolismo recupera o gosto pelas imagens fortes, que despertam sensações ( no caso do autor, de asco e horror) e a preocupação com a construção formal do poema. O uso de termos científicos marca a inspiração do Naturalismo. A preferência pelo soneto traz ecos do Parnasianismo. É por essa fusão de escolas literárias que é difícil rotulá-lo como pertencente à uma determinada escola.

Veja os versos:

Budismo Moderno

Tome, Dr., esta tesoura, e ... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato
das saudades
Fique batendo nas perpétuas
grades
Do último verso que eu fizer
no mundo!

Observe a ideia de angústia, o teor sombrio, o vocabulário repleto de expressões científicas (diatomáceas, célula, óvulo infecundo...), a desilusão frente à vida, o pessimismo, além do uso das palavras não-poéticas (vermes, escarro, cuspe, vômito - aquelas dos poemas vistos em sala). Inclusive, essa preferência vocabular fez com que o Augusto dos Anjos fosse apontado como o poeta do "mau gosto" pelos críticos da época.
Ao contrário dos demais autores pré-modernistas, não há preocupação social na produção do Augusto dos Anjos, viu?1

É isso!
Boa sorte, lindossssssss!!!!

20 de fev. de 2011

Sobre a plurissignificação no texto literário (válido para todas as turmas)

Neste início ou reinício de trabalho, tenho retomado com vocês  o conceito de literatura e os elementos que fazem com que um texto seja literário ou não. A famosa plurissignificação do texto literário é o que mais "pega". E não apenas para os alunos dos primeiros anos, com os quais começo a falar dessa ideia de Literatura não ter uma finalidade prática: nínguém faz literatura para informar, ensinar coisas ou fazer propaganda. A finalidade da literatura é ser ela mesma, uma arte, uma expressão estética. Isso porque os textos literários são obras de ficção. Eles não têm nenhum compromisso com o mundo real. Apesar de muitas histórias parecerem reais ( famosa verossimilhança), elas são, na verdade, pura obra da fantasia, da imaginação do autor.

Plurissignificação: a realidade "inventada" dos textos pode ser lida, interpretada, de diferentes formas. Encontrar resposta para essa multiplicidade de significados e significações não é privilégio do professor. Primeiro porque o ato literário, justamente pela liberdade que possui, não nos oferece todas as respostas; antes, nos enche de outras dúvidas que, ao serem exploradas, nos revelam o que é o ser humano, como sente, pensa, como poderia agir e como age. É um encontro permanente do homem consigo mesmo, e isso é muito legal!!!
 Bem, corrigindo, eu acho muito legal e sei que com vocês nem sempre é assim, pelo menos no início. Algumas vezes, vejo nos olhos dos alunos, após os meus comentários sobre as interpretações de um texto poético, por exemplo, a seguinte indagação: "mas como é que eu vou saber que o texto está dizendo isso????" Respondo agora: é uma questão de treino! Só isso!

As verdades do texto estão no texto e são do texto. Por isso a diferença entre texto literário e não-literário: o literário cria uma realidade subjetiva, inventada, que até pode parecer real, mas é somente no texto. Já o não-literário é a verdade de fato, a notícia, o jornal, as receitas, o manual de instruções, ou seja, tudo aquilo que foi escrito com o objetivo de informar. 

Veja como a professora Bianca, do blog literarizando.wordpress.com, expõe essa diferenciação: 
  • Vampiros existem?
  • Animais falam usando linguagem verbal?
  • A morte pode decidir fazer greve e deixar de matar pessoas?
Resposta para todas essas questões: não, salvo se você considerar essas realidades dentro de obras ficcionais. Em histórias de Drácula, True Blood e Nosferatu, vampiros existem. Em fábulas, contos de fada, Crônicas de Nárnia, desenhos do Scooby Doo e obras equivalentes, animais falam. Em As intermitências da morte, romance de José Saramago (que morreu ano passado), a morte faz greve e para de matar. É, ela fica revoltada porque ninguém gosta dela e resolve dar um tempo para os seres humanos sentirem como ela faz falta. E, como você pode ver pelo fato de Saramago ter morrido, isso só acontece em histórias.
Portanto, a realidade do mundo prático, aquele que eu gosto de chamar de empírico, esse mundo nosso, do cotidiano é uma. Se alguém nele te disser que viu um vampiro de verdade, e que isso não foi sonho, e essa pessoa tiver mais de 8 anos de idade, você está diante de alguém que tem problemas. Chame um psiquiatra. Gente que já passou da infância e está confundido realidade co fantasia está passando por problemas sérios.
Se, no entanto, que confunde a verdade do mundo real, do mundo empírico, com a verdade/realidade dos livros de ficção, do cinema, dos contos de fada, tiver menos de 8 anos, tudo bem. Reconhecer o que é imaginário e o que é verdadeiro é uma aprendizagem. Só não vale tirar vantagem disso para assustar primos e irmãos pequenos, tá? No máximo, deixa a criança curtir um pouquinho a fantasia, se ela trouxer sensações boas e não for perigosa.  

Veja o que acontece com quem acredita que o texto literário se comprometecom as verdades absolutas: o vídeo a seguir é sobre a história de uma menina que leu Crepúsculo e levou a sério demais! :)

19 de fev. de 2011

Romantismo: 1ª e 2ª Geração

Sobre o Romantismo, matéria da primeira prova de vocês, segue a prometida postagem:

Vamos por partes e começando do começo: o contexto histórico.
O Romantismo surge na Europa, no fim do século XVIII, com a publicação de Os sofrimentos do jovem Werther, do alemão Goethe. É um movimento contemporâneo à independência dos EUA e à Revolução Francesa, movimentos que contestam a ordem pré-estabelecida de organização social, levam a burguesia ao poder político e iniciam o século XIX com uma grande fé no futuro da humanidade. Afinal, o que se desejava, depois de um século de Iluminismo, era liberdade, igualdade e fraternidade para todos.
Mas, a burguesia no poder não vai durar tanto tempo assim pregando a igualdade. Se todos forem iguais não existe mais poder, não é verdade?

E o que isso tem a ver com o que estudamos no Brasil? TUDO. Porque depois de lutar pela liberdade pregada pela Revolução Francesa e gostar muito de fazer isso, o que é que os franceses, ou melhor, o francês da mão dentro do colete vai fazer? Napoleão vai levar a liberdade, a igualdade e a fraternidade à toda Europa, claro! (entendam a ironia, pelo love de God!). Lutar contra os tiranos que oprimem o povo através da guerra e do sofrimento desse mesmo povo parecia ser o lema paradoxal de Napoleão Bonaparte. D. João VI fugiu da ação ditadora de Napoleão vindo com toda a corte para cá. A vinda da do rei português fez com que o país tivesse que ser modernizado para receber as ilustres visitas. No fim das contas, temos que dar graças a Napoleão, porque sem ele não teríamos no século XIX as condições propícias para os avanços sociais que a vinda da família real no proporcionaram, muito menos para os avanços culturais e para o próprio Romantismo brasileiro.

Que condições são essas? Hora, a urbanização do Rio de Janeiro, o investimento na estrutura administrativa do Estado, a criação de uma imprensa regular, a possibilidade de se imprimir livros diretamente no Brasil, a criação de cursos superiores de Direito, Belas Artes, Medicina… É claro que isso são as condições para o Romantismo nascer. Mas o bichinho teve uma incubação meio lenta. A família real chega aqui em 1808. Em 1822 nos tornamos independentes (pelo menos politicamente). Mas Romantismo, Romantismo mesmo, só em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Isto significa que o Romantismo é contemporâneo, na verdade, do II Reinado, do governo do Imperador D. Pedro II.


PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA

A primeira geração, também chamada de nacionalista ou indianista (isso quando não é chamada de nacionalista-indianista), tem como elemento de destaque ser nacionalista e indianista! Surpreendente isso, não é? Mas o fato é que o grande diferencial dela são esses temas mesmo. Isso porque, no ponto de vista da lírica, da lírica amorosa pura, aquela que não está combinada com nenhum desses dois temas, o que sobra são as características gerais do Romantismo: o culto à natureza, o sentimento de solidão, o amor não revelado pela mulher amada, a idealização dessa mulher… A diferença mais palpável, além da combinação da temática indianista, como em Leito de Folhas Verdes – poema que está naquela folha que vimos em sala – com a amorosa é o fato de que, ao contrário da segunda geração, existe serenidade na melancolia e na tristeza vividas nos textos da primeira geração. Gonçalves Dias até tem um poema em que ele afirma que se morre de amor (literalmente o título é Se se morre de amor), mas em nenhum momento existe o desejo da evasão pela morte. Fascínio pela morte (morbidez) é uma coisa exclusiva da segunda geração, ok?
Sobre Gonçalves Dias, uma coisa importante a ser ressaltada: é o único autor que estudamos a explorar a temática amorosa do ponto de vista feminino, como ocorre no poema que vimos em sala, tanto que ressaltei e pedi que anotassem na folha “eu lírico feminino”, lembram-se?
A figura do índio merece destaque nos poemas dessa fase, obviamente. Falar de índio é citar o ser bravo, corajoso, forte, leal... chique e nacional: afinal, era um herói com cara de Brasil que os autores queriam por aqui, né...

SEGUNDA GERAÇÃO ROMÂNTICA
A segunda geração, ao contrário da primeira, ufanista, que acha que o Brasil é um país lindo, literalmente uma agradável terra de palmeiras onde canta o sabiá, não acredita muito nem no presente, quanto mais no futuro. O fato é que a segunda geração tem consciência que há uma discrepância muito grande entre o mundo como ele é e o mundo como os românticos desejam que ele seja: o mundo da igualdade, liberdade e fraternidade para todos. E essa consciência de que a vida não é exatamente tão maravilhosa assim faz com que esse pessoal procure, de todo jeito, fugir da realidade (escapismo, evasão). Já que as coisas não são como eles querem que seja, que se exploda o mundo: os ultrarromânticos só querem saber de si (egocentrismo), de seus sofrimentos, de suas angústias. E a única coisa que poderia dar alegria a essas criaturas é a realização através do amor. Poém, contraditoriamente, os artistas desse período vão manifestar um grande medo de amar. O amor é lindo no plano das ideias e é melhor que ele fique lá: essa é a atitude dominante desses escritores(idealização; evasão na fantasia). Afinal, se ele sair do plano das ideias, que será daquele que só tem essa ilusão para se agarrar, se as coisas não derem certo (pessimismo)? Sobra o vício, a bebida, a desilusão completa ou ainda a morte.
Um dos grandes nomes desse momento é Álvares de Azevedo. Os desesperos passionais são tratados em sua produção a partir de duas perspectivas: a séria e a irônica. Nessa tal “séria” encaixam-se os poemas que registram o fascínio pela ideia de morrer e a atração pelas virgens pálidas e frias. Neles, a possibilidade de realização do amor fica no mundo dos sonhos e da imaginação(evasão no sonho; amor platõnico). Sobra, ainda, a face, também chamada de irônica ou anti-romântica. Álvares, como todo artista romântico, era exagerado, e como todo ser humano inteligente, conseguia perceber o seu exagero, e como poucos seres humanos inteligentes, era capaz de fazer graça sobre si mesmo. Esse é o grande objetivo de sua face irônica: rir de si mesmo, deixar de lado aquilo que o Romantismo leva a sério demais, ridicularizar o exagero, o sentimentaloidismo, a idealização excessiva. As duas faces de Álvares de Azevedo são tentativas de abordar a realidade do amor e do sofrimento sob os pontos de vista distintos que os níveis de desespero humano podem atingir.
Um outro grande nomes dessa geração é Casimiro de Abreu: com versos meigos e doces, foi o poeta mais lido e declamado do período, especialmente pelo tom musical presente em seus poemas e também pelos temas abordados: saudade, a natureza e o desejo pelas figuras femininas. Saudade, inclusive, é a palavra que melhor define o teor de seus poemas: saudosismo. Ele se diferencia de Álvares de Azevedo, por exemplo, por sua produção não possuir a carga de pessimismo e culpa e nem associações da figura feminina à imagens de morte, tão marcantes em Azevedo.
Sobre as duas gerações:
As distinções entre elas são bastantes evidentes: a primeira assinala-se pelo indianismo, a exaltação da pátria e de sua natureza peculiar e a criação de um herói nacional; a segunda ressalta-se pela melancolia, pela tristeza, pelo pessimismo e a vontade de fugir da realidade (mal do século).
Enquanto há um otimismo e uma utopia inerentes aos românticos indianistas/nacionalistas, os ultrarromânticos (ou byronianos ou geração mal-do-século) apresentam um profundo desgosto pela vida, que ora os faz desejar a morte, ora se manifesta na busca pelos vícios, pelo exílio voluntário (evasão) numa vida decadente e cínica.

Aqui fica uma dica de dois filmes que podem ajudar vocês a entenderem um pouquinho melhor o espíritos desses dois grupos de poetas. Pocahontas e Moulin Rouge.

Pocahontas: vai exaltar a natureza americana, a vida natural dos índios, sua bondade natural, seu desapego material, sua perfeição de caráter.

Moulin Rouge:  temos em Christian (olha só, Cristão) apaixonado por Satine (Satânica… oposição interessante), um ingênuo escritor que se envolve com uma criatura do “sub-mundo” de Paris. Por esse amor, Christian se envolve profundamente no ambiente decadente do bordel, cai nas garras do absinto (bebida de poder tão destrutivo que matou muita gente e se tornou ilegal) e se torna um excluído da sociedade (como o vemos no início do filme). Observem que enquanto Christian é ingênuo (como a face Ariel, personagem de Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo, o qual representa a ingenuidade, a face anjo, em oposição a Caliban, o outro personagem, representante da face demoníaca), a realidade que ele vê é rica, colorida, feliz. Quando Christian perde sua ingenuidade (como a face Caliban), essa realidade passa a ser cinza, escura, decadente.
Outra indicação é o famoso Don Juan de Marco, o qual retrata as características do Ultrarromantismo em plena Nova York de nossos dias. Lembrando que Don Juan é uma criação de Lord Byron, poeta europeu que influenciou a geração do mal do século. 


Galera,
Os slides de sala de aula se encontram aqui: 2ª Geração Romântica


Vocês também podem estudar pelo livro Português Linguagens.
Não se desesperem
com as poucas aulas que tivemos e com o curto período para explorar o movimento romântico e essas duas gerações. Para fazerem uma boa prova, basta, apenas, que vocês tenham entendido esse “geralzão” sobre o conteúdo, ok?

Quem tiver dúvidas levante a mão ou deixe um comentário! Prometo responder antes da prova!

De olho nos vídeos:

O primeiro vídeo é a canção do Cazuza, Exagerado: ela expressa algumas das características românticas da segunda geração: a idealização do amor, o desespero, o exagero comportamental, a morte como solução para o amor não correspondido...

O segundo é a expressão do amor "bonitinho", sem ideia de morte, presente na produção poética do Casimiro de Abreu. A presença da infância e seus elementos (como fatores de inspiração para o eu lírico também peculiarizam a produção do autor de Meus oitos anos.





16 de fev. de 2011

Flores por dentro


Perdão se não cedo.
É que há flores por dentro de mim:
esse material que, embora frágil,
é sólido e eterno como a alegria que
não deixa meu ser se entregar.

13 de fev. de 2011

Ensinamento, Adélia Prado


Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Pré-Modernismo

Olá, galera do 3º Ano!

Recomeçamos nossos estudos abrindo com o Pré-Modernismo, período que, como já disse em sala, não é um movimento literário, mas sim uma época de transição das estéticas vigentes ainda em fins do século XIX e início do XX (Realismo-Naturalismo, Simbolismo e Parnasianismo) para o Modernismo.
O fator característico dessa fase é o nacionalimso temático: um nacionalismo crítico, questionador, muito diferente da visão idealizada dos românticos e muito próximo da perspectiva de país contornada pelo Modernismo a partir de 1922.

Observe os versos de Drummond:

Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
O Brasil está dormindo, coitado.

Agora, a letra escrita por Milton Nascimento e Fernando Brant:

A novidade é que o Brasil não é só litoral
é muito mais, é muito mais que qualquer zona sul
tem gente boa espalhada por esse Brasil
que vai fazer dese lugar um bom país

Uma notícia tá chegando lá do interior
não deu no rádio, no jornal ou na televisão
ficarde frente para o mar, de costas pro Brasil
não vai fazer desse lugar um bom país.

A literatura passa a ser um instrumento para que os brasileiros conheçam melhor o seu Brasil. O fazer literário se torna uma forma de ação social. No entanto, essa literatura não era a que agradava aos governantes do país: para os tais, o texto literário deveria expor a face bela e modernizante que o Brasil vivia. Era o período da Belle époque - expressão francesa que denomina o período entre 1885 e 1918, no qual Paris exportava cultura e modelos de comportamento -, e o Brasil passava por melhorias urbanas, especialmente no Rio de Janeiro, então capital brasileira.
Essa não era, entretanto, a verdade geral. Havia enormes diferenças sociais entre as regiões brasileiras. A literatura então se engaja e denuncia as inverdades da propaganda oficial, que procurava transmitir a sensação de que a República (1888) era a chegada da modernidade e da democracia para o país como um todo.
Os escritores pré-modernistas se encarregaram de revelar o Brasil não-oficial, não propagandeado, o país dos contrastes, os locais onde a modernidade não chega, inclusive, até os dias de hoje. Os tipos humanos marginalizados, como o sertanejo nordestino, o habitante dos subúrbios cariocas, o caipira paulista, ganharam espaço - e com eles a realidade de que faziam parte. O Brasil encontrou-se com os diferentes "Brasis" nesse trabalho de investigação e análise da realidade cultural.   

Características:
Ruptura com o passado: inovação nas obras, rompimento com os moldes pré-estabelecidos das obras dos períodos anteriores. A linguagem de Augusto dos Anjos, por exemplo, é cheia de palavras não-poéticas (cuspe, vômito, escarro, vermes...), oposição direta ao modelo parnasiano, ainda em vigor na época.

Denúncia da realidade brasileira: o Brasil deixa de ser idealizado e os verdadeiros problemas são mostrados, avesso da idealização romântica.O Brasil não-oficial dos nordestinos, caboclos e caipiras é exposto.

Regionalismo: descrição do universo brasileiro: o norte e nordeste são mostrados por meio da obra de Euclides do Cunha; o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha e o subúrbio carioca com Lima Barreto. 

Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais: diminui a distância entre a realidade e a ficção. Em Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, por exemplo, é retratado o governo de Floriano Paeixoto e a Revolta da Armada; Os Sertões, de Euclides da Cunha, demonstra a crueldade da Guerra de Canudos; Canaã, de Graça Aranha, documenta a imigração alemã no Espírito Santo.  

O marco do Pré-Modenismo no Brasil é a publicação, em 1902, de Os Sertões, obra na qual Euclides da Cunha denuncia o absurdo da Guerra de Canudos. Com forte teor determinista, segundo o qual homem é fruto do meio, é o primeiro pré-modernista a aproximar literatura e História. A estrutura do livro é a seguinte:
A terra: caracteriza o sertão nordestino: clima, solo, relevo, vegetação...
O homem: quem é o sertanejo e quem foi Antonio Conselheiro.
A luta: confronto: narração da luta entre as tropas oficiais e os seguidores de Conselheiro. O livro termina com a descrição da queda do Arraial de Canudos e a destruição de todas as casas erguidas no local.


Foto de 1897, de Flavio Barros. Mulheres e crianças prisioneiras na Guerra de Canudos.

Dois olhares para o mesmo conflito:

Euclides da Cunha, no final de Os Sertões, registrava:

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos...

Já Olavo Bilac, poeta parnasiano, escrevendo sobre o mesmo epísódio, comemorava:

Enfim, arrasada a cidadela maldita!enfim, dominado o antro negro, cavado no centro do abusto sertão, onde o Profeta das longas barbas sujas concentrava sua força diabólica, feita de fé e de patifaria, alimentada pela superstição e pela rapinagem!

Aqui, é importante a visão crítica do leitor ao comparar os textos:
é fato que interpretação da história é feita de acordo com o olhar ideológico de cada um.
O primeiro trecho deixa claro o desequilíbrio entre as forças do Governo e os seguidores de Antônio Conselheiro. Euclides da Cunha foi testemunha ocular dos acontecimentos e constata a crueldade e desproporção da luta.
O segundo demonstra  a visão de Olavo Bilac, o qual está sob a influência do "discurso oficial" do Governo brasileiro, para quem os seguidores do beato eram uma horda de fanáticos que desejavam destruir a ordem nacional.

Uma outra questão curiosa sobre a história de Canudos é que a profecia de Antônio Conselheiro que dizia que o sertão iria virar mar se cumpriu: hoje, o arraial de Canudos, à beira do rio Vaza-barris, em pleno sertão bahiano, encontra-se submerso nas águas do açude de Cocorobó. E mais: para reforçar a profecia do beato, outra imensa região do sertão bahiano virou mar. No vale do rio São Francisco foi construída a imensa barragem de Sobradinho, deixando submersas várias cidades.

Veja a letra da canção Sobradinho, de Sá a Guarabira, acqual confirma o cumprimento do dito de Antônio Conselheiro:

O homem chega e já desfaz a natureza
Tira a gente põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá prá cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão

É isso, para um dia de domingo já está de bom tamanho.
Depois, deixo outra postagem sobre a obra de Augusto dos Anjos e Lima Barreto, viu?

Beijão!

3 de fev. de 2011

Mais estrada no meu coração do que medo em minha cabeça

Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei
realmente a sério. É que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas minhas pernas,
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.

(Cora Coralina)
Powered By Blogger

Flickr