7 de dez. de 2018

Temas de redação: A preservação da memória e do patrimônio cultural e científico do Brasil


Texto para o Corpo de Bombeiros
A preservação da memória e do patrimônio cultural e científico do Brasil é uma medida capaz de valorizar a nação e sua história, além de impulsionar o desenvolvimento do país. No entanto, os constantes casos de destruição de museus e espaços culturais revelam o quanto essa temática tem recebido pouca importância no cenário hodierno. A realidade do país aponta para uma problemática persistente em que estado e população alicerçam o desprestígio ao saber e à cultura no panorama nacional.
Cabe ressaltar, inicialmente, o quanto o governo torna transparente a falta de zelo para com a memória histórica e a herança advinda dela. O incêndio ocorrido em setembro de 2018 destruiu de modo significativo o Museu Nacional do Rio de Janeiro e trouxe a atenção social ao descaso público quanto ao patrimônio cultural e científico que se encontrava naquele espaço. No entanto, essa situação não é inédita, sendo cabível salientar que o Museu da Língua Portuguesa e outros âmbitos semelhantes sofreram destino semelhante há pouco tempo. A recorrência desses fatos expõe a negligência quanto à destinação de verbas capazes de manter e assegurar esses âmbitos. Como consequência, o país perde parte considerável de seu acervo histórico, pesquisas se tornam cinzas e saberes são desperdiçados.
Ademais, a população se mostra inerte frente à destruição dos lugares que recontam e contribuem para a ressignificação da história da pátria. O culto ao agora e aos divertimentos frívolos, associado ao desconhecimento escolar do valor do conhecimento histórico, faz com que os cidadãos brasileiros pouco se revoltem diante da desvalorização e ruína de museus, escolas de arte e seculares institutos de ensino e pesquisa. Desse modo, tem-se a permanência de uma sociedade alienada, sem condições críticas de compreender que desconhecer o passado nacional, sua cultura e projeções, é selar um futuro de manipulação e atraso.
Diante do exposto, é preciso que governança e sociedade se empenhem em preservar e elevar a memória e o patrimônio cultural e científico do país. Para isso, faz-se necessária a ampliação de verbas para evitar falhas drásticas de estrutura, além de incentivo educacional para que a o população conheça e valorize museus e complexos de visitas e atividades cultas. Medidas assim poderão mudar os rumos do descuido que o Brasil vivencia quanto a seus espaços de elevação do saber humano e manutenção da história de quem a nação é.

11 de nov. de 2018

RESUMO DO ENREDO DE “BOCA DO INFERNO”, DE ANA MIRANDA


RESUMO DO ENREDO DE “BOCA DO INFERNO”, DE ANA MIRANDA

Boca do Inferno foi o primeiro romance histórico de Ana Miranda, cuja trama se passa na Bahia no século XVII. No primeiro capítulo, “A Cidade”, a autora apresenta a cidade da Bahia, seus habitantes e seus costumes, dando um panorama do cotidiano do lugar. “Numa suave região cortada por rios límpidos, de céu sempre azul, terras férteis, florestas de árvores frondosas, a cidade parecia ser a imagem do Paraíso. Era, no entanto, onde os demônios aliciavam almas para povoar o inferno.”.  Essa descrição da cidade anuncia o contexto turbulento, corrupto e ambíguo que configurava a Colônia. Um caldeirão de interesses, culturas, vivências e aparências. “Não havia grandes assaltantes na Bahia, diziam, mas quase todos furtavam um pouquinho”.  Becos e vielas tortuosas cobertas de lixo em contraste com a natureza exuberante. Para o leitor, é como se o retrato da cidade se configurasse numa metáfora de seus habitantes. No texto, é Gregório de Mattos quem observa a cidade para assim descrevê-la:
Ah, aquela desgraçada cidade, notável desventura de um povo néscio e sandeu. (...) Sofria  ao ver os maus modos de obrar da governança, porém reconhecia que não apenas aos governantes, mas a toda a cidade o demo se expunha. Não era difícil assinalar os vícios em que alguns moradores se depravavam. Pegou sua pena e começou a anotar. O fidalgo do solar ao lado tinha vergonha de pedir dinheiro emprestado e preferia furtar para manter a aparência honrada. (...) um mercador avarento, tirava duzentos por cento no que comprava e no que vendia.
Morrera num assalto e deixara uma viúva. Porém, apesar dos grandes lucros, o mercador  dissipara todo seu dinheiro com mulheres de alcouce e deixara a viúva sem um vintém e com a casa empenhada. A mulher recebia a fradalhada que ali ia para manter a honra da casa. E ela gemia, gritava e ardia em brasa. Ele mesmo o poeta esperava sua vez de aproximar-se da viúva, apesar de não ter grande gratidão pela branca e seus doces objetos. Mas uma mulher era sempre uma mulher. Um dos padres que visitava a viúva era o abade do convento. Dele se dizia que roubava as rendas da instituição para acudir ao sustento das prostitutas; para manter sua honra, livrava-se das suspeitas subornando com as rendas roubadas.
O segundo capítulo, “O Crime”, é dedicado ao episódio do assassinato do alcaide-mor Francisco Teles de Menezes, que pertencia à facção política do governador Antônio de Souza Menezes, também conhecido como “Braço de prata”. Pela manhã, como de costume, ao sair da casa da prostituta Cipriana, Teles de Menezes se viu encurralado por oito homens encapuzados, que após se livrarem de sua escolta cercaram a liteira do alcaide; um deles era Antônio de Brito, a quem Teles de Menezes há pouco tempo tentara matar. Teles atirou contra Antônio de Brito acertando-lhe o ombro; um dos conspiradores decepou-lhe a mão direita com um golpe de alfanje. Ele tentou reagir, mas antes que pudesse, teve a garganta cortada. Antônio de Brito foi quem deferiu o golpe. Os conspiradores fugiram levando a mão decepada do alcaide enquanto ele ainda agonizava.
Logo que o governador foi comunicado sobre o atentado pediu detalhes sobre o crime, mas só sabiam dizer que Antônio de Brito estava entre os conspiradores. Sabia-se também que todos estavam refugiados no colégio dos jesuítas. O governador pensou logo que a conspiração havia sido arquitetada por seus inimigos políticos - os Vieira Ravasco - liderada pelo secretário de Estado Bernardo Vieira Ravasco, irmão do Padre Antônio Vieira e amigo de Gregório de Mattos. Estavam envolvidos no crime também o filho de Bernardo Ravasco, Gonçalo, que já estava  refugiado no colégio por conta de uma ordem de degredo, e Moura Rolim, primo de Gregório de Mattos.
Esse é o capítulo mais extenso do livro e conforme vai se especulando sobre o crime, outras personagens vão aparecendo. Bernardo Ravasco tinha também uma filha, a jovem Bernardina Ravasco, que ficara viúva muito cedo e tinha saúde frágil. Maria Berco era sua dama de companhia. A criada era uma mulher simples e pobre, casada com um homem velho, cego e avarento. João Berco a havia tirado da Misericórdia e, apesar da brutalidade do esposo, a jovem sentia-se grata por ter sido escolhida entre as órfãs. “Foste abandonada pelo teu pai. Eu te comprei no orfanato. Em troca de milho e de refugo. Eras magra como uma ratazana faminta. Aqui pelo menos tens a mim que te dou abrigo. (...) Pelo menos aqui não sofres tormentos”.85 Seu marido era um homem frágil que aspirava cuidados. Maria trabalhava, esperando o dia em que ele morresse e assim sobrasse a ela alguns tostões para comprar um lugar na frota para Lisboa.
O governador iniciou uma perseguição aos conspiradores. Não descansaria até prendê-los, pois a falta do alcaide desestruturava seu governo e ameaçava a sustentação política e econômica que Teles de Menezes e os desembargadores Palma e Gois exerciam na Colônia. Os conspiradores liderados por Bernardo Ravasco trataram de se precaver e proteger suas famílias. Bernardo Ravasco encarregou-se de dar fim à mais nítida prova do crime, a mão decepada da vítima.
A criada dos Ravasco, Maria Berco, recebeu a missão de ocultar a prova do crime. “Dá um fim nisto. Mas não sejas curiosa como uma coruja ou um gato. Apenas joga isto, esta noite, num lugar onde ninguém jamais possa encontrar. Depois vai ter comigo na Igreja do colégio para dar notícia do sucesso.” Enquanto a polícia fazia ronda procurando os conspiradores, Maria Berco caminhava pelas ruas escuras buscando um lugar seguro para livrar-se da trouxa. Mas a curiosidade a perseguia. Ao ver do que se tratava, sentiu-se ainda mais insegura. Jogou a mão do alcaide no lixo. Em seguida, arrependeu-se; pegou-a de volta e perambulou por mais algum tempo até chegar à praia; estava decidida a jogar o pacote na água; pagou um barqueiro por uma volta. O marinheiro a observava e logo pensou no conteúdo do pacote que a moça segurava contra o peito. Seria um feto? Era comum carregar moças pra que abandonassem fetos e crianças mortas no mar. Logo descartou a possibilidade, pois Maria não aparentava ser aborteira; mas a maneira como agia sugeria algo errado. Tomou o pacote das mãos da jovem. Examinou a mão fétida e se surpreendeu com o belo anel e seu dedo; retirou o anel de esmeralda que se encontrava no dedo anular e jogou a mão na água. Maria insistiu para que ele jogasse a joia no mar; voltaram para a praia e ao chegar perto da margem avistaram-se alguns soldados. Preocupado com a abordagem, o marujo entregou o anel para Maria. Mandou que o escondesse, ameaçando-a para que ela não fugisse. Os soldados os interpelaram com tom ameaçador; prenderam Maria e o marujo. A jovem passou a noite na cadeia. Pela manhã, um oficial veio a seu encontro; deu-lhe alguns conselhos; acreditava que se tratava de uma prostituta; mandou-a embora. Maria lembrou-se do encontro com Bernardo Ravasco e correu para encontrar seu senhor. Quando chegou à igreja, foi informada de que o secretário havia partido. A jovem logo pensou no anel que carregava consigo: o que fazer com ele? Ajoelhou-se e rezou; saiu da igreja e vagou pelas ruas durante um tempo; pensou no marido, na corte, nos nobres e ao olhar para seus pés sujos de lama pensou na pobreza. Depois de muito vagar e pensar parou na casa do joalheiro; hesitou por alguns instantes e depois entrou; muitos ali penhoravam joias, relógios, panos de damasco. Maria logo foi atendida. O homem perguntou-lhe: vender ou penhorar? Maria disse: “penhorar”. Analisou a pedra e ofereceu um preço irrisório; Maria aceitou sem reclamar. Após receber o dinheiro, saiu dali apressada, sem conferir o valor. Entrou numa taberna, pediu um pastel; o taberneiro ofereceu-lhe outros produtos. Maria acabou comprando meias de seda, sapatos, roupas, um chapéu para o marido, tabaco e outras ninharias. Ao chegar em casa com tantas mercadorias e a ainda uma quantia em dinheiro muito além do que se pagaria a uma criada, o homem perguntou: “Roubaste? Tens um amante?” A jovem irritada respondeu que nunca seria meretriz; pensou em contar-lhe a história do anel, mas sentiu vergonha, decidiu não revelar nada. Era questão de tempo e todos esqueceriam a morte do alcaide. Então, resgataria o anel e o devolveria a Bernardo Ravasco, pensou. João Berco continuou esbravejando enquanto Maria recolhia as moedas que o marido acabara de contar.
O tempo passava e o assassinato do alcaide ia sendo desvendado. O vereador Luís Bonicho e o mestre de esgrima Donato Serotino (também aliados ao grupo que atacou o alcaide) planejaram um ataque ao governador Antônio de Souza durante sua aula de esgrima; o mestre executou o plano, atacou o governador, mas apenas teve tempo de feri-lo até a chegada dos guardas. Donato conseguiu escapar.
Enquanto isso, Gregório de Mattos também procurava refugiar-se, seria perseguido por sua ligação com os conspiradores. Arrumou algumas roupas e livros em um saco e saiu de casa; vagou pela cidade por algum tempo até chegar ao dique onde soldados conversavam e abraçavam-se com barregãs enquanto lavadeiras trabalhavam agachadas à beira da água. Esperou que os soldados se dispersassem; sentou-se à beira do dique, jogou pedras na água e com um graveto escreveu na areia: “...pretas carregadas com roupa, de que formam as barrelas. Não serão as mais belas, mas hão de ser por força as mais lavadas. Eu namorado desta e aqueloutra, de um a lavar me rende o torcer doutra”. O poeta lembrou-se de Anica de Melo, uma prostituta com quem teve um caso. Conheceram-se logo após sua volta de Portugal. “Era uma rapariga linda, mesmo. Sabia até escrever seu nome. Pena ser de alcouce. E branca.”  Gregório foi ao encontro de Anica de Melo. Na cama, os dois conversam sobre a vida do poeta. Rememorações da personagem misturam trechos de informações reais à ficção:
“Como conheceste os Ravasco?”, perguntou Anica de Melo. “Eu sempre ouvi falar sobre eles, minha família os conhecia. Um pequeno folheto publicado com sermões de Antônio Vieira, muitos anos atrás, em castelhano, chegou às minhas mãos. Eu era um menino sonhador e enchi-me de paixão pelas palavras do jesuíta.”
(...) Mas logo o menino ficou sabendo que aquela publicação em castelhano fora feita a revelia de Padre Vieira e continha “tantas imperfeições quanto asneiras” execradas por ele. Gregório de Mattos estudara com os Jesuítas no Brasil. Recebera instrução humanística e fora aprovado com louvor. (...) Já tinha mesmo cometido seus primeiros
versos nas sabatinas, para horror e pasmo de seu pai. “Como era teu pai?”, perguntou Anica de Melo. “Magro, costas recurvadas, olhos tristes.”
(...) “O velho tinha uma luneta, ficava olhando as estrelas. De dia, quando ele estava no trabalho, eu a usava pra ver as mulheres passando na rua ou às janelas”, disse acariciando as pernas de Anica de Melo.
Ao entrar para o colégio dos Jesuítas, Gregório de Mattos já se interessava pelas mulheres. Desde menino gostava de olhar nos livros imagens femininas: santas, rainhas desenhadas com benevolência e que sempre pareciam mais belas do que deviam ser, altivas condessas e até mesmo bruxas condenadas ao Santo Ofício. Na rua o menino ficava extasiado com as mulheres de carne e osso, com seus rostos e suas formas, alvas como jasmins, vermelhas, azeitonadas, ou escuras como a lascívia. As meninas eram lindas, as índias nuas pareciam-lhe deusas pagãs, as escravas lhe sugeriam estátuas de ferro pronto a incandescer. Sua irmã, um demoniozinho falante tinha um mistério que Gregório de Matos observava quase com fervor religioso. Sentia-se atraído por todas as mulheres. Encantava-se com qualquer gesto, qualquer rufar de saia, detalhes mínimos. Mesmo as feias tinham para ele um encanto qualquer: uma orelha bem-feita, um par de tornozelos sólidos, unhas saudáveis, cabelos abundantes, uma boa estrutura óssea, batatas das pernas grossas, nádegas redondas e fartas, um ar sonhador, timidez, brilho de inteligência ou um nariz que lembrasse uma jovem da dinastia lágida. Como ele gostava de dizer: “são feias, mas são mulheres.” “Ah, tu és um demônio”, disse Anica de Melo. “Não, não, somos bastante diferentes. Demônios sois vós mulheres.” Disse que lera nos livros serem as mulheres diabos disfarçados, circes encantadoras, tentações infernais, peçonhentas no coração e na boca, copuladoras vorazes; que possuir a parte traseira de uma mulher era o mesmo que fazer pacto com o diabo; as que tinham um rosto de anjo e maior donaire eram as mais perigosas. O corpo de uma mulher despertava-lhe  sentimentos penosos e demorados, algo como uma queda, um desar, uma febre maligna, um delírio destruidor.
 “Mas nos livros não havia só mulheres ”, lembrou o poeta. Gregório falou sobre sua formação, sobre a moral jesuíta e o estudo orientado pela Companhia que lhe permitiram tornar-se um homem letrado. Gregório ainda era um menino. Naquele tempo, os jesuítas instalavam-se em toda a Colônia, fortificada em igreja e missões, conquistavam territórios, criavam hospitais e seminários. Na Bahia, não era diferente e Gregório de Mattos almejava ser um deles, não pelo poder, mas pelo conhecimento que dominavam.
Quando via um padre jesuíta na rua era como se estivesse vendo um livro andando. Além  disso, naquele tempo Gregório de Mattos acreditava-se dono de uma grande vocação religiosa. Mas sua passagem pela vida eclesiástica seria dolorosa e breve. Após algum tempo concluíra que o saber dos jesuítas era insosso e atrelado a ideias religiosas e políticas. Depois que dominou a retórica, cansou-se dela e passou a procurar algo diferente. Foi nesse período que partiu para Portugal.
Numa breve descrição da viagem de Gregório para a Europa e do período em que viveu na corte, e ingressou na Universidade de Coimbra onde teve contato com as trovas burlescas, se mantém a estrutura de diálogos entre o poeta e Anica e trechos narrados. Os trechos narrados recuperam sua trajetória e dão fluidez ao diálogo dos personagens.
“Tens um bando delas correndo atrás de ti, todos os tipos de mulheres. Não pensas em casar?” (...) Sou viúvo. Aqui não encontrei nenhuma que me sirva. A única não me quis.”. Anica de Melo desejava que ele não fizesse distinção entre as mulheres para fornicar e as mulheres para casar.
                Enquanto isso, Maria Berco preparava a viagem de sua ama para o engenho onde ficaria escondida. O companheiro de viagem seria o poeta Gregório de Mattos. “Sei bem que é desembargador, vai tomar ordens sacras, mas tem uma fama... (...) loquaz sedutor, um letrado que agora está ajoelhado diante da Virgem Maria e em seguida afundado no colo das meretrizes. O poeta foi ao encontro de dona Bernardina, conforme havia combinado com Bernardo Ravasco; ele a levaria em segurança para o engenho. Ao atender a porta, Maria Berco sentiu o coração acelerado, mas logo tratou de anunciá-lo à sua senhora. Ao saber que o pai havia sido capturado, a dama logo se recusou a partir; Gregório tentou acalmá-la, pois Padre Vieira logo tomaria providências; disse também que Gonçalo Ravasco partiria para relatar ao príncipe os desmandos do governo na Colônia. Depois declamou poesias. Maria Berco sentia-se atraída pelo poeta.
Ao anoitecer daquele dia, Gonçalo Ravasco e Donato Serotino (o mestre de esgrima), que estavam refugiados no colégio dos jesuítas, saíram disfarçados de padres e encapuzados e foram ao encontro de Gregório de Matos, que se escondera na casa da prostituta Anica de Melo. Gregório contou a Gonçalo que Bernardina recusara-se a ir para o engenho; ele lamentou e contou ao poeta sobre o ataque frustrado de Donato ao governador. Além disso, o governador havia se apoderado dos escritos de Bernardo Ravasco. “Mas o que há de mal nisso? Escritos vão e vêm. São feitos para o vento e para o fogo”, disse Gregório de Mattos.  Gonçalo explicou que o pai ficaria muito triste em perder os escritos, pois pretendia publicá-los em Portugal ou Holanda. Depois de recuperar os escritos do pai, Gonçalo partiria para o reino e iria tentar intervir pessoalmente junto ao príncipe para livrar o pai da cadeia. O poeta conseguiu credenciais para que Gonçalo se infiltrasse na reunião de desembargadores no paço, para a qual foram convidados os ministros do Tribunal e da Relação Eclesiástica. Gonçalo iria disfarçado na comitiva Eclesiástica.
Enquanto isso, o governador Antônio de Souza, acabara de ouvir as sátiras de Gregório, que o desembargador Mata havia capturado, dizia: “As sátiras são inteligentes. Se não fossem contra mim até mesmo teriam me divertido. Muito me serviria se ele voltasse sua mordacidade contra as pessoas certas”. O governador alimentava seu ódio contra os Ravasco e seus aliados, mas principalmente contra Padre Vieira. O governador contou ao arcebispo que frequentemente sonhava com Vieira. Ele odiava o jesuíta e planejava invadir o colégio. Gregório de Mattos sabia que, se o arcebispo apoiasse a invasão sua situação se complicaria, e ele seria afastado da Sé. “Pouco me importa ficar na Sé. Aquele lugar é um presépio de bestas, se não for uma estrebaria (...) Tinha os mesmos sentimentos para escrever sobre a mulata, o amor, o muleiro, o papagaio, o governador, el Rei ou Deus”. O governador invadiu o colégio à procura dos envolvidos no crime contra o alcaide. Capturaram Antônio de Brito, João de Couros, Francisco Dias do Amaral, Barros de França, Antônio Rolin, alguns jesuítas e estudantes. Gonçalo Ravasco escapou, pois no momento da invasão, ele e Gregório de Mattos estavam na casa da barregã Anica de Melo planejando sua entrada no palácio para recuperar os escritos de Bernardo Ravasco.
Na hora da reunião dos desembargadores, Gonçalo compareceu com hábito de padre e capuz encobrindo o rosto; estava na comitiva do arcebispo. Observava os desembargadores; aproximou-se de um grupo; conversavam sobre a morte do alcaide, sobre os salários dos magistrados, decisões chegadas da Coroa e outros assuntos do mesmo teor. Ele precisava agir rápido ou seria reconhecido e preso. Tratou de encontrar o cofre onde estavam alguns documentos, entre eles, as cartas do governador dirigidas às autoridades da Coroa, relatando o crime contra o alcaide e acusando Padre Vieira de ser o mandante. Além de outros documentos de teor político, Gonçalo foi surpreendido ao ver, entre a papelada, escritos de sátiras de Gregório de Mattos sobre o Braço de Prata. No fundo do cofre, junto a documentos pessoais do governador, encontrou os escritos de Bernardo Ravasco; contente, o jovem guardou- os dentro da camisa e tratou de sair dali, seguindo o plano que havia traçado junto ao poeta.
O poeta iria para encontrar Gonçalo e juntos iriam falar com o arcebispo sobre a invasão do colégio; queria certificar-se de que a notícia da invasão chegasse corretamente às autoridades religiosas da Europa. Disse à Anica de Melo que precisavam informar não só sobre o governador, mas também sobre a situação da Colônia: “E o que vais falar sobre a Colônia? Que de dois efes se compõe essa cidade, a meu ver: um furtar e o outro foder”.
Gonçalo Ravasco contou ao poeta que o governador guardava suas sátiras no cofre. “Verdade? Se as leu estou em perigo”. Os dois continuaram ali conversando e bebendo, enquanto o poeta declamava versos. Viram Maria Berco passar carregando o marido cego; o poeta lamentou a condição e o destino da moça. Gonçalo e o poeta caminharam demoradamente até o palácio do arcebispo, enquanto falavam de Maria Berco e das mulheres:
“Se me deixassem uma noite, uma noite só, apenas umazinha com essa potranca envernizada, eu dava um jeito nela”, disse Gregório de Mattos. “As mulheres devem cumprir sua parte.” “Fornicar, fornicar, dia e noite fornicar.” “Nada disso. Que sejam todas alegres e recatadas. Não se deve permitir que a mulher se torne uma igual. Devem ser conservadas sempre a uma discreta distancia, tratadas com severidade, alimentadas com um regime escasso de carícias temperado com ameaças, de acordo com o manual de Tiraqueau”. “Sou um escravo das mulheres, sufoco-me de vê-las passar”. “Mas só lhes permites a volúpia” “E o que mais elas querem? E não é bem o que dizes, tenho meus amores líricos. Ah! Coração louco, suspirai, dai vento ao vento! Não vedes que o suspiro diminui o sentimento?”
Gregório gostava de conversar com seu amigo, porque Gonçalo sabia contestar suas observações, levando o assunto para temas mais leves, ou para a política, ou para a poesia; no entanto, não se recusava a levar adiante uma conversa depravada. Gonçalo não é corrompido pela hipocrisia inaciana, pensava Gregório. Enquanto caminhavam,
Gregório falou mal de Antônio Vieira, dissertou sobre os perigos da sífilis, que ele mesmo corria, falou da maravilha de Gomorra, da impertinência da menstruação (contou que havia épocas em que não podia fornicar, pois todas as mulheres estavam menstruadas ao mesmo tempo numa conspiração universal contra os homens), da devassidão dos padres; falou de um frei que apelidara de Foderibus Mulieribus, dos meirinhos mesquinhos, de um capitão toleirão. Nada escapou, como sempre, à sua verve. E em meio a essas variedades sustentava o assunto sempre de maneira cáustica e atraente. Não era atoa que tantos homens e mulheres fossem seus inimigos.
O arcebispo João da Madre de Deus recebeu o poeta e o jovem Gonçalo Ravasco. "Creio que o ilustríssimo não ignora o vendaval que arrasa a cidade”, disse o poeta. O arcebispo afirmou que sabia das disputas entre as facções Menezes e Ravasco. O arcebispo perguntou então, como havia começado a desavença entre as duas facções.
“O alcaide Francisco Teles de Menezes, após comprar o cargo, passou a prevaricar e a atacar com sua língua viperina importantes cidadãos que estranhavam seus excessos, inclusive os Ravasco. Quando Chegou Antônio de Souza para governar, no ano passado, sentindo-se protegido o alcaide, iniciou uma campanha de vingança contra seus opositores. Todos os que tinham ligações com esses homens ficaram ameaçados pelos Menezes. Os perseguidores foram obrigados a se homiziar, muitos no colégio dos jesuítas. Na véspera de Natal, padre Vieira  visitou o governador numa tentativa de reconciliação. Antônio de Souza expulsou-o com palavras ofensivas. A briga prosseguiu pelas ruas. Um jovem sobrinho do alcaide Francisco Teles de Menezes emboscou os irmãos Antônio e André de Brito pelas bandas do Carmo, na descida do Pelourinho. De uma casa, o moço e alguns companheiros atiraram de bacamarte contra os irmãos Brito, quase matando Antônio. Uns covardes. O provedor André de Brito, vendo o irmão caído no chão, sozinho entrou no valhacouto e pôs em fuga os agressores, que escaparam saltando a cerca do colégio dos padres. O resto o ilustríssimo já sabe.”
Os homens lamentaram a situação da Bahia e da Colônia, mas o arcebispo asseverou que os Ravasco poderiam se defender, pois eram muito influentes. João da Madre de Deus lembrou também a influência de Padre Vieira em Portugal. O poeta rebateu falando da inescrupulência dos desembargadores Palma e Gois e da corrupção no governo com compra de cargos e apadrinhamentos, além da perseguição e tirania contra seus opositores. O arcebispo afirmou que havia dito publicamente ao governador que não concordava com a invasão ao colégio e lembrou o poeta que pouco podia fazer, pois estava a serviço da Igreja e não do governo. O poeta contou-lhe sobre as acusações contra o Padre Viera deixando o arcebispo preocupado. O poeta queria que o arcebispo enviasse uma ordem ao governador para que se retirasse o cerco do colégio e se libertasse todos que haviam sido presos durante a invasão. O arcebispo disse que iria pensar antes de tomar qualquer decisão, o que fez com que o poeta insistisse. João da Madre de Deus dispensou os visitantes e afirmou que não viera para a Colônia para pelejar, já havia conversado com outros desembargadores e nem todos pensavam como Gregório. O poeta saiu dali irritado e esbravejando contra o arcebispo e os padres que o acompanhavam.
No capítulo intitulado “A vingança”, Antônio de Brito é torturado e acaba entregando os envolvidos. Entre eles, Bernardo Ravasco. O governador planejava prender alguém da família Ravasco para forçar a captura de Gonçalo. Antônio de Souza, que buscava a todo custo proceder à devassa contra os Ravasco, mandou perseguir e interrogar todos os que tinham ligação com a família.
O governador mandou chamar Bernardina Ravasco, com o intuito de usá-la para chegar a Gonçalo. Bernardo já estava preso; Maria Berco temia ser presa por ter penhorado o anel do alcaide, pois o joalheiro havia sido preso com a joia e entregou Maria. A ordem era prender e torturar Gonçalo e arrancar dele uma confissão. Braço de Prata mandou que perseguissem também o poeta e desembargador da Sé, Gregório de Mattos. “Acossa-o. Escorraça-o e, se não educar a língua, mete-o também na enxovia, degreda-o para Angola, São Tomé, para qualquer lugar bem longe daqui. Não fará nenhuma falta. Já temos letrados demais na Colônia, como disse sua Majestade.”
Iniciaram-se os interrogatórios, Bernardo Ravasco foi interrogado por Antônio Teles, irmão do alcaide morto. Enquanto isso, Dona Bernardina era interrogada pelo governador, ele prometera que, se Gonçalo se entregasse, o secretário Bernardo Ravasco seria solto. Bernardina foi ao encontro do padre Vieira e contou sobre o ocorrido. Irritado, o jesuíta disse que era ele quem ameaçava o Braço de Prata.
Bernardina enviou Maria Berco para falar com o poeta e avisar da perseguição contra o irmão. A jovem perguntou sobre Gonçalo e o poeta disse que não sabia de seu paradeiro. Mesmo que soubesse não diria, ele afirmou, pois sabia das intenções de Dona Bernardina de entregar o irmão em troca do pai. Gregório foi ao encontro do amigo e o alertou.
Na manhã seguinte, Maria Berco acordou com fortes batidas na porta de sua casa, os soldados tinham uma ordem de prisão contra ela. João Berco esbravejou, mas Maria foi levada para a prisão. Não demorou muito para que Bernardina Ravasco também fosse levada para a enxovia. Maria estava numa situação mais complicada, seria enforcada pelo roubo do anel. Luís Bonicho e Gonçalo Ravasco já haviam partido para
Portugal. Anica de Melo tentava convencer o poeta a fazer o mesmo; há dias ele se escondia dos soldados do Governador, pois não tinha mais imunidades nem emprego. Os escritos do secretário Bernardo Ravasco haviam sido entregues ao judeu Samuel da Fonseca, para que ele os guardasse.
O governador não estava satisfeito, pois nem todos os envolvidos estavam presos; alguns estavam refugiados e o alcaide havia assassinado Donato Serotino, o que não ajudava em nada os planos do governador de incriminar os Ravasco e ainda piorava sua situação. Além disso, o govenador não tinha nenhuma prova contra a facção oponente.
No capítulo intitulado “A Devassa” o desembargador Rocha Pita assume as investigações do crime. Faz alguns interrogatórios, mas não consegue chegar a um desfecho aceitável.
Metido em seu gabinete, Rocha Pita passara a noite folheando os depoimentos, anotando pontos de interesse. Relera várias vezes o processo da morte do alcaide-mor, observando falhas: incoerências, mentiras evidentes, obscuridades e ambiguidades que permitiriam impressões diversas; frequentemente contradições, sonegações de indícios, provas duvidosas. Não teria percebido aqueles grosseiros erros o famoso jurista colonial Palma?
Todos os envolvidos foram libertados por falta de provas. Sabendo dos benefícios da posição dos Ravasco e sua própria, o poeta Gregório decidiu interceder por Maria Berco. Após analisar o processo de Maria Berco, foi falar com Rocha Pita. Gregório de Matos conseguiu inscrever Maria Berco no livro de fianças e livrá-la da forca. Depois disso, o poeta decidiu procurar o esposo da jovem, na tentativa de convencê-lo a pagar sua fiança; o marido apenas concordou em testemunhar a favor da esposa. O poeta procurou então o judeu Samuel da Fonseca para pedir- lhe os recursos. O poeta não descansou até conseguir libertar a jovem; depois disso, Maria Berco foi levada para o engenho de Samuel da Fonseca, no Recôncavo.
No último capítulo do livro, intitulado “A Queda”, a autora relata a destituição do Braço de Prata do cargo de Governador e a restituição do cargo de secretário a Bernardo Ravasco. O édito dizia:
A Antônio de Souza Menezes. Eu, el rei, vos envio muito saudar. Atendendo aos vossos anos, e aos muitos que tendes de serviço desta Coroa, parecendo-me que desejais ver-vos fora do Brasil, para vir descansar ao reino, fui servido nomear ao Marques de Minas que vos houvesse de ir suceder. De que vos mando avisar para que o tenhais entendido. Escrita em Lisboa a 9 de março de 1684. Rei.
Contudo, não foram só notícias contra o governador que chegaram da metrópole. El Rei mandara execuções secretas para o padre Vieira, destituindo-o de todos os privilégios que não fossem eclesiásticos. O fato é que durante a sindicância contra o governador, testemunhas falsas depuseram contra a facção dos Ravasco. O sindicante partiu para Portugal com muitas cartas de aprovação a Antônio de Souza e a imagem do governador em Portugal era bem diferente da que se via na Colônia.
Por fim, numa espécie de posfácio, a autora relata o destino das personagens. Gregório de Mattos permaneceu um tempo no Recôncavo, esqueceu-se de Maria Berco; durante o governo do Marquês de Minas, voltou a advogar e casou-se com Maria dos Povos. Após o casamento, voltou à vida descuidada, teve novas contendas com o poder e foi degredado para Angola por continuar suas sátiras contra o governo. Um tempo depois retorna ao Brasil, mas, desta vez, se estabelece em Pernambuco, onde viveu até sua morte, em 1695.
Após ser libertada, Maria Berco ficara viúva e recebera uma boa herança, bens ocultados pelo marido avarento até sua morte. Esses recursos lhe permitiram retornar a Portugal; entretanto, seu fim é trágico, pois embora tenha recebido muitas propostas de casamento acabara sozinha e condenada por heresia. Sob suspeita de práticas judaizantes, foi excomungada por dizer a vizinhos que os judeus no Brasil eram pessoas boas, palavras que “ofendiam muito as orelhas dos cristãos.”A pena, no entanto, foi relativamente branda para os padrões inquisitoriais: perdeu todos os seus bens e foi abjurada com hábito penitencial perpétuo; degredada para São Tomé por dois anos e proibida de retornar a Portugal, Maria Berco morreu pobre e sozinha em São Tomé.
Antônio Vieira prosseguiu com seus sermões, envolveu-se em diversas intrigas contra o governo do Brasil. Já em idade avançada assumiu o cargo de Visitador Geral das Missões. Defendeu mais de uma vez a liberdade dos índios. Comunicava-se frequentemente com amigos de Portugal. Morreu em 1697.
Bernardo Ravasco morreu dois dias depois do irmão. Doente, não soube da morte de Vieira. Dez anos antes de morrer, recebeu, juntamente com o irmão jesuíta, a sentença sobre a morte do alcaide - foram ambos inocentados. Bernardo Ravasco deixou numerosa obra poética em português e castelhano.
Antônio de Souza jamais esqueceu o ódio pelos Ravasco.
Anica de Melo continuou na Bahia até o degredo de Gregório de Mattos, quando partiu para Angola na esperança de reencontrá-lo. Mas sua embarcação naufragou perto da costa da África, num ataque de corsários holandeses. Anica morreu a poucas léguas do amado; mas o poeta nunca soube como ocorreu sua morte. A cidade da Bahia cresceu e modificou-se, continuava a ser cenário de prazer e pecado, encantando a todos que ali viviam ou visitavam, mas jamais deixaria de ser a cidade onde viveu o “Boca do inferno.






28 de out. de 2018

Texto Violência nos estádios

Estádios: coliseus modernos
Desde a Idade Média, os atos de violência eram associados a manifestações de imposição e poder. Nesse período, os jogos entre os gladiadores que lutavam nos coliseus, em Roma, despertavam no público a afeição à brutalidade e a justificativa baseada nos valores culturais.  No âmbito nacional contemporâneo, a desregrada paixão do brasileiro pelo futebol, quando em contato com a violência e ausência de espírito esportivo, pode gerar situações de hostilidade que relembram a história romana. Devido a isso, barrar o avanço da violência nos estádios, fomentada pelas torcidas organizadas, é tarefa do torcedor consciente e de leis mais rígidas de combate e punição a comportamentos que firam o espírito esportivo.
Em primeiro lugar, é típico do brasileiro o extremo amor aos times esportivos. Sem o devido senso crítico, esse sentimento, entretanto, pode ajudar a converter o gosto e a admiração em rivalidades que comprometem a vivência social. Quando isso ocorre, os torcedores adotam erroneamente a metáfora conceitual “futebol é guerra” e encaram as partidas como um combate. Assim, vê-se o time e a torcida adversária como inimigos a serem violetamente vencidos, como é comum às torcidas organizadas. Muitas vezes protagonistas dos problemas nos estádios, estas buscam afirmar a supremacia de um time sobre o outro, recorrendo à combates físícos e matanças.
Ademais, a impunidade das ações hostis favorece o continuísmo dessa realidade nas arenas esportivas. Exemplo disso é que o Brasil lidera o ranking dos países que contêm mais mortes em estádios de futebol, o que comprova que a segurança nesses lugares é ineficaz, visto que, muitas vezes, os agressores não são identificados ou recebem leves advertências, enquanto que para as vítimas que sofrem violência física ou moral os danos podem ser irreversíveis. Assim, em vez de ser visto como fator de inclusão e diversão para a família brasileira, como defendido pelos próprios clubes, assistir aos jogos em espaços coletivos torna-se preocupação policial.
É imprescindível, portanto, a mudança no panorama e na conduta daqueles que usam a ferocidade para coagir outros torcedores. Para isso, o Brasil poderia se basear em países com referência em segurança nos estádios, como a Inglaterra, que sofreu ataques segregacionistas e repressivos de grupos chamados “Hooligans” e, para combatê-los, fez o cadastramento de torcedores, o uso de reforço policial e a expulsão temporária dos que se desviarem da pacificidade nos jogos. A mídia e os clubes também podem promover campanhas de conscientização ao público. Ações assim darão fim ao reflexo arcaico dos gladiadores, preservando ao esporte seu caráter de  coletivismo ético e fonte de alegria para os torcedores e suas famílias.

21 de out. de 2018

Texto tema: Combate à pedofilia


Uma menina de doze anos sendo alvo do interesse carnal de um homem de meia idade. Eis o enredo de “Lolita”, polêmica obra literária de Nabokov, autor russo, publicada em 1955. Apesar do lapso temporal, ainda hoje relações sexuais envolvendo crianças e adolescentes são comuns, embora sejam, por lei, crime de pedofilia. A permanência dessas ações no corpo social fragiliza a infância, impõe traumas e repercute por toda a vida do infante. No entanto, mesmo havendo leis, combater a pedofilia é um desafio, sobretudo, devido ao silêncio que envolve o ato, o qual se deve ora pela ausência de discernimento do quão grave é essa ação ora pela intimidação imposta pelos adultos agressores.  
De início, é importante ressaltar como a atual sociedade viola a inocência infantil. Especialmente a mídia, ao divulgar comportamentos que adultizam as crianças  – as roupas, as danças e músicas sugerem ações de “miniadultos” para os infantes – não as prepara para responder e discernir abordagens abusivas.  Assim, diante da exposição a conteúdos sexuais ou perante a incitação a atos inadequados, meninos e meninas, por vezes, não percebem que estão fragilizados frente a adultos que não respeitam a inocência pueril e, portanto, os pequenos não denunciam molestamentos e abusos, o que colabora para a permanência do problema.
Além disso, outro tipo de silêncio se dá. Algumas vítimas se calam por temerem retaliações de seus algozes. Exemplo disso são os casos em que estupradores e molestadores são entes do próprio eixo familiar. Nessas circunstâncias, as crianças, em parte das vezes, não conseguem denunciar o abusador por ser ele alguém da âmbito doméstico – pais, irmãos, primos ou mesmo um amigo próximo –, pois receiam atos de vingança ou, em outras situações, são induzidas a manterem o fato encoberto pela própria família, em vista da vergonha do enfrentamento social diante do acontecimento, além de não serem raras as conjunturas em que vítima e família dependem financeiramente do agressor.
No passado, os contos infantis, em suas vertentes primitivas e macabras, mostravam o abuso infantojuvenil como faceta de uma sociedade que não respeitava a infância como fase de purezas – basta ver as versões remotas de Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. No entanto, atualmente, proteger a integridade física e emocional dos menores deve ser compromisso do governo e da sociedade. Para tal, ao poder público compete desenvolver propagandas constantes de combate a essa chaga social, usando para isso a tv aberta e as mídias sociais, a fim de haver conscientização e consequente aumento das denúncias. Ademais, o terceiro setor pode promover debates públicos, em parcerias com escolas e igrejas, sob a orientação de psicólogos, sobre os desdobramentos que um ato de abuso traz à vida infantil, com o intuito de elucidar as famílias quanto a não acobertarem o crime e também a perceberem sinais de alerta quanto ao fato no interior dos lares. Com tais medidas, o problema tenderá a diminuir e a infância permanecerá sendo uma fase de pureza, distante dos abusos que marcaram a vida da Lolita, de Nabokov, e de tantos personagens da vida real até hoje. 

Para o sucesso na redação


- Não deixe de apresentar uma tese que seja desdobrável em dois pontos de observação a serem analisados, posteriormente, no desenvolvimento;
- Elimine do texto expressões como “É notório que...”, “É indubitável que...”, “É indiscutível que...” para abrir parágrafos. São fórmulas prontas utilizadas por muitos candidatos, o que retira a originalidade total da sua produção;
- Após um tópico frasal curto não use expressões de soma de argumentos, pois é o momento de explicar o que foi mencionado na frase de introdução do parágrafo e não de acrescentar informações;
- Cada parágrafo é um microtexto sendo, portanto, indispensável que haja introdução, desenvolvimento e conclusão da ideia desenvolvida nele;
- Não faça parágrafos apenas contextualizadores ou somente de contexto histórico, por exemplo. Cada parágrafo deve apresentar o problema e discuti-lo, endossando os problemas à vida hoje;
- Faça, no mínimo, dois diálogos relevantes com outras áreas e entrelace-os bem à discussão;
- As propostas de intervenção devem responder ao problema do texto e serem detalhadas sempre endossando medidas que podem ser aplicadas e ter resultados colhidos a curto ou médio prazo, preferencialmente;
- Não copie os textos motivadores e nem mesmo produções modelo;
- Evite repetições vocabulares;
- Elimine o excesso de espaço entre as palavras e respeite as margens da produção;
- Prefira não usar a primeira pessoa do plural em textos modelo Enem;
- Sigla deve vir acompanhada, na primeira ocorrência, de explicitação do significado dela.
- Números, até dez, é melhor apresentá-los por extenso.
- Troque o “cada vez mais” por progressivamente, paulatinamente ou expressão correlata.
- Não use “deixar de lado”, deixar a desejar”, “uma luz no fim do túnel”, “fechar com chave de ouro”... Nesses casos, o correto será: negligenciar, não satisfazer ao almejado, possibilidade última, concluir com primazia.
- Nome de ministérios, leis e marcos históricos devem ser grafados com letra maiúscula. Exemplo: Ministério da Educação, Estatuto do Idoso, Revolução Industrial...
- Os termos “governo”, “poder público”, “igreja” e outros semelhantes dispensam o uso das iniciais maiúsculas.
- Crie parágrafos de tamanhos proporcionais.
- Invista em frases de fechamento que demonstrem ao leitor a força discursiva do texto.

Texto Desafios para garantir a qualidade de vida no interior do sistema prisional


Na obra “Memórias do Cárcere”, o autor Graciliano Ramos – preso durante o regime do Estado Novo – relata os maus-tratos, as péssimas condições de higiene e a falta de humanidade vivenciadas na rotina carcerária. Hoje, ainda que distante historicamente do citado período opressor, o sistema prisional brasileiro continua sendo visto como um símbolo de tortura. Desse modo, rever a situação social a qual o penitenciário está submetido é indispensável para avaliar seus efeitos na contemporaneidade.
Primeiramente, a má infraestrutura na maioria das cadeias faz com que os presos firmem uma luta diária pela sobrevivência. Mesmo que estes vivam em um regime fechado, a superlotação e deterioração das celas e, até mesmo, a falta de água potável provam a falta de subsídio à integridade humana, visto que os indivíduos são postos à margem do descaso. Ademais, tal condição se alinha à visão determinista do século XIX, que afirma que o homem é fruto do meio no qual se encontra inserido, o que aponta para a maior corrupção do caráter de quem está recluso. Porém, se esse olhar não for combatido, ao final da pena, o indivíduo terá dificuldades para se reintegrar na sociedade e tende voltar ao crime.
Outro problema vigente é a negligência às condições higiênicas do público feminino nos redutos prisionais. A jornalista Nana Queiroz, autora do livro “Presos que menstruam”, retratou a realidade de detentas que sofreram com o tratamento idêntico entre os gêneros, sendo excluídos os cuidados íntimos da mulher, vide a falta de absorventes, em algumas prisões, e ausência de acompanhamento ginecológico. Esses aspectos revelam as parcas políticas públicas que prezem pela saúde feminina e escondem, ainda, a situação das gestantes, que não possuem um zelo diferenciado na gravidez e tampouco o auxílio médico na maioria dos sistemas carcerários.
Portanto, a maneira que os indivíduos são tratados no cárcere fere os direitos humanos, por isso, mudanças são imperativas. O governo deve investir na extensão de cadeias para evitar a lotação e, como solução paliativa, usar caminhões pipa para suprir a carência de água potável. Além disso, atividades pedagógicas ou esportivas, intermediadas por ONGs, darão aos detentos a oportunidade de reinserção social. O acesso à saúde pública é um direito universal, logo, são imprescindíveis equipes médicas e a fiscalização desses cuidados, principalmente em relação à saúde da mulher. Assim, garante-se que as condições dos detentos não sejam enfrentadas de forma desumana.

Texto recolhido da web. com leves adaptações minhas. Não sei a real autoria.

Texto: Violência escolar


              Entendido como lugar de conhecimento e aprendizagem, os recintos de educação têm sofrido com a violência escolar. As antigas palmatórias e os castigos nos cantos das paredes, usados como forma de disciplina, foram substituídos por graves agressões físicas e psicológicas advindas, especialmente, dos alunos. Nesse contexto, a agressividade da vida em sociedade e a falta de interação escola e comunidade surgem como fatores que promovem o problema.
         A obra literária “O ateneu”, de Raul Pompeia, retrata a situação de animosidade vivida por alunos em uma escola, no século XIX. Contudo, as constantes agressões entre alunos e demais agentes do processo educacional demonstram que, ainda hoje e além do panorama ficcional, a escola tem sido caracterizada pela violência. Os discentes perpetuam nos educandários a violência que presenciam no cotidiano, o desrespeito às autoridades, além do enfrentamento físico e agressivo quando qualquer impasse surge. Com o advento das tecnologias e o uso do celular em sala de aula, rapidamente os episódios de brigas são divulgados na internet, dando visibilidade ao caos que o espaço de melhoria humana, lamentavelmente, tem enfrentado.
Amor, respeito às diferenças, diálogo pacífico e compartilhamento de saberes e experiências deveriam definir a vida escolar. “Onde acaba o amor tem início o poder, a violência e o terror”. É nesse contexto mencionado por Carl Jung, pai da psicologia, que se instaura o problema. O descaso familiar e a falta de interação com a comunidade, fomentos do individualismo moderno, faz da escola um lugar que não conhece e não reflete as reais vivências dos alunos, o que a impede de conhecer as necessidades urgentes do corpo discente e faz com que as ações para barrar o avanço de fatos, como o bullying, real ou virtual, o uso de drogas e a depredação do patrimônio sejam ineficientes. Assim, é preciso que haja uma abertura para a discussão dentro do próprio ambiente educacional para que a ética e o respeito existam de verdade.
Combater a violência na escola brasileira é uma tarefa que exige agentes múltiplos. Ações governamentais, mediadas pelo Ministério da Educação, executadas por meio de projetos de despertamento artístico e de iniciação profissional realizados no interior dos redutos de ensino, como teatro, musicalização e ensino profissionalizante, seriam relevantes por inserir os alunos em outras vivências, diminuindo a absorção da agressividade cotidiana.  Palestras, grupos de discussões e eventos que aproximem família e comunidade escolar propiciariam um ambiente mais harmônico, como feiras educativas a serem apreciadas por familiares, além de cinema aberto ao público expondo peças fílmicas que sensibilizem e suscitem debates que versem sobre os impasse locais. A presença das forças policiais, com intuito educativo, por intermédio de projetos, à semelhança do Proerd – Programa de Erradicação das Drogas – poderia coibir ações violentas nos educandários. Enfim, medidas que se pautem na ética e no respeito mútuo, promovendo uma escola de compartilhamento e boas vivências afetivas, são as saídas para desassociar violência e educação.

Violência nas escolas (Texto para o pré-concurso)


A escola é, sobretudo, um local dedicado completamente à educação dos jovens. Porém, a cada dia tem se tornado, também, um palco de intolerância e violência. Esse não é um problema novo. Há muito tempo essas instituições deixaram de ser portos seguros. O que era tratado, antes, como uma questão disciplinar, hoje é visto como delinquência juvenil, chegando próximo à criminalidade. Por isso, é fundamental entender que fatores têm propiciado o cenário de animosidade nos espaços escolares.
Em primeiro lugar, é importante destacar que a violência cotidiana apenas se revela no espaço escolar, o qual recebe estudantes de diversas origens e que vivenciam todo tipo de dificuldade e adversidade. A imaturidade infantojuvenil para lidar com revoltas, com as crises econômicas e sociais que perpassam sua vivência e a ausência do processo de escuta e acolhimento emocional pela escola eclodem em atos agressivos. Assim, a escola amarga o contexto de violência que se propaga, apesar de ser tão estranho ao ideário escolar. Convém destacar que hoje a questão do celular é umas das mais polêmicas em relação a esse panorama. Talvez o aparelho seja um dos maiores disseminadores de atos violentos ao gravar e propagar brigas, além de incentivar intrigas e dissensões dentro dos redutos de ensino, inclusive por meio do cyberbullying. Apesar da proibição, por lei, do uso dessa tecnologia em sala de aula, a presença exagerada desses meios nos colégios pode ser um agravador dos atos violentos.
Outro fator determinante para a violência nas escolas é a insegurança que aluno sente nesse ambiente. Identificar-se com os professores, sentir-se amparado e manter boas relações com os colegas é primordial para que os discentes se sintam seguros. Muitas vezes, o distanciamento criado na relação professor-aluno pode alimentar a agressividade, além da ideia de concorrência entre os educandos, investimento de muitos colégios particulares, por exemplo. São inúmeros os casos, hoje, de estudantes violentando seus mestres, seus próprios colegas e até destruindo o ambiente escolar, o que pode ser reflexo direto da falta de proximidade entre o aluno e o ambiente em que está – ou deveria estar – inserido, além de refletir também a crise de autoridade na qual a sociedade está imersa.
Torna-se evidente, portanto, que a violência escolar, no Brasil, tem causas e consequências graves, sendo necessário que medidas sejam pensadas a fim de minimizar o problema. Dessa maneira, para a retração desse cenário, pode-se pensar em uma redefinição das regras do uso de aparelhos celulares em sala, por parte da escola e também por meio do diálogo com os próprios pais. Além disso, é fundamental a orientação da família, das instituições e dos próprios alunos, por especialistas em psicologia escolar. A psicopedagogia pode ser utilizada para que os estudantes se sintam à vontade para dialogar, construir relações de empatia para com seus colegas e com o ambiente em que passam a maior parte da sua semana. Assim, revendo regras e debatendo ideias, será possível fazer do espaço escolar um verdadeiro aprendizado para a vida em sociedade e não um propagador de atitudes violentas.

TEXTO MODELO: ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS DESAFIOS


Outrora, a velhice era uma dignidade; hoje ela é um peso”. A constatação de Francois Chateabriand revela um cenário de descaso e persistente desrespeito aos idosos, vistos como fardo na sociedade atual. Cotidianamente, não são raros os casos em que o público senil sofre com a intolerância quanto às necessidades específicas dessa fase da vida. Tal sofrimento decorre, em grande parte das vezes, dos descuidos familiares quanto aos mais velhos e da ausência de uma consciência legal e social que zele pelos direitos da terceira idade.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que é no âmbito doméstico que o desrespeito a quem está envelhecendo se torna mais expressivo. Devido ao choque de gerações é comum haver incompreensão e isolamento, uma vez que os mais novos não entendem os anseios de quem já passou dos sessenta anos. Essa desarmonia é traduzida em maus-tratos, agressões físicas e falta de atenção e carinho, fatores que agravam uma realidade de solidão, a qual, em muitos casos, culmina em doenças psicológicas, como a depressão. Além disso, em alguns lares os idosos são explorados financeiramente, tendo seus – já escassos – recursos subtraídos para o sustento da prole. Assim, esse público se vê constantemente desprezado e a alegria de existir se desfaz.
Ademais, na esfera social a persistência do descaso é também visível. O Estatuto do Idoso é um conjunto de leis destinado a garantir o bem-estar social daqueles que têm mais de sessenta anos. No entanto, esse aparato legal não é facilmente acatado, fato perceptível em situações simples do cotidiano: as vagas privativas são poucas e, comumente, são ocupadas pelo público jovem; as filas preferenciais são insuficientes para garantir atendimento rápido e a assistência médica é parca em relação à demanda do público mais velho. Outro fator importante é que não há um investimento público permanente com o intuito de garantir lazer e atividades esportivas aos idosos. A obra fílmica “Up: altas aventuras” apresenta o cotidiano de um velhinho que amarga a solidão e vive imerso na saudade, o que o torna mal humorado e infeliz. Para além do universo ficcional, a velhice, no contexto brasileiro, também se faz sinônimo de tristezas e reflexo de invisibilidade familiar e social.
Portanto, para amenizar os impasses relacionados ao persistente desrespeito ao idoso na sociedade brasileira, medidas são necessárias e urgentes. Diante disso, a família deve ser conscientizada, por meio da divulgação nas mídias sociais, sobre a valorização do cidadão senil e de sua experiência de vida. Além disso, é dever do Estado promover maior fiscalização quanto ao cumprimento do Estatuto do Idoso, estabelecendo punições severas àqueles que violarem as leis. Para isso, uma ouvidoria específica ou um canal telefônico para registrar denúncias de ações contra os anciãos da sociedade é relevante, a fim de evitar a omissão quanto ao problema. Atendimento público de qualidade, nos serviços básicos e na realidade hospitalar, contribuirá também para atenuar o impasse. Ações assim auxiliarão para que o corpo social se porte com alteridade e o respeito à terceira idade seja uma marca do envelhecimento no contexto contemporâneo.

17 de nov. de 2017

Doce Novembro

Chegue com doçura, Novembro
e anuncie algo vindo do futuro.
Novo tempos, felicidade em garrafadas.

Abomina este teu cheiro pagão de morte.
Jogue perfume e descanso neste cansaço íntimo de mim. 

Venha, Novembro!
Encha-me de lirismo
Mostra-me a face nova do amor.

Diga-me que Dezembro fará da
nova vida doce de ser feliz,
sol de dormir tarde, canção para
bailar, música de esquecer o medo.

Que em ti, Novembro, os sonhos amanheçam
reais e a tristeza seja deixada na solidão
de um qualquer cais.

4 de nov. de 2017

Tema: Desafios na doação de órgão no Brasil


Descanso ao “operário das ruínas
Por Daniele Ribeiro
O momento da morte é marcado pela dor. Em face do fim, os homens, comumente, refletem quanto ao sentido do ser e sobre como fazer da continuidade da existência um tempo valoroso. É por esse motivo que a doação de órgãos poderia ser o instante de oferecer vida àqueles que estão nas longas filas de espera por transplantes. A irreversibilidade da morte encefálica, tão comum, dado os elevados índices de óbitos no cotidiano do Brasil, não se converte em doações devido, especialmente, à negativa familiar e à, ainda, ineficiente gestão de saúde para que o processo seja rápido e de sucesso.
Verme – “operário das ruínas”. É com essa definição que o poeta incluso no rol dos pré-modernistas, Augusto dos Anjos, define o que estará em ação após a morte. No entanto, essa realidade pode ser amenizada já que alguns órgãos podem continuar a viver em outras pessoas. Contudo, o luto associado à falta de informação e mitos – quanto ao tráfico de órgãos e também a fé religiosa – impedem que as famílias façam a opção por doar. A ausência de altruísmo e a postura individualista da sociedade atual, características preditas por Bauman, definem, muitas vezes, a negativa, uma vez que a dor do momento, potencializada pela parca informação sobre a realidade das tristes filas de espera por uma esperança de vida, não dão espaço para que os corpos daqueles que faleceram cerebralmente  tenham um destino diferente da ação do “operário” descrito pelo “poeta do mau gosto”.
Além disso, mesmo sendo o Brasil reconhecido pelo sucesso nos transplantes que realiza, o país desperdiça parte dos órgãos que poderiam ser transplantados. Uma vez diagnosticada a morte encefálica, o que deve ser feito por um médico neurologista – profissional nem sempre presente, pelo menos de modo constante, nos hospitais públicos brasileiros -, o processo deve ser rápido e atendendo à vasta extensão territorial do país. Assim, as unidades hospitalares precisam ser ágeis na comunicação à Central de Captação de Órgãos, o que nem sempre acontece. Além disso, o corpo morto deve ser mantido em leitos, sob condições adequadas para que o transplante ocorra, atenção que, em um sistema público superlotado, nem sempre é prioridade, uma vez que esses leitos acabam sendo destinados a quem clinicamente tem condições de viver. Todos esses fatores frustram a esperança de que o corpo morto seja mais que “carne dada aos vermes” e formam um embaraço à vida de quem almeja um órgão.
“Não é da morte que temos medo, mas de pensar nela.” A constatação de Sêneca, filósofo romano, ajuda a ilustrar o quanto a falta de diálogo – social e familiar – colabora para a perpetuação do não aproveitamento dos órgãos no Brasil. Essa realidade pode ser atenuada por meio de propagandas constantes nos grandes canais de mídia sobre o assunto. Ademais, quanto ao aspecto técnico e estrutural, cabe ao Ministério da Saúde destinar verbas para a contratação de mais profissionais neurologistas para realizar, sem adiamentos ou demoras, a constatação precisa da “causa-mortis”. À tal Ministério, associado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, compete desenvolver um sistema integrado e ágil de modo a possibilitar comunicação e procedimentos mais velozes. As informações quanto a isso devem ser de conhecimento público, acessíveis em portais eletrônicos, a fim de que a população acompanhe o comprometimento das equipes de saúde, denuncie negligências e possa conhecer o destino dos órgãos doados, já que a aproximação entre as famílias também é um fator relevante para suscitar maior solidariedade entre os brasileiros.

Redação: "O problema do feminicídio na sociedade"

   A violência contra a mulher tem atingido índices alarmantes. O ápice das situações ocorre com a morte das vítimas, fato que acontece, na maior parte das vezes, após uma série de outras atitudes de amedrontamentos, humilhações e agressões. A permanência da cultura machista e a baixa eficácia dos aparatos legais têm feito do feminicídio um problema que ameaça não somente o público feminino, mas a harmonia geral da sociedade.
             A herança patriarcal de domínio e submissão do feminino à supremacia do homem tem sido fator motivador da violência física e psicológica contra mulheres. Muitas são aquelas que, no âmbito doméstico, são alcançadas pela morte como o último grau de uma escala de violências contínuas praticadas por parceiros. Na maior parte das vezes, o fim de um enlace de afeto impulsiona o feminicídio. O sentimento de perda, a não aceitação de um rompimento amoroso e o ciúme são fatores que impulsionam a violência extremada na morte. O homem, tendo a mulher como objeto de domínio, feito para o seu prazer, conforme alimentado pela cultura machista, não reconhece que as companheiras tenham a liberdade de escolha e de direito a rechaçá-lo. A desproporção de forças, o silenciamento diante de agressões frequentes e a sensação de desproteção levam ao trágico, mas não raro, fim de cessamento da vida.
                Além disso, há falhas por parte do Estado em proteger o feminino. A Lei Maria da Penha, de 2006, existe com a intenção de coibir e penalizar qualquer tipo de ato que vitimize as mulheres. No entanto, a aplicação da lei se mostra ainda falha. Inúmeras são as vítimas que, após acionarem a proteção policial, não contam com a vigilância e proteção constante. Diversos são os casos em que elas morrem sob a tutela de uma “medida protetiva”, que, paradoxalmente, não as livra do assassinato. Ademais, a ausência de denúncias, o medo, a dependência financeira e ou sentimental fazem com que as notificações ainda sejam poucas frente à realidade escondida no interior dos lares. Assim, os percentuais de violência permanecem elevados e leis, como a do feminicídio, de 2015, buscam minimizar brechas e  garantir punição aos que maltratam e matam as mulheres brasileiras, mas esbarram em questões culturais e comportamentais que precisam ser mudadas.
           Diante desse cenário, é importante que medidas sejam tomadas a fim de atenuar o problema na sociedade. A educação que, conforme Immanuel Kant, é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo, é a principal via para conscientizar quanto aos perigos da ideia de dominação de um gênero sobre outro. O incentivo à denúncia e a proteção efetiva às vítimas deve ser uma das prioridades das Defensorias de Atendimento à Mulher. Acompanhamento psicológico e amparo social também são necessários para as vítimas de violência e seus filhos. Ações como essas e o enfrentamento do patriarcalismo destrutivo podem ajudar a tornar a sociedade mais harmônica, democrática e menos amedrontadora às mulheres de hoje e de amanhã.

Redação “O combate ao consumo de entorpecentes no Brasil”

REDAÇÃO DISSERTATIVA (NÃO NECESSARIAMENTE MODELO ENEM, POIS PARA TAL SERIA NECESSÁRIO INCLUIR CITAÇÕES E UM DETALHAMENTO ÚNICO DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO).

                   O uso de entorpecentes no Brasil é um problema que, apesar de antigo, tem repercussões no agora e compromete o futuro, especialmente, dos jovens do país. O aumento no número de usuários revela que as estratégias de traficantes têm sido mais eficazes que a ação policial de repressão violenta à comercialização das drogas. Diante disso, a busca por programas de prevenção ao consumo, com o forte envolvimento da família e da sociedade, e  práticas políticas e policiais que busquem a real recuperação daquele que fez uso de entorpecentes e a reinserção social dele são essenciais para enfraquecer as teias da dependência.
                     Quando se trata de vícios, o melhor é evitá-los. A problemática relacionada ao uso de entorpecentes também passa por esse pressuposto, uma vez que manter jovens e adultos distantes do forte domínio das drogas, especialmente as ilícitas, por meio do diálogo familiar, da assistência da comunidade e de programas sociais que promovam melhores oportunidades podem ser os caminhos mais eficientes. As notícias rotineiramente difundidas sobre a guerra entre traficantes e forças policiais seriam desarticuladas se menos pessoas buscarem refúgio, psicológico ou social, no consumo das drogas, abalando o mercado do tráfico.
                     Ademais, a ideia difundida pela mídia quanto ao pobre ser o pivô e o maior consumidor de substâncias tóxicas acoberta os cartéis e organizações criminosas que espalham o vício. O governo e a polícia ainda falham por permiter que esta trabalhe sem os recursos necessários para enfrentar a articulação dos aliciadores, já que o investimento em armamento e preparo policial é parco por parte do Estado. Tal cenário é propício para que os megatraficantes expandam seu mercado consumidor. Pensando nisso, não só combater o tráfico, mas também dar oportunidades para que os viciados se recuperem e sejam reinseridos, diminuindo os índices de reincidência, é uma importante ação para atenuar o problema.
                     Portanto, para que o combate ao uso de entorpecentes alcance êxito família, sociedade e governo devem se comprometer. Programas comunitários que promovam encontros envolvendo familiares, profissionais de saúde e policiais podem auxiliar para que os mais jovens conheçam os riscos das drogas. Políticas públicas que disseminem propagandas de desestímulo às drogas lícitas, como álcool e cigarro, também podem ser úteis, já que estas, em muitos casos, funcionam como via de encorajamento a outros usos ilícitos. Garantir trabalho, educação e chances reais aos mais pobres, inclusive àqueles que estão em fase de reinserção social, mantêm-nos distantes do problema. Além disso, é muito importante investimento governamental em preparo policial para barrar não só a ação do traficante da “boca de fumo”, mas também da apreensão dos verdadeiros mandantes dos crimes. Medidas como essas poderão ajudar a dirimir o efeito devastador que os tóxicos produzem, especialmente nos mais jovens.
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