7 de abr. de 2013

Personagens da ficção podem alterar atitudes de leitores, diz estudo


Pesquisa analisou um fenômeno conhecido como 'tomada de experiências'.
Leitor pode absorver ideias e sentimentos de seu personagem preferido.

Do G1, em São Paulo

Ao ler um livro, o leitor visualiza o ambiente descrito pelo autor e tenta se inserir no enredo. A recíproca também é verdadeira, e ele leva o que os personagens vivenciam para sua vida real. A conclusão é de psicólogos americanos, após uma série de experiências sobre como a ficção interage com o público.
Os pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio examinaram um fenômeno conhecido como “tomada de experiências”, que acontece quando o leitor incorpora emoções, pensamentos e crenças de um personagem como se fossem seus.
O estudo publicado pela revista "Journal of Personality and Social Psychology" descobriu que, em algumas situações, esse fenômeno leva a reais mudanças de comportamento, ainda que sejam temporárias.
Em uma das experiências, a personagem tinha que superar obstáculos para poder votar. Na prática, os leitores que se identificaram com o personagem tiveram maior presença nas urnas – o voto não é obrigatório nos Estados Unidos.
Outra experiência analisou o comportamento de leitores que passaram pela tomada de experiências em relação a um personagem que, ao longo da história, revela ser de outra raça ou orientação sexual. Esses leitores demonstraram atitudes mais favoráveis em relação ao outro grupo e demonstraram menor tendência de estereotipar as pessoas.
“A tomada de experiências pode ser uma maneira poderosa de mudar nossos comportamentos e pensamentos de forma significativa e benéfica”, afirmou Lisa Libby, uma das autoras, em material divulgado pela universidade.
O fenômeno, no entanto, não acontece em qualquer experiência de leitura. É preciso que o leitor se esqueça de si para, de fato, acompanhar os sentimentos presentes na história. “Quanto mais você é lembrado de sua própria identidade pessoal, menor a chance de que você seja capaz de adquirir a identidade de um personagem”, explicou Geoff Kaufman, outro autor do estudo
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Fonte: http://glo.bo/Jf8kkZ

Catártico

Através da exposição de outrem, aprender, seja por meio da leitura ou da representação teatral, cinematográfica, é alcançar a purificação, a catarse aristotélica. Aprendizados assim nos ensinam o poder curativo das linhas escritas pela pena ou pelo corpo. Testo-os, então, agora. A diferença é que a exposição é  (acredito) de mim para mim, tentativa de sarar as chateações que escorrem pelas minhas palavras e não encontram outra forma de purgar-me. 
Outro dia uma colega-amiga disse-me assim: "a gente precisa é de mais autoestima". Deve ser isso mesmo. Às vezes (ou muitas vezes, vá saber!) uma palavra fora do lugar, um olhar de desprezo ou de comparação tiram dos meus pés a firmeza e, ainda que eu me desvencilhe deles na precisão do instante, o tormento interno lateja, incomoda, vira dor prolongada. Assim, uma publicação à toa em redes sociais, uma "curtida" em mensagens que, indiretamente, denunciam a rejeição, se aliam às expressões corporais, aos recados escritos no papel ou na face e me lembram o peso de estar em um lugar, em uma situação que não pedi, não escolhi e da qual não posso fugir (e não me refiro à atividade docente em si). Questões desse tipo fazem com que o mel vire fel e tiram do cotidiano o sabor de existir levemente, de ser quem a gente é, gostando os demais ou não. 
Ainda não sei como lidar com a desaprovação falada, escrita, a reclamação explícita. Ela, modestamente, se apresenta poucos vezes a mim. Talvez por isso a estranheza. Mas a verdade é que há muita traição escondida em gestos sutis, na educação mentirosa de gente mascarada, no reconhecimento covarde de hierarquias que podem prejudicar, caso assim resolvam usar a posição ocupada. 
...
O exercício da docência é isto: despertamos amores e horrores, atração e ojeriza. Há quem espere salivando a presença e explicação de um dado mestre; outros, no entanto, aguardam, impacientes, a despedida do mesmo, conseguem pontuar cada segundo do relógio como infinito. O que se há de fazer? Ainda não há meio termo. 
Há, por aí, a cultura do professor-show: eles contam piadas, são debochados e ensinam, rasamente, os macetes para o aluno alcançar o primeiro lugar no vestibular. A garotada os adora. Com a relativa pouca idade que tenho, fui aluna de quase todos. Falam o que falamos em sala e despertam paixões perpétuas. O público não percebe que diferente ali não é o professor em si, mas sim o sujeito que está sentado na cadeira, que aprendeu a ter mais foco já que o vestibular realmente se aproxima. A escola, para os que ainda cursam e dividem o tempo com os preparatórios, é um lugar de "tirar" notas, apenas! Nós, professores de ensino regular, somos os chatos, afinal, somos aqueles que cobramos resultados, temos compromisso com a formação integral do aluno, pela atribuição de notas, por dar satisfação ao pai sobre a aprendizagem dos discentes... Cabe a nós a parte , concordo, chata! Assim, como é chato corrigir prova e ver que o aluno que estava o tempo todo "grudado" no celular durante a exposição do conteúdo não se prestou, minimamente, ao trabalho de ler a matéria em casa, desprezando o dinheiro empregado pelo coitado pai; assim como é chato também constatar que a criatura que não sabe nem do que se trata o que foi falado em sala "fechou" a avaliação, utilizando, obviamente de métodos escusos (contando com a cumplicidade dos "bons alunos" que nada refletem sobre meritocracia e ética nas relações); igualmente chato é contemplar as lindas mocinhas e os malhados rapazes e ver que são apenas estampas, embalagens belas de um produto, mais dia menos dia, perecível porque não têm qualidade, senso crítico ou repertório de vida para defender suas escolhas, escolher caminhos meritosos. Chato é perceber que estamos em uma estrada escura, em que a luz do conhecimento, do respeito ao próximo, às diferenças, tem dispersão baixíssima e não abstém quase ninguém  das trevas dessa terrível e abominável geração de corpos vazios.  
Triste assim!

ENTENDA POR QUE REDAÇÃO DO ENEM COM HINO E MIOJO NÃO VALE NOTA ZERO


Segundo órgão que aplica o Enem, fuga do tema foi parcial nas redações.
Textos com hino do Palmeiras e receita de miojo tiveram nota 500 e 560.

Ana Carolina Moreno

Do G1, em São Paulo


Os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que inseriram uma receita de miojo e trechos do hino do Palmeiras na redação disseram ao G1 que esperavam tirar nota zero na prova. Segundo eles, a intenção era testar o sistema de correção da prova de redação. No entanto, de acordo com Paulo Portela, diretor-geral do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), órgão da Universidade Federal de Brasília (UnB) responsável pela aplicação do Enem, o edital do exame tem regras claras sobre as transgressões que anulam a prova. E trechos fora de propósito escondidos entre parágrafos pretensamente sérios não configuram uma fuga completa ao tema. Esta falha só existe se o candidato não cita a proposta da prova em nenhuma parte de seu texto.
Fernando Maioto Júnior e Carlos Guilherme Ferreira tentaram testar sistema de correção da redação do Enem (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Nesta semana, as redações de dois estudantes que já estavam matriculados no ensino superior, e por isso fizeram o Enem sem pretensão de tirar nota alta, acabaram ganhando destaque pela peculiaridade dos textos. Fernando César Maioto Júnior, de São José do Rio Preto (SP), inseriu no meio da redação sobre imigração no século 21 trechos do hino do Palmeiras e tirou nota 500 --a pontuação vai de 0 a 1.000.


CORRETOR DO ENEM DESABAFA: “VEJO MEU TRABALHO IR POR ÁGUA ABAIXO”


Em entrevista, professor de redação conta bastidores e problemas da correção

LAURO NETO (EMAIL)

RIO - A correção da redação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) não está provocando insatisfação e revolta apenas entre os candidatos. Em entrevista ao GLOBO, um professor de redação que foi corretor desta edição da prova conta os bastidores do processo gerenciado pelo consórcio Cespe/UnB e desabafa: “Estou vendo o trabalho que fiz durante todo o ano sendo jogado por água abaixo. É muito revoltante!”. Professor de colégios tradicionais do Rio de Janeiro e integrante de bancas de vestibulares consagrados, ele não pode ser identificado, pois assinou um contrato de sigilo. Leia a entrevista.

O GLOBO: Por que a correção da redação este ano está causando tanta polêmica?
O processo de correção já começou com um problema, pois os supervisores tiveram um aumento de trabalho e ganham fixo, enquanto o corretor ganha R$ 1,60 por redação corrigida. Houve um aumento do trabalho, pois a discrepância necessária para a terceira correção, que é feita pelos supervisores, caiu de 500 para 300 pontos. Isso aconteceu sem que o valor pago a cada supervisor fosse aumentado. Havia um certo mal estar na supervisão. Teve um supervisor que desistiu uma semana antes de começar o processo. Havia muito insatisfação. Parece que alguns supervisores fizeram o trabalho de má vontade por serem mal remunerados. Estou muito irritado porque estou vendo o trabalho que fiz durante todo o ano sendo jogado por água abaixo. É muito revoltante!

Mas não houve uma preocupação em melhorar a correção diante dos problemas do último Enem?
O Cespe aprimorou o sistema de avaliação da correção. O corretor é avaliado constantemente, principalmente no tempo em que cada redação fica aberta na tela do seu computador. Mas o corretor também erra, e a correção on-line dá brechas para burlar os filtros de qualidade.

Como é feita essa avaliação?
Cada corretor recebe diariamente uma nota da sua correção. Se não mantiver uma média 8, pode ser cortado do processo. Teve gente cortada durante o processo de correção. Mas não sabemos o que aconteceu com as redações que foram corrigidas por essas pessoas. Também houve pessoas que abandonaram a correção no meio, e as redações foram redirecionadas a outros corretores.

Como foi feita a distribuição das redações para os corretores?
Recebemos diariamente 100 redações pela internet. No nosso envelope virtual, existe uma redação corrigida por alguém da banca Cespe, que chamamos de redação de ouro. É uma maneira de o Cespe ficar atento aos corretores. Há outra redação no pacote que é corrigida por muitos corretores. Ela recebe uma nota média para verificar a qualidade e a coerência da banca. Mas não sabemos quais notas prevalecem.

Quanto tempo você demorava para corrigir uma redação?
Gastava de 2 minutos e meio a 3 minutos por redação, de 2 duas horas e meia 3 horas por dia para corrigir as redações. Se todo mundo seguisse o treinamento do Cespe, não haveria problemas. No Rio, os professores são muito experientes. Mas não sabemos como foi feito o treinamento nos confins do Brasil.

O que difere correção da redação do Enem de outros vestibulares?
O nível de exigência é menor do que se cobra normalmente nos colégios dos grandes centros urbanos. Fomos instruídos pelo Cespe a dar notas 900 ou 1.000 em redações que valiam 600. A nota zero sempre tem que ter vista por uma terceira pessoa, por um supervisor que é sempre ligado a uma universidade. Mas o Cespe se nega a conceder a revisão de fato. Isso demonstra que há uma vulnaberalidade no sistema, pois é um direito do candidato.


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