26 de out. de 2016

Análise PONCIÁ VICÊNCIO

PONCIÁ VICÊNCIO, CONCEIÇÃO EVARISTO

- Literatura Afro descendente
- Romance Afro-brasileiro
Numa linha que se inicia em 1859 com o romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis e passa por Cruz e Souza, Lima Barreto, Ruth Guimarães, Carolina Maria de Jesus desaguando em autores contemporâneos, tais como Oswaldo de Camargo, Geni Guimarães, Conceição Evaristo e tantos outros, a obra afro-descendente tem por tendência mesclar história não-oficial, memória individual e coletiva com invenção literária, na busca por traçar o painel da memória coletiva de uma raça tão excluída desde a sociedade colonial até dias atuais.
Características da obra:
O romance Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, publicado em 2003, traz de maneira madura e competente toda essa linha traçada anteriormente sobre o romance afro-brasileiro de raiz afro-descendente. Suas principais marcas podem ser assim sintetizadas:
-    Romance de formação, de construção da identidade da protagonista e da identidade de um povo, de uma raça
-    Forte diálogo entre o presente e o passado, que é fio condutor do romance, criando a memória coletiva de um povo, de uma raça e o conhecimento da protagonista em relação aos seus.
-    Romance de fortes denúncias sociais e raciais, tais como:
-     Crueldade do cotidiano dos excluídos: pobreza, desamparo, injustiça
-     Condição pós-escravidão do negro
-     Coronelismo
-     Exploração na zona rural, regime de semi escravidão
-     Migração do campo para a cidade
-     Vida nas favelas
-     Violência doméstica e violência social
-     Analfabetismo e a importância da alfabetização
-    Mas talvez a maior das críticas seja em relação a uma situação interrelacional, ou seja, todas as formas de opressão contra o negro (racismo) devem ser somadas pela condição de classe (pobres, favelados, excluídos) em que essa raça aqui é retratada e, devem ainda, serem amplificadas pela questão do gênero, ou seja, a protagonista da obra é uma mulher. Daí se configura a situação de uma mulher negra e pobre e todas as formas de opressão que condicionam sua vida.

Análise literária "Pra não dizer que não falei das flores"

ANÁLISE DA MÚSICA “Pra não dizer que não falei das flores”
 CONTEXTO HISTÓRICO
 O ano de 1968  foi palco de grandes manifestações e marcos para a história, não só no Brasil, mas também na Europa, nos Estados Unidos, Tchecoslováquia e México. Tudo acontecia quase que ao mesmo tempo: a Guerra no Vietnã, a Primavera de Praga, o assassinato de Martin Luther King e Robert Kennedy, o decreto do AI-5, a Tropicália, o Festival de Cinema de Cannes, etc.  
O Tropicalismo
Depois do golpe militar de 1964, o Brasil vê-se diante de 10 anos de censura, repressões, torturas, exílios e passeatas, mas nenhum desses anos foi tão intenso quanto o de 1968, depois da morte do estudante Edson Luís que foi assassinado por policiais, os estudantes se revoltaram e foram para as ruas pedir por mais liberdade, democracia, melhores condições de estudo e principalmente pelo fim da ditadura. Entre as manifestações surgiu um movimento chamado Tropicalismo, que além de seus principais representantes Caetano Veloso e Gilberto Gil, contavam também com artistas como: Gal Costa, Tom Zé, Mutantes, Nara Leão, etc. Os tropicalistas mudaram o conceito de bossa nova e surgiram com uma nova linguagem de MPB, incorporaram instrumentos nas composições e as letras das músicas agora eram cheias de protestos, críticas e desabafos, misturaram gêneros, cores, estilos e foram essenciais para caracterizar a história do País daquela década. Infelizmente, o Tropicalismo não durou muito. 
Depois da morte do estudante Edson Luís, surgiram grandes manifestações ao decorrer do ano como é o caso da Passeata dos Cem Mil, que reuniu aproximadamente 100 mil pessoas, entre elas: artistas, padres, mães, intelectuais, estudantes. Mas no fim do ano, quando os estudantes se reuniram em um congresso em Ibiúna – SP, os policiais deram fim a tudo aquilo prendendo os grandes líderes estudantis, ferindo vários estudantes e aliados. Logo depois, Caetano Veloso e Gilberto Gil, também foram presos e logo se exilaram, era o fim do Tropicalismo, era o começo do silêncio da UNE (que durante alguns anos, não teve grandes manifestações) e também era o início de uma fase muito mais severa, do que a que se vivia até o momento: foi decretado em dezembro de 1968 o Ato Institucional nº. 5, pelo presidente Costa e Silva.  Em 13 de dezembro de 1968, o governo militar edita o Ato Institucional número 5 dando amplos poderes ao executivo, suspendendo o habeas corpus para crimes políticos.
Entre tantas músicas, que de uma forma ou de outra nos conta os longos 20 anos de ditadura, existe uma em especial: “Pra não dizer que não falei das flores”. Composta por Geraldo Vandré, um homem paraibano, que depois de 1968 sumiu e ficou durante anos em silêncio, mas que deixou como herança para as novas gerações, uma composição que por muitos é considerada um hino contra a ditadura, alguns ainda dizem que é a Marselhesa brasileira. Marselhesa:  canto de guerra revolucionário que acompanhava a maior parte das manifestações francesas, e em 1975 tornou-se hino nacional da França.

Análise "A pata da gazela"


A CINDERELA DA LITERATURA BRASILEIRA

A VISÃO DE MUNDO ROMÂNTICA EM “A PATA DA GAZELA”, DE JOSÉ DE ALENCAR



SOBRE O AUTOR: O romancista e político brasileiro, José Martiniano de Alencar nasceu no dia 01 de Maio de 1829, em Messajana, no Ceará. Filho “ilegítimo” do então padre José Martiniano Pereira de Alencar com uma prima, a D. Ana Josefina de Alencar, o autor de Lucíola se mudou em 1830 com a família para o Rio de Janeiro, a capital do Império, onde o pai iria assumir o cargo de deputado. Em 1844 ingressa na Faculdade de Direito, na cidade de São Paulo, onde estabelece profícuo contato com os intelectuais e artistas que contribuíram para a difusão do Romantismo no Brasil, entre eles, o poeta Álvares de Azevedo (1831 – 1852). Nos anos 50 inicia sua carreira literária com a narrativa Cinco Minutos (1856), texto que segue a linha do chamado romance urbano. Sua consagração veio um ano depois com a publicação – primeiro em folhetim e depois em livro – do romance histórico-indigenista O Guarani. Em sua prosa Alencar tratou da vida na Corte, de amores conflituosos, exaltou a figura heroica do índio, idealizou com intenso lirismo as paisagens brasileiras, além de ter tematizado o interior do país e o nosso passado colonial. Entre a produção de romances e peças teatrais, a advocacia e a política, José de Alencar atuou como deputado do Partido Conservador e ministro da Justiça, durante o Segundo Império, tendo colecionado diversas polêmicas com o Imperado D. Pedro II, que o chamou, certa feita, de um “homenzinho teimoso”. Em 1864 casou-se com Georgina Cochrane com quem teve seis filhos, entre eles, o também escritor Mário de Alencar. José de Alencar faleceu em 12 de Dezembro de 1877. Principais Obras: O Guarani (1857), Lucíola (1862), Iracema (1865), O Sertanejo (1870), Senhora (1875).
SOBRE A OBRA: romance urbano publicado em 1870, expressa a vida da burguesia, seus hábitos e costumes, valorizando a honra, o desprendimento da vida de aparências e o desapego ao dinheiro. A história construída por Alencar dialoga com o conto “Cinderela”, de Perrault, e a fábula “O leão amoroso”, de La Fontaine. É uma obra leve e divertida que trata do amor à primeira vista com doses de suspense e um final feliz. A Pata da Gazela foi considerada “A Cinderela da literatura brasileira”. Alencar como Machado de Assis também se especializou na análise psicológica de suas personagens femininas, revelando seus conflitos interiores. Essa análise de caráter mais psicológico do interior das personagens remete sua obra a características peculiares dos romances realistas.
A PATA DA GAZELA E O ROMANCE URBANO: Alencar produz, ao redor da história de um triângulo amoroso entre Amélia, Horácio e Leopoldo, uma reflexão sobre algumas dimensões das práticas culturais da burguesia carioca de meados do século XIX, contrapondo posturas dos segmentos abastados dessa sociedade com aquelas das gentes modestas, pois, para o romântico, a pureza e o ideal de homem está no popular. Traz da alta sociedade do Rio de Janeiro seus espaços de reunião, personagens e costumes, para o centro da trama romanesca, seguindo o intuito de implementar um romance brasileiro, tecendo algumas apreciações críticas às práticas  sociais dos elegantes, sobretudo seu fetichismo erótico e materialista, que Horácio simboliza. Em oposição a tais aspectos, desenvolve um discurso de elogio ao amor puro, verdadeiro e imaterial, assim como à espiritualidade elevada, por meio de Leopoldo. Nessa discussão, emergem imagens da mulher e do homem românticos que se opõem àquelas de homens e mulheres do mundo burguês, tal como ainda as noções de amor, de casamento, de beleza e espiritualidade românticos contra aquelas convencionais.

Análise literária "Olhos d'água", Conceição Evaristo

ANÁLISE LITERÁRIA"Olhos d’água", de Conceição Evaristo:
a violência e a miséria que vitimam os afro-brasileiros



Nos quinze contos que enfeixam Olhos d’água, de Conceição Evaristo, a temática está relacionada às agruras diárias pelas quais passam os afro-brasileiros numa sociedade excludente como a nossa. Nessas pungentes narrativas, ainda que existam alguns protagonistas masculinos, a ênfase centra-se em personagens femininas, muitas delas figurando parcial ou totalmente nos nomes de alguns dos contos.
Indubitavelmente, questões étnicas e sociais são assuntos recorrentes na obra dessa escritora, visto que ela está envolvida com questões ligadas à igualdade racial desde a década de 1980.
No prefácio da obra, Heloisa Toller Gomes observa que muitas personagens femininas dos contos são “todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura”. Essa mesma mulher repete os dilemas vividos pela Ponciá do romance, encarnando a face de cada um dos desvalidos da sociedade brasileira, às voltas com a miséria e a violência urbana. Na realidade, essa mulher única em várias outras atua nas narrativas como resposta à indagação que o leitor encontra no poético Olhos d’água, primeiro conto do volume: “De que cor eram os olhos de minha mãe?”. A pergunta obriga a narradora a fazer o caminho de volta para o lar e resgatar sua própria história, sua identidade. E dessa consciência de sofrimento, de “lágrimas e lágrimas”, há a possibilidade de a mulher que narra apreender que ela própria, a mãe, a filha, as tias, “todas as mulheres de minha família” compõem fragmentos de uma mesma mulher que sofre.
O olhar da escritora recai sobretudo na existência difícil de personagens femininas afrodescendentes, que tentam se equilibrar no fio tênue de um cotidiano marcado por humilhação, opressão e preconceito.
As personagens que figuram em cada narrativa pertencem ao universo dos excluídos de nossa sociedade, isto é, são crianças de rua, prostitutas, mulheres pobres e humilhadas, homens que roubam, matam e são capazes de amar. Se a condição social por si só comprova que são pessoas discriminadas, mais ainda o são por serem afrodescendentes.

Sobre a autora: Conceição Evaristo Maria da Conceição Evaristo de Brito
Nasceu em 1946, numa favela de Belo Horizonte (MG). Foi para o Rio de Janeiro em 1973. Ali, atuou no magistério e ingressou na Faculdade de Letras da UFRJ. Fez Mestrado em Literatura na PUC-Rio e Doutorado em Literatura Comparada na UFF. Na década de 1980, estabeleceu contato com o grupo Quilombhoje. Em 1990, os Cadernos negros publicaram alguns de seus poemas. Com o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, Conceição Evaristo obteve a merecida consagração literária. Em 2006, lançou o livro Becos da memória e, em 2008, Poemas da recordação e outros movimentos.
 Características da obra: temporalmente os contos abordam o presente, mas não deixam afastar o passado e sempre interrogam o futuro.
Powered By Blogger

Flickr