19 de fev. de 2011

Romantismo: 1ª e 2ª Geração

Sobre o Romantismo, matéria da primeira prova de vocês, segue a prometida postagem:

Vamos por partes e começando do começo: o contexto histórico.
O Romantismo surge na Europa, no fim do século XVIII, com a publicação de Os sofrimentos do jovem Werther, do alemão Goethe. É um movimento contemporâneo à independência dos EUA e à Revolução Francesa, movimentos que contestam a ordem pré-estabelecida de organização social, levam a burguesia ao poder político e iniciam o século XIX com uma grande fé no futuro da humanidade. Afinal, o que se desejava, depois de um século de Iluminismo, era liberdade, igualdade e fraternidade para todos.
Mas, a burguesia no poder não vai durar tanto tempo assim pregando a igualdade. Se todos forem iguais não existe mais poder, não é verdade?

E o que isso tem a ver com o que estudamos no Brasil? TUDO. Porque depois de lutar pela liberdade pregada pela Revolução Francesa e gostar muito de fazer isso, o que é que os franceses, ou melhor, o francês da mão dentro do colete vai fazer? Napoleão vai levar a liberdade, a igualdade e a fraternidade à toda Europa, claro! (entendam a ironia, pelo love de God!). Lutar contra os tiranos que oprimem o povo através da guerra e do sofrimento desse mesmo povo parecia ser o lema paradoxal de Napoleão Bonaparte. D. João VI fugiu da ação ditadora de Napoleão vindo com toda a corte para cá. A vinda da do rei português fez com que o país tivesse que ser modernizado para receber as ilustres visitas. No fim das contas, temos que dar graças a Napoleão, porque sem ele não teríamos no século XIX as condições propícias para os avanços sociais que a vinda da família real no proporcionaram, muito menos para os avanços culturais e para o próprio Romantismo brasileiro.

Que condições são essas? Hora, a urbanização do Rio de Janeiro, o investimento na estrutura administrativa do Estado, a criação de uma imprensa regular, a possibilidade de se imprimir livros diretamente no Brasil, a criação de cursos superiores de Direito, Belas Artes, Medicina… É claro que isso são as condições para o Romantismo nascer. Mas o bichinho teve uma incubação meio lenta. A família real chega aqui em 1808. Em 1822 nos tornamos independentes (pelo menos politicamente). Mas Romantismo, Romantismo mesmo, só em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Isto significa que o Romantismo é contemporâneo, na verdade, do II Reinado, do governo do Imperador D. Pedro II.


PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA

A primeira geração, também chamada de nacionalista ou indianista (isso quando não é chamada de nacionalista-indianista), tem como elemento de destaque ser nacionalista e indianista! Surpreendente isso, não é? Mas o fato é que o grande diferencial dela são esses temas mesmo. Isso porque, no ponto de vista da lírica, da lírica amorosa pura, aquela que não está combinada com nenhum desses dois temas, o que sobra são as características gerais do Romantismo: o culto à natureza, o sentimento de solidão, o amor não revelado pela mulher amada, a idealização dessa mulher… A diferença mais palpável, além da combinação da temática indianista, como em Leito de Folhas Verdes – poema que está naquela folha que vimos em sala – com a amorosa é o fato de que, ao contrário da segunda geração, existe serenidade na melancolia e na tristeza vividas nos textos da primeira geração. Gonçalves Dias até tem um poema em que ele afirma que se morre de amor (literalmente o título é Se se morre de amor), mas em nenhum momento existe o desejo da evasão pela morte. Fascínio pela morte (morbidez) é uma coisa exclusiva da segunda geração, ok?
Sobre Gonçalves Dias, uma coisa importante a ser ressaltada: é o único autor que estudamos a explorar a temática amorosa do ponto de vista feminino, como ocorre no poema que vimos em sala, tanto que ressaltei e pedi que anotassem na folha “eu lírico feminino”, lembram-se?
A figura do índio merece destaque nos poemas dessa fase, obviamente. Falar de índio é citar o ser bravo, corajoso, forte, leal... chique e nacional: afinal, era um herói com cara de Brasil que os autores queriam por aqui, né...

SEGUNDA GERAÇÃO ROMÂNTICA
A segunda geração, ao contrário da primeira, ufanista, que acha que o Brasil é um país lindo, literalmente uma agradável terra de palmeiras onde canta o sabiá, não acredita muito nem no presente, quanto mais no futuro. O fato é que a segunda geração tem consciência que há uma discrepância muito grande entre o mundo como ele é e o mundo como os românticos desejam que ele seja: o mundo da igualdade, liberdade e fraternidade para todos. E essa consciência de que a vida não é exatamente tão maravilhosa assim faz com que esse pessoal procure, de todo jeito, fugir da realidade (escapismo, evasão). Já que as coisas não são como eles querem que seja, que se exploda o mundo: os ultrarromânticos só querem saber de si (egocentrismo), de seus sofrimentos, de suas angústias. E a única coisa que poderia dar alegria a essas criaturas é a realização através do amor. Poém, contraditoriamente, os artistas desse período vão manifestar um grande medo de amar. O amor é lindo no plano das ideias e é melhor que ele fique lá: essa é a atitude dominante desses escritores(idealização; evasão na fantasia). Afinal, se ele sair do plano das ideias, que será daquele que só tem essa ilusão para se agarrar, se as coisas não derem certo (pessimismo)? Sobra o vício, a bebida, a desilusão completa ou ainda a morte.
Um dos grandes nomes desse momento é Álvares de Azevedo. Os desesperos passionais são tratados em sua produção a partir de duas perspectivas: a séria e a irônica. Nessa tal “séria” encaixam-se os poemas que registram o fascínio pela ideia de morrer e a atração pelas virgens pálidas e frias. Neles, a possibilidade de realização do amor fica no mundo dos sonhos e da imaginação(evasão no sonho; amor platõnico). Sobra, ainda, a face, também chamada de irônica ou anti-romântica. Álvares, como todo artista romântico, era exagerado, e como todo ser humano inteligente, conseguia perceber o seu exagero, e como poucos seres humanos inteligentes, era capaz de fazer graça sobre si mesmo. Esse é o grande objetivo de sua face irônica: rir de si mesmo, deixar de lado aquilo que o Romantismo leva a sério demais, ridicularizar o exagero, o sentimentaloidismo, a idealização excessiva. As duas faces de Álvares de Azevedo são tentativas de abordar a realidade do amor e do sofrimento sob os pontos de vista distintos que os níveis de desespero humano podem atingir.
Um outro grande nomes dessa geração é Casimiro de Abreu: com versos meigos e doces, foi o poeta mais lido e declamado do período, especialmente pelo tom musical presente em seus poemas e também pelos temas abordados: saudade, a natureza e o desejo pelas figuras femininas. Saudade, inclusive, é a palavra que melhor define o teor de seus poemas: saudosismo. Ele se diferencia de Álvares de Azevedo, por exemplo, por sua produção não possuir a carga de pessimismo e culpa e nem associações da figura feminina à imagens de morte, tão marcantes em Azevedo.
Sobre as duas gerações:
As distinções entre elas são bastantes evidentes: a primeira assinala-se pelo indianismo, a exaltação da pátria e de sua natureza peculiar e a criação de um herói nacional; a segunda ressalta-se pela melancolia, pela tristeza, pelo pessimismo e a vontade de fugir da realidade (mal do século).
Enquanto há um otimismo e uma utopia inerentes aos românticos indianistas/nacionalistas, os ultrarromânticos (ou byronianos ou geração mal-do-século) apresentam um profundo desgosto pela vida, que ora os faz desejar a morte, ora se manifesta na busca pelos vícios, pelo exílio voluntário (evasão) numa vida decadente e cínica.

Aqui fica uma dica de dois filmes que podem ajudar vocês a entenderem um pouquinho melhor o espíritos desses dois grupos de poetas. Pocahontas e Moulin Rouge.

Pocahontas: vai exaltar a natureza americana, a vida natural dos índios, sua bondade natural, seu desapego material, sua perfeição de caráter.

Moulin Rouge:  temos em Christian (olha só, Cristão) apaixonado por Satine (Satânica… oposição interessante), um ingênuo escritor que se envolve com uma criatura do “sub-mundo” de Paris. Por esse amor, Christian se envolve profundamente no ambiente decadente do bordel, cai nas garras do absinto (bebida de poder tão destrutivo que matou muita gente e se tornou ilegal) e se torna um excluído da sociedade (como o vemos no início do filme). Observem que enquanto Christian é ingênuo (como a face Ariel, personagem de Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo, o qual representa a ingenuidade, a face anjo, em oposição a Caliban, o outro personagem, representante da face demoníaca), a realidade que ele vê é rica, colorida, feliz. Quando Christian perde sua ingenuidade (como a face Caliban), essa realidade passa a ser cinza, escura, decadente.
Outra indicação é o famoso Don Juan de Marco, o qual retrata as características do Ultrarromantismo em plena Nova York de nossos dias. Lembrando que Don Juan é uma criação de Lord Byron, poeta europeu que influenciou a geração do mal do século. 


Galera,
Os slides de sala de aula se encontram aqui: 2ª Geração Romântica


Vocês também podem estudar pelo livro Português Linguagens.
Não se desesperem
com as poucas aulas que tivemos e com o curto período para explorar o movimento romântico e essas duas gerações. Para fazerem uma boa prova, basta, apenas, que vocês tenham entendido esse “geralzão” sobre o conteúdo, ok?

Quem tiver dúvidas levante a mão ou deixe um comentário! Prometo responder antes da prova!

De olho nos vídeos:

O primeiro vídeo é a canção do Cazuza, Exagerado: ela expressa algumas das características românticas da segunda geração: a idealização do amor, o desespero, o exagero comportamental, a morte como solução para o amor não correspondido...

O segundo é a expressão do amor "bonitinho", sem ideia de morte, presente na produção poética do Casimiro de Abreu. A presença da infância e seus elementos (como fatores de inspiração para o eu lírico também peculiarizam a produção do autor de Meus oitos anos.





2 comentários:

  1. Daniele...parabéns por esse excelente trabalho, você consegui escrever os principais pontos sem muita escrita,isso é o q sempre espero de um professor,explica super claro e anda deixa seu trabalho exposto para revisarmos.te adoroooo...
    BJOKSS
    Déborah Taynã

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  2. Parabéns Daniele,ficou muito boa a apresentação e o slide tambem.

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