18 de ago. de 2009

Hora de revisão para o 1º Ano!

Arcadismo ou Neoclassicismo (anos 1700 )

Contexto Histórico:

Século XVIII - Século das Luzes (Iluminismo)
Progressivo descrédito das monarquias absolutas;
decadência da aristocracia feudal;
crescimento do poder da burguesia;
Revolução Industrial inglesa;
Revolução Francesa.

Pensamento da época


Iluminismo: O uso da razão como meio para satisfazer as necessidades do homem. Os movimentos pela independência do Brasil, como a Inconfidência Mineira, por exemplo, inspiraram-nas nas ideias iluministas.
Laicismo (separação Igreja Estado): Estado e igreja devem ser independentes, e as funções do Estado, como a política, a economia, a educação, exercidas por leigos.
Liberalismo: ideologia política que defende os sistemas representativos, os direitos civis e a igualdade de oportunidades para os cidadãos.
* três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário
* Constituição
* Todos estão sob a lei
Empirismo: corrente filosófica que atribui à experiência sensível a origem de todo conhecimento humano.


CARACTERISTICAS
Vocabulário simples; Frases na ordem direta; Pastoralismo, Bucolismo (pastoril, rural, simples, relativo à natureza); Ausência quase total de figuras de linguagem; Fugere urbem (fugir da cidade); Manutenção do verso decassílabo, do soneto e de outras formas clássicas; Aurea mediocritas (vida simples); Elementos da cultura greco-latina (deuses pagãos, figuras mitológicas); Convencionalismo amoroso (pseudônimos); Idealização amorosa; Racionalismo; Ideias iluministas; Carpe diem (viver o presente).

É IMPORTANTE LEMBRAR que o carpe diem aqui não está ligado a ideia de pecado, como no Barroco, a intenção é aproveitar o tempo presente apenas. Não se pode esquecer que o Arcadismo é um movimento pagão, sem religião.

ARCADISMO NO BRASIL

Leiam aí os belos versos de Cecília Meireles, em Romanceiro da Inconfidência , poema no qual são reproduzidas, em pleno século XX, as cenas da Inconfidência Mineira.

Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.
(...) LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva,
e sobe, na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus — pois se atreveram
a falar em Liberdade
(que ninguém sabe o que seja).
(...) Liberdade - essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
E a vizinhança não dorme:
murmura, imagina, inventa.
Não fica bandeira escrita,
mas fica escrita a sentença.


Cláudio Manuel da Costa
Obras Poéticas (1768) – Marco inicial do Arcadismo

Tomás Antônio Gonzaga
Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu)
1744-1810
Obra lírica
- Marília de Dirceu
Obras satíricas
- Cartas Chilenas (principal obra satírica do século XVIII, atribuída a Gonzaga)

Marília de Dirceu
Duas tendências coexistem nas liras de Gonzaga:
a) a contenção e o equilíbrio neoclássicos, com a utilização de todos os lugares-comuns do Arcadismo: um pastor, uma pastora, o campo, a serenidade da paisagem principal.
b) o emocionalismo pré-romântico, na expressão pungente da crise amorosa e, posteriormente a prisão, da crise existencial do poeta. O sujeito lírico é o pastor Dirceu, que confessa seu amor pela pastora Marília. Em sala comentei sobre o convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Eis a convenção neoclássica realizada. No caso de Tomás Antônio Gonzaga, sua produção foi inovadora por ter ele projetado em sua obra lírica o drama amoroso vivido entre ele e Maria Dorotéia.
Uma pausa:
Mas qual a razão desse convencionalismo no Arcadismo???
Vamos lá: primeiro é preciso lembrar que o Arcadismo busca a retomada dos moldes clássicos, e também que essa escola literária baseia-se no racionalismo. Assim, ao poeta árcade cabia seguir a convenção, o estabelecido: fazer poemas como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. A mulher permanece sendo vista como ser superior, inalcançável.
No caso de Tomás Antônio Gonzaga, a emoção do seu amor por Maria Dorotéia rompe o os padrões do estilo arcádico, brotando, dessa tensão, uma poesia de alta qualidade.
" Eu tenho um coração maior que o mundo
tu, formosa Marília, bem o sabes;
um coração, e basta,
onde tu mesma cabes"
Os poemas se chamam liras.
1ª parte: contém os poemas escritos na época anterior à prisão de Gonzaga. Nela predominam as composições convencionais: o pastor Dirceu celebra a beleza de Marília. Em algumas liras, entretanto, as convenções mal disfarçam a confissão amorosa do amor: a ansiedade de um quarentão apaixonado por uma adolescente; a necessidade de mostrar que não é um qualquer e que merece sua amada; os projetos de uma sossegada vida futura, rodeado de filhos e bem cuidado por sua mulher etc.
2ª parte: escrita na prisão da Ilha das Cobras. Os poemas exprimem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília. Nesta segunda parte, encontramos a melhor poesia de Gonzaga. As convenções, embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam o emocionalismo romântico.

Da primeira parte
LIRA 14
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo e mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
A devorante mão da negra Morte
Acaba de roubar o bem, que temos;
Até na triste campa não podemos
Zombar do braço da inconstante sorte.
Qual fica no sepulcro,
Que seus avós ergueram, descansado;
Qual no campo, e lhe arranca os brancos ossos
Ferro do torto arado.
Ah! enquanto os Destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração, que frouxo
A grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba,
E a si próprio fere.
Ornemos nossas testas com as flores;
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
Triste o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
E dote, que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vem tarde, já vem frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
0 estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.

Nesta lira, é possível perceber a presença do carpe diem. Aqui a ideia de aproveitar o tempo, de não deixar que os dias se passem sem que a vida seja aproveitada faz com o pastor convide sua amada Marília para que, ambos, gozem juntos o prazer que a juventude lhes concede. Outro ponto importante é a retomada dos elementos da cultura clássica, dos deuses: Fado, Apolo. A presença do bucolismo, da valorização da vida simples está expressa em trechos, como em: “Ornemos nossas testas com as flores;/ E façamos de feno um brando leito(...)”.


Da segunda parte
LIRA 19
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha ideia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
A dor imensa, que me cerca, e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto, e escuto
A tua voz, e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos;
Eu beijo a tíbia luz em vez de face;
E aperto sobre o peito em vão os braços
Conheço a ilusão minha;
A violência da mágoa não suporto;
Foge-me a vista, e caio,
Não sei se vivo, ou morto.
Enternece-se Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.
Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto,
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
"Se queres ser piedoso,
Procura o sítio em que Marília mora,
Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora.
Se lágrimas verter, se a dor a arrasta,
Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta."

Já nesta lira, a presença do pessimismo e a distância da amada faz com que o eu lírico, no caso o próprio Gonzaga, o Dirceu da bela Marília, deseje a morte, uma vez que encontra-se separado de sua musa. A prisão na Ilha de Cobras, devido à participação do poeta na Inconfidência Mineira, traz à poesia de Tomás Antônio Gonzaga um tom confessional, reflexivo a respeito do destino, da justiça (já que se considera injustiçado) e a terna consolação que o amor que sente por Marília lhe dá: “Procura o sítio em que Marília mora,/ Pinta-lhe o meu estrago, /E vê, Amor, se chora./ Se lágrimas verter, se a dor a arrasta,/ Uma delas me traze sobre as penas, / E para alívio meu só isto basta."

2 comentários:

  1. Galera,

    A matéria de prova é somente Arcadismo. Estudem e leiam os comentários que deixei sobre os dois poemas postados aqui no blog, observando as características do estilo de época.

    Bj!!!!

    Daniele

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