19 de set. de 2012



Filme Rio

Rio,  também referenciado como Rio: The Movie, é um filme 3D, animado por computador produzido pela 20th Century Fox e pela Blue Sky Studios. Dirigido por Carlos Saldanha, o título do filme refere-se ao município de Rio de Janeiro, onde é ambientado.  Recebeu uma indicação ao Oscar 2012 com "Melhor Canção Original", com "Real in Rio", cantada por Sérgio Mendes e Carlinhos Brown.
Depois de chamar atenção como co-diretor de A Era do Gelo (2002) e Robôs (2005) e como diretor das duas continuações da aventura glacial, o brasileiro Carlos Saldanha decidiu homenagear sua cidade natal com a animação Rio. O trabalho em 3D, com planos abertos e profundidade de campo, valoriza as belíssimas paisagens e belezas naturais da cidade, resultando em uma animação visualmente perfeitaRio tem como principal aspecto visual exaltar as belezas e o carnaval da cidade do Rio de Janeiro, embora se aproprie de uma espécie de desfocado "olhar estrangeiro", que ignora a vida cotidiana de uma metrópole com tantos problemas e desigualdades, criando uma visão caricata de sua população.
Segundo cálculos da Riotur, a empresa municipal de turismo, as campanhas promocionais do filme alcançaram um número próximo aos dois bilhões de pessoas no mundo todo, em uma tentativa de projetar uma imagem idílica do Rio de Janeiro, cidade-sede da Copa do Mundo 2014 e sede das Olimpíadas de 2016.
O longa conta a história de Blu, uma arara azul domesticada, que não sabe voar. Após ser capturado por contrabandistas de aves exóticas, ainda filhote, Blu acaba indo parar na fria Minnesota (norte dos EUA), bem longe do Rio de Janeiro, mas é tratado com amor e cuidado por Linda. Por ser o último macho de sua espécie, o ornitólogo (biólogo que se dedica ao estudo das aves) Túlio quer convencer Linda a levá-lo para o Rio de Janeiro, a fim de perpetuar a espécie com a fêmea Jade.
E é na "cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos", que Blu irá viver a maior aventura de sua vida e se ver obrigado a esquecer o ambiente doméstico a que estava acostumado, para poder encarar a temida vida numa natureza desconhecida e, aparentemente, hostil.
Além da relevante e bem humorada crítica ao contrabando e comércio ilegal de aves exóticas, também é abordado, embora superficialmente, o importante tema da extinção. O Brasil, hoje, está entre os países lideres na comercialização ilegal de animais silvestres, com mais de 12 mil espécies comercializadas por ano, e movimentando uma rede de mais de 1 milhão de reais nesse mesmo período. 
Desde a Carta de Caminha, busca-se criar uma imagem de Brasil que atraía o olhar estrangeiro. É a busca pela identidade, reafirmada pelo Romantismo e pela fase heroica do Modernismo. A brasileira Carmem Miranda, imagem do país conhecida lá fora, é lembrada na figura do buldogue Luís. Assim, o filme, metonimicamente, é um retrato do Brasil. Desde a abertura do longa, com a vista panorâmica do Pão de Açúcar, e o empolgante desfile de carnaval de aves exóticas, são destacados pontos turísticos do Rio de Janeiro, como os Arcos da Lapa, Cristo Redentor, Praia de Copacabana e Santa Teresa. Tanto para os moradores da cidade, quanto para quem a conhece, as paisagens são bem desenhadas e transpostas com perfeição para o filme, mas, a visão exageradamente carnavalesca da cidade faz supor que o carioca, representação de todo o povo brasileiro, só se preocupasse com futebol e festividades, assim como o fato de em Rio praticamente toda a população carioca ser fluente em inglês, o que não corresponde à realidade. A cor local, a descrição das belezas do país “abençoado por Deus e bonito por natureza” é recorrente. As cores da bandeira são repetidamente ressaltadas, mas o recorte que se faz do que é o país é redutor: o Brasil tem o Sul, o churrasco, os trajes típicos. Tem o nordeste, com suas peculiaridades. A Amazônia e tudo o que ela oferece. O Rio de Janeiro é uma metrópole, com carros importados e de luxo e não apenas kombis velhas e carros ultrapassados, como aparece no filme.
Personagens:
Blu: arara azul domesticada que vem para o Brasil a fim de perpetuar sua espécie. No entanto, chegando aqui não se adapta à vida na selva. Não sabe voar e declara amar sua gaiola. Ele “pensa demais”, odeia samba. No baile funk dança instintivamente, denunciando o “sangue nativo”.
Jade: arara azul, fêmea destinada a cruzar com Blu. Ama a liberdade, mas acaba ficando acorrentada à Blu. É forte e independente, mas se apaixona por Blu e sua salvação, no fim do filme, depende da ação de Blu.



Túlio: biólogo criador de aves. Se apaixona por Linda, “dona” de Blu.
Linda: estrangeira que vem ao Brasil para trazer a ararinha, sua companhia desde a infância. É inteligente, uma “coruja”. Após o sumiço de Blu, dedica sua estadia no país para procurar o animalzinho. No carnaval, dança instintivamente ao som dos acordes na Sapucaí.
Nigel: cacatua que, no passado, fora lindo, famoso, mas perdeu sua fama para um periquito. Se tornou mau e feio. É vilão.
Fernando: negro, pobre, órfão. É aliciado por criminosos, mas se arrepende dos crimes e ajuda Linda e Túlio a encontrar Blu. Marca o caminho que os bandidos tomam ao fugirem com a ararinha (intertextualidade com João e Maria).
Bandidos: negros, pobres. O líder do bando é esperto e mau. Os capangas são bobos; caracterizam a famosa dupla “o gordo e o magro”.
Tucano Rafael: pai de família, conciliador, é o guia do casal Blu e Jade; é um conquistador, amante da família e da vida natural: “ Adoro carnaval, mas amo minha família muito mais, foi uma escolha do coração e não da cabeça.”
Eva: esposa de Rafael; é desafinada e fértil. O amor dos dois foi embalado pelo hit Garota de Ipanema.
Nico e Pedro: pássaros amigos e também guias de Blu e Jade. Pedro é radical e propõe a Blue que conquiste Jade ao som do “pancadão”. Nico, mais singelo, toca bossa-nova para o casal.
Luiz: buldogue mecânico, ajuda a livrar Blu e Jade das correntes que os prendia. Vai para o carnaval fantasiado de Carmem Miranda.
Macacos: Roubam turistas no Pão de Açúcar (mas eles não roubam apenas comida, e sim joias, carteiras e outros objetos de valor). Depois são vistos ostentando todos esses objetos em um baile funk. Nesse momento são ordenados por um traficante de animais a fazerem o que ele quer.
Visão caricata: O Rio de Saldanha cria uma caricatura pejorativa de sua população: futebol, carnaval, favelas, o brasileiro sossegado que desleixa no trabalho (a cena da mulher passando fantasiada e Túlio falando: "não é uma dançarina profissional, é minha dentista" num dia a tarde). Fernando, criança negra, pobre, órfã, é aliciado por criminosos. A favela aparece como cenário dos crimes, mesmo sabendo que a corrupção abordada nada corresponde aos reais interesses do tráfico nas favelas cariocas: drogas e armas. Não há bandido em favela que queira aves e micos berrando em gaiola pra chamar atenção. A única criança é abandonada, o único especialista é bobo e incapaz de resolver problemas, as mulheres são sensuais e seminuas, os macaquinhos assaltantes (trombadinhas?), o segurança é facilmente enganado, favela com traficante, pessoas abobalhadas. O povo surge como sujeitos indiferentes aos problemas, já que, na embriaguez do futebol (Brasil X Argentina) os cidadãos nada percebem, a nada reagem. Há ainda a menção ao “jeitinho brasileiro” de resolver problemas: o garoto troca, rapidamente, o carro de Túlio pela moto, a qual o próprio menino pilota.  
O final do longa aponta para o final feliz: Jade é salva por Blu, que, por ter sentido sua amada em perigo, encontra motivação emocional para conseguir voar. As ararinhas voltam para seus donos. A última cena mostra o encontro dos três tipos humanos: a estrangeira, o brasileiro de classe média e o garoto negro pobre. É o retrato das classes brasileiras e da miscigenação do Brasil.

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