Filme
Rio
Rio, também referenciado como Rio: The Movie, é um filme 3D, animado
por computador produzido pela 20th
Century Fox e pela Blue
Sky Studios. Dirigido por Carlos
Saldanha, o título do filme refere-se ao município de Rio
de Janeiro, onde é ambientado. Recebeu
uma indicação ao Oscar 2012 com "Melhor
Canção Original", com "Real
in Rio", cantada por Sérgio
Mendes e Carlinhos Brown.
Depois de chamar atenção como
co-diretor de A Era do Gelo (2002) e Robôs (2005) e como diretor das duas continuações da aventura glacial, o
brasileiro Carlos Saldanha decidiu homenagear sua cidade natal com a animação Rio. O trabalho em 3D, com planos abertos e profundidade de campo, valoriza
as belíssimas paisagens e belezas naturais da cidade, resultando em uma animação
visualmente perfeita. Rio tem como principal aspecto visual exaltar as belezas e o carnaval da cidade do Rio de Janeiro, embora se aproprie de uma
espécie de desfocado "olhar estrangeiro", que ignora a vida
cotidiana de uma metrópole com tantos problemas e desigualdades, criando uma visão caricata
de sua população.
Segundo cálculos da Riotur, a empresa
municipal de turismo, as campanhas promocionais do filme alcançaram um número
próximo aos dois bilhões de pessoas no mundo todo, em uma tentativa de projetar
uma imagem idílica do Rio de Janeiro, cidade-sede da Copa do Mundo 2014 e sede
das Olimpíadas de 2016.
O longa conta a história de Blu, uma arara azul domesticada, que não sabe voar.
Após ser capturado por contrabandistas de aves
exóticas, ainda filhote, Blu acaba indo parar na fria Minnesota (norte dos EUA), bem longe do Rio de Janeiro, mas é tratado com amor e
cuidado por Linda. Por ser o
último macho de sua espécie, o ornitólogo (biólogo que se dedica ao estudo das
aves) Túlio quer convencer Linda a levá-lo para o Rio de Janeiro, a fim de perpetuar a espécie com a fêmea Jade.
E é na "cidade maravilha,
purgatório da beleza e do caos", que Blu irá viver a
maior aventura de sua vida e se ver obrigado a esquecer o ambiente
doméstico a que estava acostumado, para poder encarar a temida vida
numa natureza desconhecida e, aparentemente, hostil.
Além da relevante e bem humorada crítica ao contrabando e comércio ilegal de aves exóticas, também
é abordado, embora superficialmente, o importante tema da extinção. O Brasil, hoje, está
entre os países lideres na comercialização ilegal de animais silvestres, com
mais de 12 mil espécies comercializadas por ano, e movimentando uma rede de
mais de 1 milhão de reais nesse mesmo período.
Desde a Carta de Caminha, busca-se criar uma imagem de Brasil que atraía o
olhar estrangeiro. É a busca pela identidade, reafirmada pelo Romantismo e pela
fase heroica do Modernismo. A brasileira Carmem Miranda, imagem do país
conhecida lá fora, é lembrada na figura do buldogue Luís. Assim, o filme,
metonimicamente, é um retrato do Brasil. Desde a abertura do longa, com a vista panorâmica do Pão de Açúcar, e o empolgante desfile de carnaval
de aves exóticas, são destacados pontos turísticos do Rio de Janeiro, como os Arcos da Lapa, Cristo Redentor, Praia de Copacabana e Santa Teresa. Tanto para os moradores da cidade, quanto para quem a conhece,
as paisagens são bem desenhadas e transpostas com perfeição para o filme, mas, a
visão exageradamente carnavalesca da cidade faz supor que o carioca, representação de todo o povo brasileiro,
só se preocupasse com futebol e festividades, assim como o fato de em Rio praticamente toda a população
carioca ser fluente em inglês, o que não corresponde à realidade. A
cor local, a descrição das belezas do país “abençoado por Deus e bonito por
natureza” é recorrente. As cores da bandeira são repetidamente ressaltadas, mas
o recorte que se faz do que é o país é redutor: o Brasil tem o Sul, o
churrasco, os trajes típicos. Tem o nordeste, com suas peculiaridades. A
Amazônia e tudo o que ela oferece. O Rio de Janeiro é uma metrópole, com carros
importados e de luxo e não apenas kombis velhas e carros ultrapassados, como
aparece no filme.
Personagens:
Blu:
arara
azul domesticada que vem para o Brasil a fim de perpetuar sua espécie. No
entanto, chegando aqui não se adapta à vida na selva. Não sabe voar e declara
amar sua gaiola. Ele “pensa demais”, odeia samba. No baile funk dança
instintivamente, denunciando o “sangue nativo”.
Jade: arara azul, fêmea destinada a cruzar
com Blu. Ama a liberdade, mas acaba ficando acorrentada à Blu. É forte e
independente, mas se apaixona por Blu e sua salvação, no fim do filme, depende
da ação de Blu.
Linda: estrangeira que vem ao Brasil para
trazer a ararinha, sua companhia desde a infância. É inteligente, uma “coruja”.
Após o sumiço de Blu, dedica sua estadia no país para procurar o animalzinho.
No carnaval, dança instintivamente ao som dos acordes na Sapucaí.
Nigel: cacatua que, no passado, fora lindo,
famoso, mas perdeu sua fama para um periquito. Se tornou mau e feio. É vilão.
Fernando: negro, pobre, órfão. É aliciado por
criminosos, mas se arrepende dos crimes e ajuda Linda e Túlio a encontrar Blu.
Marca o caminho que os bandidos tomam ao fugirem com a ararinha
(intertextualidade com João e Maria).
Bandidos: negros, pobres. O líder do bando é
esperto e mau. Os capangas são bobos; caracterizam a famosa dupla “o gordo e o
magro”.
Tucano
Rafael: pai
de família, conciliador, é o guia do casal Blu e Jade; é um conquistador,
amante da família e da vida natural: “ Adoro carnaval, mas amo minha família
muito mais, foi uma escolha do coração e não da cabeça.”
Eva:
esposa
de Rafael; é desafinada e fértil. O amor dos dois foi embalado pelo hit Garota
de Ipanema.
Nico
e Pedro:
pássaros amigos e também guias de Blu e Jade. Pedro é radical e propõe a Blue
que conquiste Jade ao som do “pancadão”. Nico, mais singelo, toca bossa-nova
para o casal.
Luiz: buldogue mecânico, ajuda a livrar Blu
e Jade das correntes que os prendia. Vai para o carnaval fantasiado de Carmem
Miranda.
Macacos: Roubam turistas no Pão de Açúcar (mas
eles não roubam apenas comida, e sim joias, carteiras e outros objetos de
valor). Depois são vistos ostentando todos esses objetos em um baile funk.
Nesse momento são ordenados por um traficante de animais a fazerem o que ele
quer.
Visão
caricata: O Rio de
Saldanha cria uma caricatura pejorativa de sua população: futebol,
carnaval, favelas, o brasileiro sossegado que desleixa no trabalho (a cena da
mulher passando fantasiada e Túlio falando: "não é uma dançarina
profissional, é minha dentista" num dia a tarde). Fernando, criança negra,
pobre, órfã, é aliciado por criminosos. A favela aparece como cenário dos
crimes, mesmo sabendo que a corrupção abordada nada corresponde aos
reais interesses do tráfico nas favelas cariocas: drogas e armas. Não há
bandido em favela que queira aves e micos berrando em gaiola pra chamar
atenção. A única criança é abandonada, o único especialista é bobo e incapaz de
resolver problemas, as mulheres são sensuais e seminuas, os macaquinhos
assaltantes (trombadinhas?), o segurança é facilmente enganado, favela com
traficante, pessoas abobalhadas. O povo surge como sujeitos indiferentes aos
problemas, já que, na embriaguez do futebol (Brasil X Argentina) os cidadãos
nada percebem, a nada reagem. Há ainda a menção ao “jeitinho brasileiro” de
resolver problemas: o garoto troca, rapidamente, o carro de Túlio pela moto, a
qual o próprio menino pilota.
O final do longa aponta para o final
feliz: Jade é salva por Blu, que, por ter sentido sua amada em perigo, encontra
motivação emocional para conseguir voar. As ararinhas voltam para seus donos. A
última cena mostra o encontro dos três tipos humanos: a estrangeira, o
brasileiro de classe média e o garoto negro pobre. É o retrato das classes
brasileiras e da miscigenação do Brasil.
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