Nesta semana começamos a conversar
sobre o Quinhentismo, período de produção escrita relativo ao século XVI. Não
é, portanto, um período de produção literária, pois falta, a grosso modo, o
caráter inventivo, ficcional que define literatura, arte da palavra.
O primeiro período da história da
literatura brasileira começou em 1500, ano em que Pero Vaz de Caminha, escrivão
da frota de Pedro Álvares Cabral, enviou a D. Manuel I a famosa Carta,
em que se comunicava ao soberano o “achamento” das terras brasileiras. O
principal objetivo dos textos nessa época é relatar as viagens ao novo mundo e
informar como era a terra e como eram as pessoas encontradas aqui.
A produção literária do Brasil do
século XVI liga-se a duas necessidades práticas principais da empresa
colonizadora portuguesa: a de fornecer
informação sobre a nova terra e a de converter os indígenas ao cristianismo. Nessa
literatura de valor principalmente documental, encontramos elementos
importantes para a compreensão de nossas origens históricas e literárias.
Essa
produção literária proveio principalmente dos esforços iniciais de conquista
das novas terras. Dessa forma, houve várias manifestações em prosa, em sua
maioria tratados, cartas e diários, cuja
principal finalidade era descrever a paisagem e a vida brasileiras, atuando
como fonte de informação aos europeus, (LITERATURA DE INFORMAÇÃO). Além
disso, o teatro conheceu algum desenvolvimento sob forma de autos versificados
compostos pelos jesuítas em seu trabalho de catequização do índio (LITERATURA DE CATEQUESE). Também ocorreram
algumas manifestações poéticas, principalmente de caráter religioso, ligados ao
esforço catequético.
Principal texto: A Carta do Achamento
A
carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel I, foi escrita na
ocasião da descoberta do Brasil. O autor fazia parte da frota comandada por
Pedro Álvares Cabral que aportou no litoral brasileiro no ano de 1500. É a primeira representação literária da realidade
brasileira. Fixa a nossa origem,
inaugura a visão do que somos, iniciando a formação da identidade do país e da
nossa formação cultural.
O
conteúdo da Carta, de Caminha, dialoga com a História, sendo considerada, por
isso, um documento histórico. O autor se revela o primeiro cronista do Brasil.
A carta realiza uma espécie de relatório para o rei sobre a descoberta da nova
terra e o autor se posiciona como testemunha ocular dos fatos. Registra os
primeiros momentos do encontro do português com a região, descreve a geografia
física e humana do Novo Mundo e revela o impacto cultural dos estrangeiros com
os Ameríndios.
Contexto Histórico
No
séc. XV, Portugal deu início à expansão marítima com o objetivo de conquistar e
colonizar outras partes do mundo. Essa atitude atendia a necessidade de
Portugal de resolver carências e conflitos internos gerados pela crise do
século XIV (fomes, pestes e guerras), que ocasionou a desintegração do Sistema
Feudal. Assim, as Grandes Navegações atendiam a necessidade da
sociedade portuguesa, organizada em um Estado Nacional, em se adequar às
transformações sociais (ascensão da classe burguesa) e, sobretudo, econômicas
(afirmação do Mercantilismo como sistema) vivenciadas pela Europa Ocidental, no
início da Era Moderna.
Em relação aos interesses
mercantilistas, a Coroa Portuguesa desejava, ao mesmo tempo, angariar regiões
para a exploração de metais preciosos e para a expansão do comércio.
O primeiro alvo das expansões ultramarinas foi a África, mas a vontade maior de
Portugal era encontrar a rota marítima que o conduziria às Índias. Nessa época,
as Índias eram consideradas o berço dos artigos de luxo e das especiarias,
produtos ambicionados pelos europeus. Mas não eram apenas as transações
mercantis que interessavam a Portugal no seu projeto expansionista. Ele também
visava os interesses da classe feudal e da Igreja. O Estado também
almejava dilatar a fé católica. Inclusive, a campanha religiosa será largamente
usada para justificar as colonizações portuguesas.
Durante
quase um século, várias expedições foram enviadas pela Coroa e o mar foi
gradativamente se alargando para o europeu. Em 1498, a expedição comandada por
Vasco da Gama finalmente consegue o caminho para as Índias, fato que será
celebrado na famosa epopeia Os Lusíadas, escrita por Luís de
Camões. Dois anos depois, uma nova armada parte de Lisboa em uma dupla missão:
a primeira de ordem religiosa, apoiada por Roma, objetivava catequizar
os povos das Índias. A segunda, de natureza financeira, tinha compromissos
com a burguesia (os patrocinadores financeiros e comerciantes), de estabelecer
o monopólio comercial com os governantes de Calicute, criando uma feitoria
nessa cidade.
Encontro de dois mundos
Os textos produzidos são feitos sob uma
perspectiva do olhar do português. Assim, a beleza e o exotismo dos nossos bens
naturais deixavam os estrangeiros impressionados: todos, em seus escritos,
mencionavam a extensão das matas, a diversidade das espécies, os sabores das
frutas típicas, o clima... - era como se estivessem em um paraíso na terra,
quase um Jardim do Éden, por isso que falamos em um ponto de vista edênico e um homem adâmico (com a
pureza do Adão bíblico). Em vários escritos fica registrado o espanto que a
nudez e os hábitos dos índios causavam nos homens de Portugal. Mas esse espanto
era fruto do choque cultural, já que os estrangeiros não tinham costumes
semelhantes, no entanto, os nativos são, na maioria das vezes, descritos como
seres inocentes, e gentis.
Agora, vai aí um
"melô" que encontrei fuçando as postagens do blog www.literarizando.wordpress.com. Muito
legal! Eu amei! Espero que gostem! (deve ser contato conforme o ritmo da música
"Jesus Cristo", de Roberto Carlos: "Jesus Cristo, Jesus Cristo,
Jesus Cristo eu estou aqui..." lembram-se?)
Olho pra frente e vejo
Um índio pelado que vai passando
Ele é pecador ou é inocente
Eu vou me perguntando
Junto com esse índio
tem uma natureza sensacional
Que terra, que gente é
Essa estranha demais
Quinhentismo, quinhentismo
Quinhentismo, como é esse país?
Quinhentismo, quinhentismo
Quinhentismo, como é esse país?
Texto de informação é
Documento para o rei
Texto de catequese
Converte o índio
Isso eu já sei
Caminha exaltou o índio e falou
Do ouro que não achou
Anchieta com teatro e poesia
O índio mudou
Quinhentismo, quinhentismo
Quinhentismo, como é esse país?
Quinhentismo, quinhentismo
Quinhentismo, como é esse país?
A animação a seguir ajuda a fixar tudo o que foi dito em sala e aqui:
Uma interpretação moderna das imagens da terra propagandeada desde o Quinhentismo é o filme Rio. Semelhante às intenções de Caminha, que buscava atrair o olhar português para nossas terras, o filme anuncia também quem é o Brasil atual, sua gente, sua fauna e flora exuberantes. O contexto agora é atrair os estrangeiros para conhecerem a terra "abençoada por Deus e bonita por natureza" no período de Copa da Mundo e Olimpíadas, nos próximos anos.
Bons estudos, galera!
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