5 de jun. de 2016

CABARET MINEIRO, indicação PAES Unimontes




“Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar”. A frase do escritor Guimarães Rosa, publicada no livro Grande Sertão: Veredas, até poderia ser o principal argumento do filme Cabaret Mineiro (35 mm / COR / 68 min / 1980), do cineasta montesclarense Carlos Alberto Prates Correia. Como no aforismo rosiano, o longa-metragem recorre a mecanismos metafóricos de superação das limitações impostas pelo ambiente de formação. A fuga imaginária da dura realidade da caatinga pode ser compreendida como a uma celebração da vida nos áridos rincões das Gerais.

A trama de Cabaret Mineiro se passa no interior de Minas. Um aventureiro, interpretado por Nelson Dantas, se apaixona por Salinas (Tamara Taxman), durante uma viagem de trem para Montes Claros. Depois de uma noite de amor, a mulher desaparece misteriosamente sem deixar pistas. Daí, o aventureiro começa uma saga em busca de Salinas. Durante a jornada ele se envolve com orgias, festas, sedução e jogos de pôquer.

No filme é possível perceber com precisão as manifestações culturais do Norte de Minas, sempre presentes no trabalho de Prates. O linguajar dos personagens – nítida influência da literatura de Guimarães Rosa –, o som da viola caipira, das cantorias populares, as marujadas e catopês, o bolo de fubá, a rapadura, o pequi e o biscoito de goma dividem as cenas com montanhas e cachoeiras. Em Cabaret, o espectador se depara com paisagens realistas durante os dias e, a mais completa abstração nos períodos noturnos. Tudo como um ato de denuncia da existência de filmes dentro do próprio filme.

























Por outro lado, Cabaret Mineiro é uma obra debochada, que beira à pornochanchada brasileira. Por mais que o material promocional do longa já induza o espectador a acreditar que a cultura popular estará presente na trama. Na fotografia do cartaz, a atriz Tânia Alves, – que tem uma participação brilhante no filme – vestida de dançarina espanhola, coloca uma pitada de provocação no conservadorismo da região.

A própria escolha da grafia do título ‘cabaret’, do francês, ao invés de ‘cabaré’, em português, remete a uma proposta ousada, alegórica e diferenciada de outras abordagens sobre a temática folclórica. Cabaret é uma mostra do povo que conta a sua história de luta, resistência e prazeres no sertão.

Uma das sequências mais interessantes da trama se passa em um bordel. A câmera percorre o salão de festas. Um baile de carnaval anima os personagens que dançam seminus pelos cômodos da casa. Homens e mulheres são iluminados por jogos resplandecentes e estourados de luz. Superexposição antropofágica.... Em pouca mais de 8 minutos é possível perceber a atmosfera dionisíaca do filme. Também pudera o esmero estético, o diretor de fotografia do Cabaret Mineiro é Murilo Salles, que já havia mostrado seu potencial no longa Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto.

Cabaret Mineiro bem poderia ser considerado um filme musical, dada a importância da trilha sonora na ambientação da história. Com direção do músico Tavinho Moura – que também contracena –, Prates reconstrói o imaginário das cantigas folclóricas do Norte de Minas com pitadas de sensualidade e erotismo. Para algumas delas foram recriadas paródias e adaptações maliciosas. Nelson Dantas rasga o verbo em “vamos dançar tudo nu, tudo nu / tudo com o dedo no cu, menos eu / tudo com a bunda de fora / é agora / você disse que dava e não deu”.

Em entrevista ao Caderno do Fórum Doc 2008, Carlos Prates foi indagado: “Por que, cada vez mais, você cria filmes sobre outros filmes?”. A resposta veio apimentada (como a comida de Montes Claros): “porque é esse o meu desejo, a minha possibilidade. E por que não haveria de criar? Você é de alguma polícia estética? Porque eu costumo enfrentar patrulhas mercadológicas, agora tem essa outra?”

A argumentação de Prates pode ser tida como o mote de Cabaret Mineiro, em velejar na contramão das tendências da moda no cinema, mesmo para um filme rodado na década de 1980. Um luta incessante e anti-heroica conta os valores estéticos estabelecidos pelo mercado cinematográfico brasileiro e mundial.

Ficha Técnica
Titulo Original: Cabaret Mineiro
País: Brasil, 1980
Diretor: Carlos Prates
Duração: 68 minutos, Cor

FONTE: http://brancodifatima.blogspot.com.br/p/criticas.html

O seminarista, Bernardo Guimarães


SOBRE O AUTOR
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu em 1825, em Ouro Preto, interior de Minas Gerais, e aí faleceu em 1884. De 1847 a 1852, cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, deixando fama de estudante boêmio e brincalhão. Exerceu diferentes atividades ao longo da vida: foi juiz, professor, jornalista, mas gostava mesmo de literatura. Escreveu vários livros de poesia e ficção, mas foram os romances A escrava Isaura (1875) e
O seminarista (1872) que reservaram um lugar de destaque a Bernardo Guimarães como um dos mais importantes prosadores do Romantismo brasileiro.


VISÃO GERAL DA OBRA

A contundente crítica do romance é contra o celibato religioso, contra a proibição de casamento para os padres, vista como uma violência contra a natureza humana: “Ah, celibato!... Terrível celibato!... Ninguém espera afrontar impunemente as leis da natureza! Tarde ou cedo, elas têm seu complemento indeclinável, e vingam-se cruelmente dos que pretendem subtrair-se ao seu império fatal!...”.

Passeio Noturno I, Rubem Fonseca (Com atividade de interpretação)


                Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala?, perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.

O pirotécnico Zacarias, Murilo Rubião


"E se levantará pela tarde sobre ti uma luz como a do meio-dia; e quando te julgares consumido, nascerás como a estrela-d'alva." (Jó, XI, 17)


Raras são as vezes que, nas conversas de amigos meus, ou de pessoas das minhas relações, não surja esta pergunta. Teria morrido o pirotécnico Zacarias? A esse respeito as opiniões são divergentes. Uns acham que estou vivo - o morto tinha apenas alguma semelhança comigo. Outros, mais supersticiosos, acreditam que a minha morte pertence ao rol dos fatos consumados e o indivíduo a quem andam chamando Zacarias não passa de uma alma penada, envolvida por um pobre invólucro humano. Ainda há os que afirmam de maneira categórica o meu falecimento e não aceitam o cidadão existente como sendo Zacarias, o artista pirotécnico, mas alguém muito parecido com o finado. Uma coisa ninguém discute: se Zacarias morreu, o seu corpo não foi enterrado. A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. 

O ex-mágico da Taberna Minhota

O ex-mágico da Taberna Minhota
Murilo Rubião

Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me;
 porque eu sou desvalido e pobre.
(Salmos. LXXXV, I)


Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.
Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.
Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.
Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.
O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.
Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

Teleco, o coelhinho - conto de Murilo Rubião

No conto “Teleco, o Coelhinho”, a busca de humanidade esconde o desejo de superar a indiferença e o desprezo dos homens. A narrativa em primeira pessoa nos apresenta o ponto de vista do homem que recebe o coelhinho em sua casa. Encantado pela meiguice de Teleco, o narrador descobre que “a mania de transformar-se em outros bichos era nele simples desejo de agradar o próximo.” (RUBIÃO, 16ª ed., 1993:22).


“Três coisas me são difíceis de entender, e uma quarta eu a ignoro completamente: o caminho da águia no ar, o caminho da cobra sobre a pedra, o caminho da nau no meio do mar, e o caminho do homem na sua mocidade.” (Provérbios,XXX,18 e 19)


        - Moço, me dá um cigarro?
A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças.
O  importuno pedinte insistia:
–    Moço, oh! Moço! Moço me dá um cigarro?
Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei:
Vá embora, moleque, senão chamo a polícia.
–    Está bem, moço. Não se zangue. E, por favor; saia da minha frente, que eu também gosto de ver o mar.
Exasperou-me a insolência de quem assim me tratava e virei-me, disposto a escorraçá-lo com um pontapé. Fui desarmado, entretanto. Diante de mim estava um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente:
– Você não dá é porque não tem, não é, moço?

30 de mai. de 2016

A menina de Lá e Sorôco, sua mãe, sua filha

A menina de lá, Guimarães Rosa
Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.
Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou?" – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - "Tatu não vê a lua..." – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida.

Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente. – "Nhinhinha, que é que você está fazendo?" – perguntava-se. E ela respondia, alongada, sorrida, moduladamente: - "Eu... to-u... fa-a-zendo". Fazia vácuos. Seria mesmo seu tanto tolinha?
Nada a intimidava. Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: - "Menino pidão... Menino pidão..." Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: - "Menina grande... Menina grande..." Com isso Pai e Mãe davam de zangar-se. Em vão. Nhinhinha murmurava só: - "Deixa... Deixa..." – suasibilíssima, inábil como uma flor. 

Terceira fase do Modernismo ou Pós-modernidade

Terceira Fase Modernista ou Pós-Modernismo (1945-1960)
O regionalismo, uma das mais férteis correntes de nossa literatura, voltou à tona na terceira fase modernista. Trata-se, porém de um regionalismo de outra natureza. Primeiro, pela violenta experimentação a que o narrador submete a linguagem, não só incorporando termos regionais, como criando novas palavras e empregando uma sintaxe inusitada. Segundo, porque a personagem regional – representada pelo jagunço – ultrapassa a problemática decorrente do seu espaço físico ou social, e passa a refletir sobre questões de natureza filosófica, questões eternas do homem e independentes de tempo e lugar.

Contexto Histórico:
1945-1960: 1945- Término da Segunda Guerra Mundial; 1945 – Deposição de Getúlio Vargas; 1946 – Início do processo de redemocratização do Brasil; 1955 – Eleição de Juscelino Kubitschek; 1960 – Inauguração de Brasília.

Características literárias da terceira geração modernista brasileira
- Retrocesso em relação às conquistas de 1922.
- Volta ao passado: revalorização da rima, da métrica, do vocabulário e das referências mitológicas.
- Passadismo, academicismo

OS GRANDES CRIADORES DE 45, QUE RETOMAM E FECUNDAM AS EXPERIÊNCIAS DESENVOLVIDAS NO PAÍS

Prosa: João Guimarães Rosa e Clarice Lispector
Poesia: João Cabral de Melo Neto
Literatura: constante pesquisa de linguagem + senso de compromisso entre arte e realidade, engajamento
Síntese de ambas as gerações: experimentalismo + maturidade artística; nacionalismo + universalismo

Guimarães Rosa: narrativas mitopoéticas que resgatam a sutileza do elo entre a fala e o texto literário.
Clarice Lispector: romances e contos introspectivos que dialogam com as fronteiras do indizível
João Cabral de Melo Neto: poesia que associa compromisso social e precisão arquitetônica, substantiva. 

POESIA DE 45
Concretismo:poesia composta pela concretude das palavras, utilizadas em seu aspecto semântico, sonoro e visual. Há também a proposta de acabar com a exclusividade do verso, valorização da disposição gráfica das palavras e a valorização do espaço da página como elemento de composição do poema.
Principais representantes do Concretismo: Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos.

Neoconcretismo: distingue-se do Concretismo por atribuir ao leitor o papel de decodificador do texto. O significado não estaria pronto sem a atuação do leitor. Defendia, portanto, a arte participativa. Poema “não-objeto”: tinha um projeto de escrita, mas só se realizava quando fosse lido.
Principal autor: Ferreira Gullar: a poesia como afirmação da força da humanidade para resistir às pressões sociais, econômicas e políticas que trazem sofrimento e desamparo ao ser humano.

Tendências Literárias Contemporâneas
MARCAS DA PRODUÇÃO PÓS-MODERNA

O homem preso a seu tempo

O desenvolvimento de novas tecnologias de reprodução e difusão da arte (fotografia, rádio, cinema, televisão, vídeo, computador) fez com que a separação entre a arte considerada culta e a denominada arte popular fosse desaparecendo. Alguns dos mais conhecidos artistas deste século investiram na reprodução de autênticos símbolos da sociedade de consumo.
Um dos objetivos da arte pós-moderna é a sua comunicabilidade. Por isso, ela promove a incorporação de todas as estéticas passadas, combinando-as de modo inovador.
Da mesma forma como diferentes estéticas e estilos foram misturados pelos pós-modernos, um outro traço característico de sua produção é a intertextualidade: textos escritos no passado são relidos a partir de uma visão paródica, muitas vezes com objetivo irônico. Esse procedimento que já era utilizado pelos autores da primeira geração modernista, faz do texto uma grande colagem de outros textos.
O ser humano da sociedade pós-moderna parece cultivar uma postura niilista: ele não acredita em nada, não luta por nenhum ideal humanista, tendo abandonado as ilusões que animaram a história em momentos anteriores (a religião, o progresso, a consciência, a utopia) Seu grande “deus” é o consumo.
Vivendo em um mundo sem conceitos ou modelos sólidos para orientar sua existência, o ser humano pós-moderno é individualista: volta-se cada vez mais para si mesmo, preocupado em satisfazer seus desejos e alcançar suas metas.
A vida em uma sociedade voltada para o consumo traz marcas inequívocas. A principal delas é a tentativa incessante de fazer com que o ser humano relaxe, viva de maneira mais descontraída. Para tanto, investe-se em humor e no erotismo, como meios de tornar menos dramático o contexto social delicado em que vivemos.

Os rumos da prosa contemporânea
O conto:
textos curtos exploram a semelhança entre a literatura a e notícia. Temas como a violência, problemas psicológicos, religiosos, filosóficos e morais estão presentes nos contos por retratarem a vida urbana nos grandes centros. Autores como Rubem Fonseca, Dalton Trevisan E Luiz Vilela são exemplos de expoentes dessas temáticas.
O realismo fantástico, tematizando os limites entre o possível e o impossível, o real e o sobrenatural aparece na obra de Murilo Rubião e Moacyr Scliar. Os dramas dos relacionamentos amorosos e do sofrimento gerado pelas desilusões amorosas encontram eco na escrita de Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, Fernando Sabino, entre outros.
Na crônica, gênero narrativo que transita entre o conto e a notícia, tem como expoentes contemporâneos Carlos Heitor Cony, Luis Fernando Veríssimo e Martha Medeiros.
No romance, há a produção de gêneros mais populares, como a narrativa ficcional, a policial e a de ficção científica. Um dos principais autores aqui é João Ubaldo Ribeiro, o qual reflete a realidade regional, tal qual nas estéticas anteriores. A narrativa de memória tem Rubem Fonseca, autor de Agosto, como destaque. A prosa intimista é representada por Lya Luft, Nélida Piñon e Chico Buarque.
 

Passeio noturno II, Rubem Fonseca (curtametragem)

A literatura contemporânea, em muitas das suas manifestações, soará nas produções de hoje, como a tentativa de tradução das relações desconsoladas, da solidão humana e da desilusão existencial. Rubem Fonseca foi um dos primeiros escritores a trazer para a literatura o retrato brutal da violência que abala a sociedade brasileira. O mundo dos ricos sem escrúpulos, dos assassinos endinheirados, assim como o dos excluídos, dos marginais, foi incorporado aos contos e romances do autor, que traduziu numa linguagem coloquial e contundente a voz dos que, sob as condições de injustiça social ou sob pressões de uma vida sem sentido, se desumanizaram.

Passeio noturno I
               
            Eu ia para casa quando um carro encostou no meu, buzinando insistentemente. Uma mulher dirigia, abaixei os vidros do carro para entender o que ela dizia. Uma lufada de ar quente entrou com o som da voz dela: Não está mais conhecendo os outros? Eu nunca tinha visto aquela mulher. Sorri polidamente. Outros carros buzinaram atrás dos nossos. A avenida Atlântica, às sete horas da noite, é muito movimentada. A mulher, movendo-se no banco do seu carro, colocou o braço direito para fora e disse, olha um presentinho para você. Estiquei meu braço e ela colocou um papel na minha mão. Depois arrancou com o carro, dando uma gargalhada. Guardei o papel no bolso.

Papéis avulsos, Machado de Assis

Link para a obra Papéis avulsos, de Machado de Assis
Click aqui

24 de abr. de 2016

FICHA DE AUTOAVALIAÇÃO DA REDAÇÃO


1- Na introdução, você expõe o assunto da proposta e apresenta uma ideia (ou mais - duas é um bom número) relacionada a ele e que será discutida ao longo do texto?
2- No desenvolvimento do texto, você seleciona (no mínimo) dois bons argumentos e os explica de modo claro e convincente, sendo que para cada argumento você separa um parágrafo, para tornar o pensamento organizado?
3- Você apresenta conceitos, referências históricas, filosóficas, literárias ou dados estatísticos para ajudar a dar força aos seus argumentos?
4- Ao final da escrita do desenvolvimento você consegue apresentar uma ideia clara e coerente, que não apresente dificuldades para seu leitor-universal?
5- As partes do texto estão bem articuladas, bem interligadas?
6- A proposta de intervenção demonstra que para resolver/minimizar o problema são necessárias ações governamentais, de grupos da sociedade (família, ong’s, igrejas...) e individuais?
7- As ações propostas são objetivas e aplicáveis?
8- Como é o vocabulário da sua produção?
(    ) Há muitas repetições de termos ao longo do texto. Há também erros no emprego de algumas palavras.
(    ) Não há muitas repetições, mas o repertório linguístico é pouco amplo para um aluno nesta etapa de formação.
(     ) O vocabulário é simples, porém adequado para a discussão feita.
(     ) O vocabulário é rico e sofisticado, sem ser pedante e artificial.
9- A estética do texto está adequada quanto à:
(   ) paragrafação  (   ) ausência de rasuras  (   ) legibilidade e tamanho da letra.

10- Você ofereceu seu texto para que outra pessoa o leia, a fim de atestar a clareza da produção como um todo?

Atividade de recuperação 1º Trimestre 3º Ano

1- Defina Pré-Modernismo e suas principais características.
2- Registre quem são os principais autores e sua respectivas obras, demonstrando como cada um deles contribui para retratar o Brasil da virada do século.
3- Explique por que o Pré-Modernismo não é considerado uma estética literária.
4- Descreva as características essenciais da poesia de Augusto dos Anjos e explique por que sua obra é inovadora, singular dentro da tradição literária do país.

5- Analise o poema a seguir ressaltando as características da produção literária de Augusto dos Anjos.
Budismo Moderno


Tome, Dr., esta tesoura e… corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contrato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!




Bom trabalho!

18 de abr. de 2016

A poética de Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira radicado no Rio de Janeiro, é um autor de dimensão universal. Sua obra é das mais significativas, não apenas para a literatura brasileira, mas para toda a literatura de Língua Portuguesa.

As características de sua poesia podem ser analisadas como um processo. Inicialmente, é notável a influência da geração heroica do Modernismo, especialmente Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manual Bandeira. Em 1930, Drummond publica o livro Alguma poesia. Neste volume, ficam claras a ironia, a coloquialidade, o prosaico e uma leitura não convencional do cotidiano. A visão de mundo do poeta aparece como um modo de propor uma reflexão subjetiva sobre temas amplos como ser brasileiro, o amor, a literatura, a política, a religião e impressões poéticas de viagens e cidades. Muitos poemas desta obra surgem de acontecimentos do cotidiano, aparentemente banais, mas que servem como reflexões poéticas e líricas sobre a vida. É também clara a filiação ao Modernismo, evidente com o uso do verso livre, uma sequência natural das rupturas estéticas e temáticas proporcionadas pelo movimento de 1922.



Nos livros seguintes, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, José e A rosa do povo, o poeta busca um aprofundamento desta subjetividade. A ironia e o humor vão se diluindo em uma visão de relativa amargura que culmina em um clima de denúncia social, próprio do intervalo entre 1930 e 1945. No Brasil, estava em curso a Era Vargas e a ditadura do Estado Novo. Na Europa, acontecia a ascensão de Hitler e do nazi-fascismo, a revolução comunista e a escalada de violência e dos conflitos políticos que culminaram na Segunda Guerra Mundial.



Este espírito da época reflete-se na poesia de Drummond. Nota-se a presença da angústia sobre o destino da humanidade, a incerteza sobre a efemeridade da vida, a dúvida sobre o caráter benevolente do ser humano e uma relativa obscuridade. Por meio de um tom social, o poeta expõe os absurdos do "mundo, vasto mundo", onde as rimas não são propriamente soluções, mas expressões, ora irônicas, ora angustiadas, do espírito de seu tempo.



A poesia de Drummond assume, após este período, um viés metafísico e existencialista. O questionamento passa a ser a própria condição humana e o poeta resgata as marcas irônicas e as preocupações formais que marcaram sua obra. Ao final de sua vida, na passagem dos anos 1970-1980, produziu uma obra mais sentimental, menos preocupada com as inovações formais ou as angústias metafísicas do início. 

ANÁLISE "POEMA DE SETE FACES"

Poema de sete faces


Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Esse poema, que abre o primeiro livro de Drummond, pode ser lido como uma apresentação que o autor faz de sua poesia. Em sete estrofes (as sete faces) são apresentados sete aspectos da personalidade do eu-lírico.

O poema apresenta, em tom de ironia amargurada, uma profissão de fé do poeta, que expõe sua posição em relação ao mundo. 

Logo na primeira estrofe, a face revelada é a de um gauche, palavra francesa que indica um indivíduo com dificuldades de adaptação, de caminho tortuoso e opções equivocadas, marginal inadaptado desde o início da vida. Isso pode ser comparado com a visão de mundo angustiada e irônica, mas sempre sensível, que marcou a obra poética de Drummond. 
Na segunda estrofe, há a insinuação do erotismo como uma busca desenfreada, um fim em si mesmo, que acaba se tornando um elemento de tristeza, que impede a tarde de se tornar azul, brilhante, por conta da vinculação aos desejos incontidos.


Na terceira "face" do poema, o eu-lírico remete à vida frenética e sem descanso das grandes cidades, com seus bondes cheios de pernas, idas e vindas sem sentido aparente - note que são "pernas" e não "rostos", o que remete à coletivização e à desumanização das pessoas em sua busca pela sobrevivência. O coração do poeta questiona o motivo de tanta correria desenfreada, mas seus olhos, analíticos e frios, resignam-se em apenas observar, como quem se resigna diante de um fato sobre o qual não se tem influência. 

Na quarta estrofe, os "olhos" do eu-lírico observam um homem que se apresenta com uma aura aparente de seriedade, simplicidade e força. No entanto, podemos interpretar o bigode como uma máscara social que torna o homem comum um ser com dificuldades de convivência, e o faz fechado em si mesmo. Mesmo quando o homem tem um rosto e não apenas uma perna, sua identidade também se dilui na busca pelas aparências, mais importante do que a essência de seu espírito.


Na quinta estrofe, observamos um retorno ao problema do modo tortuoso que o eu-lírico vive a vida. Este trecho indica uma dificuldade de adaptação e faz referência à passagem bíblica em que Cristo pergunta a Deus por que o havia abandonado. A inadaptação, aliada às contradições do gauche, deixam evidente a angústia desta condição, que leva o eu-lírico a se identificar com o sofrimento angustiado da expiação de Cristo. 

A sexta "face" pode ser interpretada como uma crítica ao modo parnasiano de fazer poético - a busca pela rima perfeita que não produz soluções à angústia do ser nem ao problema da tortuosidade e da inadaptação, mas apenas resolve o problema do poema, da arte distanciada da realidade. 
Finalmente, a sétima estrofe revela o motivo de tanta digressão, por parte do eu-lírico: a distorção se apresenta em tom de confidência, como se a visão angustiada e também irônica presente no poema fosse fruto de uma comoção causada pelo excesso de bebida e de luar.  

14 de abr. de 2016

Felicidade Clandestina, Clarice Lispector - QUESTÕES


Análise e interpretação do conto
1) Defina o tempo e o espaço da narrativa.
2) Defina também as personagens conforme sejam planas ou esféricas, explicando o porquê da definição dada.
3) Diferencie as duas personagens principais do conto quanto à posição social, características físicas e psicológicas.
4) Qual é a explicação da narradora para o ódio e o desejo de vingança da filha do livreiro?
5) Em que situação reside o clímax do conto?
6) Qual é o foco narrativo do conto? Em que isso influencia na veracidade dos fatos?
7) Em sua opinião, que mudanças o conto apresentaria caso a narradora fosse a filha do dono da livraria?
8) O livro, no enredo, adquire uma conotação metafórica. Explique a afirmação.
9) Em que consiste a epifania na história lida?
10)Nos últimos parágrafos, a narradora tem atitudes que surpreendem o leitor. Por que ela agiu assim?
11)Que relação há entre as atitudes surpreendentes da narradora e o título “Felicidade clandestina”, dado ao conto?
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