NOTA: Vítima: pessoa ferida, violentada, torturada,
assassinada ou executada por outra; pessoa que é sujeita a opressão,
maus-tratos, arbitrariedades; pessoa que sofre por sucumbir a vício ou
sentimento próprio ou de outrem; pessoa contra quem se comete qualquer crime ou
contravenção.
Algoz: carrasco, executor da pena de morte ou de outras
penas corporais (como tormentos, açoites etc.). Indivíduo cruel, de maus
instintos; atormentador, assassino, aquilo que aflige ou atormenta. (Dicionário HOUAISS)
Sobre o autor:
Joaquim
Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí, no dia 24 de junho de 1820. Graduado em
Medicina no Rio de Janeiro no ano de 1844, foi também um dos mais
significativos autores brasileiros. No mesmo ano em que se formou ele ingressou
nas veredas literárias com o clássico A
Moreninha, com o qual ganhou celebridade e recursos financeiros. O escritor
faleceu no Rio de Janeiro, sua terra natal, em 11 de abril de 1882.
Contexto de produção:
A abolição da Escravatura:
“O Treze de Maio não é uma data apenas entre
outras, número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo
que avança em duas direções. Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil
moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o mesmo homem negro tangido para
os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do
escravo e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. Não se decretava
oficialmente o exílio do ex-cativo, mas passaria a vivê-lo como estigma na cor
da sua pele" (Alfredo Bosi)
Vítimas-algozes segue na contramão do que se
considera o movimento de abolição dos escravos. Ao contrário do ideário
romântico de vários poetas abolicionistas contemporâneos de Macedo, o autor
alimenta a ideia de que os cativos devem conquistar sua liberdade não porque a
merecem, e assim se veriam livres dos maus-tratos de seus proprietários, e sim
por estar prejudicando os senhores ao inserirem nas comunidades familiares
brancas a degradação orgânica e ética. Sobre o romance, Macedo explica, na nota
“Aos Nossos Leitores”, não lhe interessou, nas “educativas” e “moralizantes”
histórias que entregava aos consumidores de sua vasta obra, pintar “o quadro do
mal que o senhor, ainda sem querer, faz ao escravo”, mas, sim, o “quadro do mal
que o escravo faz de assento propósito ou às vezes irrefletidamente ao senhor”.
Mesmo com o sinal invertido, a obra é considerada como o retrato de uma
ideologia abolicionista. Talvez por esta razão não tenha atraído o leitor do
século XIX, nem convencido os críticos assim que foi lançado, em 1869, dezenove
anos antes da libertação dos escravos.
Estilisticamente
ela integra as fileiras do Romantismo,
um dos movimentos literários mais significativos da literatura brasileira. Mas
sua fama nasceu do fato de ter sido uma das produções românticas mais alvejadas
pela crítica. Apesar de tudo, As Vítimas
Algozes é uma representação precisa do país logo depois da abolição dos
escravos.