28 de out. de 2018

Texto Violência nos estádios

Estádios: coliseus modernos
Desde a Idade Média, os atos de violência eram associados a manifestações de imposição e poder. Nesse período, os jogos entre os gladiadores que lutavam nos coliseus, em Roma, despertavam no público a afeição à brutalidade e a justificativa baseada nos valores culturais.  No âmbito nacional contemporâneo, a desregrada paixão do brasileiro pelo futebol, quando em contato com a violência e ausência de espírito esportivo, pode gerar situações de hostilidade que relembram a história romana. Devido a isso, barrar o avanço da violência nos estádios, fomentada pelas torcidas organizadas, é tarefa do torcedor consciente e de leis mais rígidas de combate e punição a comportamentos que firam o espírito esportivo.
Em primeiro lugar, é típico do brasileiro o extremo amor aos times esportivos. Sem o devido senso crítico, esse sentimento, entretanto, pode ajudar a converter o gosto e a admiração em rivalidades que comprometem a vivência social. Quando isso ocorre, os torcedores adotam erroneamente a metáfora conceitual “futebol é guerra” e encaram as partidas como um combate. Assim, vê-se o time e a torcida adversária como inimigos a serem violetamente vencidos, como é comum às torcidas organizadas. Muitas vezes protagonistas dos problemas nos estádios, estas buscam afirmar a supremacia de um time sobre o outro, recorrendo à combates físícos e matanças.
Ademais, a impunidade das ações hostis favorece o continuísmo dessa realidade nas arenas esportivas. Exemplo disso é que o Brasil lidera o ranking dos países que contêm mais mortes em estádios de futebol, o que comprova que a segurança nesses lugares é ineficaz, visto que, muitas vezes, os agressores não são identificados ou recebem leves advertências, enquanto que para as vítimas que sofrem violência física ou moral os danos podem ser irreversíveis. Assim, em vez de ser visto como fator de inclusão e diversão para a família brasileira, como defendido pelos próprios clubes, assistir aos jogos em espaços coletivos torna-se preocupação policial.
É imprescindível, portanto, a mudança no panorama e na conduta daqueles que usam a ferocidade para coagir outros torcedores. Para isso, o Brasil poderia se basear em países com referência em segurança nos estádios, como a Inglaterra, que sofreu ataques segregacionistas e repressivos de grupos chamados “Hooligans” e, para combatê-los, fez o cadastramento de torcedores, o uso de reforço policial e a expulsão temporária dos que se desviarem da pacificidade nos jogos. A mídia e os clubes também podem promover campanhas de conscientização ao público. Ações assim darão fim ao reflexo arcaico dos gladiadores, preservando ao esporte seu caráter de  coletivismo ético e fonte de alegria para os torcedores e suas famílias.

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