2 de dez. de 2009

Aninha e suas pedras




Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. 
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.


Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
E não entraves seu uso
aos que têm sede.


CORALINA, C. Vinténs de cobre: meias confissões de Aninha.  São Paulo: Global, 2001. 

Quero ignorado, e calmo





Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.


Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.


Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato.


Fernando Pessoa

21 de nov. de 2009

O amor de Tumitinha era pouco e se acabou


Você também deve ter alguma palavra que aprendeu na infância, achava que tinha um certo significado e aquilo ficou impregnado na sua cabeça para sempre. Só anos depois veio a descobrir que a palavra não era bem aquela e nem significava aquilo. Um exemplo clássico é a frase (que eu já comentei aqui) HOJE É DOMINGO, PÉ DE CACHIMBO. Na verdade não é Pé de Cachimbo, mas sim PEDE (do verbo pedir) cachimbo. Ou seja, pede paz, tranquilidade, moleza, pede uma cervejinha. E a gente sempre a imaginar um pé de cachimbo no quintal, todo florido, com cachimbos pendurados, soltando fumaça. E, assim, existem várias palavras. Por exemplo:

Álibi - Quando eu era garoto, tarado por filmes de bandido e mocinho e gibis, semprei achei que ÁLIBI era o amigo do Mocinho. Claro, o Mocinho sempre tinha um Álibi e o bandido não. O Álibi, nos filmes, geralmente, era um velhinho. Mas resolvia.
(...) 
Margarida - Esta está na peça Apareceu a Margarida, do Roberto Athayde. A personagem (magistralmente interpretada por Marília Pera e dirigida por Aderbal Freire-Filho) achava que o Hino Nacional tinha sido feito para sacanear ela: "Do que a terra... Margarida"...

Nabudonosor - Eu sempre achei que o babilônico Nabuco fosse de um país chamado Nosor. Era Nabuco do Nosor. Achava que devia ser na África, perto do Quênia, por ali. Hoje já sei que Nabuco é um bar na Villaboim.

Sulfechando - Meu primo Hugo Prata um dia perguntou ao pai dele o que significava o verbo Sulfechar. O pai alegou que esse verbo não existia e teve que provar com dicionário e tudo. Como o garoto insistia em conjugar o verbo, o pai lhe perguntou onde ele tinha ouvido tal disparate. E ele disse e cantarolou aquela música do Tom Jobim: "são as águas de mar sulfechando o verão"...

Tumitinha - Todo mundo conhece a música Ciranda-Cirandinha. Uma amiga minha me confessou que durante anos e anos, entendia um verso completamente diferente. Quando a letra fala "o amor que tu me tinha era pouco e se acabou", ela achava que era "o amor de Tumitinha era pouco e se acabou". Tumitinha era um menino, coitado. Ficava com dó do Tumitinha toda vez que cantava a música, porque o amor dele tinha se acabado. E mais, achava que o Tumitinha era um japonesinho. Devia se chamar, na verdade, Tumita. Quando ela descobriu que o Tumitinha não existia, sofreu muito. Faz análise até hoje.

Virundum - O Henfil, só depois de grandinho foi que descobriu que o Hino Nacional na se chamava Virundum.

Fonte: http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas/o_amor_de_tumitinha.htm

18 de nov. de 2009

Ler devia ser proibido

«A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.




Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesão.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verosimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.


O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incómodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.


Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.


Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna colectivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.


Ler pode tornar o homem perigosamente humano.»



Guiomar de Grammon

In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp. 71-3.

http://www.trt05.gov.br/trt5new/areas/ddrh/LER_DEVIA_SER_PROIBIDO.doc e http://lerparacrer.wordpress.com/2007/11/06/ler-devia-ser-proibido/

Poeticamente possível, traduções de alma


"Quando te vi, amei-te já muito antes." Fernando Pessoa

"Quando eu escrevo? Todos os dias ao acordar. Pode ser uma linha, uma palavra, uma página. Seja como for, é um modo de prosseguir." João Carrascoza, escritor, professor e redator de agência de publicidade em São Paulo, ao ser perguntado sobre "aonde arranja tempo para escrever?"

"Começo a escrever sem saber aonde vou chegar. Tem horas em que minhas mãos trabalham sozinhas, eu as observo se movendo como se não fosse eu. Aos poucos a história surge. Depois, volto e apago o começo, pois era só um aquecimento." João Gilberto Noll, contando seu processo criativo

"Todos os dias quando acorda, minha filha de 4 anos entra no meu quarto e dança. Eu seria o poeta mais feliz do mundo se conseguisse traduzir em versos a beleza daquela dança." Nelson Saúte, poeta e escritor moçambicano, em debate com colegas portugueses que enfatizavam que a boa poesia só é possível a partir de um mergulho na "dor" e nas "profundezas" humanas etc, etc, etc.

"Ostra feliz não faz pérola. Ela faz pérola para transformar dor em beleza. A tragédia grega é isso: dor transformada em beleza." Rubem Alves.

Educação: valores deturpados

Descaso com a educação no Brasil

 

Com a mercantilização da educação, muitas escolas não querem perder o cliente. Para o professor a situação se torna desgastante e o trabalho segue sendo desrespeitado. Os professores que ousam discordar são convidados a deixarem o cargo, seja pela diretoria da instituição de ensino, seja pela falta de nexo que percebe existir entre os ideais educacionais e a competição primitiva por mercado.
O percentual de professores que desejam mudar de profissão é maior no ensino fundamental porque é a etapa em que há mais pressão dos pais. Tais profissinais fazem maior número de referência à mercantilização do ensino e à influência que os pais exercem sobre a escola, resultando em interferência e pressão sobre o trabalho do professor. A pressão dos pais aparece principalmente quando o estudante fica com notas baixas.

Faltam condições de trabalho, tempo para atualização, salário digno e respeito pelo trabalho desenvolvido. Segundo pesquisa recentemente divulgada pelo MEC, a média salarial dos professores é menor do que a de policiais e juízes.  A análise do MEC aponta ainda para o risco de ficarmos sem professores em dez anos, caso a atual tendência de queda na procura pelos cursos de licenciatura se perpetue. Nessa triste situação, quem quer ser professor?
Ainda que muitos colegas queiram continuar a serem  professores, como qualquer profissional, precisam de boas condições de trabalho, ferramentas modernas, tempo para atualização e salário digno. Sem isso, mesmo o mais nobre dos ideais não resiste ao mais básico dos instintos: o da sobrevivência.

Adaptado de Gazeta Mercantil


16 de nov. de 2009

Literatura faz parte da história de Ouro Preto

Programa Terra de Minas sobre a antiga Vila Rica. Produzido por ocasião do Fórum da Letras,evento internacionalmente conhecido e aplaudido por leitores, autores, universitários e professores.

Ouro Preto é e será , “uma musa natural”,onde se pode respirar arte , romance, política, como bem nos retrata Rui Mourão, no livro Boca de Chafariz. A cidade jamais deixará de inspirar, poetas , músicos, pintores , artistas ,amantes intelectuais ou não; gente de toda a sorte que por ali passam,provam sua comida e bebida ,brindando numa atmosfera misteriosa, a cidade que sempre terá um segredo a nos revelar.

Deixo para meus alunos e demais leitores um vídeo sobre a história de Ouro Preto, sua Literatura e seus autores.



9 de nov. de 2009

A menina que falava internetês





A mãe gostava de acreditar-se moderna. Do figurino à linguagem, esforçava-se para estar sempre up-to-date com as últimas tendências da moda. Seus objetivos eram claros: criar uma imagem de mulher mais jovem e fazer bonito para os filhos, os reis da tecnologia doméstica, que dominavam tudo na casa, dos controles remotos dos aparelhos eletrônicos aos computadores e laptops. Foi o propósito de não perder o bonde da história que levou Wanda a comprar um computador pessoal, assinar um provedor de acesso e começar a navegar pela internet. Nada poderia detê-la rumo à modernidade!
Depois de alguns dias, navegando em seu trabalho, encontrou sua filha pré-adolescente on-line. Não resistiu à tentação e iniciou uma conversa através de um programa de mensagens instantâneas.
— Olá, filha, aqui é a sua mãe, navegando pela internet… Tudo bem com você, querida?
— blz.
— Como? Não entendi, filhinha. Seu teclado está com algum problema nas vogais?
— naum.
— Vejo que não é este o problema, já que você digitou duas vogais agora mesmo! Mas pode ser um defeito nas teclas de acentuação. Por favor, filha, teste o ‘til’.
— q tio?
— Não, não o tio, o til. O til é o irmão do papai, o tio Bruno. O til é aquele acento do não, do anão, da mamãe… Lembra quando a mamãe ensinou a você que o til parecia uma minhoquinha?
— nem
— Nem? Como assim, ‘nem’? Nem no sentido de conjunção coordenativa aditiva como ‘não lembro nem quero lembrar’? Ou seria ‘nem’ como conjunção coordenativa alternativa, como em ‘não me lembro e nem parece uma minhoquinha’?
— ;-(
— Que foi isso, filhota?
— naum quero + tc com vc
— Você… não quer mais tecer comigo?
— teclar
— Assim mamãe fica triste, lindinha. Eu só queria conversar, puxar algum assunto. Mas está difícil. Eu não entendo o que você escreve e você não se interessa pelo que eu digito. Realmente, meu bem, parece que não é possível estabelecer um diálogo com você. Tudo bem, se eu tiver incomodando, eu paro agora mesmo.
— ta
— Antes de ir pra casa eu vou passar no supermercado. O que você quer que eu compre para… para… para vc? É assim que se diz em internetês?
— refri e bisc8
— Refrigerante e biscoito? Biscoito? Filha, francamente, que linguagem é essa? Você estuda no melhor colégio, seu pai paga uma mensalidade altíssima e você escreve assim na internet? Sem vogais, sem acentos, sem completar as palavras, sem usar maiúsculas no início de uma frase, com orações sem nexo e ainda por cima usando números no lugar das sílabas? Isso é inadmissível, Maria Eugênia!
— Xau, mãe, c ta xata.
— Maria Eugênia! Chata é com ch!

— Maria Eugênia?

—Desligou. Bem, pelo menos a tecla til está em ordem.

(Rosana Hermann. In: CAMPOS, C. L. S.; SILVA, N. J. (orgs.) Lições de Gramática para quem gosta de Literatura. 1ª Ed. São Paulo: Panda Books, 2007, p.91-94.)

2 de nov. de 2009

Que seja Doce o Novembro!

Oi, pessoal!

Neste início de mês deixo aqui uma indicação de produção cinematográfica. Já aviso que é um filme de amor.Um drama, mais especificamente. Vale a pena assistir e se emocionar. Doce Novembro é um filme sobre o poder do amor de causar mudanças nas pessoas que se entregam ao sentimento. Dirigido por Pat O'Connor (Círculo de Paixões) traz de volta às telas o casal de Advogado do Diabo, Charlize Theron (O Enigma do Espaço) e Keanu Reeves (Matriz).

Completando a indicação, há abaixo o vídeo com a música do filme e sua respectiva tradução. Muito lindoooooooooo!!!!!!!!!!!


Sinopse: Nelson Moss (Reeves) é uin publicitário que não tem tempo para nada, nem ao menos para sorrir. Vive em função de suas campanhas e dos clientes que pode conseguir arrancar da concorrência. Quando vai fazer a prova para renovar a habilitação, Nelson pede cola para uma moça sentada a seu lado e o inspetor recolhe o teste dela obrigando-a a aguardar um mês até a próxima tentativa. Essa mulher é Sara Deever (Charlize). Sara é jovem e bonita, de bem com a vida, sorridente e encantadora, o oposto de Nelson. Para recompensá-la da prova perdida ele oferece dinheiro que compensasse o que ela poderia ganhar num mês, mas ela recusa. Porém, Nelson não está livre da desmiolada Sara. Ela aparece sem mais nem menos cobrando urna carona, afinal está sem sua carta. Os dois acabam por ficar amigos e ela surge com uma inesperada e estranha proposta: passariam juntos o mês de novembro, nem um dia a mais, nem um a menos, e ela mudaria a vida dele para sempre.

No início Nelson fica com um pé atrás, como poderia largar sua carreira assim, por uma mulher que nem conhece? Mas o destino se encarrega de solucionar essa questão. Devido a uma apresentação nada convencional feita a um cliente que sua agência estava prospectando, Nelson é demitido. Por não conseguir tirar a moça da cabeça nem por um minuto, ele decide aceitar a proposta e passar um mês ao lado dela. Durante o tempo que ficam juntos, Nelson aprende o real significado da palavra viver e um forte sentimento surge entre ambos. Sara não é nada aberta, nunca fala de sua vida e nem da família. Nelson descobre, sem querer, que ela sofre de um terrível tipo de doença e por isso age dessa maneira, afastando os homens após um curto período de relacionamento. Porém, dessa vez nem ela mesma pode controlar a situação e seu coração. E o jovem também não aceitará facilmente sair de sua vida como os outros fizeram.

 

29 de out. de 2009

Me dá uma mão, ou me dá um mamão?

 
Cacofonia.

Já aconteceu com você de, ao ouvir determinada frase, percebeu que surgiu uma terceira palavra, dando duplo sentido, que não pertencia ao contexto e, por fim, se tornou desagradável aos seus ouvidos?

Isso é cacofonia. Define-se cacofonia sons desagradáveis, muitas vezes pela junção de duas palavras, que, ao pronunciadas, podem dar um tom pejorativo, engraçado ou obsceno.

Veja alguns exemplos comuns de cacofonias:

-Quero muito beijar a boca dela. (CADELA)
-Amo muito essa fada. (SAFADA)
-Me dá uma mão? (MAMÃO)
-Eu sei que amo ela. (MOELA)

Devo enfatizar aqui que a simplicidade e coerência são fatores decisivos para quem deseja um bom desempenho em provas de redação de vestibular e provas de instituições e órgãos governamentais. A cacofonia é, de longe, notada pela banca examinadora, devendo ser evitada tanto na linguagem escrita como na coloquial.

Pior ainda é a cacofonia que leva a termos deselegantes, que as pessoas educadas evitam.
Um exemplo disso está em um agradecimento por parte da apresentadora do programa "Superpop", Luciana Gimenez feito à mãe, a atriz Vera Gimenez:

"Mãe, queria agradecer por você ter me tido."

Desagradável, não acham?

Quando a cacofonia aparece em uma frase, ela pode, ou de fato, invalida todo o parágrafo, ou às vezes toda a redação. Não vai querer correr o risco de perder todo seu tempo, esforço e criativiade por causa da má colocação ou mau uso de apenas duas palavras, não é mesmo?

Fonte: http://crasesemcrise.blogspot.com

Ambiguidade


Esse é o slogan do conceituado dicionário Aurélio. Temos que confessar que lá no fundo achamos engraçado, porém, o uso do duplo sentido ou ambiguidade é uma via de mão dupla, que pode ter repercussão tanto negativa como positiva.


Hoje abordaremos esse tema: AMBIGUIDADE


A ambiguidade ou duplo sentido são geralmente provocados pela má organização de palavras numa frase.

Em campanhas publicitárias:
A seguradora Sinaf, maior empresa funerária do Rio de Janeiro, com 10% do mercado carioca, criou em 2003 uma tradição de humor negro publicitário com slogans de duplo sentido:
“Cremação:uma novidade quentinha da Sinaf.”
“Nossos clientes nunca voltaram para reclamar.”
“O melhor plano é viver. Mas vai que dá errado.”
“Sinaf, 25 anos. Incrível chegar onde chegamos perdendo um cliente atrás do outro.”

Nesse caso a leitura de duplo sentido pode ter um efeito proposital. Mesmo produzindo mensagens no limite entre a eficiência e o mau gosto, o objetivo da seguradora sem dúvida foi alcançado. O tema “morte” afugentava os interessados nos serviços da empresa, mas o tom inusitado dos anúncios subverteu a dificuldade das pessoas a lidarem com o tema.O sucesso da campanha aumentou a procura pelos serviços funerários e facilitou a abordagem dos vendedores da empresa.

Outro caso de sucesso em campanhas que utilizam o duplo sentido é o do Hortifruti, bem conhecido por nós. A campanha ‘Aqui a natureza é estrela’ ganhou o Brasil, com paródias que utilizam títulos de filmes.


Também é muito comum ver mensagens publicitárias que permitem dupla interpretação, mas que botam a perder todo um esforço comunicativo.
Um exemplo disso é a Parmalat, que lançou em 1998 uma campanha para promover seu café solúvel. A ideia da campanha era produzir uma clássica combinação do café-com-leite, materializando uma combinação visual, em que brancos e negros formavam casais.
Porém, foi criado um texto com involuntária invocação racista:

“Um café à altura do leite”.


A frase passa uma ideia de discriminação ética, que sugere a superioridade do leite, branco, sobre o café, que por metáfora, é o negro.

Na redação:

Numa redação a ambiguidade ou duplo sentido deve ser evitado, pois, como no mercado, corre-se o risco de invalidar todo o resultado final, nesse caso o parágrafo ou a redação.

Exemplos:
Marcos disse ao amigo que sua mãe tinha viajado. (de quem é a mãe?)
A mulher chegou à rua com cheiro desagradável. (o cheiro era da mulher ou da rua?)
O professor falou com o aluno parado na sala. (quem estava parado na sala?)


Em alguns casos, a ambiguidade se dissolve apenas com o uso da crase:

Ele cheira a gasolina. (aspira o combustível)
Ele cheira à gasolina. (cheira mal tal qual o combustível)

Nosso próximo post abordará o uso da crase, que ainda parece ser um bicho-papão para muitos.


Fonte: http://crasesemcrise.blogspot.com/
Revista Língua Portuguesa – Editora Segmento – Outubro 2009.

Crase sem crise


Em 2005, o Deputado João Nermann Neto propôs abolir esse acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154. Bombardeado, na ocasião, por linguistas e gramáticos, acabou por desistir do projeto. Ainda bem, na minha opinião. Na sua não? Tenho certeza que após ler essa matéria com carinho irá mudar seu conceito em relação à crase. Na verdade vai achá-la até bonitinha e agradável aos olhinhos e ouvidos.

Crase:

Se todos pensassem na crase como um simples acento para evitar ambiguidade ou simbolizar uma fusão nas frases, ela deixaria de ser encarada como um bicho-papão, como é encarada por muitos hoje.

Vale lembrar que "crase" não é o nome do acento, e sim da junção de a+a. O nome do acento é "grave".

No clássico "Decifrando a Crase" (Globo-2005), Celso Pedro Luft explica o uso do acento (`) no "a" em duas aplicações distintas:

1) Sinalizar uma fusão: "Ela compareceu à reunião de pais e mestres." (à = a a).

2) Evitar ambiguidade: "Ela falou à professora sobre o filho." (sem a crase a frase se torna ambígua)

Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido numa frase lembrados por Luft:

Cheirar a gasolina. (aspirar o combustível)
Cheirar à gasolina. (cheirar tal qual o combustível)
O homem pinta a máquina. (usa tinta na máquina)
O homem pinta à máquina. (usa uma máquina para pintar)
Chegar a noite. (anoitecer)
Chegar à noite. (chegar durante a noite)

A crase em resumo:
1- Preposição a + artigo feminino definido a: "É fiel à disciplina."

2- Preposição a + pronome demonstrativo a (= aquela). "A dúvida dela é igual à de todos os outros."

3- Preposição a + vogal "a" inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo. "Ela atribuiu a culpa àqueles alunos."

A seguir, algumas dicas que facilitam a aplicação da crase:

- Troque pelo masculino:
Em caso de dúvida troca-se a palavra feminina por equivalente masculino: "Ela foi à reunião." x "Ela foi ao escritório." Nesse caso, como na troca se exigiu "ao", há crase.

- Troque por outra perposição ou artigo:
Quando o "a" puder ser substituído por "com a", "na", "para a", "pela", mesmo que a troca não construa uma frase perfeita, aplica-se a crase:

"Ela foi à escola." Substituia por "Ela foi para a escola." , portanto aplica-se crase.

"Acostumou-se às exigências." Substitua por "Acostumou-se com as exigências.", portanto aplica-se crase.

- Àquele, àquilo:
Quando exigir a preposição "a" antes de "aquele" ou "aquilo", mesmo com termos masculinos:
"Foi assistir àquela reunião." "Foi aplaudir àquele aluno."

- Com casa:
Quando "casa" está acompanhada de adjetivo ou pronome, aplica-se crase: "Ele fugiu e depois voltou à casa dos pais."

Quando "casa" não está acompanhada de adjetivo ou pronome, não há acentuação: "Ele fugiu e depois voltou a casa."

- Com terra:
Genericamente não se usa crase acompanhada da palavra "terra", em oposição a "mar" ou "bordo": "Os piratas vieram a terra."

Há crase, no entanto, se a "terra" estiver qualificada, ou determinada: "Os piratas vieram à terra dos índios."

- Com lugares:
Veja se o nome do lugar exige crase de um modo simples:

Volto da Amazônia, portanto, "Vou à Amazônia." Na troca, quando se utliliza "da" se usa a crase.
Volto de Santa Catarina, poranto, "Vou a Santa Catarina." Na troca, quando utiliza-se o "de" não se usa a crase.
O mesmo se dá quando, na troca utiliza-se "para" ou "para a".

"Vou para a França", portanto, "Vou à França" com crase. "Vou para Roma", portanto, "Vou a Roma", sem crase.


- Com hora determindada:
"Cheguei às duas horas."
"Comeremos às oito horas."


- Com vista:
"Compras à vista, em dinheiro." Leva acento por tradição, ao contrário de "a prazo", que não leva acento. "Foi pago a prazo."

Ok, concordo que exige certa paciência e algum esforço para lembrar tais regrinhas, mas achei importante dividir essa matéria com vocês principalmente pelo fato da crase trazer tantas dúvidas, mas concordam que não é um bicho papão?


Sem crises...




Fonte: http://crasesemcrise.blogspot.com/
Revista Língua Portuguesa - Outubro 2009 - Editora Segmento. Por Luis Costa Pereira Júnior e colaboração de Josué Machado.


"O que valeu a pena está destinado à eternidade. 
A saudade é o rosto da eternidade refletida no rio do tempo."
(Rubem Alves)
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