Esse é o slogan do conceituado dicionário Aurélio. Temos que confessar que lá no fundo achamos engraçado, porém, o uso do duplo sentido ou ambiguidade é uma via de mão dupla, que pode ter repercussão tanto negativa como positiva.
Hoje abordaremos esse tema: AMBIGUIDADE
A ambiguidade ou duplo sentido são geralmente provocados pela má organização de palavras numa frase.
Em campanhas publicitárias:
A seguradora Sinaf, maior empresa funerária do Rio de Janeiro, com 10% do mercado carioca, criou em 2003 uma tradição de humor negro publicitário com slogans de duplo sentido:
“Cremação:uma novidade quentinha da Sinaf.”
“Nossos clientes nunca voltaram para reclamar.”
“O melhor plano é viver. Mas vai que dá errado.”
“Sinaf, 25 anos. Incrível chegar onde chegamos perdendo um cliente atrás do outro.”
Nesse caso a leitura de duplo sentido pode ter um efeito proposital. Mesmo produzindo mensagens no limite entre a eficiência e o mau gosto, o objetivo da seguradora sem dúvida foi alcançado. O tema “morte” afugentava os interessados nos serviços da empresa, mas o tom inusitado dos anúncios subverteu a dificuldade das pessoas a lidarem com o tema.O sucesso da campanha aumentou a procura pelos serviços funerários e facilitou a abordagem dos vendedores da empresa.
Outro caso de sucesso em campanhas que utilizam o duplo sentido é o do Hortifruti, bem conhecido por nós. A campanha ‘Aqui a natureza é estrela’ ganhou o Brasil, com paródias que utilizam títulos de filmes.
Também é muito comum ver mensagens publicitárias que permitem dupla interpretação, mas que botam a perder todo um esforço comunicativo.
Um exemplo disso é a Parmalat, que lançou em 1998 uma campanha para promover seu café solúvel. A ideia da campanha era produzir uma clássica combinação do café-com-leite, materializando uma combinação visual, em que brancos e negros formavam casais.
Porém, foi criado um texto com involuntária invocação racista:
“Um café à altura do leite”.
A frase passa uma ideia de discriminação ética, que sugere a superioridade do leite, branco, sobre o café, que por metáfora, é o negro.
Na redação:
Numa redação a ambiguidade ou duplo sentido deve ser evitado, pois, como no mercado, corre-se o risco de invalidar todo o resultado final, nesse caso o parágrafo ou a redação.
Exemplos:
Marcos disse ao amigo que sua mãe tinha viajado. (de quem é a mãe?)
A mulher chegou à rua com cheiro desagradável. (o cheiro era da mulher ou da rua?)
O professor falou com o aluno parado na sala. (quem estava parado na sala?)
Em alguns casos, a ambiguidade se dissolve apenas com o uso da crase:
Ele cheira a gasolina. (aspira o combustível)
Ele cheira à gasolina. (cheira mal tal qual o combustível)
Nosso próximo post abordará o uso da crase, que ainda parece ser um bicho-papão para muitos.
Fonte: http://crasesemcrise.blogspot.com/
Revista Língua Portuguesa – Editora Segmento – Outubro 2009.
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