3 de nov. de 2013

ANÁLISE LITERÁRIA: CLARA DOS ANJOS, Lima Barreto



SOBRE O AUTOR:

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881 - ano da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e de O Mulato, de Aluísio Azevedo. Mulato, pobre, socialista convicto, atormentado pela loucura do pai, não pôde completar um curso universitário.  O pai de Lima Barreto, João Henrique, era tipógrafo. Sua mãe, Amália Augusta, professora, dirigia em sua casa um pequeno colégio para meninas, o Santa Rosa, que foi fechado na época do nascimento do escritor, devido à situação econômica da família e do estado de saúde de sua mãe, que contraíra tuberculose. Em 1887, Amália morreu, deixando cinco filhos.
 Estudante brilhante, Lima Barreto ingressou na Escola Politécnica, em 1897. Teria sido um excelente aluno, não fosse o preconceito racial que sofria dentro da escola, que fez com que se isolasse dos colegas e sofresse a perseguição explícita do professor Licínio Cardoso. Sofria constantes reprovações injustas e, para agravar ainda mais a sua situação, seu pai enlouqueceu. Para cuidar do pai e sustentar os irmãos, ele abandonou o curso antes da formatura e foi trabalhar no funcionalismo público, em 1903. Sentindo-se frustrado profissionalmente, começa a beber e a frequentar cafés, livrarias e redações de jornais do Rio de Janeiro. Ingressa no jornalismo profissional em 1905, com uma série de reportagens no Correio da Manhã. Na mesma época inicia sua militância política, participando no comitê do Partido Operário Independente, de Pausílipo da Fonseca.
Em 1909, publica o seu primeiro romance, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, elogiado no ano seguinte por José Veríssimo. Animado com o sucesso, Lima Barreto passa a trabalhar intensamente. Esta fase, porém, também  é marcada por muita pobreza e desgostos familiares, que o levam à primeira internação no hospício, em agosto de 1914. Quando sai, está completamente dominado pelo álcool.  
Revoltado contra as injustiças e os preconceitos de que também era vítima, dedica sua obra a desmascarar a falsidade dos poderosos: políticos, intelectuais, burocratas, jornalistas, militares, etc. Em 1917, foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a saudar a Revolução Russa, e passou a defender o comunismo com ardor. Rejeitado pela Academia Brasileira de Letras, foi acusado de ser um escritor semianalfabeto, por insistir em utilizar uma linguagem coloquial, distante da norma culta parnasiana. Alcoólatra, depressivo, viveu, por vezes literalmente, na sarjeta e foi internado duas vezes no Hospício Nacional. A boêmia e o alcoolismo parecem não ter prejudicado seu trabalho intelectual, mas o levaram à morte prematura. Em 1o de novembro de 1922, morreu, aos 41 anos, de colapso cardíaco, em completa miséria. Dois dias depois, seu pai, João Henrique, também faleceu. Por ironia do destino, Lima Barreto morreu exatamente no ano da explosão do modernismo no Brasil, de que foi o maior precursor e que viria a provar o seu valor.

CONTRIBUIÇÃO MODERNISTA

O abandono do modo artificial e erudito de escrever, dominante em seu tempo, foi a principal contribuição de Lima Barreto para a literatura contemporânea. Adotou em seus romances a informalidade estilística própria do jornalismo e da fala cotidiana, colaborando para a soltura e descontração da frase, o que agradou parte dos escritores modernistas da Semana de Arte Moderna, de 1922. Registrou com riqueza de detalhes muitos aspectos da vida social e política do Rio de Janeiro no tempo da Primeira República, compondo, em suas obras, um interessante painel das pessoas remediadas do Rio de Janeiro.
A obra de Lima Barreto revela forte influência do naturalismo de Aluísio Azevedo, assim como de Machado de Assis, a quem dizia não admirar, Dostoievski e dos positivistas franceses, como Taine e Brunetière. Apesar dessas influências, é um dos autores mais independentes de nossa ficção. Partilhava da ideia de que a literatura devia expressar diretamente os sentimentos e as ideias pessoais do escritor. Por isso, quase todos os seus romances possuem lances autobiográficos. Julgava, ainda, que a função primordial da literatura é unir os homens e desmascarar os falsos valores e as instituições que exploram a inconsciência popular.

ANÁLISE DA OBRA

ESPAÇO
O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas que ali vivem.

FOCO NARRATIVO e TIPO DE NARRADOR
O romance é narrado em 3ªpessoa. Conta a história, e ao mesmo tempo, vai descrevendo os personagens e espaço. É onisciente, foca a condição social, econômica étnica, cultural e psíquica dos personagens. Possui características do narrador flâneur: perambula pela cidade descrevendo seus espaços e habitantes típicos.

LINGUAGEM
O autor procura usar uma linguagem simples, aproximando-se da língua falada da época. O estilo da narrativa é objetivo, incorporando a linguagem do texto jornalístico, com frases espontâneas. Foi muito critico por escrever desse modo e mostra a questão social do uso da linguagem em trechos do livro.

MOVIMENTO LITERÁRIO
Durante as primeiras duas décadas do século XX, enquanto a Europa se via invadida pelos movimentos da vanguarda modernista, a literatura brasileira ainda se encontrava dominada pelos estilos surgidos no século anterior. Parnasianismo e simbolismo predominavam na poesia, Realismo e Naturalismo na prosa. Alguns escritores, no entanto, rompiam com estas quatro tendências, e, ainda que muito diferentes, não comungando de um estilo comum, antecipavam, cada um a seu modo, as inovações que seriam propagadas pelos modernistas de 1922, problematizando a realidade social e cultural brasileira. Entre estes escritores, destacam-se Graça Aranha (1868-1931), Simões Lopes Neto (1865-1916), e, principalmente, Euclides da Cunha (18 - 1909), Augusto dos Anjos (1884 - 1914), Lima Barreto (1881 - 1922) e Monteiro Lobato (1882 - 1948).
O olhar crítico de Lima Barreto frente à sociedade de seu tempo transparece na construção de várias de suas obras. No caso de Clara dos Anjos, esse olhar direciona-se, especialmente, para a questão do preconceito racial-social vivido por sua personagem principal e para o questionamento sobre a situação das mulheres do início do século XX. Lima Barreto traça um perfil lamentável de sua protagonista: Clara era de formação débil, sem força e nem ideias, sua principal preocupação é preparar-se para um casamento, no qual o marido tomaria as decisões por ela. O autor critica, desta forma, a inércia na formação de Clara que, mesmo pertencendo a uma família de baixa renda, tinha sido educada dentro dos parâmetros burgueses vigentes no momento – valores que primavam pela sujeição da mulher às ordens do marido, o provedor da casa. Os pais de Clara haviam cercado a menina de cuidados e atenções para que se preparasse para o esperado dia do casamento, assim não se preocuparam em instruí-la sobre a vida e muito menos ensinar um ofício a jovem, pois acreditavam não ser necessário, seu papel seria somente cuidar da casa e dos filhos quando estes viessem.
Lima Barreto não era necessariamente um defensor da causa feminista, ao contrário, sustentava várias críticas ao movimento feminista e em alguns momentos chegou a colocar em dúvida a capacidade do sexo feminino. Embora, tivesse deslanchado críticas ao movimento feminista brasileiro, essas não miravam as mulheres, mas, como dissemos, seu alvo era a maneira como a sociedade   as preparava, ricas ou pobres, para o futuro matrimônio. A imagem da imigrante Margarida – uma mulher forte, decidida, inimiga da inércia, delatora das injustiças sociais, e mesmo vivendo sem um marido (era viúva) mostrava-se capaz de trabalhar em inúmeras atividades e ainda conseguir educar seu filho, representava o protótipo da mulher ideal no imaginário do autor.   O autor sugere que a educação dada as jovens brasileiras deveria se pautar no modelo de Margarida, ou seja, em mulheres mais independentes que não precisariam necessariamente de um casamento, de um marido, para enfrentarem as dificuldades cotidianas.
Somente a instrução poderia gerar mais mulheres ao estilo de Margarida que estariam aptas a resistirem a influência de homens ao estilo de Cassi; homens que buscavam as mulheres mais frágeis socialmente, justamente por saberem que sairiam impunes de seus atos, podendo desta forma, continuar a buscar novas “presas” para satisfazerem seus egos moldados por uma educação que lhes garantia como legítima o busca do prazer, sem assumirem compromissos matrimoniais. Clara não foi instruída por seus pais que a deixaram alheia aos fatos da vida, sua mentalidade era formada por sonhos e desta forma foi fácil ser seduzida pelas melodias das cantigas de Cassi. Somente no final do livro é que Clara consegue desnudar sua situação, mas isso foi feito à base da dor moral ferida e da vergonha (valores sociais) que a cobriram ao perceber sua “ desonra” – o futuro planejado se manchara para sempre.  Para Lima Barreto, todo o drama vivido pelas inúmeras Claras teria outro final se o abandono social causado pela pobreza, o estigma “racial” ou a vigilância excessiva tivesse sido substituídos pelo esclarecimento e orientação franca que preparasse essas jovens para o enfrentamento da vida adulta.

CLARA DOS ANJOS: SÍNTESE DO ENREDO
Ambientado no subúrbio do Rio de Janeiro, Clara dos Anjos encena sobre a jovem e ingênua mulata Clara, filha do carteiro Joaquim dos Anjos, que é seduzida pelo malandro Cassi Jones. Cassi é um jovem branco e ignorante, que usa este sobrenome porque, supostamente, descende de um nobre inglês. Seu pai não fala mais com ele após suas diversas aventuras que desonraram várias donzelas e acabaram com vários casamentos (a mãe de uma das vítimas se suicidou; o marido que ela arranjou depois distribui anonimamente um dossiê sobre Cassi pelo RJ). Cassi toma Clara como seu próximo alvo e vai tentando se aproximar dela. Começa pela festa de aniversário desta e vai seguindo, apesar dos pais dela não deixarem e do padrinho e tantos outros falarem sobre ele. Clara não acredita e continua curiosa sobre Cassi.
Cassi passa a usar um velho, "dentista", que tratava de Clara; ele manda as cartas de um e outro. Depois de um tempo Cassi parte para São Paulo para um possível emprego; Clara está grávida. Após pensar em aborto, Clara revela a verdade à mãe, que vai falar à família de Cassi. Lá ela é tratada como só "mais uma mulatinha" e percebe a verdade total. Pontilhado com referências sobre o preconceito racial (um dos personagens é poeta Leonardo Flores; mulato e talentoso, fica pobre, pois foi explorado), este foi o primeiro romance de Lima Barreto, mas um dos últimos a ser publicado.
Todos os personagens são tipicamente suburbanos e o vocabulário já transpira a coloquialidade como é característico ao autor.

PERSONAGENS
Marrameque - Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque frequentara uma pequena roda de boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo pessoal de Luís Murat. Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas literárias, grupos fechados que abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos que aprendem “muita coisa de ouvido e, de ouvido, falava de muitas delas”, tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem brilhar nas “rodas de gente fina”.
Clara: a “natureza elementar” - Clara era a segunda filha do casal, “o único filho sobrevivente…os demais…haviam morrido.” Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada “com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.”
O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua “alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor” – como resultado de sua educação reclusa e “temperada” pelas modinhas: “Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.”
Cassi: o corruptor - Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pretendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma posição social melhor. Assim o descreve Lima Barreto: Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de corpo; e, conquanto fosse conhecido como consumado "modinhoso", além de o ser também por outras façanhas verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro qualquer traço de capadócio. Vestia-se seriamente, segundo as modas da rua do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as roupas. A única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava, consistia em trazer o cabelo ensopado de óleo e repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente ao meio — a famosa "pastinha". Não usava topete, nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos exigidos por um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o seu irresistível violão.”
Joaquim dos Anjos - carteiro, acredita-se músico escreveu a polca, valsas, tangos e acompanhamentos de modinha. polca: siri sem unhas; valsa: magos do coração. Uma polca sua - "Siri sem unhas" - e uma valsa - "Mágoas do Coração: - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinquenta mil-réis, a uma casa de músicas pianos da Rua do Ouvidor. O seu saber musical era fraco; adivinha mais do que empregava noções teóricas que tivesse estudo. Aprendeu a "artinha" musical da terra do seu nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas de igrejas a sua flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar. Embora gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na "artinha" de Francisco Manuel, que sabia de cor, mas não saíra dela, para ir além“. Natural de Diamantina, filho único. A convite de um inglês, pesquisador, foi para o Rio de Janeiro e lá ficou. Confiava em todos que o rodeavam.
Dona Engrácia - era católica, romana, filhos trazidos na mesma religião, era caseira, insegura, e rude.
Calado - músico e compositor brasileiro (polcas "Cruzes, minha prima!")
João Pintor - era um cidadão que visitava "os bíblias" aqueles que pregavam o evangelho. "era preto retinto, grossos lábios, malares proeminentes, testa curta dentes muito bons e muitos claros, longos braços, manoplas enormes, longas pernas e uns tais pés que não havia calçado."
            Mr. Shays - chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloquência bíblica faz seus adeptos ouvir a palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem-se a propagá-la.
Eduardo Lafões - religiosamente ia aos domingos à casa de Joaquim para jogar o solo. Eduardo Lafões gostava dos assuntos do comércio. Era um homem simplório, que só tinha agudeza de sentidos para o dinheiro. Vivendo sempre em círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no parentesco, ele não podia conceber que torvo indivíduo era o tal Cassi; que alma suja e má era dele para se interessar generosamente por alguém.
Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo - pais de Cassi. O pai não gostava dos procedimentos do filho, enquanto a mãe, cobria-lhe as desfeitas com as proteções.
Dona Margarida Weber Pestana - viúva, mãe de Ezequiel, descendente de Alemão; ela, russa. Casou no Brasil com tipógrafo que falecera dois anos após o casamento. Era dona de uma pensão, mulher corajosa.
D. Laurentina Jácone - gostava de rezAr, ficar zelando a igreja.
D. Vicêntina - cartomante. "Além desta, havia uma digna de nota: era Dona Vicência. Morava na vizinhança também e vivia a deitar cartas e cortar "cousas feitas". O seu procedimento era inatacável e exercia a sua profissão de cartomante com toda a seriedade e convicção."
Praxedes Maria dos Santos - gostava de ser tratado por doutor Praxedes. Foi um dos convidados de Joaquim. Era um homem bom. Ficou indeterminada das correspondências de Clara com o Cassi.
Etelvina - crioula, colega de Clara, notou a impaciência de Clara porque o rapaz Cassi ainda não chegara à festa.
Leonardo Flores - grande poeta.
Velho Valentim - era português.
Barcelos - um português fichado na detenção.
Arnaldo - era um colega do grupo dos valdevino (desocupados que andavam com Cassi).
Menezes - o dentista da família. Intermediário dos bilhetes e cartas de Cassi para Clara.
Senhor Monção - caixeiro vendedor;
Belmiro Bernedes & Cia. - "tocava realejo", era um moço português, simpático, educado, e bom porte.
Helena - tia de Marramaque, econômica, prendada, costurava para o arsenal do governo.
D. Castolina - mulher de Meneses.

Leopoldo - marinheiro. Cedo, saiu de seio da família para melhorar de vida. Há 30 anos não via família. Meneses com a sua pobreza tratou de visitar o irmão já que eram os únicos vivos da família.

O navio negreiro e Canção do africano, Castro Alves

PAES 2013 –"O Navio Negreiro" e “Canção do africano”, Castro Alves: análise literária

Antônio Frederico de CASTRO ALVES
Nasceu, em 1847, na fazenda Cabaceiras, município de Muritiva, BA, e faleceu em Salvador em 1871, de tuberculose. Depois dos estudos preparatórios em Salvador, vai, em 1862, para Recife em cuja Faculdade de Direito ingressa em 1864, sendo colega do líder estudantil Tobias Barreto. Reforça a incipiente campanha liberal-abolicionista. Não se destaca pela aplicação aos estudos. Faz-se orador e poeta.
Em 1868 chega a São Paulo, acompanhando a atriz Eugênia Câmara com quem vivia desde Recife. Em São Paulo torna-se aclamado orador e poeta.
Numa caçada nos arredores de São Paulo, fere o calcanhar esquerdo. Sobrevém a gangrena. Amputam-lhe o pé. Ferido em sua vaidade e já tuberculose, volta à Bahia, em 1869, certo já de sua morte próxima.
OBRAS:  Espumas flutuantes (1870), A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883), Gonzaga ou A Revolução de Minas ( drama encenado na Bahia em 1867).

TERCEIRA FASE ROMÂNTICA: POESIA CONDOREIRA
A terceira fase romântica é marcada por uma poesia de acentuado compromisso social. Denominada poesia condoreira, tem como símbolo o condor, cujo sentido é a liberdade de expressão e de linguagem. Victor Hugo foi o poeta francês que mais influenciou esta geração cuja poesia entra num processo de universalização, isto é, procura expressar a realidade de um grupo social.
Assim, seja por imitação dos padrões europeus, seja por simples entusiasmo romântico, o fato é que a poesia brasileira de caráter social restaurou sua identidade com o povo, anunciando o novo na vida nacional. Trata-se, portanto, de uma época de transição em que surge uma literatura preocupada com a denúncia social.
Castro Alves foi o mais importante representante da poesia condoreira no Brasil. Seus poemas sociais tratam de questões como a crença no progresso e na educação como forma de aprimoramento social, da República e, principalmente, o fim da escravidão negra. O tom vigoroso, a ressonância de seus versos, a indignação e a expressividade são elementos que consagraram o “poeta dos escravos”.
Condoreiro, a sua poesia serviu de instrumento de luta contra a escravidão, pois o seu tom de elevação era propício para récitas em locais públicos: praças, salões de leitura etc. A eloquência dos versos está evidenciada em poemas que denunciavam a vida miserável dos escravos. O poeta aproxima-se da realidade social, embora conserve ainda o idealismo e o subjetivismo românticos.

O navio negreiro – Tragédia no mar

“O navio negreiro” (ou “Tragédia no mar”), inserido na obra Os Escravos, é um dos poemas mais famosos de Castro Alves. Quando foi composto, em 1868, o tráfico de escravos já estava proibido no país; contudo, a escravidão e seus efeitos persistiram. Para denunciar a condição miserável e desumana dos escravos, o poeta valeu-se do drama dos negros em sua travessia da África para o Brasil.

Estrutura da obra:
Dividido em seis partes ( com alternância métrica variada para obter o efeito rítmico desejado em cada situação retratada), é apresentado da seguinte forma:
na primeira parte, o eu lírico limita-se a descrever a atmosfera calma que sugere beleza e tranquilidade; na segunda parte, descreve marinheiros de várias nacionalidades, caracterizando-os como valentes, nobres e corajosos; na terceira parte, o eu lírico introduz a verdadeira intenção do poema – a denúncia do tráfico de escravos, através de expressões indignadas.
Na quarta parte, o eu lírico passa a descrever, com detalhes, os horrores e castigos de um navio de escravos.
Na quinta parte, ele invoca os elementos da natureza para que destruam o navio e acabem com os horrores que mancham a beleza do mar, destacando a vida livre dos negros na África e a escravidão a que são reduzidos no navio.
Finalmente, na sexta parte, ele indica a nacionalidade (brasileira), invocando os heróis do Novo Mundo, para que eles, por terem aberto novos horizontes, possam acabar com a infâmia da escravidão.
A parte mais dramática (a parte IV) é a descrição do que se via no interior de um navio negreiro. Note a capacidade de Castro Alves em nos fazer “ver” a cena, como se estivéssemos em uma montagem teatral: o tombadilho do navio transformado em um palco infernal. O quadro é horroroso, a descrição é crua e a cena revoltante. A repetição da terceira estrofe no final dá-lhe uma natureza de refrão.
Outro dado interessante é o emprego que o poeta faz da linguagem, trabalhando ora os adjetivos para descrever com mais expressividade o cenário e o elemento humano, ora os verbos para reforçar o dinamismo do “balé”. A grandiloquência vem com toda com toda força, onde o exagero cumpre, sem dúvida, a função de emocionar ( passa a focalizar o drama que é o fulcro do poema).
Logo no início, o eu lírico compara o navio negreiro a um “sonho dantesco”. Com essa expressão, faz referência às terríveis cenas descritas pelo escritor italiano Dante Alighieri, em “O inferno”, parte da obra A divina comédia. Horroriza-se com a situação infame e vil dos negros no tombadilho (as correntes, o chicote, a multidão, o sofrimento, a “dança”macabra). O ritmo nos é dado por algumas palavras especiais de acentuada sonoridade (“tinir”, “estalar”, por exemplo).
Repare na imagem das “Negras mulheres”: não há mais leite para alimentar as “magras crianças” (somente sangue) e, por citar as “tetas”, faz-se analogia a um mero animal. Ao descrever as moças nuas (condição de ausência de proteção) espantadas, arrastadas em meio à multidão de negros esquálidos (magros), o eu lírico apela para que o leitor sinta piedade pelo sofrimento do ser humano (piedade cristã). As reticências conduzem à reflexão, à intensidade da dramaticidade diante da situação condenável, horrenda.
Do ponto de vista cromático, duas cores são postas em contraste na primeira e segunda estrofes. Estas cores são o vermelho e o preto, que compõem o dramático painel em que o sangue dos escravos contrasta com o negro de sua pele.
Há reincidente uso de imagens que sugerem desespero, sofrimento e dor. A exposição do velho arquejando (desumanização), acompanhado do chicote ( a serpente que “faz doudas espirais”), assemelha-se a de um animal, que acompanha a “orquestra”( os marinheiros aparecem representados pela orquestra que comanda a dança) sem reclamar… E essa “tragédia” se completa quando essa “multidão faminta”, que sofre sem cessar, geme de dor, chora e delira… Enfraquecidos, eles enlouquecem.
A cena é de uma crueldade atroz, já que, para se divertir, os marinheiros surram os negros. Repare no efeito expressivo da antítese que contrapõe o céu puro sobre o mar e a figura do capitão (regente da orquestra) cercado de fumaça. Ela estabelece o contraste entre a natureza como obra divina e a escravidão como obra demoníaca.
Depois de apresentar o navio como uma visão dantesca, uma figura diabólica (que também aparece no final da obra “A divina comédia”) é utilizada para o desfecho da última estrofe, finalizando a quarta parte do poema. O eu lírico ressalta o prazer (novamente exposto pelo verbo “rir”) daqueles que torturam (uma orquestra irônica, estridente)em oposição ao sofrimento dos escravos (um trágico balé dançado) para deleite de Satanás.
Observe algumas figuras de linguagem em destaque no poema:
Metáfora
“Era um sonho dantesco” (referência às cenas horríveis descritas por de Dante Alighieri no “Inferno” de sua Divina Comédia),
“ a serpente faz doudas espirais…”( a serpente seria o chicote usado pelos marinheiros),
“E ri-se a orquestra irônica”( a expressão caracteriza os marinheiros que comandam a dança).
Hipérbato
“Que das luzernas avermelha o brilho”( a ordem direta seria: Que o brilho das luzenas avermelha).
Comparação
“Legiões de homens negros como a noite”.
Hipérbole
“No turbilhão de espectros arrastadas”,
“sangue a se banhar”
Metonímia
“O chicote estala”.

A canção do africano, Castro Alves

Além de “O navio negreiro”, outro poema que retrata a vida, o costume, o desejo, os castigos, a vida dos escravos africanos é “Canção da Africano”:

1ª estrofe:


Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em prantos
Saudades de seu torrão...


Nessa primeira estrofe, o eu lírico relata a respeito de uma negra africana, que, estando sentada na senzala, cantava uma música que lembra sua terra. Ao cantar ela chora.
2ª estrofe:


De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez para não o escutar!


Na senzala, os negros sentavam-se no chão, e a negra, a quem o autor se refere, está ao lado com o filho dela no colo. Eles ouvem a música cantada e o filho esconde, justamente para não escutar, pois a música o lembra a terra onde eles moravam e eram livres.  
3ª estrofe:


“minha terra é lá bem longe,
Das bandas onde o sol vem;
Está terra é mais bonita,
Mas a outra é que eu quero bem!


Nessa estrofe e nas próximas, o autor repete a música citada na 1ª e na 2ª estrofe. A letra dessa canção nos deixa perceber a saudade da terra natal. Nesse primeiro verso da música, dizem que a terra de onde vêm (África) é longe, e a compara com o local onde o sol nasce. As terras brasileiras são belas, no entanto, os negros desejam o lugar onde eram livres, no caso a África.
4ª e 5ª estrofe:


“ o sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver a tarde o papa-ceia!

“Aquelas terras tão grandes,
Tão cumpridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...


Esses versos da música ressaltam as belezas naturais da África, que apesar de ser uma terra que possui certos lugares com clima muito quente, também tem belezas naturais, como exemplo a referência ao papa-ceia, ave típica e muito bonita de lá; sua beleza é comparada a de um sabiá aqui do Brasil. Citam também que lá as terras são grandes e as comparam com o mar, uma oposição ao local onde estão que é pequeno e apertado: a senzala.
6º estrofe:


“lá todos visem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
como aqui só por dinheiro.”



É notável a saudade que os escravos sentiam de sua terra natal, segundo Castro Alves. Nela percebemos a liberdade deles antes de se tornarem escravos e ao mesmo tempo o único motivo que os trazem aqui, a ganância dos senhores que os escravizavam.
7ª estrofe:


O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Para não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!


Aqui ocorre a retomada do tema, onde o autor nos diz que após acabar a música todos na senzala se calam, pois já é tarde. Essa referência de tempo percebe-se por meio da expressão “O fogo estava a se apagar”.
8ª estrofe:


A escrava então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Tinha sido surrado,
Pois bastava escravo ser.



Ênfase aos castigos sofridos pelos escravos: eles deviam levantar cedo “Bem antes do sol nascer” porque, se não, eram espancados: “Tinha de ser surrado pois bastava escravo ser”.
9ª estrofe:


E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!


Os escravos nunca perderam as esperanças, em prova disso ele apresenta esse trecho: “ E põe-se triste a beija-lo, /Talvez temendo que o dono, /Não viesse, em meio do sono, /De seus braços arranca-lo!”. A mãe beija o filho, esperando que o dono, talvez naquela noite, não tirasse o menino de seus braços, já que os filhos escravos não ficavam junto a família durante toda a noite.

Noite na Taverna, PAES 2013

ANÁLISE LITERÁRIA
NOITE NA TAVERNA:
A embriaguez do amor e do vinho
MANUEL ANTÔNIO ALVARES DE AZEVEDO

Nasceu em 12 de setembro de 1831, na cidade de São Paulo. Filho de pai fluminense, estudante de Direito, e mãe goiana, ambos de gente importante. Bacharelou-se em Letras no Colégio Pedro II em fins de 1847. De 1844 a 1845 passou seis meses e fez alguns preparatórios em São Paulo, para onde foi morar no começo de 1848. Matriculou-se na Faculdade de Direito. Mas nas férias de 1851-2 adoeceu no Rio, onde as passava sempre e depois de dolorosa operação para extrair um tumor na fossa ilíaca, morreu quando a cursava o 5° ano, no dia 25 de abril de 1852. Tinha vinte anos e sete meses. Apesar de muito jovem, era muito culto e, além do francês sabia bem inglês, o que lhe permitiu ler no original alguns dos grandes clássicos românticos, como Shakespeare, que a maioria dos seus contemporâneos brasileiros lia em traduções. Além deles, conhecia os clássicos latinos e portugueses, sem falar na paixão, em especial por Victor Hugo. Conhecido como o poeta macabro do romantismo, previu a morte de dois amigos_ que efetivamente desapareceram sem deixar rastro, sua vida pessoal é tema de grande confusão entre os críticos, pois uns bendizem-no como um santo franzino e virginal, outros pinçam-lhe a alcunha de depravado e demoníaco. É o principal representante no Brasil da influência byroniana (ultrarromântica) dos ingleses e alemães_ como todo escritor da paulista capital teve fim trágico bem a gosto burguês dos acadêmicos do Largo de São Francisco do século XIX.

A narrativa de Noite na Taverna inicia-se em forma de drama. Macário e Satan (personagens do drama Macário, de Álvares de Azevedo) dialogam na primeira cena, em que Satan conduz Macário a uma orgia, a fim de que leia uma página da vida, cheia de sangue e de vinho.  Macário observa, da janela de uma taverna, uma sala fumacenta. À roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios, Os mais revolvem-se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas e desgrenhadas. Observem que essa cena de abertura tem claros alguns motivos do romance negro, dando à obra uma veste de caráter perverso, noturno, satânico ou demoníaco, relatada por cinco personagens narradores: Solfieri, Bertram, Johann, Gennaro e Cláudius Herman que se caracterizam como personagens do "mal do século", ou seja, homens ébrios e devassos, cultivadores dos vícios e das perdições humanas, enfim, LIBERTINOS. Macário é a testemunha da cena, uma noite de orgia, cujas histórias nos são narradas em 1a pessoa. A obra tem uma dimensão fantástica, com uma densa atmosfera de sonho e embriaguez, oscilando sempre entre o real e o irreal (o mundo onírico e o mundo imaginário).  Por isso, as narrativas são difusas e os relatos não são muito claros para o leitor, da mesma forma que não são muito claramente vividos pelas personagens. Deve ficar claro que o leitor entra em contato com as histórias pela ótica de Macário, que por sua vez, as verá pela ótica de Satan, o símbolo do mal. Sabe-se que o satanismo, a queda para o mal, constitui um dos principais elementos do ultrarromantismo de Byron e Musset, o chamado "mal do século". Por isso é importante esclarecer o lado do polo do mal que predomina na obra em questão, personificado em especial pelas imagens do libertino e da mulher perdida, a prostituta, aquele que é o seu oposto complementar: o polo do bem, manifestado através da mulher anjo, e a ideia do amor como regeneração de todos os vícios, enfim, das mais preciosas ambições amorosas e libertárias dos nossos byronianos.

Através das conversas entre os boêmios vemos que estes estão em profunda depressão e melancolia, bebendo, fumando. Começam então a contar as histórias de amor, assassinatos, violência e morte. Todas estas histórias ocorrem durante um momento de delírio e de muito desabafo. Eles discutem sobre suas descrenças e sobre a imortalidade da alma, narrando assim um a um suas histórias. Tentam fugir da realidade na bebida e na fantasia demostrando extremo pessimismo em relação à vida e o escapismo como solução. Percebemos aí uma das características do Ultrarromantismo (segunda fase ): o mal-do-século. Nesta fase os escritores descreviam paisagens sombrias, acontecimentos misteriosos, assim como no trecho seguinte retirado do livro:  
"Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal-apertados ... Era uma defunta! ..."  ( II. Solfieri )
O livro foi escrito tanto em tempo cronológico como em tempo psicológico. Ocorre o que chamamos flashback. O tempo que decorre dentro da taverna é cronológico, real. A partir do momento que os jovens começam a contar suas histórias, eles mergulham nas lembranças do passado e nos devaneios e o tempo passa a ser psicológico. No decorrer do livro, há uma alternância entre estes dois tempos. Quando uma personagem está contando sua história, ela retorna ao ambiente da taverna, não permanecendo direto no tempo psicológico.
A supervalorização do amor é outra característica marcante nesta obra de Álvares de Azevedo. Os boêmios em suas histórias colocam o amor em primeiro plano. Estão em busca do amor de uma mulher perfeita, que corresponde a todas as expectativas. Destacamos aí a idealização da mulher, como uma figura inalcançável e perfeita em todos os sentidos: pura, alva, sensível, bela (amor espiritual ). A conquista da mulher amada é dificultada por vários acontecimentos. Há sempre um obstáculo que impede a personagem de alcançar esse objetivo. Além do amor espiritual, identificamos também no texto o amor físico, onde há um contato entre a personagem e a mulher amada. Apesar disso esse amor não é completo, já que as circunstâncias impedem que fiquem juntos. Esse impedimento causa o descontentamento e a depressão da personagem.
"( ... ) a rainha em todo aquele ademane soberbo! ... víssei-la bela na sua beleza plástica e harmônica, linda nas suas cores puras e acetinadas, nos cabelos negros e a tez branca da fronte, o oval das faces coradas, o fogo de nácar dos lábios finos, o esmero do colo ressaltando nas roupas de amazona!"( V. Claudius Hermann )

Características dos personagens:  
Johann: era um boêmio obsessivo, curioso e nervoso. Desonra a própria irmã e mata o irmão, sem saber.
A morte da mulher amada ocorre em quatro das cinco histórias dos jovens embriagados. A exceção é feita para a história de Johann, na qual após uma briga decorrente de um jogo de bilhar, Johann e seu adversário de jogo Artur se enfrentam em um duelo mortal. Antes do duelo, Artur escreve algo em um pedaço de papel e diz a Johann que pegue-o no bolso caso morra no duelo. Pouco depois vão para uma rua deserta e sombria. Artur possuía duas armas: uma carregada, outra não. Tiram a sorte; Johann acaba por escolher, sem saber, a arma carregada e atira no adversário, que antes de morrer diz que pegue o papel. Encontra no bolso de Artur uma carta para a mãe e um endereço. Vai então até o local indicado com um anel também entregue por Artur. Uma mulher pega-o pela mão e como o ambiente estava muito escuro, ela pensa que Johann é Artur devido à sua presença, uma vez que Artur deveria aparecer naquele local para encontrar-se com ela. Então passam uma noite de amor – a garota era virgem. Quando ia sair, topou com um vulto à porta, cuja voz pareceu-lhe conhecida. Ambos desceram a escada, e ao chegarem à porta, o homem atacou-o com um punhal. A luta violenta travou-se na escuridão; Johann acaba sufocando o desconhecido. Quando se levanta esbarra em uma lanterna e acende-a para identificar o homem. Num "flash" reconhece o irmão morto ao chão. Uma ideia passa-lhe pela cabeça: se o homem que matou era seu irmão, a moça só poderia ser sua irmã (incesto). Corre até o quarto onde encontra a moça desmaiada e tem a confirmação.
Artur era um rapaz loiro de feições delicadas, possuía o rosto oval e faces avermelhadas. Amava muito sua mãe e uma mulher ( irmã de Johann ). A mulher era pura, inocente e apaixonada, mas no decorrer da história ela se entrega para Johann crente de que era para seu amor. O irmão era protetor, uma vez que ao ver que um homem desonrara a irmã, quis matá-lo. Cada um dos outros jovens também contam uma história fantástica:
Solfieri era um jovem boêmio alcoólatra, persistente pois fez de tudo para alcançar o amor da mulher. A mulher amada e idolatrada de Solfieri tinha a pele alva, era como um anjo para ele. Era uma pessoa que sofria de catalepsia e era depressiva. Chorava muito pela perda de alguém muito especial.
Em uma de suas noites de embriaguez em Roma, Solfieri encontra uma mulher toda de branco e a segue até o cemitério. Lá adormece e quando acorda não a encontra. Um ano depois, de volta a Roma, passeia a sós pelas ruas e quando se dá se conta, encontra-se em um lugar escuro: uma igreja. Ele vê então um caixão semi-aberto. Nele estava a mulher que seguia. Em um primeiro momento achou que estivesse morta, mas percebeu que sofria de catalepsia. Solfieri a leva para casa e lá ela morre de febre. Ele mesmo enterra-a em seu quarto e em homenagem à ela manda fazer uma estátua que guarda de lembrança desse intenso amor.  
Bertram era ruivo, tinha pele branca e olhos verdes. Alcoólatra, boêmio e influenciado por sua amada, muda seu jeito amável de ser, tornando-se um ser obscuro e cheio de vícios, provocando a sua própria decadência. Ângela era uma morena andaluza. Na visão de Bertram, era calma, pura, uma mulher perfeita, um verdadeiro anjo, assim como o seu próprio nome diz. Mas no decorrer da história, como prova de amor, ela se revela, mostrando seu lado agressivo e voraz. Bertram amava Ângela loucamente. Quando estavam prestes a se casar, seu pai chamou-o na Dinamarca. Quando ele volta dois anos depois, encontra Ângela casada e com um filho. Os dois tornam-se amantes. Certa noite, ela mostra o que fez por seu amor: degolara o marido e matara o filho. Os dois fogem juntos; de manhã ela se vestia como um mancebo e as noites eram de amor. Um dia ela o deixou, e ele tenta esquecê-la nos jogos, nas bebidas e nos duelos. Certa noite ele caiu ébrio na frente de um palácio e foi pisado por cavalos, ficando muito machucado. Neste castelo, um velho viúvo e sua filha o acodem. A jovem se apaixonou por Bertram; ele desonrou-a e ambos fugiram. Mas ele se enjoou dela e num jogo perdeu-a para o pirata Siegrified. Na primeira noite ela envenenou o pirata e se afogou.
Bertram tentou afogar-se na Itália, entretanto foi salvo por um marinheiro que ele acabou afogando no desespero. O capitão do barco o acolheu e, Bertram desonrou a esposa dele. Um navio pirata apareceu, o que iniciou a luta. Enquanto o comandante lutava como um bravo, ele o desonrava como um covarde. Devido a luta, o navio naufraga, restando à deriva oito pessoas. Destas apenas três: ele, o comandante e sua esposa sobrevivem, mas por conseqüência de dois dias sem comida, inicia-se um luta entre Bertram e o comandante, o que resultou na morte do homem e no alimento para ele e a mulher. No final, ela propõe morrerem juntos, mas ela acaba morrendo e sendo levada pelas águas. Ele é salvo por um brigue inglês chamado Swallow.
 A mulher do comandante era branca, melancólica, triste e carente. Era pura, mas suas atitudes no decorrer da história, mostram o quanto era infiel. O comandante era um homem belo, com rosto rosado de cabelos crespos e loiros. Era valente, brutal, mas um bom esposo.
Gennaro era um pintor bonito quando jovem, puro, pensativo e melancólico. Era cínico e não respeitava o sentimento dos outros. Tornou-se desonrado, mas não podia esquecer seu grande amor, Nauza.
Quando jovem, Gennaro tinha aulas de pintura com um velho, Godofredo Walsh, cuja filha de 15 anos, Laura, era apaixonada por ele. Nauza, uma mulher no auge de seus 20 anos, era casada com Godofredo, mas amava Gennaro, dois anos mais novo, que correspondia ao seu amor.
Certa noite, Laura entrou no quarto de Gennaro e este, ao acordar encontrou-se nos braços da mesma. Durante três meses, Laura ia ao quarto dele e pediu para que ele se casasse com ela, pois ela estava grávida, mas ele nada respondeu, deixando a moça desiludida. Uma noite, Laura morre e seu pai entra em desespero. Enquanto o homem chorava a morte da filha, Gennaro o desonrava, amando Nauza. Após descobrir toda esta traição, o homem tenta matá-lo, mas ele sobrevive e retorna para se vingar, mas quando entra no local para executar sua vingança, encontra sua amada e Godofredo mortos. 
Godofredo Walsh foi professor de pintura de Gennaro. Era robusto, alto e forte. Casou-se duas vezes. Agia por impulso, pois queria vingança ao saber que foi traído pelo seu próprio aluno.
Laura era filha de Godofredo do primeiro casamento. Pálida, de cabelos castanhos e olhos azuis. Era piedosa, amava Gennaro mas era um amor puro, sem malícias. E desse amor gera-se desilusões.
Nauza era jovem, bonita, tinha a pele macia, sentia-se carente, mas encontrava carinho nos braços de Gennaro, seu amor.
Claudius Hermann era muito rico e por isso, gastava muito em orgias. Não importava-se com a desonra, nem com o adultério. O que lhe importava era ter a sua amada, Eleonora.
Claudius gastava sua riqueza com orgias e era apaixonado pela Duquesa Eleonora. Ele a via em todos os lugares, desejando-a. Seis meses depois, ele decide entrar no castelo da moça e a encontra adormecida num divã. Deu-lhe um beijo e tiveram um noite de amor. Durante um mês ele fazia isso, todas as noites. Uma dessas noites, ele se esconde atrás do leito dela durante um encontro com Maffio, seu marido. Após levá-la para fora do castelo, ele passou horas a observá-la enquanto a mesma dormia. Quando Eleonora acordou, encontrou aquele homem que ela não o conhecia. Ele implorou o seu amor e pediu para que ela ficasse com ele. Ela amava o seu marido, mas resolve fugir com Claudius após ter se relacionado com o mesmo pensando ser seu amor. Essa atitude se deu porque ela não queria ser vista como uma mulher adúltera. Um dia Claudius entra em sua casa e encontra o leito ensopado de sangue e Maffio estava abraçado ao cadáver de Eleonora.
A Duquesa Eleonora era bela, pura, linda e vaidosa. Tinha a pele alva e cabelos negros. Seu rosto era oval e rosado, seus lábios finos e avermelhados. Ela amava o seu marido, mas resolve fugir com Claudius após ter se relacionado com o mesmo pensando ser seu amor. Esta atitude estranha da moça se deu por ela não querer ser considerada adúltera.
O Duque Maffio era marido da Duquesa Eleonora. Amava-a loucamente, o que o levou ao assassinato de sua esposa e o seu suicídio.  

Capítulo Final: O Último Beijo de Amor
 O autor Álvares de Azevedo utilizou o fato da personagem da história de Johann não morrer para causar uma surpresa no leitor ao final do livro.
No decorrer das histórias, o leitor se envolve bastante com os cenários e com os acontecimentos mas tem a idéia de que não passam de fantasias, sonhos, já que são contadas por jovens totalmente embriagados.
No capítulo final, após todos os jovens terem contado suas macabras histórias de mistério e morte, surge inesperadamente na taverna uma mulher. A descrição dela e de sua entrada na taverna, assim como as descrições em todas as histórias, estão envolvidas em muito mistério.
"Uma luz raiou súbito pelas fisgas da porta. A porta abriu-se. Entrou uma mulher vestida de negro. Era pálida; e a luz de uma lanterna, que trazia erguida na mão, se derramava macilenta nas faces dela e dava-lhe um brilho singular aos olhos. ( ... ) Mas agora com sua tez lívida, seus olhos acesos, seus lábios roxos, suas mãos de mármore, e a roupagem escura e gotejante da chuva, disséreis antes - o anjo perdido da loucura."( VII. Último Beijo de Amor )
Esta é outra característica marcante do Romantismo e Ultrarromantismo. A aceitação do mistério expressa fatos inexplicáveis, aparentemente fantasiosos no caso deste livro.
Quando a mulher entra na taverna, encontra os cinco jovens todos adormecidos sobre a mesa. Observa um por um até encontrar Johann. Num ato inesperado, segura seu pescoço e sufoca-o até a morte. Ela sacode Arnold e, ao despertar, ele a reconhece: era Geórgia, virgem irmã de Johann que fora desvirginada pelo mesmo, e que agora se transformara em Giórgia, a prostituta. Ela voltara após cinco anos para se vingar do irmão. Ao conversar com Arnold, eles relembram o passado, dando a entender que eram amantes. Por fim, ele implora para que volte a chamá-lo pelo seu verdadeiro nome, Artur. Ela diz que a vida escapa de seu corpo e acaba morrendo. Ele não agüenta de dor ao ver sua amada morta, e então aperta contra o peito um punhal, caindo sobre o cadáver dela.
O retorno de uma das personagens para o ambiente da taverna ( exatamente a única mulher que não morre ao término das histórias ) ocorre para mostrar ao leitor a veracidade dos contos que antes pareciam não passar de devaneios criados por ébrios.
Ela aparece como um fantasma com sede de vingança e provoca uma tragédia na taverna, semelhante àquelas que ocorreram nas histórias lá contadas.
Outro fato que provoca a surpresa do leitor é a "volta" de Artur, supostamente morto no duelo com Johann. Ele se salvou do tiro e após cinco anos sofrendo pela perda da mulher amada e vagando sem destino com o nome de Arnold, se encontra na taverna com Johann, que por estar embriagado não o reconhece.

A relação entre Artur e Arnold não está expressa claramente. Ao ler a história de Johann, têm-se a ideia de que Artur morre e ao lermos a última parte do livro, após todos terem contado suas histórias, a atuação de Arnold é como a de qualquer outro boêmio daquele grupo de jovens. Se não houvesse a presença de Geórgia, não teríamos chegado à conclusão de que são a mesma pessoa.
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