Mostrando postagens com marcador Estilos de Época; Literatura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Estilos de Época; Literatura. Mostrar todas as postagens

18 de abr. de 2016

A poética de Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira radicado no Rio de Janeiro, é um autor de dimensão universal. Sua obra é das mais significativas, não apenas para a literatura brasileira, mas para toda a literatura de Língua Portuguesa.

As características de sua poesia podem ser analisadas como um processo. Inicialmente, é notável a influência da geração heroica do Modernismo, especialmente Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manual Bandeira. Em 1930, Drummond publica o livro Alguma poesia. Neste volume, ficam claras a ironia, a coloquialidade, o prosaico e uma leitura não convencional do cotidiano. A visão de mundo do poeta aparece como um modo de propor uma reflexão subjetiva sobre temas amplos como ser brasileiro, o amor, a literatura, a política, a religião e impressões poéticas de viagens e cidades. Muitos poemas desta obra surgem de acontecimentos do cotidiano, aparentemente banais, mas que servem como reflexões poéticas e líricas sobre a vida. É também clara a filiação ao Modernismo, evidente com o uso do verso livre, uma sequência natural das rupturas estéticas e temáticas proporcionadas pelo movimento de 1922.



Nos livros seguintes, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, José e A rosa do povo, o poeta busca um aprofundamento desta subjetividade. A ironia e o humor vão se diluindo em uma visão de relativa amargura que culmina em um clima de denúncia social, próprio do intervalo entre 1930 e 1945. No Brasil, estava em curso a Era Vargas e a ditadura do Estado Novo. Na Europa, acontecia a ascensão de Hitler e do nazi-fascismo, a revolução comunista e a escalada de violência e dos conflitos políticos que culminaram na Segunda Guerra Mundial.



Este espírito da época reflete-se na poesia de Drummond. Nota-se a presença da angústia sobre o destino da humanidade, a incerteza sobre a efemeridade da vida, a dúvida sobre o caráter benevolente do ser humano e uma relativa obscuridade. Por meio de um tom social, o poeta expõe os absurdos do "mundo, vasto mundo", onde as rimas não são propriamente soluções, mas expressões, ora irônicas, ora angustiadas, do espírito de seu tempo.



A poesia de Drummond assume, após este período, um viés metafísico e existencialista. O questionamento passa a ser a própria condição humana e o poeta resgata as marcas irônicas e as preocupações formais que marcaram sua obra. Ao final de sua vida, na passagem dos anos 1970-1980, produziu uma obra mais sentimental, menos preocupada com as inovações formais ou as angústias metafísicas do início. 

ANÁLISE "POEMA DE SETE FACES"

Poema de sete faces


Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Esse poema, que abre o primeiro livro de Drummond, pode ser lido como uma apresentação que o autor faz de sua poesia. Em sete estrofes (as sete faces) são apresentados sete aspectos da personalidade do eu-lírico.

O poema apresenta, em tom de ironia amargurada, uma profissão de fé do poeta, que expõe sua posição em relação ao mundo. 

Logo na primeira estrofe, a face revelada é a de um gauche, palavra francesa que indica um indivíduo com dificuldades de adaptação, de caminho tortuoso e opções equivocadas, marginal inadaptado desde o início da vida. Isso pode ser comparado com a visão de mundo angustiada e irônica, mas sempre sensível, que marcou a obra poética de Drummond. 
Na segunda estrofe, há a insinuação do erotismo como uma busca desenfreada, um fim em si mesmo, que acaba se tornando um elemento de tristeza, que impede a tarde de se tornar azul, brilhante, por conta da vinculação aos desejos incontidos.


Na terceira "face" do poema, o eu-lírico remete à vida frenética e sem descanso das grandes cidades, com seus bondes cheios de pernas, idas e vindas sem sentido aparente - note que são "pernas" e não "rostos", o que remete à coletivização e à desumanização das pessoas em sua busca pela sobrevivência. O coração do poeta questiona o motivo de tanta correria desenfreada, mas seus olhos, analíticos e frios, resignam-se em apenas observar, como quem se resigna diante de um fato sobre o qual não se tem influência. 

Na quarta estrofe, os "olhos" do eu-lírico observam um homem que se apresenta com uma aura aparente de seriedade, simplicidade e força. No entanto, podemos interpretar o bigode como uma máscara social que torna o homem comum um ser com dificuldades de convivência, e o faz fechado em si mesmo. Mesmo quando o homem tem um rosto e não apenas uma perna, sua identidade também se dilui na busca pelas aparências, mais importante do que a essência de seu espírito.


Na quinta estrofe, observamos um retorno ao problema do modo tortuoso que o eu-lírico vive a vida. Este trecho indica uma dificuldade de adaptação e faz referência à passagem bíblica em que Cristo pergunta a Deus por que o havia abandonado. A inadaptação, aliada às contradições do gauche, deixam evidente a angústia desta condição, que leva o eu-lírico a se identificar com o sofrimento angustiado da expiação de Cristo. 

A sexta "face" pode ser interpretada como uma crítica ao modo parnasiano de fazer poético - a busca pela rima perfeita que não produz soluções à angústia do ser nem ao problema da tortuosidade e da inadaptação, mas apenas resolve o problema do poema, da arte distanciada da realidade. 
Finalmente, a sétima estrofe revela o motivo de tanta digressão, por parte do eu-lírico: a distorção se apresenta em tom de confidência, como se a visão angustiada e também irônica presente no poema fosse fruto de uma comoção causada pelo excesso de bebida e de luar.  

5 de out. de 2015

ESAÚ E JACÓ: UM RETRATO MACHADIANO DO BRASIL EM FINS DO SÉCULO XIX

Sobre o autor: Machado de Assis [1839 - 1908] foi um dos mais geniais escritores. Prolífico, produziu crônica, poesia, contos, romances, crítica e peças de teatro. Seu estilo é marcado pela ironia, pela digressão, linguagem e profunda análise psicológica, mergulhando na alma humana e revelando seus segredos mais obscuros e ocultos.
Destacou-se principalmente como contista e romancista. Entre seus mais famosos romances destacamos Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, D. Casmurro. Entre os livros de contos, vale citar Papéis Avulsos, Histórias sem Data, Várias Histórias e Relíquias da Casa Velha. 

INTRODUÇÃO
Publicado em 1904, Esaú e Jacó foi de modo geral considerado um romance de menor importância, se comparado aos três romances machadianos da fase realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas [1881], Quincas Borba [1891] e Dom Casmurro [1899].
Julgava-se que em relação a estes, Machado de Assis nele teria suavizado seu realismo, tornando-o menos explícito e contundente, abrandando seu humor ácido e sua crítica mordaz à sociedade de seu tempo e ao homem burguês. Chegou-se mesmo a classificá-lo como um simples 'romance de costumes'...
Hoje, porém, cada vez mais se descarta essa visão simplista e já se admite que Esaú e Jacó seja um dos romances esteticamente mais elaborados de Machado de Assis e, possivelmente, o de mais difícil compreensão e interpretação.
Vamos, então, destacar alguns pontos cruciais dessa obra, procurando compreendê-la um pouco em sua complexidade.
O ESPAÇO E O TEMPO DA NARRATIVA: como quase todas as narrativas machadianas o espaço onde se ambienta a história é o centro urbano carioca. Temos um tempo histórico cronológico bem definido, segunda metade do século XIX até o início da República, com o governo de Floriano Peixoto.
O TÍTULO
O título ESAÚ E JACÓ é uma alusão aos gêmeos bíblicos filhos de Isaac, que brigam no ventre da mãe antes do nascimento, e que, segundo consulta que a mãe fizera a Deus, seriam pai de duas grandes nações inimigas, representadas hoje pelos judeus e palestinos. Os gêmeos do romance chamam-se Paulo e Pedro, nome dado pela tia Perpétua, em homenagem aos dois maiores apóstolos do cristianismo. Assim como aqueles foram grandes homens, esses também hão de ser.

NARRADOR
A primeira grande questão é exatamente esta: quem é o narrador em Esaú e Jacó? Machado de Assis, antes do primeiro capítulo, escreveu uma advertência, na qual esclareça que 'Quando o Conselheiro Aires faleceu, acharam-se-lhe na secretária sete cadernos manuscritos [...].'
Os seis primeiros formavam um volume, que se transformaria no romance Memorial de Aires [que será publicado em 1908], e o sétimo, intitulado Último, constituía uma narrativa à parte, que ele, Machado de Assis, estava agora publicando com outro título também proposto pelo próprio Aires, qual seja: Esaú e Jacó.
Portanto, Machado de Assis considerava-se apenas um editor do romance, cujo verdadeiro autor / narrador seria o Conselheiro Aires. Devemos, porém, nos lembrar que isto nada mais é do que uma estratégia narrativa de Machado de Assis, já que esse diplomata aposentado é obviamente uma criatura ficcional, ou seja, um ser imaginário inventado pelo escritor.
O Conselheiro Aires é também personagem de história, contada em Esaú e Jacó, cuja atuação começa a partir do capítulo XI.
No entanto, embora Aires seja ao mesmo tempo narrador e personagem, observa-se que a narrativa não é contada em primeira pessoa, como seria de se esperar nesse caso.

A esse respeito é muito importante o capítulo XII, intitulado 'Esse Aires', e que inicia assim: 'Esse Aires que aí aparece [referência ao cap. XI] conserva ainda agora algumas das virtudes daquele tempo, e quase nenhum vício. [...] Não me demoro em descrevê-lo.' E a seguir o narrador traça um preciso perfil físico e psicomoral do diplomata aposentado.
Ora, quem é esse autor? Notamos então que a narrativa vem sendo feita [e será toda feita] por um narrador externo à história, ou seja, que não atua como personagem, e que, embora usando às vezes a forma da primeira pessoa, caracteriza-se como um típico narrador de terceira pessoa, onisciente - ou seja, que sabe tudo sobre a vida externa e interna das personagens e que, de cima, tem a visão global da sociedade e da geografia nas quais eles se movem.
Quem é esse narrador? É o Conselheiro Aires, que se disfarça e se duplica, falando de si mesmo em terceira pessoa, num processo de distanciamento e pretensa objetividade? Ou é o próprio Machado de Assis que, editor fictício, apropria-se da narrativa e torna-se narrador, transformando-se também num ser ficcional - ou seja, invenção de si mesmo?
Muitos estudiosos consideram o Conselheiro Aires um alterego de Machado de Assis, isto é , um seu dublê, um porta-voz de suas opiniões, senão sempre, ao menos em muitas situações.
Nesse caso, o narrador de Esaú e Jacó não seria um terceiro elemento, um híbrido, um narrador - síntese que integra Machado de Assis [autor real, implícito] e o Conselheiro Aires [autor fictício e personagem]?
Vemos por aí o quanto Machado de Assis problematizou um dos elementos mais importantes da narrativa: o narrador. Esse procedimento constitui uma novidade para seu tempo e caracteriza-se como um traço de sua modernidade.
A esta altura é importante também observar que: 'A narrativa do romance de Esaú e Jacó se submete à visão de mundo do Conselheiro Aires. Os fatos falam através do seu ponto de vista. [...] Aires representa alguém que ironicamente possui a verdade, ou sobre ela reflete. É a sua posição ideológica que fundamenta a narrativa [...]. ele é quem opina sobre a significação da matéria narrada, mesmo que não possa esclarecer todos os enigmas.' [Dirce Cortes Riedel - Um romance 'histórico'?]
REALISMO?
Embora Machado de Assis, após o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, seja classificado dentro do Realismo, a verdade é que se torna difícil e inadequado confirmar sua obra nos limites estritos de escolas e movimentos literários.
O enredo de Esaú e Jacó, por exemplo, gira ao redor da permanente rivalidade entre os gêmeos Pedro a Paulo. Já começaram brigando no ventre materno e continuam se desentendendo vida afora. Pedro, mais dissimulado; Paulo, mais agressivo. Pedro, conservador; Paulo, agitado. Pedro, monarquista; Paulo, republicano [variadas situações serão criadas ao redor dessa polarização]; Pedro, médico, no Rio de Janeiro; Paulo, advogado, em São Paulo; ambos eleitos deputados, mas por partidos contrários...
Essa oposição sistemática só é interrompida duas vezes pela trégua momentânea motivada pela morte das duas figuras femininas que capitalizam o afeto dos gêmeos: Flora [a indecisa amada dos ambos] e Natividade [a mãe].
Ora, o leitor logo percebe o quanto de inverossímil, de artificial, de forçado mesmo, existe nessa oposição sistemática entre os gêmeos. O irrealismo dessa situação só se compara ao irrealismo de Flora, personagem vaga, sem outra substância que não seja vivenciar, na indecisão, o conflito do amor duplo de que é alvo por parte dos gêmeos. Conflito e indecisão que, de certo modo, levarão à morte.
Verdade que o próprio narrador, às vezes de forma ambígua, às vezes de forma irônica, reconhece a inverossimilhança e o irrealismo dessas situações... Portanto, não se trata de um realismo do tipo 'espelho fiel e exato' da vida real. Apesar disso, porém, identificamos no romance uma dimensão realista no sentido de que nele ocorre momentos e cenas de forma verossímil, plausíveis, representam [imitam] situações da vida real, parecendo, portanto, um típico 'romance de costumes'.
ROMANCE POLÍTICO?
É do ponto de vista da história política, no entanto, que o romance parece ancorar-se mais solidamente no Realismo. Historicamente a narrativa se passa no período da transição do Império para a República, e esse acontecimento é referido diversas vezes e sob diversos aspectos.
Há estudiosos que chegam mesmo a considerar Esaú e Jacó um romance histórico ou político, centrado exatamente nesse conflito: República X Império; conflito do qual os gêmeos seriam simbolicamente a personificação.
Numa perspectiva bem-humorada e acidamente irônica, o conflito é salientado no famoso episódio da tabuleta do Custódio [cap. XLIX, LXII e LXIII]. Dono da Confeitaria do Império, Custódio precisou trocar a tabuleta que já estava bem velha, mandando pintar uma nova. Nesse meio tempo, porém, aconteceu a mudança de regime, com a proclamação da República.
Custódio ficou temeroso do nome de sua confeitaria e achou prudente mudá-lo. Na dúvida, foi então consultar o Conselheiro Aires, na esperança de encontrar um novo nome para seu estabelecimento, o qual não fosse politicamente comprometedor e ao mesmo tempo lhe garantisse a fidelidade da freguesia.
O episódio tem vários aspectos. A referência irônica à República, porém, está principalmente em dois comentários similares de Custódio diante das sugestões de Aires. O primeiro é quando o Conselheiro lhe propõe trocar o nome para Confeitaria da República, e ele pondera: '- Lembrou-me isso, em caminho, mas também me lembro que, se daqui a um ou dois meses, houver nova reviravolta, fico no ponto em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro.' E o segundo comentário, ao final do mesmo capítulo LXIII, é quando Aires então sugere Confeitaria do Custódio, e o comerciante considera: '- Sim, vou pensar, Excelentíssimo. Talvez convenha esperar um ou dois dias, a ver em que param as modas [...].'
Percebe-se, por aí, a insinuação de que seria de pouca seriedade e duração a República recém-proclamada. Esse ponto de vista depreciativo, aliás, aparece em outros momentos do romance, reafirmando a conhecida preferência do cidadão Machado de Assis pelo Império.
Várias vezes o escritor se manifestou a esse respeito, opinando que, por razões históricas e culturais, o regime imperial era o mais adequado à realidade brasileira. Por outro lado, Machado de Assis também tinha consciência de que o Império apresentava rachaduras e estava se desmoronando.
Flora, simbolicamente, personifica essa perplexidade: não pode ficar só com Pedro [Monarquia] nem só com Paulo [República]. Seu desejo é a fusão, a síntese do que de melhor houvesse nos dois: ideal irrealizável!
A não-conciliação dos gêmeos representaria, então, a impossibilidade de se chegar a um regime político ideal, o que, nessa obra, explica o já tão comentado pessimismo e ceticismo machadiano.
Para Machado, República foi apenas a troca de fachada
Coube a Machado de Assis (1839-1908), em seu penúltimo romance, "Esaú e Jacó" (1904), transformar em ficção os acontecimentos que culminaram na queda da monarquia no Brasil. Com o olhar cético e a ironia de sempre, Machado tratou a proclamação como fez as "Memórias Póstumas de Brás Cubas": com "a pena da galhofa e tinta da melancolia".
O cerne do que pensava o escritor sobre a proclamação pode ser resumido em uma passagem célebre, batizada pela crítica como o episódio da "tabuleta do Custódio". Dono da "Confeitaria do Império" há mais de 30 anos, Custódio manda, depois de muita relutância, reformar a tabuleta que leva o nome de sua loja. "Estava rachada e comida de bichos. Pois cá de baixo não se via", diz o doceiro. A alusão ao império é óbvia. Um regime comprometido e sem base de sustentação que ruiu sem manifestação popular, "pois cá de baixo não se via".
Às vésperas da inauguração da nova tabuleta, Custódio ouve rumores da revolução e "vagamente da república". Manda um bilhete ao pintor com o seguinte recado: "Pare no d.". Não sabia se era melhor concluir a pintura com a palavra Império ou República. O bilhete chega tarde e Custódio, "um simples fabricante e vendedor de doces e, principalmente, respeitador da ordem pública", vai ao desespero. Além de perder dinheiro, ainda punha em perigo "seus deliciosos pastéis de Santa Clara" e a própria vida. Pensa em adotar a palavra república na tabuleta, mas volta atrás: "se daqui um ou dois meses houver nova reviravolta, fico no ponto em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro."
Machado de Assis arranca o riso do leitor ao reduzir a proclamação da república a mera troca de tabuletas, questão de enfeite mais do que de substância.
República e Império se equivalem e são rótulos de fachada porque, na verdade, o "buraco" do país era mais embaixo. Se a monarquia era uma vergonha, o ideal republicano parecia postiço no Brasil. Machado capta esse mal-estar congênito da vida nacional, com o qual republicanos e monarquistas se debatiam e não raro quebravam a cara. São as ideias fora do lugar.
INTERTEXTUALIDADE E POLIFONIA
O texto literário realiza-se como um espaço no qual se cruzam diversas linguagens, variadas vozes, diferentes discursos. O procedimento pelo qual se estabelece esse múltiplo diálogo é a intertextualidade. Ora, as vozes que se cruzam nesse espaço intertextual são vozes diferentes e às vezes opostas - caracterizando-se portanto o fenômeno da polifonia.
O romance Esaú e Jacó é rico nesses dois procedimentos. Sirva de modelo o capítulo I. Natividade e sua irmã Perpétua sobem o Morro do Castelo para consultar Bárbara, a cabocla vidente. Essa motivação e a cena da entrevista com a adivinha caracterizam o discurso mítico, a esfera da religiosidade e da crendice. Nesse caso, relacionado a um contexto popular. Mas o narrador faz referência a Ésquilo, considerado o criador da tragédia grega, a sua peça As eumênides e à personagem Pítia, sacerdotisa do templo de Apolo que pronunciava oráculos. Temos aqui novamente o discurso mítico, só que agora no contexto da antiguidade clássica, ambientado na sofisticada Grécia.
A referência ao teatro, por sua vez, remete a uma outra linguagem, e temos então a voz narrativa do romance dialogando com a voz da personagem teatral.
Observe-se, ainda, que durante a consulta, lá fora o pai da advinha tocava viola e cantarolava 'uma cantiga do sertão do Norte' - portanto, outra voz / outro discurso se cruzando com os demais: a música e a poesia sertaneja.
E assim vamos encontrar ao longo do romance inúmeras referências, alusões, citações [inclusive em francês e latim], situações... - relacionadas com a Bíblia, com personagens famosos do mundo da política, da literatura, do teatro, da filosofia, da mitologia.
É bom salientar que um dos procedimentos intertextuais mais curiosos é o fato de, com certa frequência, o narrador transcreve trechos do romance Memorial de Aires - uma espécie de diário do diplomata aposentado, e que ainda não havia sido publicado!
LINGUAGEM E LUDISMO
A linguagem é um procedimento pelo qual o narrador, em certos momentos, interrompe o fluxo narrativo para fazer reflexões e comentários sobre a própria narrativa, sobre o ato de narrar, a técnica, o estilo, a construção do enredo das personagens, etc. Ou seja, o ato de escrever torna-se objetivo de análise de própria escrita.
A Advertência que Machado de Assis colocou já antes do primeiro capítulo tem esse caráter metalinguistico, pois se trata de um 'esclarecimento' sobre um dos elementos-chave da narrativa: o autor [fictício] da história.
Há várias estratégias através das quais esse procedimento se realiza ao longo da obra. A mais evidente, conhecida por todos os que leem Machado de Assis, é o capítulo XXVII - De uma reflexão intempestiva, em que o narrador finge zangar-se contra o possível comentário de uma leitora, que estaria querendo adiantar-se aos fatos. O narrador é explícito: 'Francamente, eu não gosto de gente que venha adivinhando e compondo um livro que está sendo escrito com método.'
O capítulo XII - A epígrafe é, a esse respeito, um dos mais elucidativos. O processo de elaboração e desenvolvimento do romance é comparado ao desenrolar de uma partida de xadrez, durante o qual, 'por uma lei de solidariedade', o leitor e os próprios personagens colaboram com o autor / narrador [o enxadrista].
Já no final do romance, a metáfora lingüística usada é a da viagem - o percurso da escrita e da leitura se compara ao transcorrer de uma viagem.
Observar que nos dois casos fica também evidenciado o caráter lúdico da escrita e da leitura: é como se fosse um jogo, uma brincadeira, uma diversão, um lazer.
AS PERSONAGENS
São personagens tipos. Cada uma representa um tipo social: os jovens estudantes abastados, o banqueiro, o político, o diplomata, a velha viúva, a mãe cuidadosa, a moça, a esposa avarenta, o irmão das almas que se torna um rico capitalista, de modo meio obscuro.
1. Os Gêmeos: são personagens mais alegóricas, não há nenhuma profundidade na análise dessas personagens. Suas complexidades se dão mais quando comparados um ao outro: fisicamente iguais ideologicamente diferentes. Pedro será conservador, defendendo a monarquia, Paulo, liberal, defendendo a república; mais tarde, quando já implantada a república, Pedro, o conservador monarquista, aceita o novo regime, Paulo, que antes defendia, vai fazer-lhe oposição. Paulo torna-se advogado, Pedro, médico. Por fim os dois tornam-se deputados de por partidos que se opõem.  A narrativa termina com os dois brigados, sem que o narrador saiba nos dizer o motivo. São essas as palavras do conselheiro Aires “_Mudar? Não mudaram nada; são os mesmos”.  O conflito é algo natural entre eles. Parece um fado, um determinismo ao qual não podem escapar. Nasceram para serem rivais, não importa o motivo da rivalidade, o importante é estarem em contenda, cada um se achando o único e vendo no irmão algo a ser desprezado, não no físico, por serem semelhantes, mas nas convicções. Em nenhum momento há sofrimento em qualquer um deles por causa disso. São, portanto, personagens planas, sem conflitos. Se por um lado Flora agonia-se sem ter como decidir entre um e outro a qual entregar o seu amor, nenhum deles se dispõe em ceder um milímetro que seja ao outro.
2. Flora: Objeto de amor e disputa entre os gêmeos, acaba alucinada por não decidir entre um e outro. Flora é uma personagem complexa. É o que conselheiro Aires chama de “uma moça inexplicável”. Ela é assim apresentada no capítulo XXXI:
Tinham uma filha única, que era tudo o contrário deles. Nem a paixão de D. Claudia, nem o aspecto governamental de Batista distinguia a alma ou a figura da jovem Flora. Quem a conhecesse, por esses dias, poderia compará-la a um vaso quebradiço ou à flor de uma só manhã, e teria matéria para uma doce elegia.”
Mais adiante, no capítulo LIX, Aires faz-lhe essa descrição:
“acho-lhe um sabor particular naquele contraste de uma pessoa assim, tão humana e tão fora do mundo,tão etérea e tão ambiciosa, ao mesmo tempo, de uma ambição recôndita...”
Para em seguida desabafar: “Que o diabo a entenda, se puder; eu, que sou menos que ele, não acerto de a entender nunca.”
Ama igualmente aos dois irmãos, sente igualmente a falta tanto de um quanto de outro, tem prazer na presença de ambos. Apesar de dividida por esse amor, o narrador lança sobre ela a suspeita de um amor confuso, quase, penso eu, querendo deixar transparecer nela atração homossexual pela mãe dos gêmeos a baronesa Natividade. Veja esse trecho: “Pai nem mãe podia entendê-la, os rapazes também não, e talvez Santos e Natividade menos que ninguém. Tu, mestra de amores ou aluna, deles, tu, que escutas a diversos, concluís que ela era...” É assim mesmo que termina com o uso das reticências. Mais na frente diz “Pitangueira não dá manga. Não, Flora não dava para namorados.” O verbo dar, aqui, está no sentido de “levar jeito”. Alguém pode interpretar da seguinte forma: Flora não namoraria mais de um rapaz, ou ainda, Flora não tem jeito para ter namorados, (cap. LXX). No capítulo CV quando Flora está convalescendo, e Natividade lhe faz companhia há esse trecho:
“Veio visitar a moça, e, a pedido desta, ficou alguns dias. _ Só a senhora me pode curar, disse Flora; não creio nos remédios que me dão. As suas palavras e que são boas, e os seus carinhos...”
Veja novamente o uso das reticências, isso é muito significativo. No capítulo LXXXIV, lê-se:
“Flora cada vez gostava mais de Natividade. Queria-lhe como se ela fosse sua mãe, duplamente mãe, uma vez que não escolhera ainda nenhum dos filhos. A causa podia ser que as duas índoles se ajustassem melhor que entre Flora e D. Claudia. A princípio, sentiu não sei que inveja amiga, antes desejo, quando via que as formas da outra, embora arruinadas pelo tempo, ainda conservavam alguma linha da escultura antiga.”
Sofreria a menina Flora apenas de carência materna ou quis maldosamente o narrador deixá-la sob suspeita como Bentinho deixou Capitu em Dom Casmurro, sendo essa de adultério e aquela de lesbianismo?
Assim termina a personagem mais complexa da história:
“A morte não tardou. Veio mais depressa do que se receava agora. Todas e o pai acudiram a rodear o leito, onde os sinais da agonia se precipitavam. Flora acabou como uma dessas tardes rápidas, não tanto que não façam ir doendo as saudades do dia; acabou tão serenamente que a expressão do rosto, quando lhe fecharam os olhos, era menos de defunta que escultura. As janelas, escancaradas, deixavam entrar o sol e o céu.”
A morte de Flora no capítulo CVI, não põe fim a disputa entre os irmão que continuam a disputar quem a visita mais cedo ao cemitério, quem se demora mais na visita.
3. Natividade: é a personagem tipo mãe protetora. A preocupação com os filhos é tão grande que a faz procurar a vidente para saber-lhe o futuro e fia-se nas palavras vagas como se fosse uma profecia divina a ser cumprida: “coisas futuras”, “serão grandes”. No penúltimo capítulo da narrativa, “vai morta a velha Natividade”, “morreu de tifo”. Poucas semanas antes de sua morte, Natividade participa da posse dos filhos as cadeiras de deputados, o narrador fez a seguinte ponderação:
Natividade não quis confessar qje a ciência não bastava. AA glória cientifica parecia-lhe comparativamente obscura; era calada, de gabinete, entendida de poucos. Política, não. Quisera só a política, mas que não brigassem, que se amassem, que subissem de mão dadas... Assim ia pensando consigo, enquanto Aires, abrindo mão da ciência, acabou declarando que, sem amor não se faria nada.”
A vida de Natividade vai ser movida por esses dois objetivos: unir os filhos e vê-los grandes homens.
4.  O Conselheiro Aires: a mais intelectual e experiente de todas as personagens da narrativa. Diplomata aposentado, elegante e inteligente. Observa, e, em certo ponto, manipula as pessoas que o cerca. Toma nota de tudo o que acontece no dia a dia de seu ciclo de amizade, escrevendo o seu Memorial. Não gosta, no entanto, de se meter em discussão, por isso prefere sempre concordar com o que as pessoas dizem. Isso pode ser considerado um ato de desprezo, como se nada tivesse com o que acontece com o outro, como se fora apenas um observador de tudo, um deus transcendental e não um ser humano imanente. Não tem conflito, chega até a ter consciência de sua missão cumprida na vida, já velho, aposentado, prepara-se para deixar a vida sem nenhum desespero nisso.
5. Santos: é o típico capitalista, bancário, preocupa-se apenas em obter lucros e status. Assim consegue o título de barão. É o pai provedor de tudo que a família precisa. Espírita, prefere os conselhos do mestre Plácido as palavras da vidente. Fica meio apagado do meio para o fim da história. Personagem plana sem conflitos.
6.   Os Batistas: são os país de Flora, essa é a importância deles na narrativa. São apresentados a partir do capítulo XXIX. “Batista, o pai da donzela, era homem de quarenta e tantos anos, advogado do cível, ex-presidente de província e membro do partido conservador”. É um político desarticulado que tenta a indicação a qualquer custo, motivado pela mulher, D. Cláudia, a indicação para presidência de uma província. Mais tarde, quando os liberais assumem o poder, seguindo aos conselhos de D. Cláudia, declara-se liberal. Na iminência que receber uma indicação para uma província do norte, é proclamada a república e muda todo o quadro político. Ele e a esposa vão lamentar os fatos. Não há conflito de consciência entre eles.
7. As demais personagens que aparecem são mais para completar o quadro que se emoldura em torno dessas personagens principais.  Todavia, entre essas personagens menores, há o Nóbrega, no princípio da história, o irmão das almas, que mendigava moedas para missas das almas. E que após receber de Natividade uma doação de 2 mil-réis, prefere embolsar essa quantia a entregá-la ao sacristão. Daí desparece da narrativa, vindo aparecer como um rico capitalista, já no final da história e se propõe a casar com Flora quando essa está na casa da irmã do conselheiro. Como veio a transformar a doação feita pela Baronesa em fortuna não fica claro na história narrada.






5 de fev. de 2012

Teste: que poema de Fernando Pessoa você é?

Responda ao teste desenvolvido por Fernando Segolin, professor de Literatura e Crítica Literária da PUC-SP, e veja com qual poema de qual heterônimo pessoano você se identifica:

Super interessante e elucidador: vale a pena!
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/testes/que-poema-de-fernando-pessoa-e-voce.shtml
Meu resultado: Dois poemas de Ricardo Reis e um de Álvaro de Campos

Boca Roxa
“Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.
(“Bocas Roxas”, 08/1915)

Sim“Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.”
(“Sim”; 07/1931)

Ricardo Reis é o poeta clássico, de formação católica rígida e monarquista. Entre os heterônimos, tem o temperamento mais “certinho”. Sua poesia transpira fatalismo, de quem se sente marcado pelo fado antes mesmo do nascer. Por isso, acredita Reis, o melhor a fazer é aceitar o que acontece e levar a vida sem grandes alegrias, nem tristezas, evitando as paixões, porque elas passam e causam sofrimento.

Apontamento, Álvaro de Campos
“A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmo, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
(“Apontamento”; 1929)

Cosmopolita, trilíngue (inglês e francês, além do português natal), alma andarilha, Álvaro de Campos é o oposto de Caeiro. Gosta das máquinas e engrenagens e das sensações da grande cidade – esse é o seu lado eufórico. Mas também é o heterônimo de Pessoa que mais se desiludiu com a própria poesia, admitindo que tudo o que escreveu não passou de palavras, ilusão.


Gostei do resultado, salvo algumas importantes exceções, hehehe!


Para saber mais sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos, leia a entrevista com Fernando Segolin, professor de Pós-Graduação de Literatura e Crítica Literária da PUC-SP e “pessoano” por excelência

19 de mai. de 2011

Realismo/Naturalismo: slides de sala de aula

Seguem aí os slides de sala de aula sobre o Realismo/Naturalismo.
Depois passo para deixar uns comentários legais sobre essa escola de época.

Beijos, Galera!

Realismo/Naturalismo

13 de fev. de 2011

Pré-Modernismo

Olá, galera do 3º Ano!

Recomeçamos nossos estudos abrindo com o Pré-Modernismo, período que, como já disse em sala, não é um movimento literário, mas sim uma época de transição das estéticas vigentes ainda em fins do século XIX e início do XX (Realismo-Naturalismo, Simbolismo e Parnasianismo) para o Modernismo.
O fator característico dessa fase é o nacionalimso temático: um nacionalismo crítico, questionador, muito diferente da visão idealizada dos românticos e muito próximo da perspectiva de país contornada pelo Modernismo a partir de 1922.

Observe os versos de Drummond:

Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
O Brasil está dormindo, coitado.

Agora, a letra escrita por Milton Nascimento e Fernando Brant:

A novidade é que o Brasil não é só litoral
é muito mais, é muito mais que qualquer zona sul
tem gente boa espalhada por esse Brasil
que vai fazer dese lugar um bom país

Uma notícia tá chegando lá do interior
não deu no rádio, no jornal ou na televisão
ficarde frente para o mar, de costas pro Brasil
não vai fazer desse lugar um bom país.

A literatura passa a ser um instrumento para que os brasileiros conheçam melhor o seu Brasil. O fazer literário se torna uma forma de ação social. No entanto, essa literatura não era a que agradava aos governantes do país: para os tais, o texto literário deveria expor a face bela e modernizante que o Brasil vivia. Era o período da Belle époque - expressão francesa que denomina o período entre 1885 e 1918, no qual Paris exportava cultura e modelos de comportamento -, e o Brasil passava por melhorias urbanas, especialmente no Rio de Janeiro, então capital brasileira.
Essa não era, entretanto, a verdade geral. Havia enormes diferenças sociais entre as regiões brasileiras. A literatura então se engaja e denuncia as inverdades da propaganda oficial, que procurava transmitir a sensação de que a República (1888) era a chegada da modernidade e da democracia para o país como um todo.
Os escritores pré-modernistas se encarregaram de revelar o Brasil não-oficial, não propagandeado, o país dos contrastes, os locais onde a modernidade não chega, inclusive, até os dias de hoje. Os tipos humanos marginalizados, como o sertanejo nordestino, o habitante dos subúrbios cariocas, o caipira paulista, ganharam espaço - e com eles a realidade de que faziam parte. O Brasil encontrou-se com os diferentes "Brasis" nesse trabalho de investigação e análise da realidade cultural.   

Características:
Ruptura com o passado: inovação nas obras, rompimento com os moldes pré-estabelecidos das obras dos períodos anteriores. A linguagem de Augusto dos Anjos, por exemplo, é cheia de palavras não-poéticas (cuspe, vômito, escarro, vermes...), oposição direta ao modelo parnasiano, ainda em vigor na época.

Denúncia da realidade brasileira: o Brasil deixa de ser idealizado e os verdadeiros problemas são mostrados, avesso da idealização romântica.O Brasil não-oficial dos nordestinos, caboclos e caipiras é exposto.

Regionalismo: descrição do universo brasileiro: o norte e nordeste são mostrados por meio da obra de Euclides do Cunha; o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha e o subúrbio carioca com Lima Barreto. 

Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais: diminui a distância entre a realidade e a ficção. Em Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, por exemplo, é retratado o governo de Floriano Paeixoto e a Revolta da Armada; Os Sertões, de Euclides da Cunha, demonstra a crueldade da Guerra de Canudos; Canaã, de Graça Aranha, documenta a imigração alemã no Espírito Santo.  

O marco do Pré-Modenismo no Brasil é a publicação, em 1902, de Os Sertões, obra na qual Euclides da Cunha denuncia o absurdo da Guerra de Canudos. Com forte teor determinista, segundo o qual homem é fruto do meio, é o primeiro pré-modernista a aproximar literatura e História. A estrutura do livro é a seguinte:
A terra: caracteriza o sertão nordestino: clima, solo, relevo, vegetação...
O homem: quem é o sertanejo e quem foi Antonio Conselheiro.
A luta: confronto: narração da luta entre as tropas oficiais e os seguidores de Conselheiro. O livro termina com a descrição da queda do Arraial de Canudos e a destruição de todas as casas erguidas no local.


Foto de 1897, de Flavio Barros. Mulheres e crianças prisioneiras na Guerra de Canudos.

Dois olhares para o mesmo conflito:

Euclides da Cunha, no final de Os Sertões, registrava:

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos...

Já Olavo Bilac, poeta parnasiano, escrevendo sobre o mesmo epísódio, comemorava:

Enfim, arrasada a cidadela maldita!enfim, dominado o antro negro, cavado no centro do abusto sertão, onde o Profeta das longas barbas sujas concentrava sua força diabólica, feita de fé e de patifaria, alimentada pela superstição e pela rapinagem!

Aqui, é importante a visão crítica do leitor ao comparar os textos:
é fato que interpretação da história é feita de acordo com o olhar ideológico de cada um.
O primeiro trecho deixa claro o desequilíbrio entre as forças do Governo e os seguidores de Antônio Conselheiro. Euclides da Cunha foi testemunha ocular dos acontecimentos e constata a crueldade e desproporção da luta.
O segundo demonstra  a visão de Olavo Bilac, o qual está sob a influência do "discurso oficial" do Governo brasileiro, para quem os seguidores do beato eram uma horda de fanáticos que desejavam destruir a ordem nacional.

Uma outra questão curiosa sobre a história de Canudos é que a profecia de Antônio Conselheiro que dizia que o sertão iria virar mar se cumpriu: hoje, o arraial de Canudos, à beira do rio Vaza-barris, em pleno sertão bahiano, encontra-se submerso nas águas do açude de Cocorobó. E mais: para reforçar a profecia do beato, outra imensa região do sertão bahiano virou mar. No vale do rio São Francisco foi construída a imensa barragem de Sobradinho, deixando submersas várias cidades.

Veja a letra da canção Sobradinho, de Sá a Guarabira, acqual confirma o cumprimento do dito de Antônio Conselheiro:

O homem chega e já desfaz a natureza
Tira a gente põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá prá cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão

É isso, para um dia de domingo já está de bom tamanho.
Depois, deixo outra postagem sobre a obra de Augusto dos Anjos e Lima Barreto, viu?

Beijão!

24 de nov. de 2010

Folha Rota, Machado de Assis

É, pessoal, novamente Machado de Assis ronda a vida escolar e literária de vocês. Acreditem em mim: vai valer a pena as leituras que fazemos agora. No futuro vocês me digam, tá?!

Vamos lá:
Folha Rota é um dos contos da coletânea Histórias do Romantismo. O enredo revela o amor secreto e contrariado, tema tão precioso aos românticos, entre dois jovens: Luísa, moça órfã, ingênua e de hábitos domésticos, e Caetaninho.

Luísa, aprisionada no recinto doméstico, garota de dezoito anos, não chega a conhecer e ter "intimidade" com os espaços públicos, no qual circula e prospera seu namorado Caetaninho. Entre os dois - ou entre a moça e sua felicidade pessoal - existe a intransponível barreira figurada pelo postigo (uma abertura em porta ou janela que permite observar sem ter que as abrir) que deixa passar apenas os olhos ou, quando muito, a mão. A verdadeira prisão de Luísa é a gratidão que sente por sua tia. Dos limites dessa relação de favor, que afinal se converte em mando e irrefletida obediência, é que advém sua incapacidade para desconfiar da história romanesca que lhe conta D. Ana Custódia. Daí também o excesso de lágrimas, com que ela compensa a falta de realismo ou de coragem para realizar seus direitos individuais.


Responda em seu caderno:

1) Descreva as características físicas e psicológicas de Luísa.
2) O narrador adianta, na página 132, que haviam motivos para D. Ana Custódia e seus dois parentes não se frequentarem. Com suas palavras, reconte o porquê do desentedimento entre eles.
3) Na opinião do rapaz, não havia ninguém mais infeliz do que ele. Por que Caetaninho pensava isso sobre si?
4) Ao relatar o passado a Luísa, D. Ana diz, falando sobre o cunhado Cosme: "vinguei-me e me perdi". O que acontecera?
5) D. Ana Custódia diz a moça que preferiria morrer a vê-la casada com o filho de Cosme. Você acredita que ela já desconfiava do envolvimento da moça com Caetaninho? Justifique.
6) Apesar do costume excessivamente caseiro, qual era, na verdade, a prisão em que se encontrava Luísa? Explique sua resposta.
7) Discorra (escrever expondo opinião) sobre a postura final de Luísa com relação à Caetaninho.
8) Explique o título do texto.

9) Associe o vídeo a seguir ao enredo e à temática do conto Folha Rota. Em sua opinião, o vídeo serviria para expressar o sentimento de qual personagem: Luísa ou Caetaninho?Explique.


1 de nov. de 2010

Gabarito Viagem ao centro da Terra, Júlio Verne

Pessoal, perdão por não ter postado antes, conforme combinei com vocês! É esta vida super corridaaaaaa...

Bjos!!!

1- Os alemães Axel e seu tio, o professor Otto Lidenbrock e o islandês Hans Bjelke.

2- Saknussemm.

3- O manuscrito foi escrito com caracteres rúnicos. O professor explicou a Axel que as runas eram caracteres (letras) utilizados na Islândia há muito tempo.

4- Hans amontoou pedaços de rochas ao longo do caminho para orientar o retorno. Mas eles voltariam por caminho completamente diferente. Eles deixariam o interior da Terra por um vulcão localizado na Itália.

5- Na Islândia, em uma cratera do vulcão Sneffels.

6- Elas seguiram a orientação deixada pelo sábio Saknussem no pergaminho: ao meio-dia, antes do início de julho, a sombra do pico Scartaris se projetaria na entrada correta - o que realmente ocorreu.

7- F-V-F-F

8- O primeiro grande problema enfrentado foi a falta de água.

9- O professor deu o último gole de água para Axel, que já perdia as forças. O gesto demonstra amor porque o professor resistiu à vontade de beber a fim de garantir água para o sobrinho.

10- Hans conseguiu encontrar água corrente, quando eles já estavam quase sem forças.

11- Axel descobriu um efeito acústico na parede de pedra do lugar onde estava. Graças a esse efeito, ele podia ouvir seu tio e falar com ele.

12- Resposta pessoal.

13- Eles assistiram à luta entre um ictiossauro e um plesiossauro.

14- Eles encontraram um punhal, de cerca de 300 anos, época em que vivera Arne Saknussemm; em seguida, acharam uma placa de granito com as iniciais do sábio.

15- Eles usaram algodão-pólvora para explodir o bloco de pedra e, assim, desimpedir a passagem.

16- Eles saíram em Stromboli, na Sicília, região da Itália.

17- Resposta pessoal.

18- Não será necessário fazer a questão número 18.

Beijos!
Adoro vocês!!!
Powered By Blogger

Flickr