2 de nov. de 2015

Análise da tela "A primeira missa no Brasil", de Cândido Portinari


A arte revisando criticamente a história:
o índio ausente se faz visto



CÂNDIDO PORTINARI

               1903 - Nasce em Brodósqui, no Estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos. Cursa apenas o curso primário.
               1918 - Vai para o Rio e, na Escola Nacional de Belas-Artes, estuda pintura.
               1929-1931 - Temporada em Paris.

               1931 - Volta renovado, com mudança na estética das obras, valorizando mais as cores e a ideia da obra. Retrata o povo brasileiro nas suas telas.


               1936 - Painéis no Monumento Rodoviário, na Via Dutra; afrescos do MEC (Rio), temática social, que será o fio condutor de toda a sua obra a partir de então.

               1943 - Executa oito painéis conhecidos como Série Bíblica, com influência  picassiana de “Guernica” e sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.
               No  final da década de quarenta deixa de lado a dramaticidade expressiva e a temática social e busca temas históricos através da afirmação do muralismo.
               MURALISMO: arte e técnica da pintura ou da composição de murais. Corrente artística do século XX caracterizada pela execução de grandes pinturas murais sobre temas populares ou de propaganda nacional.
               1948 - Portinari se autoexila no Uruguai, por motivos políticos, onde pinta o painel “A Primeira Missa no Brasil”. Dá início à exploração dos temas históricos através da afirmação do muralismo.
               1949 - Grande painel “Tiradentes”, episódios do julgamento e execução do herói brasileiro. Por este trabalho recebeu, em 1950, a Medalha de Ouro do júri do Prêmio Internacional da Paz  (Varsóvia).
               1952 - Painel com temática histórica:” A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia”, e esboços dos painéis “Guerra e Paz”, de 14m x 10m cada, doados pelo governo brasileiro à  sede da ONU.
               1954 - Realiza o painel “Descobrimento do Brasil”. Tem sintomas de intoxicação por tintas.
               1961 - O pintor tem diversas recaídas da doença que o atacara em 1954 - a intoxicação pelas tintas.
                1962 - Tendo produzido cerca de cinco mil obras, Cândido Portinari falece no dia 6 de fevereiro, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

Característica da produção de Candido Portinari

               Forte influência cubista: uso de figuras geométricas; geometrização das formas.
               Deformação geométrica das pessoas.
               Uso de tons mais escuros.
               Expressionismo: sua produção exprime a crueza da realidade dos brasileiros. Sua abordagem é realista, não idealiza a condição dos sofrimentos do homem nascido aqui. A miséria, a fome e também a revisão crítica da história da pátria compõem sua obra.
               Valorização da cultura brasileira ao tematizar o brasileiro e sua condição de lutador frente às dificuldades do viver.
               Retrato dos tipos humanos do Brasil: do trabalhador braçal ao sofredor nordestino.
               Temática social. 


Na "Primeira missa"

               Revisão crítica da história brasileira: ao tematizar a “primeira missa”, Portinari “apaga” a presença do índio, tal como a aculturação fez com o nativo. Na perspectiva de Portinari, a primeira missa não fora oferecida a todos, mas apenas a uma elite dominante formada por religiosos, comerciantes e integrantes da coroa portuguesa.
               O tema está retratado com uma criticidade tipicamente moderna, diferente do que acontece na produção de Victor Meirelles. O cenário apresentado é artificial, pouco natural, o que denota a pouca reverência religiosa da tela. No centro, uma grande caixa representa o altar, mas não há ali uma figura explícita que remonte à cruz católica, a não ser a da bandeirola, posta de lado, que sugere mais uma representação de um símbolo militar, já que o militarismo está presente na produção. Portinari dispõe em grupos frades, fidalgos, marujos e soldados.
               Não há presença de vegetação ou qualquer alusão à flora e fauna brasileira.

Comparando as telas: Victor Meirelles e Cândido Portinari

Enquanto a versão de Vitor Meirelles [era] nitidamente naturalística, subordinada à realidade histórica, a detalhes pitorescos da natureza, com índios espantados em volta (…) em Portinari, essa suposta realidade histórica não existe. Tampouco se preocupa ele com as descrições da carta de Pero Vaz, com o pitoresco (natureza exuberante) intrínseco à cena, paisagens e personagens coloridas, mataria tropical densa, selvagens nus ou seminus, de cocares e penas, bichos.

2 comentários:

  1. Procurei muito na internet uma reflexão comparando as duas telas. Foi somente nesse blog que achei. Gratidão por compartilhar esse conhecimento.

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  2. Na tela de Portinari, eu consigo ver que ele representou as serras e o mar lá atrás, a algumas palmeiras. Não é o foco da pintura, está bem apagado por isso não é visto ao primeiro olhar, talvez tenha sido essa a intenção do autor, mostrar que até mesmo a paisagem não escapou às transformações radicais impostas pelos portugueses.

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