Mestre Aleijadinho se tornou um dos símbolos da cultura nacional. Quem vai a Minas Gerais se encanta com os santos e altares feitos por ele. No bicentenário de sua morte, o Caminhos da Reportagem mostra a genialidade de Antônio Francisco Lisboa, passando pelas cidades mais importantes da trajetória do escultor: Ouro Preto, Sabará, São João Del Rei e Congonhas do Campo. O programa também apresenta a valorização das obras do artista, considerado um dos favoritos de falsários, e o imenso mercado gerado por peças falsas atribuídas ao mestre. “Uma vez que essas imagens são publicadas em catálogo ou vão em uma exposição, amanhã se uma delas aparecer em um leilão adquire antecedentes e procedência para ser atribuída como um Aleijadinho verdadeiro. Então uma imagem dessas que não valia nada, passa a valer milhões”, explica o escultor Elias Layon. Filho de um português com uma negra, Aleijadinho começou a aprender o ofício com a família e se tornou um artista mútiplo. “Aleijadinho não foi simplesmente, como muitos pensam, um fazedor de santos. Para além da escultura, ele foi entalhador, arquiteto, perito, carapina e carpinteiro. Então, era um profissional de vários talentos”, define o biógrafo e promotor Marcos Paulo Miranda. Os trabalhos de Aleijadinho floresceram no período dos estilos Barroco e Rococó. Época de peças trabalhadas, impactantes e expressivas. A doença que afetou seus movimentos não o impediu de criar algumas das mais belas esculturas brasileiras. “É formidável a força das esculturas de Aleijadinho. São obras impressionantes, muito bem feitas, muito bem acabadas”, ressalta a restauradora Beatriz Coelho, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Reportagem e produção: Carolina Pessôa Imagens: Rogério Verçoza Auxiliar técnico: Dailton Matos Direção, roteiro e edição de texto: Rafael Casé Edição de texto: Renata Cabral Editora-assistente: Carolina Pessôa Produção executiva: Linei Lopes Edição de imagens, som e finalização: Fábio Melo Edição de imagens: João Santolin Sonorização: Maurício Azevedo
“De que te ris? Trocando os nomes, a fábula fala de ti...”
Sobre o autor:
Tomás Antônio Gonzaga - nasceu no Porto, a 11 de agosto de 1744. Com oito anos, é trazido ao Brasil e matriculado no Colégio da Bahia. De volta a Portugal, forma-se em direito (Coimbra). Depois de tentar a carreira universitária, abraça a magistratura. Em 1782, está em vila Rica (Minas Gerais) como ouvidor. Apaixona-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, que imortalizaria com o pseudônimo de Marília. Implicado na conjuração mineira (1789) é preso e levado para a Ilha das Cobras. Em 1792, condenado ao exílio, segue para Moçambique, onde refaz sua vida casando-se com Juliana de Sousa Mascarenhas, viúva rica e analfabeta. Prestigiado e abastado, falece em 1810.
Sua obra divide-se em poética (Liras, duas partes, 1792 e 1799; Cartas Chilenas, 1845, edição incompleta; 1863 edição completa) e em prosa Tratado de Direito Natural, 1942.
Tomás
Antônio Gonzaga e a Vila Rica do século XVIII
A capitania (Vila Rica) era o centro de negociações do ouro e diamantes extraídos nas riquíssimas redondezas. Mas o ouro não era nosso, a política da Coroa portuguesa seguia uma única receita: tratar a colônia como a "vaca americana" - na famosa expressão de d. João IV - da qual era preciso arrancar a todo o custo o leite, o couro e os ossos. Como consequência de tanta exploração e espoliação, os minérios começavam a esgotar-se. Além do mais, era impossível fazer face aos impostos excessivos garroteados pelo insaciável fisco português.
A maior parte dos contribuintes de Vila Rica - ricos e médios - devia fortunas à Coroa. Somavam-se a esse abuso o alto preço da mão-de-obra escrava e dos instrumentos de mineração e, ainda, os altos donativos exigidos pelo clero. O ambiente da capitania era extremamente tenso.
Configurava-se um estado de coisas que não podia continuar, sob pena de gerar um conflito aberto com as autoridades portuguesas. A 10 de outubro de 1783, o capitão-general Luís da Cunha Meneses assumia o governo. Seu autoritarismo e inúmeros desmandos iriam agravar a situação. O governador desrespeitava sistematicamente as decisões da Justiça sobre concessões de negócios e questões administrativas, decretava medidas ilegais, vendia cargos, títulos etc. Para sustentar-se no poder, valeu-se de um grupo de arrivistas e privilegiados. Militarizou o governo, aumentando exageradamente a tropa, e usou a força militar para a cobrança da taxa dos dízimos.
Tomás, Cunha Meneses e as Cartas
Gonzaga, em seu cargo de ouvidor, via com frequência suas decisões desrespeitadas. Reagiu com firmeza e opôs-se ao governador, contestando seus atos e protestando junto às autoridades superiores. Por fim, enviou um carta à rainha em que relatava o "notório despotismo" de Cunha Meneses. Cauteloso, sem correr riscos desnecessários, fez que o poema circulasse clandestinamente. Atribuiu o poema a um autor chileno, também escondido sob o pseudônimo Critilo.
Cartas Chilenas
As Cartas Chilenas são num total de 13 cartas escritas por Tomás Antônio Gonzaga, o qual usava o pseudônimo de Critilo, no entanto, esse pseudônimo ficou por muito tempo obscuro. Tais Cartas relatavam os desmandos, os atos corruptos, o nepotismo, o abuso do poder, a falta de conhecimento dos cidadãos e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais do governador.
As cartas foram escritas em relatos na forma de versos decassílabos (versos que contém dez sílabas poéticas) brancos (sem rima). Gonzaga finge escrever do Chile, contando a um amigo os abusos do governo, na cidade de Santiago. Mas percebe-se pelas circunstâncias relatadas que o país não é Chile, mas retrata Minas Gerais; que a cidade não é Santiago, mas Vila Rica e que o amigo é Cláudio Manuel da Costa, cujo pseudônimo é Doroteu, e que os abusos estavam acontecendo no governo de Cunha Meneses. As Cartas Chilenas contam as injustiças e violências que Cunha Meneses "Fanfarrão" executou em seu governo. Essas Cartas circularam em Vila Rica pouco antes da Inconfidência Mineira, em 1789. Nelas podemos encontrar a sátira do poeta à mediocridade administrativa.
O momento histórico e o Arcadismo:
A época do Arcadismo tem início em 1768, com o aparecimento das Obras de Cláudio Manuel da Costa, e desenvolve-se até 1836, ocasião em que Gonçalves de Magalhães publica Suspiros poéticos e Saudades, dando começo a revolução romântica. Movimento eminentemente poético, de repúdio às demasias perpetradas pelo Barroco, arregimentou pela primeira vez em nossa história literária um grupo de escritores mais ou menos coeso em seus desígnios e com um relativo sentido corporativo: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama, Frei José de Santa Rita Durão. Assim, nesse período em que a Europa vivia a Revolução Francesa, o Brasil também se agitava com os movimentos nativistas, como a própria história conta, as Minas Gerais era uma verdadeira "mina" para a Coroa Portuguesa e o povo precisa ter voz, portanto, ninguém melhor que os homens letrados para despertar o sentimento nacional, pois só a Literatura consegue, usando a palavra como sua matéria-prima, dizer o que muitos já podem ter dito, de um jeito tão próprio que encanta aquele que percebe a maneira tão peculiar de usar a palavra.
Características gerais da obra:
• Cartas como crônicas de um tempo marcado pela corrupção, pela política de favorecimento, pelo abuso de poder.
• Fanfarrão é um antiexemplo: suas atitudes autoritárias e de desordem administrativa devem ser lidas, observadas e evitadas pelos demais governantes.
• Há na obra a dessacralização da epopeia: não há feitos grandiosos de um herói; produção mais próxima da crônica.
• Teor satírico.
• Predomínio da razão, Iluminismo.
• Presença da paisagem física e social da época.
Intertextualidades
• Dom Quixote e Sancho Pança: associação irônica entre os ideais e nobreza de alma dos personagens de Miguel de Cervantes e a ausência dessas características no governador das Minas. A loucura de Sancho estava em governar bem, a do Fanfarrão está em não governar com sabedoria. Dom Quixote é louco por acredita nos ideais, naquilo que é bom e ideal. Fanfarrão Minésio é um governador louco por depreciar os bons valores e trazer a baderna prejudicial à sociedade.
• Referências a diversos personagens e acontecimentos bíblicos.
• Nero, governador de Roma: associação entre o autoritarismo de Minésio e o personagem romano.
• Virgílio, Camões e lendas mitológicas.
Associações necessárias:
• Chile: Minas Gerais
• Santiago: Vila Rica
• Espanha: Portugal
• Madrid: Lisboa
• Salamanca: Coimbra
• Fanfarrão Minésio: d. Luis da Cunha Meneses
• Critilo: Tomás Antônio Gonzaga
• Doroteu: Claudio Manuel da Costa.
Estrutura da obra:
Prólogo: O prólogo é uma conversa com o leitor onde o autor explica do que se trata a obra, neste caso, ele diz que encontrou um cavalheiro instruído nas letras e que trazia com ele uns manuscritos onde eram relatadas todas as desordens no governo de Fanfarrão Minésio, general do Chile. O autor então supostamente traduz esse manuscrito e confessa que mudou algumas coisas para melhor entendimento.
Dedicatória: escrita aos grandes de Portugal. Além de dedicar as cartas aos nobres portugueses, esse tradutor conclama-os a se tornarem mecenas e protetores de sua publicação.
Treze cartas: compostas por 4268 versos, nos quais Critilo, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu, que está na Espanha.
Epístola a Critilo: é a resposta de Doroteu a Critilo. Nessa epístola, Doroteu expõe suas emoções diante dos fatos narrados e explicita os efeitos que as cartas provocarão nos chefes ruins e impuros.
Todas as treze cartas relatam desde a chegada de Fanfarrão ao Chile até a última carta, a de número treze onde ele mostra que o povo se acostuma ao sistema, que chegou de mansinho, justificado não pela virtude de quem o trouxe, mas pelo falso zelo religioso.
Análise das cartas
• Primeira carta: Durante toda a primeira carta, o leitor é apresentado ao Fanfarrão e percebe o quanto o novo governante é inadequado para governar as Minas Gerais. Toda a carta gira em torno da chegada do mesmo em Santiago do Chile (Vila Rica) e sua prepotência ao tratar as pessoas da região.
• Segunda carta: texto que salienta quem se mostrava ser o Fanfarrão Minésio: quis parecer piedoso, chega a fazer cena de religioso na Igreja. No entanto, intromete-se em decisões que deveriam caber à justiça, porta-se com autoritarismo, liberta presos culpados, não pune conforme as leis e ensina o povo a porta-se também de modo corrupto.
Terceira carta: a partir da terceira carta, surgem em episódios sucessivos os atos de desmando, de desprezo e humilhação às outras autoridades e aos ilustres da terra, os favorecimentos ilícitos, o grupo de favoritos e privilegiados do poder, a corrupção. São relatadas as injustiças ocorridas por causa da construção de uma cadeia, hoje Museu da Inconfidência:
Pretende, Doroteu, o nosso chefe
Erguer uma cadeia majestosa,
Que possa escurecer a velha fama
Da torre de Babel e mais dos grandes,
Custosos edifícios que fizeram
Para sepulcros seus, os reis do Egito.
A construção da cadeia é tida como inadequada para a região, de mau gosto, construída com mão de obra escrava. É relatado o gasto do dinheiro público, os atos do governante que contrariam as leis vigentes, as injustiças ao prender pessoas simples que cometeram crimes brandos... 3ª Carta faz alusão também aos homens de pele negra que são mantidos em cadeias que prendem os seus corpos físicos, mas não conseguem prender suas mentes, seus espíritos, seus sonhos.
Quarta carta:
Continua a se falar da cadeia, da condição terrível a que os operários são submetidos, a exploração do homem do campo, mais de quinhentos homens amontoados na cadeia, más condições de vida, o mau cheiro... Fanfarrão manda ainda que os carros da igreja fiquem a sua disposição.
• Quinta e sexta carta:
Contam os exageros de Luis da Cunha Meneses ao festejar, em terras brasileiras, o casamento de D. João VI e Carlota Joaquina.
São detalhados os luxos da festa e todo a exploração que a colônia viverá para poder suster o evento: impostos são aumentados e as reservas públicas são sugadas.
A sexta carta relata como os membros do governo portam-se de modo indecente em “festas” promovidas por Fanfarrão em sua casa. Moral: um mau governo gera um povo também mau.
• Sétima carta:
Fanfarrão transgride as leis que regulam a concessão de áreas para extração de ouro. Com isso, beneficia a quem convém, e prejudica a quem deseja proceder corretamente.
Maldito, Doroteu, maldito seja
O pai de Fanfarrão, que deu ao mundo,
Ao mundo literário tanta perda,
Criando ao hábil filho numa corte,
Qual morgado, que habita em pobre aldeia!
• Oitava carta: Carta fragmentada (em algumas edições esta é a carta sétima)
O teor da epístola é sobre o quanto o Fanfarrão é ignorante, sem cultura.
“Maldito, Doroteu, maldito seja
O pai de Fanfarrão que o deu ao mundo
Ao mundo literato tanta perda
Criando ao hábil filho numa Corte,
Qual morgado, que habita em pobre aldeia!
Sabendo apenas ler redonda letra,
Que abismo não seria, se soubesse
Verter o breviário em tosca prosa!”
• Nona carta:
As tropas militares eram organizadas por Minésio: a seu modo e gosto. Havia pessoas sem nenhum tipo de habilidade militar, outros eram ainda garotos, alguns doentes. A alguns concede títulos militares: muitas vezes pessoas sem nenhum respaldo moral.
• Décima carta:
Agora, Minésio interfere no tribunal de justiça. Mistura dos poderes. Ele se faz a única lei cabível e aceitável para Vila Rica.
• Décima primeira carta:
A carta retoma as muitas arbitrariedades de Fanfarrão Minésio: autoritarismo, desmandos, desrespeito à justiça, venda de cargos e títulos...
• Décima segunda carta:
Fala das trapaças e corrupções do Fanfarrão Minésio.
• Décima terceira carta:
Carta incompleta. Fala sobre a manipulação que os governos e as crenças imputam ao povo. Crítica a falta de razão.
20 --Também este sistema: ao seu ouvido / Acostuma a chegar-se a mansa pomba. / A nação, ignorante, se convence / De que este seu profeta conhecia / Os segredos do céu, por este meio. 25 -- Não há meu Doroteu, não há um chefe, / Bem que perverso seja, que não finja, /Pela religião, um justo zelo, / E, quando não o faça por virtude, /Sempre, ao menos, o mostra por sistema.
E finaliza com uma despedida dizendo que a virtude cobrará daquele que é soberbo.
As Cartas e o seu poder de crítica
Não há nada nas Cartas que corresponda a um sentimento de nacionalismo e rebeldia contra o domínio português ou contra o sistema de poder . Sua crítica dirige-se à violação da justiça constituída, ao abuso de poder, à corrupção palaciana e aos desmandos apoiados na militarização do governo ("Não há, não há distúrbio nesta terra / De que a mão militar não seja autora").
As Cartas têm um tom de realismo e de vigor de linguagem raros para a época, um tanto asfixiada pelas convenções e vagas generalidades do Arcadismo. Em vários trechos, a linguagem das Cartas traz a presença da paisagem física e social brasileira. A crítica contida nela ultrapassa as circunstâncias de um determinado governo para desnudar as bases do autoritarismo colonial, com seu sistema de privilégios e sua mão militar.
Sobre
o autor: Machado de Assis [1839 -
1908] foi um dos mais geniais escritores. Prolífico, produziu crônica, poesia, contos, romances, crítica e peças de teatro. Seu estilo é marcado pela ironia,
pela digressão, linguagem e profunda análise psicológica, mergulhando na alma
humana e revelando seus segredos mais obscuros e ocultos.
Destacou-se principalmente como
contista e romancista. Entre seus mais famosos romances destacamos Memórias
Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, D. Casmurro. Entre os livros de contos,
vale citar Papéis Avulsos, Histórias sem Data, Várias Histórias e Relíquias da
Casa Velha.
INTRODUÇÃO
Publicado em 1904, Esaú e Jacó foi de
modo geral considerado um romance de menor importância, se comparado aos três
romances machadianos da fase realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas [1881],
Quincas Borba [1891] e Dom Casmurro [1899].
Julgava-se que em relação a estes,
Machado de Assis nele teria suavizado seu realismo, tornando-o menos explícito
e contundente, abrandando seu humor ácido e sua crítica mordaz à sociedade de
seu tempo e ao homem burguês. Chegou-se mesmo a classificá-lo como um simples
'romance de costumes'...
Hoje, porém, cada vez mais se descarta
essa visão simplista e já se admite que Esaú e Jacó seja um dos romances
esteticamente mais elaborados de Machado de Assis e, possivelmente, o de mais
difícil compreensão e interpretação.
Vamos, então, destacar alguns pontos
cruciais dessa obra, procurando compreendê-la um pouco em sua complexidade.
O ESPAÇO E O TEMPO DA NARRATIVA: como quase todas as narrativas
machadianas o espaço onde se ambienta a história é o centro urbano carioca.
Temos um tempo histórico cronológico bem definido, segunda metade do século XIX
até o início da República, com o governo de Floriano Peixoto.
O TÍTULO
O
título ESAÚ E JACÓ é uma alusão aos gêmeos bíblicos filhos de
Isaac, que brigam no ventre da mãe antes do nascimento, e que, segundo consulta
que a mãe fizera a Deus, seriam pai de duas grandes nações inimigas,
representadas hoje pelos judeus e palestinos. Os gêmeos do romance chamam-se Paulo
e Pedro, nome dado pela tia Perpétua, em homenagem aos dois maiores apóstolos
do cristianismo. Assim como aqueles foram grandes homens, esses também hão de
ser.
NARRADOR
A primeira grande questão é exatamente
esta: quem é o narrador em Esaú e Jacó?
Machado de Assis, antes do primeiro capítulo, escreveu uma advertência, na qual esclareça que 'Quando o Conselheiro Aires
faleceu, acharam-se-lhe na secretária sete cadernos manuscritos [...].'
Os seis primeiros formavam um volume,
que se transformaria no romance Memorial
de Aires [que será publicado em 1908], e o sétimo, intitulado Último, constituía uma narrativa à
parte, que ele, Machado de Assis, estava agora publicando com outro título
também proposto pelo próprio Aires, qual seja: Esaú e Jacó.
Portanto, Machado de Assis
considerava-se apenas um editor do romance, cujo verdadeiro autor / narrador
seria o Conselheiro Aires. Devemos, porém, nos lembrar que isto nada mais é do
que uma estratégia narrativa de Machado
de Assis, já que esse diplomata aposentado é obviamente uma criatura
ficcional, ou seja, um ser imaginário inventado pelo escritor.
O Conselheiro Aires é também personagem
de história, contada em Esaú e Jacó, cuja atuação começa a partir do capítulo
XI.
No entanto, embora Aires seja ao mesmo
tempo narrador e personagem, observa-se que a narrativa não é contada em
primeira pessoa, como seria de se esperar nesse caso.
A esse respeito é muito importante o capítulo XII, intitulado 'Esse Aires', e
que inicia assim: 'Esse Aires que aí aparece [referência ao cap. XI] conserva
ainda agora algumas das virtudes daquele tempo, e quase nenhum vício. [...] Não
me demoro em descrevê-lo.' E a seguir o narrador traça um preciso perfil físico
e psicomoral do diplomata aposentado.
Ora, quem é esse autor? Notamos então
que a narrativa vem sendo feita [e será toda feita] por um narrador externo à
história, ou seja, que não atua como personagem, e que, embora usando às vezes
a forma da primeira pessoa, caracteriza-se como um típico narrador de terceira
pessoa, onisciente - ou seja, que sabe tudo sobre a vida externa e interna das
personagens e que, de cima, tem a visão global da sociedade e da geografia nas
quais eles se movem.
Quem é esse narrador? É o Conselheiro
Aires, que se disfarça e se duplica, falando de si mesmo em terceira pessoa,
num processo de distanciamento e pretensa objetividade? Ou é o próprio Machado
de Assis que, editor fictício, apropria-se da narrativa e torna-se narrador,
transformando-se também num ser ficcional - ou seja, invenção de si mesmo?
Muitos estudiosos consideram o
Conselheiro Aires um alterego de Machado de Assis, isto é , um seu dublê, um
porta-voz de suas opiniões, senão sempre, ao menos em muitas situações.
Nesse caso, o narrador de Esaú e Jacó
não seria um terceiro elemento, um híbrido, um narrador - síntese que integra
Machado de Assis [autor real, implícito] e o Conselheiro Aires [autor fictício
e personagem]?
Vemos por aí o quanto Machado de Assis
problematizou um dos elementos mais importantes da narrativa: o narrador. Esse
procedimento constitui uma novidade para seu tempo e caracteriza-se como um
traço de sua modernidade.
A esta altura é importante também
observar que: 'A narrativa do romance de Esaú e Jacó se submete à visão de
mundo do Conselheiro Aires. Os fatos falam através do seu ponto de vista. [...]
Aires representa alguém que ironicamente possui a verdade, ou sobre ela
reflete. É a sua posição ideológica que fundamenta a narrativa [...]. ele é
quem opina sobre a significação da matéria narrada, mesmo que não possa
esclarecer todos os enigmas.' [Dirce Cortes Riedel - Um romance 'histórico'?]
REALISMO?
Embora Machado de Assis, após o romance
Memórias Póstumas de Brás Cubas, seja
classificado dentro do Realismo, a verdade é que se torna difícil e inadequado
confirmar sua obra nos limites estritos de escolas e movimentos literários.
O enredo de Esaú e Jacó, por exemplo,
gira ao redor da permanente rivalidade entre os gêmeos Pedro a Paulo. Já
começaram brigando no ventre materno e continuam se desentendendo vida afora.
Pedro, mais dissimulado; Paulo, mais agressivo. Pedro, conservador; Paulo,
agitado. Pedro, monarquista; Paulo, republicano [variadas situações serão
criadas ao redor dessa polarização]; Pedro, médico, no Rio de Janeiro; Paulo,
advogado, em São Paulo; ambos eleitos deputados, mas por partidos contrários...
Essa oposição sistemática só é
interrompida duas vezes pela trégua momentânea motivada pela morte das duas
figuras femininas que capitalizam o afeto dos gêmeos: Flora [a indecisa amada
dos ambos] e Natividade [a mãe].
Ora, o leitor logo percebe o quanto de
inverossímil, de artificial, de forçado mesmo, existe nessa oposição
sistemática entre os gêmeos. O irrealismo dessa situação só se compara ao irrealismo de Flora, personagem vaga,
sem outra substância que não seja vivenciar, na indecisão, o conflito do amor
duplo de que é alvo por parte dos gêmeos. Conflito e indecisão que, de certo
modo, levarão à morte.
Verdade que o próprio narrador, às
vezes de forma ambígua, às vezes de forma irônica, reconhece a
inverossimilhança e o irrealismo dessas situações... Portanto, não se trata de
um realismo do tipo 'espelho fiel e exato' da vida real. Apesar disso, porém,
identificamos no romance uma dimensão realista no sentido de que nele ocorre
momentos e cenas de forma verossímil, plausíveis, representam [imitam]
situações da vida real, parecendo, portanto, um típico 'romance de costumes'.
ROMANCE POLÍTICO?
É do ponto de vista da história
política, no entanto, que o romance parece ancorar-se mais solidamente no
Realismo. Historicamente a narrativa se passa no período da transição do
Império para a República, e esse acontecimento é referido diversas vezes e sob
diversos aspectos.
Há estudiosos que chegam mesmo a
considerar Esaú e Jacó um romance histórico ou político, centrado exatamente
nesse conflito: República X Império; conflito do qual os gêmeos seriam
simbolicamente a personificação.
Numa perspectiva bem-humorada e
acidamente irônica, o conflito é salientado no famoso episódio da tabuleta do Custódio [cap. XLIX, LXII e LXIII]. Dono da
Confeitaria do Império, Custódio precisou trocar a tabuleta que já estava bem
velha, mandando pintar uma nova. Nesse meio tempo, porém, aconteceu a mudança
de regime, com a proclamação da República.
Custódio ficou temeroso do nome de sua confeitaria e achou prudente mudá-lo. Na
dúvida, foi então consultar o Conselheiro Aires, na esperança de encontrar um
novo nome para seu estabelecimento, o qual não fosse politicamente
comprometedor e ao mesmo tempo lhe garantisse a fidelidade da freguesia.
O episódio tem vários aspectos. A
referência irônica à República, porém, está principalmente em dois comentários
similares de Custódio diante das sugestões de Aires. O primeiro é quando o
Conselheiro lhe propõe trocar o nome para Confeitaria da República, e ele
pondera: '- Lembrou-me isso, em caminho, mas também me lembro que, se daqui a
um ou dois meses, houver nova reviravolta, fico no ponto em que estou hoje, e
perco outra vez o dinheiro.' E o segundo comentário, ao final do mesmo capítulo
LXIII, é quando Aires então sugere Confeitaria do Custódio, e o comerciante
considera: '- Sim, vou pensar, Excelentíssimo. Talvez convenha esperar um ou
dois dias, a ver em que param as modas [...].'
Percebe-se, por aí, a insinuação de que seria de pouca
seriedade e duração a República recém-proclamada. Esse ponto de vista
depreciativo, aliás, aparece em outros momentos do romance, reafirmando a
conhecida preferência do cidadão Machado de Assis pelo Império.
Várias vezes o escritor se manifestou a
esse respeito, opinando que, por razões históricas e culturais, o regime
imperial era o mais adequado à realidade brasileira. Por outro lado, Machado de
Assis também tinha consciência de que o Império apresentava rachaduras e estava
se desmoronando.
Flora, simbolicamente,
personifica essa perplexidade: não pode ficar só com Pedro [Monarquia] nem só
com Paulo [República]. Seu desejo é a fusão, a síntese do que de melhor houvesse
nos dois: ideal irrealizável!
A não-conciliação dos
gêmeos representaria, então, a impossibilidade de se chegar a um regime
político ideal, o que, nessa obra,
explica o já tão comentado pessimismo e
ceticismo machadiano.
Para
Machado, República foi apenas a troca de fachada
Coube a Machado de Assis (1839-1908), em seu penúltimo romance, "Esaú
e Jacó" (1904), transformar em ficção os acontecimentos que culminaram na
queda da monarquia no Brasil. Com o
olhar cético e a ironia de sempre, Machado tratou a proclamação como fez as
"Memórias Póstumas de Brás Cubas": com "a pena da galhofa e
tinta da melancolia".
O cerne do que pensava o escritor sobre a proclamação pode ser resumido em
uma passagem célebre, batizada pela crítica como o episódio da "tabuleta do Custódio". Dono da
"Confeitaria do Império" há mais de 30 anos, Custódio manda, depois
de muita relutância, reformar a tabuleta que leva o nome de sua loja.
"Estava rachada e comida de bichos. Pois cá de baixo não se via", diz
o doceiro. A alusão ao império é óbvia. Um regime comprometido e sem base de
sustentação que ruiu sem manifestação popular, "pois cá de baixo não se
via".
Às vésperas da inauguração da nova tabuleta, Custódio ouve rumores da
revolução e "vagamente da república". Manda um bilhete ao pintor com
o seguinte recado: "Pare no d.". Não sabia se era melhor concluir a
pintura com a palavra Império ou República. O bilhete chega tarde e Custódio,
"um simples fabricante e vendedor de doces e, principalmente, respeitador
da ordem pública", vai ao desespero. Além de perder dinheiro, ainda punha
em perigo "seus deliciosos pastéis de Santa Clara" e a própria vida.
Pensa em adotar a palavra república na tabuleta, mas volta atrás: "se
daqui um ou dois meses houver nova reviravolta, fico no ponto em que estou
hoje, e perco outra vez o dinheiro."
Machado de Assis arranca o riso do
leitor ao reduzir a proclamação da república a mera troca de tabuletas, questão
de enfeite mais do que de substância.
República e Império se equivalem e são rótulos de fachada porque, na
verdade, o "buraco" do país era mais embaixo. Se a monarquia era uma
vergonha, o ideal republicano parecia postiço no Brasil. Machado capta esse
mal-estar congênito da vida nacional, com o qual republicanos e monarquistas se
debatiam e não raro quebravam a cara. São as ideias fora do lugar.
INTERTEXTUALIDADE
E POLIFONIA
O texto literário realiza-se como um
espaço no qual se cruzam diversas linguagens, variadas vozes, diferentes
discursos. O procedimento pelo qual se estabelece esse múltiplo diálogo é a
intertextualidade. Ora, as vozes que se cruzam nesse espaço intertextual são
vozes diferentes e às vezes opostas - caracterizando-se portanto o fenômeno da
polifonia.
O romance Esaú e Jacó é rico nesses
dois procedimentos. Sirva de modelo o capítulo I. Natividade e sua irmã
Perpétua sobem o Morro do Castelo para consultar Bárbara, a cabocla vidente.
Essa motivação e a cena da entrevista com a adivinha caracterizam o discurso
mítico, a esfera da religiosidade e da crendice. Nesse caso, relacionado a um
contexto popular. Mas o narrador faz referência a Ésquilo, considerado o
criador da tragédia grega, a sua peça As eumênides e à personagem Pítia,
sacerdotisa do templo de Apolo que pronunciava oráculos. Temos aqui novamente o
discurso mítico, só que agora no contexto da antiguidade clássica, ambientado
na sofisticada Grécia.
A referência ao teatro, por sua vez,
remete a uma outra linguagem, e temos então a voz narrativa do romance
dialogando com a voz da personagem teatral.
Observe-se, ainda, que durante a
consulta, lá fora o pai da advinha tocava viola e cantarolava 'uma cantiga do
sertão do Norte' - portanto, outra voz / outro discurso se cruzando com os
demais: a música e a poesia sertaneja.
E assim vamos encontrar
ao longo do romance inúmeras referências, alusões, citações [inclusive em
francês e latim], situações... - relacionadas com a Bíblia, com personagens
famosos do mundo da política, da literatura, do teatro, da filosofia, da
mitologia.
É bom salientar que um dos
procedimentos intertextuais mais curiosos é o fato de, com certa frequência, o
narrador transcreve trechos do romance Memorial de Aires - uma espécie de
diário do diplomata aposentado, e que ainda não havia sido publicado!
LINGUAGEM E LUDISMO
A linguagem é um procedimento pelo qual
o narrador, em certos momentos, interrompe o fluxo narrativo para fazer
reflexões e comentários sobre a própria narrativa, sobre o ato de narrar, a
técnica, o estilo, a construção do enredo das personagens, etc. Ou seja, o ato
de escrever torna-se objetivo de análise de própria escrita.
A Advertência
que Machado de Assis colocou já antes do primeiro capítulo tem esse caráter metalinguistico,
pois se trata de um 'esclarecimento' sobre um dos elementos-chave da narrativa:
o autor [fictício] da história.
Há várias estratégias através das quais
esse procedimento se realiza ao longo da obra. A mais evidente, conhecida por
todos os que leem Machado de Assis, é o capítulo XXVII - De uma reflexão
intempestiva, em que o narrador finge zangar-se contra o possível comentário de
uma leitora, que estaria querendo adiantar-se aos fatos. O narrador é explícito:
'Francamente, eu não gosto de gente que venha adivinhando e compondo um livro
que está sendo escrito com método.'
O capítulo XII - A epígrafe é, a esse
respeito, um dos mais elucidativos. O processo de elaboração e desenvolvimento
do romance é comparado ao desenrolar de uma partida de xadrez, durante o qual,
'por uma lei de solidariedade', o leitor e os próprios personagens colaboram
com o autor / narrador [o enxadrista].
Já no final do romance, a metáfora
lingüística usada é a da viagem - o percurso da escrita e da leitura se compara
ao transcorrer de uma viagem.
Observar que nos dois casos fica também
evidenciado o caráter lúdico da escrita e da leitura: é como se fosse um jogo,
uma brincadeira, uma diversão, um lazer.
AS
PERSONAGENS
São
personagens tipos. Cada uma representa um tipo social: os jovens estudantes
abastados, o banqueiro, o político, o diplomata, a velha viúva, a mãe
cuidadosa, a moça, a esposa avarenta, o irmão das almas que se torna um rico
capitalista, de modo meio obscuro.
1.Os Gêmeos: são personagens mais
alegóricas, não há nenhuma profundidade na análise dessas personagens. Suas
complexidades se dão mais quando comparados um ao outro: fisicamente iguais
ideologicamente diferentes. Pedro será conservador, defendendo a monarquia,
Paulo, liberal, defendendo a república; mais tarde, quando já implantada a
república, Pedro, o conservador monarquista, aceita o novo regime, Paulo, que
antes defendia, vai fazer-lhe oposição. Paulo torna-se advogado, Pedro, médico.
Por fim os dois tornam-se deputados de por partidos que se opõem. A
narrativa termina com os dois brigados, sem que o narrador saiba nos dizer o
motivo. São essas as palavras do conselheiro Aires “_Mudar? Não mudaram
nada; são os mesmos”. O conflito é algo natural entre eles.
Parece um fado, um determinismo ao qual não podem escapar. Nasceram para serem
rivais, não importa o motivo da rivalidade, o importante é estarem em contenda,
cada um se achando o único e vendo no irmão algo a ser desprezado, não no
físico, por serem semelhantes, mas nas convicções. Em nenhum momento há
sofrimento em qualquer um deles por causa disso. São, portanto, personagens
planas, sem conflitos. Se por um lado Flora agonia-se sem ter como decidir
entre um e outro a qual entregar o seu amor, nenhum deles se dispõe em ceder um
milímetro que seja ao outro.
2.Flora: Objeto de amor e disputa
entre os gêmeos, acaba alucinada por não decidir entre um e outro. Flora é uma
personagem complexa. É o que conselheiro Aires chama de “uma moça
inexplicável”. Ela é assim apresentada no capítulo XXXI:
“Tinham uma filha única, que era tudo o contrário
deles. Nem a paixão de D. Claudia, nem o aspecto governamental de Batista
distinguia a alma ou a figura da jovem Flora. Quem a conhecesse, por esses
dias, poderia compará-la a um vaso quebradiço ou à flor de uma só manhã, e
teria matéria para uma doce elegia.”
Mais adiante, no capítulo LIX, Aires faz-lhe essa
descrição:
“acho-lhe um sabor particular
naquele contraste de uma pessoa assim, tão humana e tão fora do mundo,tão
etérea e tão ambiciosa, ao mesmo tempo, de uma ambição recôndita...”
Para em seguida desabafar: “Que
o diabo a entenda, se puder; eu, que sou menos que ele, não acerto de a
entender nunca.”
Ama igualmente aos dois irmãos,
sente igualmente a falta tanto de um quanto de outro, tem prazer na presença de
ambos. Apesar de dividida por esse amor, o narrador lança sobre ela a suspeita
de um amor confuso, quase, penso eu, querendo deixar transparecer nela atração
homossexual pela mãe dos gêmeos a baronesa Natividade. Veja esse trecho: “Pai
nem mãe podia entendê-la, os rapazes também não, e talvez Santos e Natividade
menos que ninguém. Tu, mestra de amores ou aluna, deles, tu, que escutas a
diversos, concluís que ela era...” É assim mesmo que termina com o uso
das reticências. Mais na frente diz “Pitangueira não dá manga. Não,
Flora não dava para namorados.” O verbo dar, aqui,
está no sentido de “levar jeito”. Alguém pode interpretar da seguinte forma: Flora
não namoraria mais de um rapaz, ou ainda, Flora não tem jeito para
ter namorados, (cap. LXX). No capítulo CV quando Flora está convalescendo,
e Natividade lhe faz companhia há esse trecho:
“Veio visitar a moça, e, a pedido
desta, ficou alguns dias. _ Só a senhora me pode curar, disse Flora; não creio
nos remédios que me dão. As suas palavras e que são boas, e os seus
carinhos...”
Veja novamente o uso das
reticências, isso é muito significativo. No capítulo LXXXIV, lê-se:
“Flora cada vez gostava mais de
Natividade. Queria-lhe como se ela fosse
sua mãe, duplamente mãe, uma vez que não escolhera ainda nenhum dos filhos. A
causa podia ser que as duas índoles se ajustassem melhor que entre Flora e D.
Claudia. A princípio, sentiu não sei que inveja amiga, antes desejo,
quando via que as formas da outra, embora arruinadas pelo tempo, ainda
conservavam alguma linha da escultura antiga.”
Sofreria a menina Flora apenas de
carência materna ou quis maldosamente o narrador deixá-la sob suspeita como
Bentinho deixou Capitu em Dom Casmurro, sendo essa de adultério e
aquela de lesbianismo?
Assim termina a personagem mais
complexa da história:
“A morte não tardou. Veio mais
depressa do que se receava agora. Todas e o pai acudiram a rodear o leito, onde
os sinais da agonia se precipitavam. Flora acabou como uma dessas tardes
rápidas, não tanto que não façam ir doendo as saudades do dia; acabou tão
serenamente que a expressão do rosto, quando lhe fecharam os olhos, era menos
de defunta que escultura. As janelas, escancaradas, deixavam entrar o sol e o
céu.”
A morte de Flora no capítulo CVI,
não põe fim a disputa entre os irmão que continuam a disputar quem a visita
mais cedo ao cemitério, quem se demora mais na visita.
3.Natividade: é a personagem tipo
mãe protetora. A preocupação com os filhos é tão grande que a faz procurar a
vidente para saber-lhe o futuro e fia-se nas palavras vagas como se fosse uma
profecia divina a ser cumprida: “coisas futuras”, “serão grandes”. No penúltimo
capítulo da narrativa, “vai morta a velha Natividade”, “morreu de tifo”. Poucas
semanas antes de sua morte, Natividade participa da posse dos filhos as
cadeiras de deputados, o narrador fez a seguinte ponderação:
“Natividade não quis confessar qje a ciência não
bastava. AA glória cientifica parecia-lhe comparativamente obscura; era calada,
de gabinete, entendida de poucos. Política, não. Quisera só a política, mas que
não brigassem, que se amassem, que subissem de mão dadas... Assim ia pensando
consigo, enquanto Aires, abrindo mão da ciência, acabou declarando que, sem
amor não se faria nada.”
A vida de Natividade vai ser
movida por esses dois objetivos: unir os filhos e vê-los grandes homens.
4. O Conselheiro Aires: a mais
intelectual e experiente de todas as personagens da narrativa. Diplomata
aposentado, elegante e inteligente. Observa, e, em certo ponto, manipula as
pessoas que o cerca. Toma nota de tudo o que acontece no dia a dia de seu ciclo
de amizade, escrevendo o seu Memorial. Não gosta, no entanto, de se
meter em discussão, por isso prefere sempre concordar com o que as pessoas
dizem. Isso pode ser considerado um ato de desprezo, como se nada tivesse com o
que acontece com o outro, como se fora apenas um observador de tudo, um deus
transcendental e não um ser humano imanente. Não tem conflito, chega até a ter
consciência de sua missão cumprida na vida, já velho, aposentado, prepara-se
para deixar a vida sem nenhum desespero nisso.
5.Santos: é o típico capitalista,
bancário, preocupa-se apenas em obter lucros e status. Assim consegue o título
de barão. É o pai provedor de tudo que a família precisa. Espírita, prefere os
conselhos do mestre Plácido as palavras da vidente. Fica meio apagado do meio
para o fim da história. Personagem plana sem conflitos.
6.Os Batistas: são os
país de Flora, essa é a importância deles na narrativa. São apresentados a
partir do capítulo XXIX. “Batista, o pai da donzela, era homem de
quarenta e tantos anos, advogado do cível, ex-presidente de província e membro
do partido conservador”. É um político desarticulado que tenta a
indicação a qualquer custo, motivado pela mulher, D. Cláudia, a indicação para
presidência de uma província. Mais tarde, quando os liberais assumem o poder,
seguindo aos conselhos de D. Cláudia, declara-se liberal. Na iminência que
receber uma indicação para uma província do norte, é proclamada a república e
muda todo o quadro político. Ele e a esposa vão lamentar os fatos. Não há
conflito de consciência entre eles.
7. As demais personagens que aparecem são mais
para completar o quadro que se emoldura em torno dessas personagens
principais. Todavia, entre essas personagens menores, há o Nóbrega, no
princípio da história, o irmão das almas, que mendigava moedas para missas das
almas. E que após receber de Natividade uma doação de 2 mil-réis, prefere
embolsar essa quantia a entregá-la ao sacristão. Daí desparece da narrativa,
vindo aparecer como um rico capitalista, já no final da história e se propõe a
casar com Flora quando essa está na casa da irmã do conselheiro. Como veio a
transformar a doação feita pela Baronesa em fortuna não fica claro na história
narrada.
1- CHINELA TURCA: Em A chinela turca é por intermédio da
visão que a “realidade” se confunde com o sonho. As transições são calcadas na
visão.
A
história se passa na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1850. O bacharel
Duarte prepara-se para ir a um baile, onde encontrará uma jovem com quem está a
namorar há pouco tempo, quando lhe anunciam a visita do major Lopo Alves, velho
amigo da família. Causa-lhe horror a visita àquela hora. O major vem lhe dar a
notícia de que acabara de escrever um drama. O bacharel custa a crer que isso
realmente estava acontecendo com ele, naquela hora da noite, só pensava em
Cecília. Empalideceu quando viu o major abrir o rolo que trazia, seria breve na
leitura, afinal não passava o drama de cento e oitenta folhas manuscritas. O
major começou a leitura, o bacharel mergulhou o corpo e o desespero numa vasta
poltrona de marroquim, resoluto a não dizer palavra para ir mais depressa ao termo.
O
drama dividia-se em sete quadros. Os sentimentos do bacharel não faziam crer
tamanha ferocidade; mas a leitura de um mau livro é capaz de produzir fenômenos
ainda mais espantosos.
Neste
momento o escritor está preparando o leitor para viver o imaginário que a
partir deste ponto da obra vai ser criado pelo bacharel.
Voava
o tempo, e o ouvinte já não sabia a conta dos quadros... De repente, viu Duarte
que o major enrolava outra vez o manuscrito, erguia-se, empertigava-se, cravava
nele uns olhos odiendos e maus, e saía arrebatadamente do gabinete... autor e
drama tinham desaparecido. Por que não fez ele isso há mais tempo?
Mal
tem tempo de suspirar com alegria, quando o empregado vem anunciar-lhe outra
visita. Era a polícia!
Era
acusado de furtar uma chinela turca, preciosa. Duarte suspeitou que o homem
fosse doido ou um ladrão. Não teve tempo de examinar a suspeita, viu entrar
cinco homens armados, que lhe levaram. Meteram-no à força em um carro e
partiram.
No
carro, os homens confirmam as suspeitas de Duarte, eles não eram da polícia.
Chegaram a uma bela casa. Duarte já achava que a chinela vinha a ser pura
metáfora; tratava-se do coração de Cecília, que ele roubara, delito de que o
queria punir o já imaginado rival. Na casa um homem misterioso apresenta-lhe
uma linda moça, muito parecida com Cecília. O homem diz-lhe que três coisas
Duarte vai fazer: casar, escrever o seu testamento; e engolir certa droga do
Levante...
Possuía
uma pequena fortuna, deixaria tudo para a moça e depois morreria. Não, não se
casaria.
Ao
ser chamado, entra um padre, que olha para ele de modo esquisito. Num momento
de distração, o padre revela-lhe que era tenente do exército e que ele deveria
pular a janela e fugir.
Duarte
não hesitou, pulou a Deus misericórdia por ali abaixo. Deu com um segurança,
fechou os punhos e bateu com eles violentamente nos peitos do homem e deitou a
correr. O homem não caiu. Começou então uma carreira vertiginosa.
Cansado,
ferido, ofegante, caiu nos degraus de pedra de uma casa. Um homem que ali
estava, lendo um número de Jornal do Comércio, pareceu não o ter visto entrar.
Duarte fitou os olhos no homem. Era o major Lopo Alves.
O
major exclamou repentinamente: Fim do último quadro.
Duarte
olhou para ele, esfregou os olhos, respirou à larga. O major pergunta-lhe “Que
tal lhe parece?” “Ah! Excelente!” Respondeu o bacharel, levantando-se. “Paixões
fortes, não?” Pergunta-lhe o Major. “Fortíssimas”, responde Duarte.
O
Major despediu-se, eram duas horas. Duarte respirou fundo, foi até a janela e
disse para si mesmo: - “Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me
salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um
pesadelo: foi um bom negócio. Um negócio e uma grave lição: provaste-me que muitas
vezes o melhor drama está no espectador e não no palco.”
2- A IGREJA DO DIABO: Certo dia o Diabo
teve a grande ideia de fundar uma igreja pois estava cansado de ter tantos
súditos e não ter organização, um ritual, enfim estava cansado de não ter
regras.O Diabo pensava que ao abrir uma igreja, estaria destruindo de vez todas
as outras religiões,enquanto as outras se combatiam e dividiam,a igreja do Diabo seria única.Decidido isso ele foi
aos céus avisar a Deus e desafiá-lo.
Chegando
ao infinito azul, o Diabo encontrou Deus e o comunicou sobre a Igreja dizendo
que faria todos os humanos negares suas virtudes e desceu a terra para colocar
seu plano em prática.
Uma
vez na Terra o Diabo não perdeu um minuto, entrou para espalhar uma doutrina
nova e extraordinária. Prometeu a seus discípulos e fiéis as delícias da terra,
todas as glórias. Confessava que era o Diabo para provar para os seres humanos
que ele não era tudo que Deus falava e que também era um pai e podia dar tudo
que fosse pedido. A multidão veio mesmo aos seus pés.
Ele
clamava que as virtudes aceitas deveriam ser substituídas pelas naturais e
legítimas. A soberba, a luxuria, a preguiça foram reabilitadas e assim também a
avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia. A ira e a gula
agora eram muito bem vistas.
Quanto
a inveja, pregou friamente que era a virtude principal, preciosa, que chegava a
suprir todas as outras.
Ele
chamava a fraude de braço esquerdo do homem, o direito era a força.
A
demonstração mais rigorosa e profunda foi à venalidade, dizia ele que era o
exercício de um direito superior a todos os direitos. Se você pode vender a sua
casa, o seu boi, porque não pode vender sua opinião? o teu voto, tua fé? Coisas
que são mais do que sua, porque são sua própria consciência, isto é, tu mesmo?
E
assim o Diabo descia e subia, examinava tudo. Todas as formas de respeito foram
condenadas por eles, a única exceção do interesse.
Para
arrematar a obra entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a
solidariedade humana. Não se devia dar ao próximo nada, a não ser a indiferença
e em alguns casos, ódio ou desprezo. A única hipótese que lhe permitia amar ao
próximo era quando se tratasse de amar a mulher alheia.
As
pessoas foram chegando e a igreja fundara-se, a doutrina propagara-se, não
havia ninguém que a não conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça
que não a amasse.
O
Diabo alcançou brados de triunfo.
Muitos
anos depois o Diabo notou que muitos dos seus fies, às escondidas praticavam as
antigas virtudes, não todas nem integralmente, mas principalmente ligação a
dias católicos e esmolas.
A
descoberta assombrou o Diabo pois haviam casos em todos os lugares.
Não
se deteve um instante, voou de novo ao céu, tremulo de raiva, ansioso para
conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno.
Deus
o ouviu calmamente, não o interrompeu, não o surpreendeu, não triunfou, sequer
daquela agonia satânica.
Pôs
os olhos nele e disse-lhe:
-
Que queres tu? É a eterna contradição humana.
3- A SERENÍSSIMA REPÚBLICA
Publicado primeiramente na "Gazeta de Notícias" em 20 de agosto de 1882, depois incluído no livro Papéis avulsos, "A Serenissima República" é mais um daqueles contos de Machado de Assis em que parece ter, à primeira vista (e só à primeira vista...), um sentido restrito — no caso, "as nossas alternativas eleitorais" — que é logo captado e entendido por qualquer leitor, não obstante a forma alegórica como elas são mostradas. A história começa com um narrador que pede atenção para uma descoberta da ciência brasileira superior a uma outra, promovida por um sábio inglês, que teria sido publicada em O Globo – jornal republicano e de orientação cientificista. A propósito, John Gledson observa que é bastante provável que o artigo mencionado no conto não tenha existido e conclui que a citação desse artigo é uma sátira contra O Globo. E é considerando o contexto dessa sátira ao cientificismo do jornal O Globo que Machado questiona o materialismo científico em voga na época quando faz o cônego Vargas embasar a sua descoberta numa citação de Darwin e Büchner, reputando-os “sábios de primeira ordem”, mas sem absolver “as teorias gratuitas e errôneas do materialismo”. Frise-se: Machado questiona, mas, como era seu costume, não se posiciona, deixa a questão em aberto. Em um primeiro nível de significação, a narrativa do cônego Vargas pode ser lida como uma tentativa de valorizar a produção científica nacional e como um questionamento do materialismo científico em voga no final do século XIX. Como não poderia deixar de ser em Machado, o conto é uma crítica: crítica ao processo eleitoral, feita como um discurso de um cônego, que afirma ter achado uma espécie de aranha que fala, e ter criado uma sociedade delas, chamada "Sereníssima República". Ele escolhe o sistema de eleição baseado no da República de Veneza, onde se retirava de um saco bolas com o nome dos eleitos. Este sistema vai sendo fraudado pelas aranhas, corrigindo-se, adaptando-se e variando-se diversas vezes e de diversos modos, eternamente corrupto. Na vigorosa sátira política ao sistema eleitoral brasileiro formulada por Machado, o cônego Vargas tenta, com sucessivos experimentos, dar organização social às aranhas. O conto termina sem que essa pretensão tenha sucesso, uma vez que as facções políticas e individualidades em confronto sempre darão um jeito de burlar os sistemas eleitorais instituídos. Roberto Da Matta, aliás, é um dos admiradores entusiastas desse conto e certa feita sentenciou: "como diria um dos meus escritores brasileiros favoritos, o velho Machado de Assis, 'a sereníssima República do Brasil' continua repousando em berço esplêndido, tocada pelas mesmas sestas que transformavam o Brasil nas leis e não nas suas práticas sociais mais arraigadas". Até aí, tudo bem, dentro de certas normalidade e formalidade narrativas. Mas trata-se de Machado, afinal, e recomenda-se ao leitor cuidadosa leitura, prestar atenção ao articulado processo político que está sendo construído, principalmente, quando o narrador lança mão de recursos que podem provocar "audaciosas interpretações...". E como se trata de Machado, nada é somente o que parece ser, à primeira vista e à primeira leitura: seu contumaz narrador — em primeira-pessoa —, a par da crítica política, faz uma inquirição a respeito da alma exterior do homem. Por meio de uma alegoria eleitoral, sob a forma de uma conferência de um cientista, Machado discursa a respeito do homem e da sociedade que ele constrói — algo como sendo o homem de múltiplas faces, cabe buscar a perfeição, tentar driblar a própria natureza; para tanto, não importam os outros ,e sim seu interesse pessoal, e aqui manifesta-se, mais uma vez, um tema caro a Machado: a discussão sobre a Ciência e a Filosofia, já feita por exemplo em O alienista e em contos como "A causa secreta" — ambos críticos com relação às correntes filosóficas em voga na segunda metade do século XIX (o determinismo, o cientificismo, etc.) e como a ciência (aliada ao poder político) pode levar o homem a se perder na variedade inexplicável dos indivíduos. Mas como sempre em Machado, também em "A Sereníssima República" pode-se perceber a intenção do autor em analisar as cruéis relações de dominação entre seres iguais, todos subjugados por um sistema político e social marcado pelo autoritarismo, mas que não hesitam em reproduzir e legitimar a opressão de que são vítimas. E ad eternum, o que mais interessa a Machado não é a denúncia explícita e panfletária de certos males da sociedade brasileira, como o sistema político e eleitoral, as diferenças sociais, a escravidão ou a violência, mas retratar (e levar o leitor à reflexão) o modo pelo qual esses males se agregam ao cotidiano das relações humanas. Como todos sabemos, o que de mais significativo se extrai da leitura dos contos de Machado de Assis é a impossibilidade de respostas prontas e acabadas diante do mistério essencial que habita o ser humano e que responde pela motivação de muitos de seus atos. 4- UM ESQUELETO Em uma praia, 10 ou 12 rapazes estavam reunidos. Conversavam sobre vários assuntos, até que um deles resolveu elogiar a língua alemã, e outro concordou. Assim, Alberto disse que aprendera alemão com o Dr. Belém, um homem que escrevera um livro de teologia, um romance e descobrira um planeta. Não encontrou editor para os livros, e a carta enviada para atestar a descoberta do planeta perdera-se.
O narrador obtém a atenção de todos quando prova a excentricidade do Dr. Belém contando-lhes a história de um esqueleto.
Em Minas Gerais, um dia Alberto conversava com o Dr. Belém, na porta da casa deste. Alberto perguntou se o Dr. Belém já tinha sido casado e este disse-lhe que fora casado. Dr. Belém convidou Alberto para ir até seu gabinete lá mostrou ao jovem o esqueleto de sua primeira esposa. Alberto ficou aterrorizado. Porém o jovem deu uma nova idéia ao Dr. Belém: o casamento. Dr. Belém escolheu a jovem viúva D. Marcelina para ser sua nova esposa. Embora ela tivesse apenas 26 anos e fosse cortejada pelo tenente Soares, Dr. Belém durante três meses insistiu no pedido de casamento. D. Marcelina sempre negou. Porém, passados os três meses, D. Marcelina aceita o pedido de casamento do Dr. Belém. Todos estranharam tal união, não era por dinheiro, tampouco por amor pensavam os convivas.
Dr. Belém tinha 50 anos, mas aparentava 60, vestia-se de forma estranha e devido à sua aparência física era chamado de defunto ou lobisomem. No entanto, o casamento aconteceu e Dr. Belém transformou-se. Passou a vestir-se conforme o gosto da esposa, e sua casa encheu-se de alegria Alberto era o único o freqüentar-lhes a casa, assim convivia com a alergia daquela morada. Um dia, não podendo ficar para almoçar na casa do casal, pediu para ficar algum tempo no gabinete para terminar a leitura de um romance. Estranhou o silêncio do casal e, ao ir despedir-se, viu que, à mesa, sentado com o casal estava o esqueleto. Horrorizado com aquela cena, decidiu não freqüentar mais aquela casa. Entretanto, um dia Dr. Belém cobra-lhe a visita e diz-lhe que o amigo deveria fazer-se presente na casa do casal. Alberto decide ir, pois ele era a única pessoa normal com quem D. Marcelina tinha contato.
Além das três pessoas, durante um jantar, estava à mesa o esqueleto. Alberto percebe o constrangimento de D. Marcelina e pede ao amigo uma explicação para aquela situação absurda. Dr. Belém diz-lhe que queria que as duas esposas se dessem bem ou que a primeira serviria do exemplo à segunda. Dr. Belém contou que matou sua primeira esposa com as próprias mãos, pois ela o traíra. Uma carta anônima tinha denunciado o adultério. Porém, mais tarde, Dr. Belém soube que mora um engano, uma mentira. Não houve traição, mas a primeira esposa, Luisa, deveria servir como exemplo à segunda caso esta não cumprisse suas obrigações de esposa. Alberto deixa a casa do casal disposto a não voltar mais.
Não entendeu aos chamados do amigo, mas, em 15 dias, recebeu um bilhete de D. Marcelina, que dizia que ele em a única pessoa normal com quem tinha contato. Apiedou-se da jovem Senhora e lá foi. Surpreendeu-se com um anúncio e um pedido. Dr. Belém diz-lhe que fará uma viagem ao interior e pede-lhe para fazer companhia a sua esposa. Temeroso, Alberto diz não ao pedido, mas não havia outra pessoa. Assim, Alberto faz a irmã e o cunhado hospedarem a esposa do Dr. Belém. Passados alguns dias, Dr. Belém manda-lhes uma carta, pedindo que Alberto levasse ao seu encontro D. Marcelina. Mais uma vez, Alberto convence a irmã e o cunhado a viajarem ao encontro do Dr. Belém. Era indispensável que levassem com eles o esqueleto. Ao completarem a viagem a esposa e o esqueleto são entregues ao Dr. Belém. Ao despedirem-se, a fim de voltar a cidade, o Dr. Belém persuade a todos a esperarem por ele. No outro dia pela manhã, Dr. Belém convida sua esposa e o amigo Alberto para um passeio na floresta. Alberto seguia o casal que caminhava em silêncio. Quando chegaram a uma clareira, lá estava sentado o esqueleto, Dr. Belém tirou uma carta do bolso e disse aos jovens que sabia de tudo, que eles não o enganariam mais. D. Marcelina começou a chorar e Alberto, em vão, tentava explicar a situação. Até que Dr. Belém disse que entendia tudo, pois eles eram jovens e amavam-se e por isso deveriam ficar juntos. Dito isso, agarrou-se ao esqueleto e correu para a mata. Alberto não o pode perseguir, pois precisou auxiliar D. Marcelina que se desesperava. Dr. Belém recebera a carta do tenente Soares, porque este estava despeitado devido à escolha da jovem.
Todos os rapazes escutaram a história com a maior atenção e um deles disse a Alberto que o Dr. Belém era verdadeiramente um doido. Alberto nu e disse-lhe que o Dr. Belém teria sido um doido se tivesse existido. 5- A MULHER PÁLIDA 6- A VIDA ETERNA Esta é apenas a parte um, as demais se encontram no Youtube. Basta dar uma passadinha por lá. 7- UM SONHO E OUTRO SONHO 8- UMA EXCURSÃO MILAGROSA Click aqui para ler o conto 9- SEM OLHOS Click aqui para ler 10- O PAÍS DAS QUIMERAS Click aqui para ler