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15 de nov. de 2016

Análise literária O amanuense Belmiro

O AMANUENSE BELMIRO – Cyro dos Anjos

Belmiro: a paralisia por excesso de análise




Publicação: 1937
Sobre o autor e o período literário
Nascido em Montes Claros, Minas Gerais, Ciro dos Anjos é considerado um dos grandes representantes da literatura brasileira. Embora seu trabalho não tenha tido o reconhecimento merecido na época de sua publicação, pelo fato de não trabalhar diretamente na linha da denúncia social, atualmente tem sido objeto de estudo de grandes críticos e teóricos brasileiros, que apontam sua produção como modelo de refinamento e requinte O Amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos é o livro de estreia desse mineiro que integrou a geração modernista de 1930.
            Na década de 30, as obras literárias de maior reconhecimento eram aquelas que abordavam as misérias sociais de determinadas  regiões do país em tom de denúncia, mas que nem sempre traziam em sua constituição o requisito fundamental para a construção de um bom texto literário: a elaboração estética sofisticada. Ciro dos Anjos é um dos artistas que constituem a exceção nesta época em que há um certo desinteresse do público pela forma e uma supervalorização dos conteúdos relacionados às questões sociais.     Antes de iniciar seu trabalho como romancista, Ciro dos Anjos cursou a Faculdade de Direito em Belo Horizonte e trabalhou em diversos jornais como Diário da Tarde, Diário do Comércio, Diário de Minas, A Tribuna, ocupando primeiramente o cargo de repórter e posteriormente o de redator. Em sua atividade jornalística veio a conhecer escritores como Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura e João Alphonsus. Nesse período, iniciou a escrita de crônicas, que foram o germe para a constituição de seu primeiro romance O Amanuense Belmiro, publicado em 1937. Exerceu várias funções públicas ao longo de sua vida e chegou a ocupar o cargo de Subchefe do Gabinete Civil da Presidência da República em 1957. Foi professor de Estudos Brasileiros no México e em Portugal e assumiu a função de professor do Instituto de Letras da Universidade de Brasília. Todo esse percurso profissional atribuiu a Ciro dos Anjos um grande conhecimento sócio-cultural. Em sua carreira como escritor literário, publicou também os romances Abdias (1945) e Montanha (1956); o ensaio A Criação Literária (1954), publicado em Coimbra; um livro de memórias intitulado Explorações do Tempo (1963); além do livro Poemas Coronários (1965).
Em O Amanuense Belmiro, Ciro dos Anjos lida com os problemas do ser humano num tom profundamente penetrante, fazendo com que escritor e leitor se identifiquem. Não se trata de um romance que se imponha de fora para dentro, mas sim, que se insinua lentamente na sensibilidade, identificando-se com a própria experiência do leitor (CANDIDO, 1945).

VISÃO GERAL:
De linhagem psicológica, revelando profunda influência machadiana, porta-se como observador perspicaz e contido, utiliza-se frequentemente de uma fina ironia, do pessimismo amargo e revela-se continuador da tradição memorialista que foi comum no romance do século XIX.
O Amanuense Belmiro é narrado em primeira pessoa por Belmiro Borba, personagem central, homem tímido e sonhador, ao mesmo tempo dotado de grande capacidade de observar a si e aos outros. Solteirão e empregado de repartição pública, em que era amanuense (encarregado geralmente de fazer cópias e/ou ofícios), vive em Belo Horizonte com duas irmãs mais velhas. Em uma noite de carnaval contempla uma jovem desconhecida, identificada posteriormente como Carmélia, por quem se apaixona, mas mantém-se distante, nunca revelando seus sentimentos. Paralelamente, vai sequenciando uma série de meditações que surgem a partir de conversas com um grupo de amigos (Jandira, Silviano, Redelvim, Florêncio, Glicério). Ao mesmo tempo relembra a infância, fazendo coincidir a amada Carmélia, que ele chama de donzela Arabela, com uma antiga namoradinha. Em tudo, Belmiro refugia-se nos sonhos, nas ilusões, raramente enfrenta a realidade, é incapaz de ações incisivas. O mundo pequeno desse homem é revelado gradativamente, por meio de uma espécie de diário, em que procuraria registrar cenas do cotidiano e reflexões e recordações.

LINGUAGEM E FOCO NARRATIVO


FOCO NARRATIVO: Romance narrado em primeira pessoa.
LINGUAGEM: Uso de linguagem depurada, com uso de coloquialismo.
“- Mais amor e menas confiança, disse o magro, fingindo-se zangar.
  - Mancou, mesmo, prosseguiu. A sodade apertou, veio ver a nega e foi encanado. (...)”
“Miudinha, interessante, potelée ( gorda, roliça ). Sim, potelée é o termo justo, continuou, preocupado com a precisão vocabular: só os franceses é que classificam bem as mulheres.”
·         Belmiro, como literato, usa muitas expressões eruditas em latim e francês.
·         Atento à linguagem do outro, Belmiro reproduz a fala italiana de Giovanni, as expressões em inglês do vizinho Gouveia e de um português que o salvou de um acidente no Rio, além da linguagem rústica de suas irmãs, do interior de Minas.

ESPAÇO, TEMPO E CONTEXTO HISTÓRICO


Espaço: A narrativa como um todo se desenvolve em Belo Horizonte, nos anos 30. A história se desenvolve em Belo Horizonte, com passagens na cidade natal de Belmiro (Vila Caraíbas) e uma viagem ao Rio de Janeiro. Na terra carioca, o narrador faz referência à diversas intertextualidades machadianas.
Tempo: A obra apresenta tempo cronológico:
- Início: Natal de1934
- Fim: após o carnaval de 1936.
Não se pode descartar o uso do tempo psicológico: as reflexões, considerações e memórias de Belmiro.
Contexto histórico: O ano de 1935 foi marcado por manifestações comunistas.
·         Surge a Aliança Nacional Libertadora, com Luís Carlos Prestes como presidente.
·         Estouram algumas revoltas em Recife e Olinda, quando Getúlio Vargas manda fechar a ANL.
·         É retratado no livro a revolta no Rio, quando Redelvim ( anagrama de “vem líder”) é preso.
·         São citadas ainda a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932.

ESTRUTURA E ANÁLISE DA OBRA

As recordações de Belmiro foram organizadas por ele em forma de um diário, formato bastante inovador na época. Através dele, a personagem passa as informações ao leitor de uma forma mais amena, trabalhando com mais intensidade o interior, o psicológico, a subjetividade, de maneira que as informações exteriores são apresentadas apenas como complemento.
Em sua roda de amigos, Belmiro representa a figura do conciliador, tentando apaziguar as diferenças e suavizar o impacto da franqueza. Ele possui a vocação para discernir entre a palavra rude e a agradável, com diversas gradações entre os dois extremos. Por supervalorizar a forma com que se expressa uma ideia, acaba por hesitar em certos diálogos e até a arrepender-se em outros. Após a conversação, Belmiro se dedica a examinar incessantemente tudo o que foi dito, rememorando as gafes e expressões faciais, dissecando a estrutura de cada frase. A comunicação plena só ocorre através do diário. Tanto na família quanto no contato com os amigos ou com outros grupos sociais, predomina a atitude gauche. O amanuense apega-se ao diário como tábua de salvação, mas esse pode converter-se em morte, visto que comunicando-se apenas através do diário pode aniquilar-se como sujeito social. Nesse caso, o diário pode representar uma armadilha, levando a personagem a crer que é mais fácil estetizar a vida do que lidar com ela:
“Este caderno, onde alinho episódios, impressões, sentimentos e vagas idéias, tornou-se, a meus olhos, a própria vida, tanto se acha embebido de tudo o que de mim provém e constitui a parte mais íntima de minha substância” (p. 74).
Para Belmiro, sua vivência se constitui da escrita, da reflexão, da imaginação e não da realização de seus desejos e expectativas. Ele encontra dificuldade em expor seus sentimentos para as outras pessoas, e o papel em branco torna-se o espaço ideal para o desabafo, para a confissão sem reservas. No entanto, essa atitude escritural leva-o ao afastamento da realidade e o coloca à margem da sociedade, posto que se resigna a escrever ao invés de atuar.
Para o grupo de amigos, Belmiro não passa de um homem sem perspectivas, um conformista que se contenta em viver uma vida sem grandes emoções a fim de se manter longe do conflito. O fato, porém, é que Belmiro possui uma sensibilidade muito aguçada, uma alma de artista, e seus conflitos interiores são tantos, sua percepção da vida é tão refinada, que ele acaba por afastar-se das pessoas (sem a intenção de fazê-lo) por medo de ser incompreendido.

O CONFLITO INTERIOR
O amanuense é infeliz. É um lírico não realizado, solteirão nostálgico. Chegou quase aos quarenta anos sem nada ter feito de apreciável na vida. Sonha, carrega nas costas a enorme trouxa de um passado de que não pode se desprender, porque dentre dele estão as doces cenas da adolescência. De repente, uma noite de carnaval lhe traz a imagem de uma donzela gentil. O amanuense ama, mas à sua maneira: identificando a moça de carne e osso, que mal enxerga de quando em vez, com uma imagem longínqua da namorada da infância, ela própria quase um mito – um mito como a donzela Arabela.
            Belmiro, então, se entrega ao presente; mas não o vive. Submete-se, e readquire o equilíbrio da autoanálise. Sabe que não lhe adianta pensar em como as coisas seriam se não fossem o que são, e concluindo que “a verdade está na Rua Erê”, isto é, na sua casinha modesta e o seu cotidiano, recita com o poeta:
            “Mundo mundo, vasto mundo
            Se eu me chamasse Raimundo
            Seria uma rima, não seria uma solução
            Mundo mundo, vasto mundo
            Mais vasto é o meu coração.”

Os literatos na obra não são descritos como homens comprometidos com a realidade social, mas sim como homens entregues aos seus conflitos interiores imaginários, dotados de um lirismo que os impossibilita de viver a vida de forma prática e objetiva. A falência, o fracasso de Belmiro na vida profissional aparece no texto como consequência de sua veia lírica, visto que ele se enquadra perfeitamente no protótipo de romântico sonhador. Seus amores são impossíveis e se repetem no decorrer de sua vida, o passado se apresenta como arquétipo do que se processa no presente: Carmélia (seu amor idealizado no presente) surge como uma forma de evocação de Camila (namorada do passado) ou mesmo do mito de Arabela que o acompanha desde a infância, pois o amor é vivido pela personagem sempre por meio da fantasia. Essa postura do amanuense, vinculada ao mito romântico, é anacrônica em 1930, já que se trata de um período no qual se exige atitude do escritor e não se espera que esse seja um gênio romântico. A relação de Belmiro com a literatura é bastante significativa e seu desejo de escrever um livro mostra-se constante e persistente: É plano antigo o de organizar apontamentos para umas memórias que não sei se publicarei algum dia
 (...) Sim, vago leitor, sinto-me grávido, ao cabo, não de nove meses, mas de trinta e oito anos. E isso é razão suficiente (...) O melhor seria vivermos sem livros, mas o homem não é dono do seu ventre, e esta noite insone de Natal (as sinistras noites de insônia, responsáveis por tanta literatura reles!) traz-me um desejo irreprimível de reencetar a tarefa cem vezes iniciada e outras tantas abandonada ( p.14).
A personagem acredita que “o melhor seria vivermos sem livros”, pelo fato de que esses incitam o pensamento e a reflexão. Viver sem eles significaria viver sem complexidade, sem atitude crítica, o que o amanuense julga ser o melhor, contudo, ele se sente dotado de uma força interior, de um “desejo irreprimível” que o impulsiona à reflexão como ocorre com tantos outros seres dotados de sensibilidade e lirismo. Conforme seu argumento, “o homem não é dono do seu ventre”, daí a existência de tantos livros. Nesse trecho, o projeto de elaboração do livro aparece como uma escrita gestada, o que remete à discussão a respeito da dificuldade de escrever e da vocação do escritor.

O CONFORMISMO EXTERIOR
A atitude romântica de Belmiro diante dos problemas e circunstâncias que a vida lhe impõe leva-o a uma posição de aparente conformidade. Havendo fracassado tanto na tentativa de tornar-se fazendeiro, segundo a vontade de seu pai, quanto no propósito de formar-se bacharel, de acordo com o desejo de sua mãe, devido aos devaneios românticos e aos atos impensados de sua mocidade, o narrador-personagem aceita a interseção de seu pai junto a um político influente a fim de conseguir-lhe um emprego que lhe permita suprir as necessidades básicas do dia-a-dia. Conforme afirma, “mais tarde um deputado me introduziu na burocracia” (p. 11). Belmiro só conseguiu um emprego público em razão do sistema de favoritismo tão vigente no Brasil há séculos. Se por um lado Belmiro foi favorecido com um cargo público, por outro tornou-se um integrante do sistema, sendo-lhe vetada, assim, a crítica exaltada. Isso explica de certa forma sua atitude amena, indiferente perante as ideologias sociais vigentes na sociedade da época.
Com relação às posições político-ideológicas de seu círculo de amizade, o amanuense comenta: “Enquanto Glicério e Silviano se inclinam para o fascismo, Redelvim e Jandira tendem para a esquerda. Só eu e Florêncio ficamos calados, à margem” (ANJOS, 1979, p. 33). Por não assumirem uma postura crítica com relação à situação do país, Florêncio e Belmiro se tornam seres marginais até mesmo na roda de amigos. Essa posição marginal de Belmiro se deve tanto à sua veia de observador, que, com um olhar analítico, tenta enxergar o interior das pessoas por detrás das palavras exaltadas e não se coloca dentro da discussão, quanto pelo fato de estar em grande parte do tempo absorto em suas questões interiores, nos mitos, nas artes.
As pessoas veem Belmiro como um homem conformista, acomodado com o que lhe é posto e com uma visão superficial da sociedade, as observações que os amigos fazem a seu respeito aludem a essa imagem. Jandira o intitula “analgésico”, ou seja, aquele de espírito dormente, que atua como calmante, evitando a todo custo qualquer tipo de conflito, um ser passivo diante das circunstâncias que a vida lhe impõe.
Se na vida social Belmiro é visto como um ser omisso, em seu diário expõe seus pontos de vista e desenvolve reflexões profundas a respeito da atitude das pessoas e da posição em que se colocam diante da sociedade. Seus apontamentos são bastante lúcidos e coerentes. No entanto, quando se trata de analisar a si próprio, Belmiro parte de uma visão derrotista, remoendo pensamentos negativos, encaminhando-se sempre para a comprovação de que não há possibilidade de transformação em sua vida pacata e, em certo grau, estéril. Com respeito ao campo sentimental, o amanuense expõe: “Lembra-te, Belmiro, de que essas bodas são impossíveis (...) Carmélia é fina, jovem, rica. É da alta, como diz Glicério (...) É inútil que faças projetos” ( p.38). Belmiro vê a diferença social, cultural e econômica como uma muralha intransponível para a realização desse amor. Em seu ponto de vista, seu amor por Carmélia representa algo impossível, acredita ser inútil qualquer esforço para conquistar a moça, porém, não desiste de amá-la e continua a alimentar esse sentimento que, segundo ele, está destinado ao fracasso e à desilusão. O fato de continuar alimentando essa paixão não realizável demonstra ser ele um homem sem ambições, já que prefere viver de ilusões a lutar por realizações. Por outro lado, de certa forma, essa atitude é também poética: Belmiro prefere viver da ilusão de amar a ter que se defrontar com a dor de ser rejeitado por esse amor não correspondido.
No fundo, Belmiro não está satisfeito com a vida que leva, todavia, não encontra forças que o impulsionem a romper com esse cotidiano repetitivo e previsível: Pouco antes de sairmos o jovem bacharel voltou à minha mesa para dizer que, um dia destes, abandonará a Seção. O Senador Furquim lhe obteve uma comissão no gabinete do Advogado Geral do Estado (...) Sua retirada dá-me uma sensação de desamparo. Já não terei com quem conversar na Seção. E, ao escrever estas notas, penso também em outra coisa: os outros se movimentam, rompem, progridem, mas, enfim, se deslocam. Só eu resto e envelheço nesta vida modorrenta (p.170-171).
Enquanto analisa o sofrimento, não vive, mas busca transformar a vida em literatura. Ele busca a literatura como salvação, mas essa não pode salvá-lo.

O AMANUENSE BELMIRO: A BUSCA PELA CONCILIAÇÃO ENTRE O SOCIAL E O INTIMISMO
Embora em seu romance Ciro dos Anjos não busque trabalhar ostensivamente as ideologias vigentes na sociedade brasileira, elas aparecem em segundo plano, permeando toda a obra, dado que seus personagens representam tipos sociais muito comuns do quadro cultural da época. Belmiro representa a figura do burocrata lírico, Silviano a do filósofo conservador, Redelvim espelha a imagem do sujeito revolucionário comunista de ideias inovadoras, Jandira ocupa a posição da mulher feminista de ideias socialistas, Carmélia a da jovem burguesa que é educada para ocupar o lugar da esposa ideal, dama da sociedade.
As questões sociais figuram em sua obra como elemento de reflexão da personagem central, Belmiro, que se encontra entre o ceticismo analítico e o lirismo romântico. Sua ótica vacila entre o espírito bem humorado, irônico, e o espírito melancólico. Assim, a narrativa que aparentemente busca retratar alguns fragmentos da vida social e os conflitos interiores de um homem comum (sujeito que se coloca no mundo sem causar grandes transformações ou alcançar conquistas notáveis), embebido de um espírito lírico, romântico e sonhador, dotado de um olhar analítico que o paralisa, abriga em seu interior a visão de um escritor que compreende muito bem a função da literatura na sociedade e  tece críticas a respeito de certos pontos de vista imediatistas que não passam de posturas românticas diante dos problemas da sociedade brasileira na década de 30.
Ao criar a personagem Belmiro, Ciro dos Anjos discute a relação existente entre a sociedade e o intelectual do período em questão, ressaltando que, independente das pressões que o escritor possa sofrer, esse deve manter-se sempre fiel à sua arte e escrever com consciência sem abrir mão do valor artístico de sua obra. Tratar de temas intimistas não significa alienar-se; não tomar partido ideológico na escrita não representa não refletir na situação social do país, significa apenas fazer valer a liberdade criativa, não podando a imaginação e a experimentação estética em razão de uma tendência literária (realista-documental

PERSONAGENS
·         Belmiro Borba Funcionário público. Medíocre, tímido, fracassado, tenta evadir-se para o passado escrevendo um diário.  Nele coexistem o lírico e o analista (“A vida estrangulada pelo conhecimento.”)
·         Silviano intelectual mergulhado em profundas questões filosóficas. Tem tendências aristocráticas. Apesar de ser casado, tem vários relacionamentos amorosos.  Extravagante, de imaginação inquieta, tem facilidade em mentir “A mentira é a base da ordem doméstica.” Proximidade com Quincas Borba, personagem de Machado de Assis.
·         Francisquinha e Emília     - São irmãs de Belmiro: onstituem o lado louco e rústico da família Borba. - Constituem o lado rural e interiorano na casa da  Rua Erê.
·         Florêncio   - Flor de pessoa, homem simples. Incorrigível bebedor de chope. “Homem sem abismos, homem linear.”
·         Jandira - “Mel de Abelha”. Belmiro nunca tentou conquistá-la “mais por timidez do que virtude.” Belmiro é seu confidente.
·         Glicério “Doce, amável.” Bem mais jovem do que Belmiro. Trabalhou na secretaria de Fomento. Tornam-se confidentes e apaixonados pela mesma mulher.
·         Redelvim Seu nome significa “Vem Líder”. É um revolucionário. Inconformado com as ideias aristocratizantes de Silviano e a vida burguesa de Belmiro. Preso, na revolta comunista do Rio.
·         Outros Destacam-se, ainda, o vizinho Prudêncio, com sua mania de falar inglês; o vizinho Giovanni e seu filho Pietro, encarnando o sentimentalismo melodramático dos italianos; Carmélia Miranda, responsável pela criação do mito de Arabela; Carolino, o contínuo da secretaria que ganha amizade de Belmiro e de Emília; Jerônimo, estudioso da filosofia de S. Tomás de Aquino; Jorge Figueiredo, noivo de Carmélia, e alguns eventuais amigos de Jandira – além de sua tia Hortênsia -, o Barroso, a professora Alice e o doutorando Dr. Leão.

ENREDO

            O enredo de “O Amanuense Belmiro” é simples. São passagens do cotidiano ocorridas em determinadas épocas do ano e destacadas por datas significantes tais como Natal, Ano Novo, Carnaval, São João, etc.
            Tudo se inicia com uma nova rodada de chope numa véspera de Natal entre os amigos Belmiro (o protagonista), Florêncio, Silviano, Jerônimo, Glicério e Redelvim. O universo do bar representa um espaço democrático marcado pela presença de estrangeiros, negros, proletários etc, compondo o quadro de mescla da sociedade brasileira da dé- cada de 30. Após alguns chopes, cada um vai para seu lado despedindo-se e desejando “Merry Christmas”.
            Belmiro chega a sua casa que fica a Rua Erê, onde mora com duas velhinhas: Emília e Francisquinha, adotadas por ele. Elas resmungam, xingam-no de “Excomungado”, mas gostam dele. Ele ignora esse comportamento das velhinhas por saber que já estão caducas.
            No Ano-Novo revê Jandira, uma antiga paixão que nunca se concretiza. Durante toda a história vamos encontrando reflexões do protagonista sobre a vida, o comportamento das pessoas, enfim, o mundo.
No Carnaval, mistura-se à massa dos foliões e entre muitas fantasias descobre um braço com uma mão branca e fina que o enlaça. Era Carmélia Miranda que Belmiro chama de Arabela. É quando o amanuense descobre o amor. Reencontra Jandira que diz estar pretendida por um candidato ao qual não quer corresponder. Belmiro então diz a ela que esta à disposição.
            Francisquinha piorou em sua demência cuidando de uma ninhada de ratos que descobriu sob o assoalho.
            Chegam as festas juninas e Belmiro fica refletindo sobre a poesia própria que esses dias suscitam.
            Em 25 de Agosto de 1935 Belmiro completa 38 anos e apesar da loucura de Emília, ela ainda lembra da data e fala para Belmiro, o que o deixa emocionado. Belmiro pressente que seu grupo de amigos está se dissolvendo, como consolo ainda pensa em Carmélia.
            Francisquinha piora de saúde.
            Mais alguns encontros com os amigos e velhas filosofias que retornam. No entanto, Belmiro está fazendo um grande esforço para mantê-los unido.
Novembro, dia de Finados. Belmiro resolve dar uma volta pelo cemitério e tem um mau pressentimento. Francisquinha volta do hospital, mas durante três dias seu quadro piora.
            Emília cuida dela como se cuidasse de uma criança. Francisquinha não resistiu uma semana e falece. Emília foi mais forte que Belmiro, até mesmo na hora de arrumar o corpo para o enterro.
Redelvim foi preso sob alegação de se apresentar como comunista. Belmiro é envolvido no problema, mas sem grandes complicações consegue sair do problema.
            Na manhã de 3 de Dezembro é anunciado o casamento de Carmélia Miranda com Dr. Jorge de Figueredo. Belmiro surpreende-se com a calma que recebeu a notícia. Achou que quando isso acontecesse, ficaria muito abalado, porém, não.
Novas conversas com os amigos e mais filosofia.
            No capítulo 64 há um flash-back que mostra Belmiro, Francisquinha e Emília enfrentando problemas com a Revolução de 30.
            Casamento de Carmélia. Belmiro anuncia o fim do grupo chegando às seguintes conclusões: Redelvim é um anarquista, Jandira, socialista; Silviano, um intelectual que não se mistura; Florêncio, um simples burguês que não opina; Glicério, um aristocrata.
            Belmiro fica mais resignado e reflete sobre a dissolução do grupo: “Por que hão de os homens separar-se pelas ideias? De bom grado, eu sacrificaria minha ideia mais nobre para não perder um amigo. Neste mundo sou apenas um procurador de amigos”.
            Mais um natal. Belmiro está em casa e Emília volta da missa. Nada de novo.
            O casamento de Carmélia está marcado para o dia 15 de janeiro do ano seguinte (1936). LITERATURA DECLARADA COMO SALVAÇÃO: “Quem quiser fale mal da literatura. Quanto a mim, direi que devo a ela a minha salvação. Venho da rua oprimido, escrevo dez linhas, torno-me olímpico”.  São as palavras de Belmiro para mostrar seu desabafo diante da vida.
            Belmiro está na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e diz que os cariocas não sabem o valor que tem o mar para os mineiros.
            Passa por alguns lugares citados nas obras machadianas.
            Volta para Minas Gerais e constata mais uma vez que “a verdade está na Rua Erê” (local em que mora): sentimento de completude dado pelo lugar do nascimento.
            Sentindo a angústia da solidão, Belmiro vai procurar Silviano. Após alguma ausência, ele surge e os dois têm uma conversa filosófica.
Manhã de 28 de Fevereiro de 1936, Belmiro dá um passeio e observa os jovens alegres nas ruas. Sente também uma alegria e seus olhos se iluminam como se fosse jovem outra vez. Os amigos voltam a se reunir para um chope. Belmiro fica um tempo sem escrever em seu diário e afirma que sente novamente a vida vazia.
Belmiro ganha um bloco de papéis para continuar a escrever de Carolino, um amigo, mas diz a ele que já não precisa desse material, porque já não há mais nada para escrever.


 

Análise literária Contos Murilo Rubião

O fantástico e a condição do absurdo humano nos contos de Murilo Rubião


Murilo Rubião – Biografia

Murilo Eugênio Rubião
Nasceu  em  Silvestre  Ferraz,  hoje  Carmo  de  Minas  MG,  no  ano de  1916.  Formado  em  Direito,  foi   professor, jornalista,    diretor    de    jornal    e    de   estação    de    rádio (Rádio Inconfidência).  Criou o primeiro Suplemento Literário de Minas Gerais e, envolvido sempre em política, foi Oficial de Gabinete do Governador Juscelino Kubitschek. Morreu em 1991 com 33 contos produzidos, sendo três desses publicados postumamente. Nos anos de glória do romance nordestino, Rubião, que se esperava realista dado o período em que publica seu primeiro livro, revela-se na contramão dessa corrente, pois retrata a realidade por meio da fantasia, dando vazão ao Realismo Maravilhoso.
A  preferência  pela  escrita  fantástica,  em  detrimento  aos  aspectos  da geração  de  1940,  cujas narrativas se voltavam  para a discussão das questões mais sociais, levou-o  a figurar  de modo ínfimo nas tradições literárias no  Brasil.  Todavia, atualmente,  os  contos  de Rubião  constam  em  antologias  e em apresentações em congressos ao redor do país. Os contos são carregados de questões concernentes à contemporaneidade, partindo de narrativas fantásticas que apontam para o absurdo da vida contemporânea.
A obra de Murilo é critica ferrenha da postura conformista do homem diante dos angustiosos problemas da vida.

O realismo fantástico

Os contos de Murilo Rubião filiam-se a uma vertente conhecida como realismo fantástico, ou realismo mágico. Trata-se de uma corrente literária interessada em construir narrativas em que acontecimentos inexplicáveis e/ou impossíveis (do ponto de vista lógico ou científico) adentram o universo real (tal qual o conhecemos) sem terem sua existência questionada. Produz-se, assim, um efeito de estranhamento no leitor, que se defronta com cenas absurdas em situações absolutamente cotidianas.
Onirismo e Surrealismo são marcantes, já que a obra aborda situações inusitadas, dignas de uma cena de sonho, de delírio.
Já se estudaram, no contista, o zoomorfismo, o cromatismo, inúmeras aparências de metamorfose, a tensão entre o prodígio e a frustração, entre a transcendência e a contingência, e, às vezes, entre a onipotência e a mera impotência.
O próprio conto “O Ex-mágico da Taberna Minhota”, um clássico de Murilo Rubião, ilustra o encontro de duas culturas: aquela em que tudo é possível e a outra, na qual nada é permitido.


A questão das epígrafes
PROFETISMO EM QUE PREDOMINA A NEGATIVIDADE

Uma característica peculiar à obra de Murilo Rubião é o uso  das epígrafes bíblicas colocadas no início de cada livro e de cada conto. Elas apontam, de maneira simbólica, a temática a ser abordada. Isso não quer dizer que os contos tenham conteúdo cristão. As epígrafes resumem de modo universal o conteúdo do conto.
O uso dessas técnicas e temas fantásticos funciona não só  como recurso para prender o leitor numa leitura prazerosa e de distração. Mais do que isso, assume uma função crítica. Isto é, o fato sobrenatural e fantástico é um recurso da imaginação para remeter-nos aos conflitos de nossa própria existência. É assim que Murilo Rubião desvenda em seus contos os grandes dramas da natureza humana.
Os personagens da narrativa muriliana apresentam uma visão de que viver neste mundo é uma experiência sem solução. Não há salvação ou final feliz nos contos de Rubião. Seus personagens são solitários e caracterizam-se por eternas buscas e contínuos desencontros. As mulheres em sua narrativa não respondem aos desejos dos amantes.

O Pirotécnico Zacarias
O narrador-protagonista (o próprio Zacarias) inicia o conto dizendo que seus amigos e pessoas de suas relações não sabem se está vivo ou morto o pirotécnico Zacarias. Todas as pessoas do local têm dúvidas se o Zacarias que passeia pela cidade é o mesmo que havia morrido em acidente. Devido a essa dúvida, o narrador-defunto decide contar como morreu.
“ A princípio foi azul, depois verde, amarelo e negro. Um negro espesso, cheio de listras vermelhas, de um vermelho compacto, semelhante a densas fitas de sangue. Sangue pastoso com pigmentos amarelados, de um amarelo esverdeado, tênue, quase sem cor (...)  Quando tudo começava a ficar branco, veio um automóvel e me matou.(Rubião,2010,p.15-15)”
Neste conto, o tema da morte está presente desde a epígrafe bíblica do livro  de Jó, que concebe a morte como um renascimento, até o fim da narrativa em que o narrador, Zacarias, torna-se morto-vivo cidade.A fórmula (narrador=defunto) nos é familiar desde que Machado de Assis cria o morto-vivo mais famoso da literatura, Brás Cubas, em seu romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A morte e o modo como as pessoas se relacionam com ela são questões centrais da narrativa. A beleza do texto, porém, é que Murilo Rubião tem a maestria de tratar este tema, levando os leitores ao domínio do fantástico, ou seja, ao universo da dúvida diante de um fato que foge  do real; um morto pode andar pela cidade como se estivesse vivo? Nesse sentido, apesar de vagar pelas ruas, tentando provar, angustiado, que está vivo, Zacarias encara com ironia e humor a sua morte, ao dizer que ir de carro para o cemitério era sugestão que mais lhe convinha, “Afinal, as longas caminhadas cansam indistintamente defuntos e vivos.”(Rubião,2010,p.17). Contudo fica-lhe o rancor de que as pessoas não percebem que se pode amar indivíduos diferentes. É assim que o conto se torna uma alegoria da sociedade contemporânea do autor.


O Ex Mágico da Taberna Minhota
O narrador, que não diz seu nome, é um ex-mágico que, entediado com a profissão, torna-se funcionário público. Contudo, a nova profissão também lhe oferece como existência entediante. Aliás,sua vida fora um tédio desde a infância, nunca gostou de viver. Ele relata, em tom saudoso,as mágicas que fazia na Taberna Minhota e depois no Circo-Parque Andaluz. A vida de mágico não lhe agradava, pois seus “truques” não eram mágicas, eram naturais e não apenas ilusões. Ele relata que,sem querer,foi ao banheiro da taberna e retirou do “bolso o dono do restaurante”, e tal fato surpreende o narrador. Quem ficou perplexo foi o dono do restaurante, que lhe propôs emprego de mágico na Taberna Minhota.
Neste conto, temos um personagem-narrador que é um sujeito inapto para a vida, um sujeito que tem várias crises de identidade,pois nada do que a vida lhe oferece o satisfaz e chega a declarar:
“Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se a vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores. Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.” (Rubião,2010,p.21).
Trata-se, portanto, de um sujeito que tende para a morte do que para a vida. Neste sentido, o tema da morte surge nas várias tentativas de suicídio que o narrador empreende. Neste conto, temos portanto, um personagem instável e que não sabe suportar a existência humana que, ora é prazerosa, ora é entediante. É um sujeito próprio da pós-modernidade,que vive uma intensa crise existencial e de identidade.
A narrativa é essencialmente existencialista. Para Sartre, “a existência precede a essência”. Desta forma, o homem, primeiramente, nasce. A essência vai se formando no decorrer da existência. Entretanto, o homem, marcado pela morte, busca essa identidade absoluta, fracassando. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la. Por isso, o homem se sente responsável: o homem ligado ao compromisso e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo em que a si próprio, a humanidade inteira. Daí a angústia e a sensação de fracasso.

Teleco, o coelhinho
Dois fatos inusitados se colocam,de imediato, na leitura dessa narrativa:
Um coelho que fala e, além do mais, que pede um cigarro ao narrador personagem. Será que ele que ser humano? Esta pergunta que se coloca na leitura do conto. O homem dá cigarro a Teleco,o coelho,  e trava com ele uma conversa  amigável. Ao perceber que Teleco  não tem casa, e encantado com a educação do animal,o personagem humano o convida para morarem juntos.
Teleco se metamorfoseia, o tempo todo, em outros animais. Ele alega ser um sujeito instável por querer sempre agradar aos outros. O comportamento do coelho é, portanto, de alguém que vive buscando uma identidade.
Teleco encontra uma mulher sedutora e se apaixona. Para viver esse romance e afirmar-se como homem, o coelhinho assume a forma de um canguru com um comportamento humano, porém degradante. A relação entre o protagonista e o canguru torna-se tensa, levando à expulsão do animal, que passa a viver com a namorada, que explora o seu dom. Após a decepção amorosa, Teleco volta para o seu amigo, arrependido, doente e pede ajuda. Não tarda para que Teleco consiga sua última e desejada metamorfose: uma criança, ainda que sem vida.
No conto, o fantástico surge de um elemento ingênuo: um simples coelhinho de dimensão humana e dramática revela ao homem a verdade que ele não pode suportar: o homem contemporâneo é massificado, sem identidade e solitário. O cotidiano apresentado no conto é absolutamente fiel ao nosso mundo real; a partir da presença de um coelhinho, que busca a sua humanidade, temos a subversão desse real harmônico. A princípio, Teleco encontra nas metamorfoses a maneira de se aproximar do humano, afinal, ele é um ser marginalizado, um ser que ninguém reconhece como humano e que busca a todo custo sua aceitação: “Depois de uma convivência maior, descobri que a mania de metamorfosear-se em outros bichos era nele simples desejo de agradar ao próximo” (RUBIÃO, 1998, p.144).
O querer desenfreado de Teleco constrói um muro entre a realidade que o cerca e o que ele julga como real. A sua condição de coelho é que o faz não-humano; logo, a metamorfose em canguru livra-o da forma anterior, tornando-o, conseqüentemente, humano. Barbosa é um homem (canguru) e não um coelho, por isso usa óculos e cospe no chão. A meiguice do coelhinho cede à bruta imagem, cheia de vícios, do horrendo canguru.

O HOMEM DO BONÉ CINZENTO

O narrador infantil, Roderico, conta-nos que a rua onde morava era pacata. Caminhões de mudança, despejando caixas no antigo hotel abandonado, tiram a calma da rua. Diziam que para lá se mudaria um celibatário. Todavia, um velho magro, com roupas largas e um inseparável boné cinzento, acompanhado de um cão perdigueiro se muda para lá. Não é visto na rua e, invariavelmente, senta-se todas as tardes, com um cachimbo e seu cachorro, à porta. Artur, irmão do narrador, espreita a casa vizinha, na esperança de que o velho se antecipe.
Artur argumenta insistentemente com o irmão que o velho está emagrecendo. Acorda o narrador para dizer-lhe que descobrira o nome do vizinho: Anatólio, ao que Roderico esbraveja: chamasse Nabucodonosor.
Chega uma bonita moça, desce do táxi e, sozinha, adentra a casa de Anatólio. Artur e Roderico se questionam sobre a vida do velho. Os diálogos entre o narrador e Artur indicam a obsessão de adentrarem na vida do outro e opinarem sobre o que e como deveria ser.
A incógnita aumenta: a mulher chega e o homem emagrece a cada dia. Depois, assim como chegou, a moça se foi. O narrador resolve também vigiar o vizinho, não que ele lhe interessasse, mas por causa de Artur que, por sua obsessão, tinha olheiras, definhava. Artur comenta que o homem está ficando invisível. O narrador, sugestionado pelo irmão, vê as coisas através do corpo de Anatólio. Sua magreza encanta o narrador.
Roderico afirma: “Às cinco horas da tarde do dia seguinte, o solteirão apareceu na varanda, arrastando-se com dificuldade. Nada mais tendo para emagrecer, seu crânio havia diminuído e o boné, folgado na cabeça, escorregara até os olhos. O vento fazia com que o corpo dobrasse sobre si mesmo. Teve um espasmo e lançou um jato de fogo, que varreu a rua. Artur, excitado, não perdia o lance, enquanto eu, recuava atemorizado. Artur entusiasmado, gritava: Não falei, não falei! A seguir, Artur também começa a diminuir até se reduzir a uma bolinha negra, que escorre pela mão do narrador.

O conto aborda os relacionamentos humanos na pós-modernidade: na verdade, nem os irmãos que observam obsessivamente Anatólio estavam preocupados com ele, mas apenas especulando sobre um fato inédito na rua pacata. O homem ter ficado transparente indica que não somos vistos pelos outros, que nos são indiferentes, somos, também, transparentes, assim não vemos os que nos cercam. Por outro lado, paradoxalmente, Artur se transforma em uma bolinha, coisifica-se, por deixar de viver sua própria vida para vigiar a outro.

5 de jun. de 2016

CABARET MINEIRO, indicação PAES Unimontes




“Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar”. A frase do escritor Guimarães Rosa, publicada no livro Grande Sertão: Veredas, até poderia ser o principal argumento do filme Cabaret Mineiro (35 mm / COR / 68 min / 1980), do cineasta montesclarense Carlos Alberto Prates Correia. Como no aforismo rosiano, o longa-metragem recorre a mecanismos metafóricos de superação das limitações impostas pelo ambiente de formação. A fuga imaginária da dura realidade da caatinga pode ser compreendida como a uma celebração da vida nos áridos rincões das Gerais.

A trama de Cabaret Mineiro se passa no interior de Minas. Um aventureiro, interpretado por Nelson Dantas, se apaixona por Salinas (Tamara Taxman), durante uma viagem de trem para Montes Claros. Depois de uma noite de amor, a mulher desaparece misteriosamente sem deixar pistas. Daí, o aventureiro começa uma saga em busca de Salinas. Durante a jornada ele se envolve com orgias, festas, sedução e jogos de pôquer.

No filme é possível perceber com precisão as manifestações culturais do Norte de Minas, sempre presentes no trabalho de Prates. O linguajar dos personagens – nítida influência da literatura de Guimarães Rosa –, o som da viola caipira, das cantorias populares, as marujadas e catopês, o bolo de fubá, a rapadura, o pequi e o biscoito de goma dividem as cenas com montanhas e cachoeiras. Em Cabaret, o espectador se depara com paisagens realistas durante os dias e, a mais completa abstração nos períodos noturnos. Tudo como um ato de denuncia da existência de filmes dentro do próprio filme.

























Por outro lado, Cabaret Mineiro é uma obra debochada, que beira à pornochanchada brasileira. Por mais que o material promocional do longa já induza o espectador a acreditar que a cultura popular estará presente na trama. Na fotografia do cartaz, a atriz Tânia Alves, – que tem uma participação brilhante no filme – vestida de dançarina espanhola, coloca uma pitada de provocação no conservadorismo da região.

A própria escolha da grafia do título ‘cabaret’, do francês, ao invés de ‘cabaré’, em português, remete a uma proposta ousada, alegórica e diferenciada de outras abordagens sobre a temática folclórica. Cabaret é uma mostra do povo que conta a sua história de luta, resistência e prazeres no sertão.

Uma das sequências mais interessantes da trama se passa em um bordel. A câmera percorre o salão de festas. Um baile de carnaval anima os personagens que dançam seminus pelos cômodos da casa. Homens e mulheres são iluminados por jogos resplandecentes e estourados de luz. Superexposição antropofágica.... Em pouca mais de 8 minutos é possível perceber a atmosfera dionisíaca do filme. Também pudera o esmero estético, o diretor de fotografia do Cabaret Mineiro é Murilo Salles, que já havia mostrado seu potencial no longa Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto.

Cabaret Mineiro bem poderia ser considerado um filme musical, dada a importância da trilha sonora na ambientação da história. Com direção do músico Tavinho Moura – que também contracena –, Prates reconstrói o imaginário das cantigas folclóricas do Norte de Minas com pitadas de sensualidade e erotismo. Para algumas delas foram recriadas paródias e adaptações maliciosas. Nelson Dantas rasga o verbo em “vamos dançar tudo nu, tudo nu / tudo com o dedo no cu, menos eu / tudo com a bunda de fora / é agora / você disse que dava e não deu”.

Em entrevista ao Caderno do Fórum Doc 2008, Carlos Prates foi indagado: “Por que, cada vez mais, você cria filmes sobre outros filmes?”. A resposta veio apimentada (como a comida de Montes Claros): “porque é esse o meu desejo, a minha possibilidade. E por que não haveria de criar? Você é de alguma polícia estética? Porque eu costumo enfrentar patrulhas mercadológicas, agora tem essa outra?”

A argumentação de Prates pode ser tida como o mote de Cabaret Mineiro, em velejar na contramão das tendências da moda no cinema, mesmo para um filme rodado na década de 1980. Um luta incessante e anti-heroica conta os valores estéticos estabelecidos pelo mercado cinematográfico brasileiro e mundial.

Ficha Técnica
Titulo Original: Cabaret Mineiro
País: Brasil, 1980
Diretor: Carlos Prates
Duração: 68 minutos, Cor

FONTE: http://brancodifatima.blogspot.com.br/p/criticas.html

Passeio Noturno I, Rubem Fonseca (Com atividade de interpretação)


                Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala?, perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.

O pirotécnico Zacarias, Murilo Rubião


"E se levantará pela tarde sobre ti uma luz como a do meio-dia; e quando te julgares consumido, nascerás como a estrela-d'alva." (Jó, XI, 17)


Raras são as vezes que, nas conversas de amigos meus, ou de pessoas das minhas relações, não surja esta pergunta. Teria morrido o pirotécnico Zacarias? A esse respeito as opiniões são divergentes. Uns acham que estou vivo - o morto tinha apenas alguma semelhança comigo. Outros, mais supersticiosos, acreditam que a minha morte pertence ao rol dos fatos consumados e o indivíduo a quem andam chamando Zacarias não passa de uma alma penada, envolvida por um pobre invólucro humano. Ainda há os que afirmam de maneira categórica o meu falecimento e não aceitam o cidadão existente como sendo Zacarias, o artista pirotécnico, mas alguém muito parecido com o finado. Uma coisa ninguém discute: se Zacarias morreu, o seu corpo não foi enterrado. A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. 

O ex-mágico da Taberna Minhota

O ex-mágico da Taberna Minhota
Murilo Rubião

Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me;
 porque eu sou desvalido e pobre.
(Salmos. LXXXV, I)


Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.
Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.
Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.
Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.
O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.
Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

Teleco, o coelhinho - conto de Murilo Rubião

No conto “Teleco, o Coelhinho”, a busca de humanidade esconde o desejo de superar a indiferença e o desprezo dos homens. A narrativa em primeira pessoa nos apresenta o ponto de vista do homem que recebe o coelhinho em sua casa. Encantado pela meiguice de Teleco, o narrador descobre que “a mania de transformar-se em outros bichos era nele simples desejo de agradar o próximo.” (RUBIÃO, 16ª ed., 1993:22).


“Três coisas me são difíceis de entender, e uma quarta eu a ignoro completamente: o caminho da águia no ar, o caminho da cobra sobre a pedra, o caminho da nau no meio do mar, e o caminho do homem na sua mocidade.” (Provérbios,XXX,18 e 19)


        - Moço, me dá um cigarro?
A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças.
O  importuno pedinte insistia:
–    Moço, oh! Moço! Moço me dá um cigarro?
Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei:
Vá embora, moleque, senão chamo a polícia.
–    Está bem, moço. Não se zangue. E, por favor; saia da minha frente, que eu também gosto de ver o mar.
Exasperou-me a insolência de quem assim me tratava e virei-me, disposto a escorraçá-lo com um pontapé. Fui desarmado, entretanto. Diante de mim estava um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente:
– Você não dá é porque não tem, não é, moço?

30 de mai. de 2016

A menina de Lá e Sorôco, sua mãe, sua filha

A menina de lá, Guimarães Rosa
Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.
Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou?" – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - "Tatu não vê a lua..." – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida.

Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente. – "Nhinhinha, que é que você está fazendo?" – perguntava-se. E ela respondia, alongada, sorrida, moduladamente: - "Eu... to-u... fa-a-zendo". Fazia vácuos. Seria mesmo seu tanto tolinha?
Nada a intimidava. Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: - "Menino pidão... Menino pidão..." Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: - "Menina grande... Menina grande..." Com isso Pai e Mãe davam de zangar-se. Em vão. Nhinhinha murmurava só: - "Deixa... Deixa..." – suasibilíssima, inábil como uma flor. 

Terceira fase do Modernismo ou Pós-modernidade

Terceira Fase Modernista ou Pós-Modernismo (1945-1960)
O regionalismo, uma das mais férteis correntes de nossa literatura, voltou à tona na terceira fase modernista. Trata-se, porém de um regionalismo de outra natureza. Primeiro, pela violenta experimentação a que o narrador submete a linguagem, não só incorporando termos regionais, como criando novas palavras e empregando uma sintaxe inusitada. Segundo, porque a personagem regional – representada pelo jagunço – ultrapassa a problemática decorrente do seu espaço físico ou social, e passa a refletir sobre questões de natureza filosófica, questões eternas do homem e independentes de tempo e lugar.

Contexto Histórico:
1945-1960: 1945- Término da Segunda Guerra Mundial; 1945 – Deposição de Getúlio Vargas; 1946 – Início do processo de redemocratização do Brasil; 1955 – Eleição de Juscelino Kubitschek; 1960 – Inauguração de Brasília.

Características literárias da terceira geração modernista brasileira
- Retrocesso em relação às conquistas de 1922.
- Volta ao passado: revalorização da rima, da métrica, do vocabulário e das referências mitológicas.
- Passadismo, academicismo

OS GRANDES CRIADORES DE 45, QUE RETOMAM E FECUNDAM AS EXPERIÊNCIAS DESENVOLVIDAS NO PAÍS

Prosa: João Guimarães Rosa e Clarice Lispector
Poesia: João Cabral de Melo Neto
Literatura: constante pesquisa de linguagem + senso de compromisso entre arte e realidade, engajamento
Síntese de ambas as gerações: experimentalismo + maturidade artística; nacionalismo + universalismo

Guimarães Rosa: narrativas mitopoéticas que resgatam a sutileza do elo entre a fala e o texto literário.
Clarice Lispector: romances e contos introspectivos que dialogam com as fronteiras do indizível
João Cabral de Melo Neto: poesia que associa compromisso social e precisão arquitetônica, substantiva. 

POESIA DE 45
Concretismo:poesia composta pela concretude das palavras, utilizadas em seu aspecto semântico, sonoro e visual. Há também a proposta de acabar com a exclusividade do verso, valorização da disposição gráfica das palavras e a valorização do espaço da página como elemento de composição do poema.
Principais representantes do Concretismo: Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos.

Neoconcretismo: distingue-se do Concretismo por atribuir ao leitor o papel de decodificador do texto. O significado não estaria pronto sem a atuação do leitor. Defendia, portanto, a arte participativa. Poema “não-objeto”: tinha um projeto de escrita, mas só se realizava quando fosse lido.
Principal autor: Ferreira Gullar: a poesia como afirmação da força da humanidade para resistir às pressões sociais, econômicas e políticas que trazem sofrimento e desamparo ao ser humano.

Tendências Literárias Contemporâneas
MARCAS DA PRODUÇÃO PÓS-MODERNA

O homem preso a seu tempo

O desenvolvimento de novas tecnologias de reprodução e difusão da arte (fotografia, rádio, cinema, televisão, vídeo, computador) fez com que a separação entre a arte considerada culta e a denominada arte popular fosse desaparecendo. Alguns dos mais conhecidos artistas deste século investiram na reprodução de autênticos símbolos da sociedade de consumo.
Um dos objetivos da arte pós-moderna é a sua comunicabilidade. Por isso, ela promove a incorporação de todas as estéticas passadas, combinando-as de modo inovador.
Da mesma forma como diferentes estéticas e estilos foram misturados pelos pós-modernos, um outro traço característico de sua produção é a intertextualidade: textos escritos no passado são relidos a partir de uma visão paródica, muitas vezes com objetivo irônico. Esse procedimento que já era utilizado pelos autores da primeira geração modernista, faz do texto uma grande colagem de outros textos.
O ser humano da sociedade pós-moderna parece cultivar uma postura niilista: ele não acredita em nada, não luta por nenhum ideal humanista, tendo abandonado as ilusões que animaram a história em momentos anteriores (a religião, o progresso, a consciência, a utopia) Seu grande “deus” é o consumo.
Vivendo em um mundo sem conceitos ou modelos sólidos para orientar sua existência, o ser humano pós-moderno é individualista: volta-se cada vez mais para si mesmo, preocupado em satisfazer seus desejos e alcançar suas metas.
A vida em uma sociedade voltada para o consumo traz marcas inequívocas. A principal delas é a tentativa incessante de fazer com que o ser humano relaxe, viva de maneira mais descontraída. Para tanto, investe-se em humor e no erotismo, como meios de tornar menos dramático o contexto social delicado em que vivemos.

Os rumos da prosa contemporânea
O conto:
textos curtos exploram a semelhança entre a literatura a e notícia. Temas como a violência, problemas psicológicos, religiosos, filosóficos e morais estão presentes nos contos por retratarem a vida urbana nos grandes centros. Autores como Rubem Fonseca, Dalton Trevisan E Luiz Vilela são exemplos de expoentes dessas temáticas.
O realismo fantástico, tematizando os limites entre o possível e o impossível, o real e o sobrenatural aparece na obra de Murilo Rubião e Moacyr Scliar. Os dramas dos relacionamentos amorosos e do sofrimento gerado pelas desilusões amorosas encontram eco na escrita de Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, Fernando Sabino, entre outros.
Na crônica, gênero narrativo que transita entre o conto e a notícia, tem como expoentes contemporâneos Carlos Heitor Cony, Luis Fernando Veríssimo e Martha Medeiros.
No romance, há a produção de gêneros mais populares, como a narrativa ficcional, a policial e a de ficção científica. Um dos principais autores aqui é João Ubaldo Ribeiro, o qual reflete a realidade regional, tal qual nas estéticas anteriores. A narrativa de memória tem Rubem Fonseca, autor de Agosto, como destaque. A prosa intimista é representada por Lya Luft, Nélida Piñon e Chico Buarque.
 

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