“Muitas
vezes a nossa vida se compara a de uma árvore. Assim como a árvore, nós
também vivemos diferentes estações. Não há como fugir delas. O inverno
talvez seja a estação mais triste. As folhas começam a murchar até
caírem completamente. As flores já não existem mais, os frutos
desaparecem. O que resta, para quem observa a pobre árvore, são os
galhos retorcidos que, uma vez expostos, revelam as imperfeições antes
escondidas pela beleza superficial. Mas não devemos nos enganar: aquilo
que parece estar matando a árvore na verdade é essencial para sua
sobrevivência. Ainda que o inverno esteja rigoroso, seco, sem cor ou
perfume, a árvore não está morta. A vida ainda está dentro dela. As
forças, antes usadas para embelezar a árvore, agora são gastas para
fazê-la crescer, onde ninguém vê, aprofundando suas raízes. Dizem que em
muitos lugares onde não há inverno as árvores não produzem frutos.
E
assim também acontece conosco. Muitas vezes Deus nos guia até o deserto
para ali nos revelar o nosso próprio coração (Dt. 8:2). Toda a beleza
superficial desaparece e passamos a enxergar as nossas próprias falhas e
limitações. Nossa justiça própria se revela como um ‘trapo de
imundície’ (Is. 64:6) e nós murchamos como as folhas de uma árvore seca.
As circunstâncias que não podemos mudar e os sonhos que parecem não se
realizar nos levam a um estado de desconsolo e desesperança semelhante
ao de uma árvore no inverno, adoecendo o nosso coração (Pv. 13:12).
Muitos
se perdem exatamente aí, no inverno de suas vidas. Mas, em vez disso,
podemos nos render ao processo divino de fazer morrer o que é
superficial e ganhar vida no interior. São mudanças de valores que fazem
parte do nosso crescimento espiritual. O inverno é uma oportunidade de
conhecermos a nós mesmos e de sermos transformados na medida em que
conhecemos a Deus intimamente. É no inverno da alma que podemos aprender
a dependência total para com o Senhor e a desfrutar o descanso em sua
soberana vontade. É na morte do ‘eu’ que renascemos para uma nova vida:
aquela que Deus tem para nós. É na falência de nossas próprias
tentativas que passamos a experimentar o braço do Senhor agindo em nosso
lugar. É quando não podemos mais seguir adiante que Deus nos carrega em
Seu colo paterno e, então, podemos chegar onde devemos ir. É na nossa
limitação que experimentamos o poder de Deus se aperfeiçoando em nossa
fraqueza. É assim que trocamos os trapos da nossa justiça própria pela
obra perfeita e graciosa de Cristo na cruz.
Durante
o inverno, podemos simplesmente nos render e adorar. É verdade que às
vezes nos debatemos, mas quando enfim nos rendemos, entramos como que em
um estado de hibernação, onde ‘dormimos’ interiormente. Nossos sonhos,
projetos, as promessas de Deus para nós parecem estar em um ‘estado de
espera’. E realmente estão, elas não morreram. As palavras de vida,
proclamadas por Deus a nosso respeito, estão dentro de nós, aguardando o
tempo oportuno. São promessas do Senhor para o nosso casamento, para
nossos filhos, para nossos ministérios. E enquanto descansamos no Senhor, Ele trabalha para cumprir cada uma de suas palavras.
Durante
o inverno tudo o que podemos fazer é esperar; é ter a esperança da
próxima estação. E quando a primavera chegar, aquela pobre e sofrida
árvore sofrerá uma maior transformação! As águas irão regá-la novamente e
ela voltará a dar flores, frutos e suas folhas verdes serão mais
bonitas do que nunca! Creia: a primavera vai chegar! E
aquilo que você tanto espera deixará de ser esperança, pois você tocará
as flores, comerá os frutos e viverá o cumprimento das promessas! Assim
como a noite escura passa e a alegria vem com o amanhecer, em breve a
luz do Senhor vai acender o seu coração adormecido.
No mais, deixamos com você algumas palavras do profeta Jeremias:
‘Quero
trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do
SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua
fidelidade. A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto,
esperarei nele. Bom é o SENHOR para os que esperam por ele, para a alma
que o busca. Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio.’
(Lm. 3:21-26).
Somente a Deus seja a glória.”
Somente a Deus seja a glória.”
Pra. Ana Paula Valadão Bessa.
10 de julho de 2004
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