21 de out. de 2018

Texto tema: Combate à pedofilia


Uma menina de doze anos sendo alvo do interesse carnal de um homem de meia idade. Eis o enredo de “Lolita”, polêmica obra literária de Nabokov, autor russo, publicada em 1955. Apesar do lapso temporal, ainda hoje relações sexuais envolvendo crianças e adolescentes são comuns, embora sejam, por lei, crime de pedofilia. A permanência dessas ações no corpo social fragiliza a infância, impõe traumas e repercute por toda a vida do infante. No entanto, mesmo havendo leis, combater a pedofilia é um desafio, sobretudo, devido ao silêncio que envolve o ato, o qual se deve ora pela ausência de discernimento do quão grave é essa ação ora pela intimidação imposta pelos adultos agressores.  
De início, é importante ressaltar como a atual sociedade viola a inocência infantil. Especialmente a mídia, ao divulgar comportamentos que adultizam as crianças  – as roupas, as danças e músicas sugerem ações de “miniadultos” para os infantes – não as prepara para responder e discernir abordagens abusivas.  Assim, diante da exposição a conteúdos sexuais ou perante a incitação a atos inadequados, meninos e meninas, por vezes, não percebem que estão fragilizados frente a adultos que não respeitam a inocência pueril e, portanto, os pequenos não denunciam molestamentos e abusos, o que colabora para a permanência do problema.
Além disso, outro tipo de silêncio se dá. Algumas vítimas se calam por temerem retaliações de seus algozes. Exemplo disso são os casos em que estupradores e molestadores são entes do próprio eixo familiar. Nessas circunstâncias, as crianças, em parte das vezes, não conseguem denunciar o abusador por ser ele alguém da âmbito doméstico – pais, irmãos, primos ou mesmo um amigo próximo –, pois receiam atos de vingança ou, em outras situações, são induzidas a manterem o fato encoberto pela própria família, em vista da vergonha do enfrentamento social diante do acontecimento, além de não serem raras as conjunturas em que vítima e família dependem financeiramente do agressor.
No passado, os contos infantis, em suas vertentes primitivas e macabras, mostravam o abuso infantojuvenil como faceta de uma sociedade que não respeitava a infância como fase de purezas – basta ver as versões remotas de Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. No entanto, atualmente, proteger a integridade física e emocional dos menores deve ser compromisso do governo e da sociedade. Para tal, ao poder público compete desenvolver propagandas constantes de combate a essa chaga social, usando para isso a tv aberta e as mídias sociais, a fim de haver conscientização e consequente aumento das denúncias. Ademais, o terceiro setor pode promover debates públicos, em parcerias com escolas e igrejas, sob a orientação de psicólogos, sobre os desdobramentos que um ato de abuso traz à vida infantil, com o intuito de elucidar as famílias quanto a não acobertarem o crime e também a perceberem sinais de alerta quanto ao fato no interior dos lares. Com tais medidas, o problema tenderá a diminuir e a infância permanecerá sendo uma fase de pureza, distante dos abusos que marcaram a vida da Lolita, de Nabokov, e de tantos personagens da vida real até hoje. 

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