Uma menina de
doze anos sendo alvo do interesse carnal de um homem de meia idade. Eis o
enredo de “Lolita”, polêmica obra literária de Nabokov, autor russo, publicada
em 1955. Apesar do lapso temporal, ainda
hoje relações sexuais envolvendo crianças e adolescentes são comuns, embora
sejam, por lei, crime de pedofilia. A permanência dessas ações no corpo social
fragiliza a infância, impõe traumas e repercute por toda a vida do infante. No entanto, mesmo havendo leis,
combater a pedofilia é um desafio, sobretudo, devido ao silêncio que envolve o ato, o qual se deve ora pela ausência de discernimento do
quão grave é essa ação ora pela intimidação imposta pelos adultos
agressores.
De início, é importante ressaltar como
a atual sociedade viola a inocência infantil. Especialmente a mídia, ao
divulgar comportamentos que adultizam as crianças – as roupas, as danças e músicas sugerem ações
de “miniadultos” para os infantes – não as prepara para responder e discernir
abordagens abusivas. Assim, diante da exposição a conteúdos
sexuais ou perante a incitação a atos inadequados, meninos e meninas, por
vezes, não percebem que estão fragilizados frente a adultos que não respeitam a
inocência pueril e, portanto, os
pequenos não denunciam molestamentos e abusos, o que colabora para a
permanência do problema.
Além disso, outro tipo de silêncio se
dá. Algumas vítimas se calam por temerem retaliações de seus algozes. Exemplo disso são os casos em que
estupradores e molestadores são entes do próprio eixo familiar. Nessas circunstâncias, as crianças, em
parte das vezes, não conseguem denunciar o abusador por ser ele alguém da
âmbito doméstico – pais, irmãos, primos ou mesmo um amigo próximo –, pois receiam
atos de vingança ou, em outras situações, são induzidas a manterem o fato
encoberto pela própria família, em vista da vergonha do enfrentamento social
diante do acontecimento, além de não serem raras as conjunturas em que vítima e
família dependem financeiramente do agressor.
No passado, os
contos infantis, em suas vertentes primitivas e macabras, mostravam o abuso
infantojuvenil como faceta de uma sociedade que não respeitava a infância como
fase de purezas – basta ver as versões remotas de Chapeuzinho Vermelho e A Bela
Adormecida. No entanto, atualmente, proteger a integridade física e emocional dos
menores deve ser compromisso do governo e da sociedade. Para tal, ao poder público compete desenvolver propagandas constantes de
combate a essa chaga social, usando para
isso a tv aberta e as mídias sociais, a fim de haver conscientização e
consequente aumento das denúncias. Ademais,
o terceiro setor pode promover debates públicos, em parcerias com escolas e
igrejas, sob a orientação de psicólogos, sobre os desdobramentos que um ato de
abuso traz à vida infantil, com o
intuito de elucidar as famílias quanto a não acobertarem o crime e também a
perceberem sinais de alerta quanto ao fato no interior dos lares. Com tais medidas, o problema tenderá a
diminuir e a infância permanecerá sendo uma fase de pureza, distante dos abusos
que marcaram a vida da Lolita, de Nabokov, e de tantos personagens da vida real
até hoje.
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