“Outrora,
a velhice era uma dignidade; hoje ela é um peso”. A constatação de Francois Chateabriand revela um cenário de descaso
e persistente desrespeito aos idosos, vistos como fardo na sociedade atual.
Cotidianamente, não são raros os casos em que o público senil sofre com a
intolerância quanto às necessidades específicas dessa fase da vida. Tal
sofrimento decorre, em grande parte das vezes, dos descuidos familiares quanto aos mais velhos e da ausência de uma consciência legal e social
que zele pelos direitos da terceira idade.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que é no âmbito doméstico que o desrespeito a
quem está envelhecendo se torna mais expressivo. Devido ao choque de gerações é
comum haver incompreensão e isolamento, uma vez que os mais novos não entendem
os anseios de quem já passou dos sessenta anos. Essa desarmonia é traduzida em maus-tratos, agressões físicas e
falta de atenção e carinho, fatores que agravam uma realidade de solidão, a
qual, em muitos casos, culmina em doenças psicológicas, como a depressão. Além disso, em alguns lares os idosos são explorados financeiramente,
tendo seus – já escassos – recursos subtraídos para o sustento da prole. Assim, esse público se vê constantemente
desprezado e a alegria de existir se desfaz.
Ademais, na esfera
social a persistência do descaso é também visível. O Estatuto do Idoso é um
conjunto de leis destinado a garantir o bem-estar social daqueles que têm mais
de sessenta anos. No entanto, esse
aparato legal não é facilmente acatado, fato perceptível em situações simples
do cotidiano: as vagas privativas são poucas e, comumente, são ocupadas pelo
público jovem; as filas preferenciais são insuficientes para garantir
atendimento rápido e a assistência médica é parca em relação à demanda do público
mais velho. Outro fator importante é
que não há um investimento público permanente com o intuito de garantir lazer e
atividades esportivas aos idosos. A obra fílmica “Up: altas aventuras”
apresenta o cotidiano de um velhinho que amarga a solidão e vive imerso na
saudade, o que o torna mal humorado e infeliz. Para além do universo ficcional, a velhice, no contexto brasileiro,
também se faz sinônimo de tristezas e reflexo de invisibilidade familiar e social.
Portanto, para amenizar os impasses relacionados ao
persistente desrespeito ao idoso na sociedade brasileira, medidas são
necessárias e urgentes. Diante disso,
a família deve ser conscientizada, por meio da divulgação nas mídias sociais,
sobre a valorização do cidadão senil e de sua experiência de vida. Além disso, é dever do Estado promover
maior fiscalização quanto ao cumprimento do Estatuto do Idoso, estabelecendo
punições severas àqueles que violarem as leis. Para isso, uma ouvidoria específica
ou um canal telefônico para registrar denúncias de ações contra os anciãos da
sociedade é relevante, a fim de evitar a omissão quanto ao problema.
Atendimento público de qualidade, nos serviços básicos e na realidade
hospitalar, contribuirá também para atenuar o impasse. Ações assim auxiliarão para que o corpo social se porte com
alteridade e o respeito à terceira idade seja uma marca do envelhecimento no
contexto contemporâneo.
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